segunda-feira, 17 de setembro de 2018

RELATOS LATINOS / PORTENHOS (55)


LUCIANO HUCK PASSOU POR BAURU, MAS ISSO POUCO ME IMPORTA
O bestial marqueteiro da TV Globo Bobo caiu nesta manhã no aeroporto mais inviável destas plagas, o do fim do mundo, o criado pelas "forças vivas" para salvar a vida financeira de uns poucos e dificultar a da maioria da população, o de Arealva/Bauru. O inevitável acontece e seu jatinho, diante do mal tempo, usado para seu programa televisivo se vê obrigado a pousar em terras bauruenses. O comandante do voo, desconhecendo totalmente a vida aérea da capital da terra branca pousa no meio do nada e daí, dá-lhe gozações. Ali no meio do nada, não existem meios de transporte de passageiros durante o dia, pois inexistindo voos, fariam o que taxistas, moto-taxistas e uberistas naquelas plagas? Huck, boçal como lhe é de costume ironiza a situação e acerta sem querer no alvo. Ótimo para alavancar a discussão da inutilidade daquela pista incrustrada no mato, distante 20 km da área urbana da cidade. Não se fala em outra coisa na cidade hoje. Poderia tecer loas sobre o assunto. Seria enchimento de linguiça, besteirol elevado à sua máxima potência.

Huck vem gravar quadros do seu indefectível programa das tardes de sábado. Adora se vangloriar estar resolvendo os problemas financeiros de alguns com o que faz. Na verdade, faz o contrário, acentua alguns problemas, investe alta grana e ao invés de dar um quinhão de contribuição para estancar a sangria da miserabilidade brasileira, sua ação é como gota no oceano. Os holofotes de bom mocinho recaem sobre ele que é uma belezura. Uma pessoa dentro do universo dos desassistidos tem seu carro ou casa reformados e o país chora pela sua boa ação. Antenado como todo bom sacana, descobre também belas histórias ocorrendo país afora e vai atrás delas, sai do seu conforto carioca num belo jatinho, pousa no lugar, faz a matéria vestindo calça rancheira e volta correndo para seu habitat, que certamente não é o da maioria do povo brasileiro.

Tanto Huck, como a imensa maioria dos almofadinhas brasileiros não estão nem aí para a miséria em curso no país, o processo de degradação humana, a igrejização emburrecendo as massas e as diferenças de classe aumentando de uma forma cada vez mais incontrolável. Na verdade, usufruem das imensas diferenças. Ele não toca nesses temas no seu programa. Seu negócio é bem outro. Publico junto a esse texto três fotos recentemente tiradas por mim nas ruas pela aí. Na primeira, um corpo estendido no chão na festa do dia da Parada da Diversidade em Bauru. Ele lá, ou bebeu muito ou pode até estar passando mal, mas invisível como sempre foi, poucos prestam atenção em gente assim. Atrás de si uma história de vida, mas essa não interessa, pois certamente não renderá o que Huck vem buscar nas viagens com seu jatinho. Na segunda, numa praça perto da rodoviária em Curitiba um trio dormindo na rua, um deles travesti, vivendo com as sobras que sensíveis hóspedes de um hotel do outro lado da rua levam para eles. E na terceira, a vida sob as marquises de Buenos Aires. Com a Argentina numa enroscada de dar gosto, fruto do neoliberalismo, algo que Huck defende e pratica, cada vez mais gente se vê obrigada a viver sob marquises, sem nenhuma esperança. Entender o que de fato ocorre, impensável nas grades dos programas da mídia massiva.

O televisivo bom mocinho é usado aqui como exemplo de que, o bom mocismo de alguns enxerga somente o que lhe convém. A história do pouso do seu avião particular é o que interessa para a mídia desses tempos, mais preocupada com a vida dessas vazias estrelas do que com as agruras do povo. Para cada foto aqui publicada, imaginem a grandiosidade de uma matéria explicitando a miséria produzida pelo capitalismo cruel e insano? Com todo o aparato de mídia de um programa como o do defensor do Aécio, seu amigo mais que íntimo, usando em prol das cousas nobres, mas isso é inimaginável para esses, seus patrocinadores, telespectadores e esse país que hoje cegamente cai na onda de um algoz sendo elevado a categoria de salvador da pátria. A Globo não possui mais nada de bom em sua grade de programação, tudo desvirtuado, perdição em matéria de jornalismo, insensibilidade e crueldade sem limites. Prefiro continuar com meus temas, escrevendo para uns poucos do que fazer o que gente como esse Huck costuma fazer com as mentes de incautos. Tanta coisa para fazer, tanta preocupação pela frente e vou lá me preocupar com essa intempestiva passagem de um cara a perverter a condição humana. Enquanto ele deseduca gerações pela telinha global, um mundão clamando por ser enxergados, valorizados, descobertos e acolhidos, atendidos e quando isso de fato ocorrer, uma possibilidade de virada de mesa. Não sobraria Huck sobre Huck, mas isso tudo é mero sonho. Ele é o bonzinho e o resto que se rale.

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