terça-feira, 16 de outubro de 2018

AMIGOS DO PEITO (151)


O BAR DO BARBA, REDUTO LIBERTÁRIO JUNTO DA FEIRA FOI ATACADO NA MADRUGADA

Não tenho palavras adequadas para designar o que penso e como sinto a presença do Bar do Barba (ou do Estevan, seu proprietário), localizado ali na confluência das ruas Julio Prestes com Gustavo Maciel, centro velho da aldeia bauruense. Aos domingos, principalmente na sua parte matinal, enquanto rola a maior feira de Bauru, portão de entrada de outro local não só folclórico, como o espaço onde rola e flui democraticamente a maior concentração popular bauruense, a Feira do Rolo, na junção das duas feiras está localizado esse bar. Ponto de convergência de tudo o que de interessante e pulsante acontece por essas plagas, ali literalmente acontece de tudo um pouco, daí a riqueza e imenso valor, diria, incomensurável daquele reduto. Um dos frequentadores, o advogado Paulo Brito me disse ainda nesse domingo: "Esse o melhor lugar dessa cidade. Não passo bem no domingo se não permeço algumas horas por aqui, vendo isso tudo acontecer diante dos meus olhos". Concordo em genero, número e grau.

Dito isso, vou aos triste fatos ocorridos essa madrugada. O bar funcionou até por volta da meia noite e ao acordar Estevan sente um forte cheiro, desagrável, "nauseabundo", me disse. Ele mora junto ao local, num quartinho nos fundos. Foi verificar e encontrou uma quantidade grande de ovos quebrados do lado de dentro do seu portão. Espantado, ainda sem lavar os olhos, começou a imaginar: "Quem poderia ter feito tal coisa e por qual motivo?". Sua indignação cresce ao sair às ruas e ver duas pixações feitas com spray cor de prata na suas paredes. Uma frontal, bem defronte o estabelecimento, "LUGAR NOJENTO LIXO". Assim mesmo, entre aspas. Dobrou a esquina e outra inscrição, essa sem aspas, SALGADO ESTRAGADO É AQUI. Ficou sem entender, mas colocou a cuca para funcionar. Está revoltado e ao passar por ali hoje no meio da tarde, vendo as inscrições, parei e assuntei: "Que foi isso, Barba?". Ele me puxa para dentro, me faz sentar e diz: "Meu caro, tem quem goste e quem não gosta nem um pouco da gente. Quando você está em dificuldade, esses aplaudem e quando você acomeça a incomodar, trazer mais gente, fazer algo mais, pagar suas contas, daí incomodamos. Vejo por aí, não penso em outra coisa. Isso dos salgados não tem nada a ver. Minha cozinha é o quer mais cuido. O problema deve ser outro".

Diante disso, eu o puxo mais pra perto e faço minha interpretação. Disse a ele, mais ou menos isso: "Barba, tudo incomoda sim. Seu sucesso, sua cantoria que ontem alegrava o quarteirão e fervia o lugar. Mas não deve ser somente isso. Você também nos abriga, os ditos 'vermelhos', que nem muito vermelhos somos, mas contestamos e somos declarada oposição a uma corrente preconceituosa querendo tomar conta de tudo hoje em dia. Isso também incomoda, pois nós te escolhemos. Talvez essa pichação tenha endereço por estar nos abrigando, mas o que faz não é aderir ao que pensamos, pois te vemos indiferente a isso, tratando a todos com a distinção necessária para um dono de bar. Te escolhemos por gostar desse ar democrátrico da feira e por aqui nessa esquina ser hoje um dos lugares mais efervecentes dessa modorrenta cidade. Será que o que alguns não querem é nos ver por aqui todo domingo? Pense também nisso".

Barba coça a barba, a cabeça e ficamos a matutar sobre o assunto. O fato, algo que ambos tiramos como conclusão, é que as pichações não estão ali de graça e muito menos estão ali por causa dos seus salgados. "Tem gato nessa tuba", lhe digo. Os fatos são esses e acrescento mais umas pitadas de salmora, para adocicar a contenda: 1) No mesmo muro, outras duas inscrições, feitas a quase um ano, ele me diz, mas com um spray da mesma cor e letra um tanto parecida; 2) As inscrições aparecem na parede justamente há duas semanas do pleito segundo turno, onde os animos estão mais do acirrados entre libertários e fascistas,verdadeira guerra declarada e 3) É do conhecimento mais que público que todo domingo se reunem ali para um bate papo, dignos representantes da ala dos libertários. Peço para quem ver pela aí na cidade, algo com o mesmo tipo de spray prateado e com grafia parecida, que faça contato e vamos comparar as situações.

Por ali, todo domingo se reunem jornalistas, professores, advogados, bêbados, viajantes, aposentados, rufiões, pedintes, moradores de rua, feirantes, assalariados e tudo o mais, formando uma fauna só ali possível. Essa convergência é de uma combustão inimaginágel. Vamos todos ficar mais atentos e reforçando a presença, pois de medo não morreremos. Desde já marco para o próximo domingo uma grande concentração, não só de frequentadores, como de todos os "libertários" e com o espírito dentro do perfil "livre, leve e solto" para lá estarmos e num ATO PÚBLICO, protestar contra a bestialidade em curso. Proponho mais e isso para já, uma "vaquinha", onde possamos a toque de caixa comprar uma lata de tinta VERMELHA e presentearmos o dono de tão rico espaço, um que decididamente não tem culpa nenhuma de como pensa e agem os frequentadores do local. Ele se dá bem com "gregos e troianos" e só por causa disso seu lugar é o que é, de uma riqueza sem preço. Aliás, dizem que, diante da fraquência o preço do lugar está em alta junto ao especulativo mercado imobiliário local, um seguindo religiosamente as tais leis do mercado, esse que hoje quer comandar nossas vidas. Já avaliaram o estabelecimento assim por baixo, algo em torno do mesmo valor que estão querendo vender a Petrobrás pros estrangeiros. Porém, o Barba bate o pé e diz que não vende por nada nesse mundo. Nós, os bebuns que lá batemos cartão adoramos e a resistência continua.

AS PRIMEIRAS PÁGINAS DOS JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E VALOR ECONÔMICO, EDIÇÃO DE 15/10/2018 DIZEM ALGO SOBRE OS TEMPOS SOMBRIOS QUE NOS ESPERAM.
Estão ali por se tratarem de propaganda, mas na verdade, embutido nelas, algo muito mais sério. Teriam os jornais do Grupo Frias capitulado? O país inteiro (sic,que pena, isso não acontece) percebendo que com o capiroto o país vai entrar num ciclo sem volta, onde quem perderá seremos todos nós, o povo brasileiro.
Essas capas da edição de ontem dizem muito, basta vê-las. A interpretação é direta e reta.

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