sexta-feira, 31 de agosto de 2018

DIÁRIO DE CUBA (100)


QUEM SABE DE FATO O QUE O PRECISA SER FEITO A FAVOR DO POVO – MARCÃO ME DISSE SABER
Meu amigo Marco Paulo Resende, o Marcão, também conhecido na cidade de Bauru como “Comunista em Ação me dá seguidas lições de vida. Neste momento anda um tanto bravo comigo. Quer me ver desligado do PT e de Lula, algo que um dia ele também já esteve plugado, mas com o passar do tempo se desligou de vez. Estivemos juntos em duas viagens internacionais inesquecíveis. Na primeira fomos ver um comício de Hugo Chavez em plena Buenos Aires, estádio do Ferrocarril e depois, por 30 inesquecíveis dias percorremos mochilando Cuba de cabo a rabo. Foram mais que reforços na linha de pensamento e ação por nós empregada. Sempre o ouço com a devida atenção. Não tento convencê-lo de mais nada, pois ele lê muito, percebe tudo e nos reencontros (infelizmente muito poucos nos últimos tempos), um papo pra lá de saboroso. Ninguém pode falar nada do Marcão, pois sendo filho de quem é, poderia estar desfrutando de uma vida de muitas benesses, mas abriu mão de tudo, em função da causa a tocar sua vida. Tem vida mais que espartana, não abandona suas camisetas vermelhas tendo a foice/martelo como estampa e nos planos uma ida em definitivo para o Canadá, com plano mais que adiantados. O gostoso é quando não se concorda com tudo o que o outro está a dizer, daí o debate flui mais caloroso. Com ele sempre foi assim.

Escrevo dele por outro motivo. Dentre as muitas coisas que me disse ao longo de umas duas décadas de convivência, algumas me são inesquecíveis. Em forma de brincadeira o tratávamos por “Comandante”, tal o carinho que possui por Fidel Castro. Foi incorporando algo do comandante cubano em seu visual e modo de viver, chegando a proferir certa feita algo mais ou menos assim: “Se um dia chegar a ser um chefe de estado, da estatura de um Fidel, um comandante, eu sei que o povo não sabe direito o que deve ser feito por eles, mas eu sei. Não vou ficar perdendo tempo com assembleias, ritos que dizem ser democráticos. Quando eleitos dentro do atual sistema, a maioria não faz o que deveria ser feito, traem os interesses populares”. Isso me calou fundo. Vejo agora a tal da democracia exercida pela TV Globo e como age com os candidatos a presidente, convidando quatro para entreviosta no Jornal Nacional, excluindo o líder das pesquisas, Lula e o PT, assim como os menos cotados, como Boulos e outros. Nem falam de Lula e dizem serem democráticos. A democracia, sabemos, é balela. Alckmin quando governador paulista não permitiu a abertura de nenhum processo investigativo dentro da Alesp, mesmo diante de evidências corruptivas de sua administração. Chamam isso de democracia, mas sabemos, o que é feito por debaixo do pano e pode ser intitulado de tudo, menos de democracia. Exemplos outros pipocam pela aí em todas as esferas.

Junto a fala do Marcão com os dois exemplos citados e constato algo mais. Eu mesmo reclamo muito de governos ditos mais populares, como o de Lula no Brasil, Cristina na Argentina ou Correia, no Equador, que chegaram ao poder e vacilaram. Fizeram muito, mas poderiam ter feito mais. Se fazem valer da Constituição, das leis vigentes, do poder constituído pelo mundo político e hoje, mais do que nunca, de um Judiciário voltado exclusivamente para os interesses de uma casta e dos interesses destes. Já a direitona, com Macri, Temer ou mesmo o traidor Lenín Moreno no Equador, um exemplo de como quando no poder, chegam e executam sem dó e piedade algo contra os interesses do povo. O neoliberalismo é assim, chegam e não esperam um só segundo, colocando em prática a crueldade e o arbítrio. Veja agora na Colômbia, no dia seguinte da saída do presidente Santos, o que chega, ligado aos paramilitares mais odientos e a Uribe, um declarado fascista, já quer rever o tratado de paz com as FARC. O que fazem é terra arrasada, sem dó e piedade. Não contemporizam e não respeitam nada. A democracia que vale é a deles, imposta por eles e com as regras deles. Isso não é nada democrático.

Dito, isso, entra a fala do Marcão. A democracia cansa e em alguns casos, morosa demais, noutras faz coisas pela metade, deixa de fazê-los, inviabiliza algo mais em prol dos interesses populares. Podem denominar como ditadura ou algo mais, isso não interessa muito, mas Cuba só sobreviveu até hoje por causa de lideranças que sempre souberam o que deveria ser feito em prol do povo. Do contrário, já teria se afundado há muito tempo. Podem me perguntar: mas você não é um sujeito a favor da democracia? Já fui mais, mas dentro das atuais estruturas de poder constituídos no Brasil ela não mais vingará a contento. Desesti de continuar acreditando em histórias da carochinha. A democracia que temos é caolha, manquitola e falsária. O país pode ter pela frente algo muito pior que isso, com uma ditadura de direita e perseguições a tudo, todas e todos como norma recomendável. Prefiro a isso, uma verdadeira ditadura de esquerda, com alguém sabendo de antemão tudo o que precisa ser feito por esse povo, hoje preso nas correntes das nefastas informações midiáticas, que o enganam descaradamente. Mas quem dos candidatos a presidente poderia cumprir esse papel? Lula? Com ele, algo de muito bom, mas não mijaria fora do penico dos ritos democráticos. Boulos? Talvez, em partes. Mas quem? Enfim, que tipo de ditadura é tolerável e até salutar? Marcão me disse lá atrás, sendo ele, saberia de antemão tudo o que deve e precisa ser feito. Com ele ou com qualquer outro, isso só ocorreria através de uma revolução. Infelizmente, distante. Muito distante. Isso me consome, pois os anos voam e creio não terei o prazer e o contentamento de ver essa luz no final do túnel.

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