quinta-feira, 18 de outubro de 2018

MEMÓRIA ORAL (232)


A LUTA CONTINUA – Quase fechado pela Lei de Imprensa, jornal Debate, de SCRP enfrenta novos desafios para manter suas portas abertas*

* As boas histórias de resistência nesses anos mais que duros eu colho pelas andanças que ainda faço pela aí. Essa eu espalhei para publicações em variados órgãos da imprensa independente, livre e atuando dentro da verdade factual dos fatos. Quem bravamente resiste tem que ser valorizado, e esse Sergio, desse Debate é um alento para quem ainda pratica o jornalismo na sua essência. Quem ainda não conhece, não sabe o que está perdendo por ainda não ter batidos os olhos na experiência inusitada desse jornal semanal de Santa Cruz do Rio Pardo, um baluarte no que faz e de como é feito. Conheçam a história lendo meu relato a seguir:

O jornal semanal Debate, da pequena Santa Cruz do Rio Pardo (46 mil habitantes), interior de São Paulo já foi notícia num passado recente, após sofrer sérias perseguições pelo Judiciário local. Colocando literalmente a boca no trombone, esperneando em todas as instâncias seu proprietário e principal jornalista à frente desde a inauguração, 41 anos atrás, Sérgio Fleury Moraes (nada a ver com o famoso torturador), se safou de pagar uma indenização milionária que lhe fecharia definitivamente as portas. Sacramentou no país algo a mais sobre as tais ditas e desditas liberdades de imprensa e de expressão. Faz parte de uma história a ser contada com orgulho e jubilo, mas hoje, os percalços continuam e se agravam. Entenda o ocorrido: http://observatoriodaimprensa.com.br/…/a-histria-de-uma-pe…/.


Com o país de pernas para o ar, uma crise institucionalizada e agravada com o golpe de 2016, além de outra, a da mídia impressa, Debate sobrevive com 7 mil exemplares semanais, quando já chegou a picos de 10 mil. Um selo em sua página 2 registra a continuidade da perseguição: “Perseguição – Enquanto você estiver vendo este selo, processos judiciais ameaçam o DEBATE”. O jornal perde anos atrás uma ação de retratação de ex-prefeito da cidade, publica o exigido e sem ser notificado, lhe agora cobram 600 mil reais. Quando soube por um amigo advogado, estava em vias de ser preso. “O Judiciário tomou posição na cidade, agora com outro tipo de ataque, num processo kafkiano, ainda consequência daquele outro do passado. Nada me foi comunicado, tudo transitou em julgado, espécie de segredo e pelas Pequenas Causas, onde o máximo das ações é de 20 salários mínimos. Querem calar definitivamente minha voz, só que esse caso é ainda mais gritante, um erro proposital. Resisto até quando me for possível”, diz.

O parque gráfico está fechado, juntando poeira, tudo penhorado na referida ação e as edições agora são rodadas na vizinha Bauru (no Jornal da Cidade), distante 100 km. Do prédio só a redação funciona de fato. “Infelizmente hoje é mais barato terceirizar do que rodar aqui. O maior concorrente da imprensa hoje se chama facebook, bom na essência, mas usado ao contrário na maioria das vezes. A minha mágica é fazer o que sempre fiz, um jornalismo verdadeiro, não mentir. Aqui candidato não banca o jornal, algo usual na imprensa interiorana paulista. O que nos banca é a credibilidade, o produto honesto. O povo vê que o publicado nas páginas do jornal é verdade, mesmo isso contrariando muitos interesses. Isso me causa problemas, mas me sustentou até hoje”.

Aos 58 anos, o jornal segue vivo, dois cadernos, 20 páginas no total, quase exclusivamente com matérias locais e regionais. Sai no início da semana e hoje conta com dois jornalistas. Sergio e outro contratado, o que o faz permanecer acordado na base de remédios por três dias da semana. “Aqui sou editor, jornalista, diagramador, fotógrafo, motorista e revisor. De quinta a domingo o bicho pega e o resultado é, mesmo com todos os percalços, a cidade se interessando pelo produto impresso. Já cansei de ser rotulado de comunista, ‘o vermelhinho’. Isso não me afeta, pois a receptividade sendo boa, tudo demonstra ser esse o caminho correto. Vivemos uma época onde as pessoas se manifestam menos, existe um temor maior em se expor e o jornal cumpre a ampliada missão de ser a voz também desses”.

Sérgio possui a exata noção de que, a queda da famigerada Lei de Imprensa se deu também com o caso nacional do Debate. Padeceu por mais de 15 anos com o caso da perseguição do Judiciário local e sobrevive hoje com uma redução do quadro de funcionários, que já era pequeno, hoje centrado em dez pessoas (já chegou ter 20 tempos atrás). Uma lida da qual não abandona por nada neste mundo, mesmo com todas as pedras encontradas pelo caminho. “Até meu único veículo está hoje retido como garantidor da dívida. Nem isso me desanima, pois empresto de amigos e conhecidos, vou a pé, de carona, mas o jornal continua saindo e fazendo sucesso. Tenho que ter forças, pois mal fecho uma edição, descanso um dia, já começa outra. Conto as histórias da cidade, das pessoas, dou valor a isso, estampo a foto dos munícipes, resgato a vida das ruas e registro com lisura o que de fato acontece”. Ou seja, está convicto do que representa de fato um jornal nesse formato para a sociedade local.

Vê-lo na lida diária, labutando contra as adversidades e conseguindo lançar a cada semana um novo produto, cheio de novidades e provocando interesses diversos, isso o move. Hoje, mesmo ciente de o jornal ser ele, enxerga com esperança um dos seus filhos, 17 anos, ainda no ensino médio, já o estar ajudando em atividades internas (“Ele já batuca uns textos, tem tino”). Não busca privilégios para sua situação, muito menos estar acima da lei, mas só conseguir tocar adiante seu projeto de vida, “enquanto tiver forças, pois não sei fazer outra coisa e não me vejo em qualquer outra atividade”. Segue em busca de outra luz no final do túnel, algo a impedir o fechamento definitivo do jornal, pois mesmo agindo na contramão dos interesses dos que negociam a informação no país, tem como alento ver leitores vindo até a sede buscar a nova edição tão logo saia, querendo saber das coisas, dos fatos ali narrados, a interpretação dada pelo Debate. “Isso não tem mesmo preço e me fortalece”.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História em Bauru SP, onde mantém o blog diário Mafuá do HPA (www.mafuadohpa.blogspot.com).




SIMPLESMENTE ISSO!
É preciso entender!
O eleitor do Bolsonaro não vai ficar constrangido ou mudar de opinião vendo a diarreia mental e o rebosteio que as ideias do seu candidato provoca. Isso exige um outro patamar de civilidade e sensibilidade humana.
Não é por argumento, história, números, estudos técnicos ou fatos concretos, que o eleitor do Bolsonaro se interessa.
Eles querem é um amplificador do seus própios preconceitos.
Uma metralhadora de frases de efeito.
Daí a empatia.
O Bolsonaro é uma auto-imagem de muitos brasileiros: racista, homofóbico, misógino, sádico e subletrado.
Todo mundo tem um Bolsonaro perto de sí dizendo diariamente muito do que foi dito no Roda Viva: um amigo, um marido, um tio, um avô, um colega de trabalho...
Bolsonaro não é um mito. Bolsonaro é um espelho da ignorância humana.", Danila França Rockfeller (Não sei quem ela é, mas sua compreensão do momento é perfeita).

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