terça-feira, 23 de outubro de 2018

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (62)


TEM COISAS QUE NÃO TEM PREÇO...
1.) Vou com esposa e uma amiga chegada do Rio num conhecido botequim nas beiradas da cidade (não tomo mais em nenhum da Zona Sul) na noite de ontem. Não quero identificar o local, pois os trogloditas podem retaliar. Na despedida conhecemos a cozinheira, quem nos preparou os deliciosos quitutes. Fervorosos cumprimentos e ela já ciente de que lado estamos, pede a atenção de todos e fala para o pequeno grupo: "Voltem aqui nessa semana e depois no domingo, quando vamos todos votar em Haddad e botar pra correr esse cara maldoso que quer destruir com a liberdade no Brasil. Eu adoro servir gente que pensa como eu, daí capricho até mais". Tivemos todos uma calorosa troca de abracitos variados e múltiplos. Ela nos recarregou para mais um dia de campanha, já em pleno desenvolvimento e ação. Vamos virar essa mesa...

2.) Volto ao mesmo posto de combustível onde estive semana passada. Naquele dia os frentistas me rodearam e quase todos votariam no capiroto. Permaneci mais de meia hora num papo pra lá de agradável, tentando mostrar o baú de maldades que o cara despejaria sob as suas cabeças tão logo chegue lá. Incrédulos, deixei um minhoca circulando na cabeça de cada um. Ao voltar hoje pela manhã, uma baita surpresa, vinda de um deles: "Mudei meu voto. O senhor nos falou aquilo tudo e fui juntando as coisas. Primeiro pelo lugar onde moro, numa casa do projeto Minha Casa Minha Vida. Como poderia trair quem me ajudou e no que fui ver esse projeto acabou, não vai ter mais casa pro pobre. É isso mesmo que o senhor falou, o único que vai olhar e fazer algo por nós é o Haddad e junto com o Lula. Meus colegas estão no mesmo caminho". Saio de lá cheio de boa esperança.

3.) Ontem com o carro parado no sinal, dois momentos mais que auspiciosos. Primeiro os flanelinhas ao verem os adesivos do Haddad/Lula se aproximam e fazem o sinal de positivo, puxam conversa além do trivial do limpar vidro. Esses sacam quem pode fazer algo por eles e um deles me disse: "Os caras que votam no outro são muito agressivos, tratam a gente como lixo. Só por isso, já percebo não serem nada bons". Num outro, carro parado aguardando o sinal abrir e o carro do lado buzina pra mim. Viro o rosto esperando a provocação, mas o que vejo é um baita sorriso: "Parabéns pela coragem e pelo adesivo. Silenciosamente a gente vai dar o troco e sem alarde eles verão a nossa força. Queria ter a sua coragem de colocar no meu um adesivo, mas como não posso, te reafirmo o prabéns".

4.) O circo já desmontou a lona aqui diante do mafuá e bate em retirada em busca de lugar com público mais animado. No desmonte de hoje cedo, uns chegam junto do meu portão e agradecem pela hospitalidade, fazendo questão de tocar também outro assunto: "A gente está indo, nem vamos poder votar, pois estamos londe de nossas cidades de origem, mas estamos quietinhos aqui torcendo pelo Haddad. Uma coisa a gente não tem como esconder, vocês petistas são muito mais atenciosos para com a gente. A agressividade existe do outro lado". Foram quatro semanas de intensa troca de experiências e se conseguiram enxergar isso e percebem como os dois lados o tratam, eis como tudo o mais poderiam também sacar e promover logo essa virada tão oxigenante para o país liberto que tanto queremos e precisamos.

5.) A moça estuda Direito numa Faculdade privada da cidade e me liga no meio da tarde de ontem: "Aqui tá cheio de capiroto e tem até um grupo nazi. Por favor, façam algo, venham fazer um ato aqui na frente. Não adianta mais panfletar, tem que falar pra eles. Eu não posso tomar a dianteira, pois passada a eleição eles continuarão aqui e eu vou e volto a pé para casa. A gente vai percebendo como aa violência nos atos deles vai crescendo a cada dia, colocando as manguinhas pra fora. Cresce o medo, mas temos que mostrar que o nosso lado é diferente disso tudo. O que a gente quer é um país com soberania e isso não teremos com eles". Ah, se tivessemos mais pernas pra atender a tudo isso e tãs pertinho da eleição, mas não deixo de fazer o que ainda posso.

6.) Vou almoçar num restaurante popular e na hora de pagar a conta, eu e o moço do caixa brincamos. Ele com uma camiseta vermelha, uniforme do estabelecimento e eu com uma do Che Guevara. Digo a ele: "Será que poderemos usar essas camisetas se o capíroto ganhar?". Ele ficou sério na hora e me contou uma história: "Tempos atrás trabalhava numa empresa na Getúlio e na hora da saída, eu ainda de uniforme, uma camiseta com as cores azul e vermelha. Na frente, perto do prédio da PF uma concentração e sou cercado, me provocam só por causa da cor que vestia. Tive que engrossar, nem quiseram ouvir minha justificativa. A partir daí peguei paura desses que se dizem contra a corrupção, perseguem quem veste vermelho, mas no fundo não tem o bem no coração. Vivem alimentando um ódio doentio, muito diferente de amor. Quero distância desses". Me disse baixinho, quase no pé do ouvido: "Não sou PT, mas não quero que o país piore mais do que já está, daí só posso ser Haddad". Trocamos um forte aperto de mãos.

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