sábado, 12 de janeiro de 2019

AMIGOS DO PEITO (154)


A MELHOR COISA DO MUNDO É ESTAR RODEADO DE AMIGOS, POR ONDE A GENTE SE ENCONTRE*

* Escrevinhações sem pé nem cabeça, andanças cariocas e das correrias desta vida...
Tento contar tudo em poucas linhas, pois tenho que ir pra rodoviária, onde o ônibus de retorno pra aldeia bauruense me espera. Meu embarque é as 19h20, acabo de chegar do centro do Rio, onde fui almoçar com amigos. Recebi dois convites de distintas pessoas e marcamos no mesmo lugar. Maria Helena Ferrari é a matriarca dos Ferrari, mãe do Digão, o Rodrigo Ferrari, ambos sócios proprietários da livraria mais charmosa de todo o Rio de Janeiro, quiçá do país, a Folha Seca, na rua do Ouvidor 37. São 21 anos de história, onde revolucionaram o pedaço, tornando aquilo tudo um reduto de bom samba, boa música, bons livros, boa gente e bares ao redor, ladeando o festival diário de livros. O que ocorreu naquele reduto do centro do Rio é para ser contado num livro, pois enquanto tantas outras ruas fenecem, a do Ouvidor floresce e viceja, sendo hoje o reduto final flor da boa movimentação. Conheço Rodrigo dos tempos quando camelava vendendo minhas chancelas pelo Rio e no final do dia parava numas livrarias e sebos. O conheci, mais de 20 anos atrás e seguimos amigos. Sempre que estou pelo Rio passo para ver o que anda aprontando. Sempre coisa boa. Sua mãe conheci há pouco tempo, coisa de uns três anos, somos amicíssimos pelas redes sociais, mas nunca nos havíamos visto pessoalmente. Faltava a oportunidade. Hoje ela, sabendo que estava pelo Rio, liga e diz: "Vamos almoçar?".

Do outro lado do mundo, Rui Zilnet, alguém que um dia conheci fotografando por Bauru, quando morou na terrinha por três anos e depois voltou para o seu Rio. Está lançando um lindo livro contando a história de um capoeirista, só com registros fotográficos. Uma obra que você lê aos poucos, seguindo as fotos e acompanhando a história do sujeito, se encantando a cada flash, aprendendo a ler sem letras, interpretando o que está dito pelos olhos atentos desse baita profissional. Coisa linda, obra de arte. Quase toda vez que vou ao Rio o vejo. Desta vez não o perturbei, pois sabia estava convalescendo de cirurgia e tratamento médico. Da última vez que nos vimos foi defronte a Cinelândia, num ato anti golpe. Eu já havia visto algo do livro nos seus escritos pelas redes sociais e hoje ele me liga assim do nada, pois deve ter tomado conhecimento de minha estada pela cidade e faz aquele convite: "Vamos almoçar?".

Aceitei a ambos os convites. Rui havia escolhido a Confeitaria Manon, lugar chique, perto do Largo São Francisco, onde podíamos conversar tranquilamente, segundo ele. Digo do outro convite, ele diz achar legal irmos lá pra livraria, pois tem intenção de lançar seu livro por lá e assim aproveita o ensejo. Marcamos para as 13h30. A Folha Seca é um reduto indescritível encravado no meio dessa cidade com muita coisa ainda muito maravilhosa. Eu só circulo nos lugares ainda com possibilidades mais que maravilhosas. Chego lá e Rui está papeando com Rodrigo e se acertando sobre o lançamento do "Passos de um Capoeira". Ganho o autógrafo e uma camiseta com a grife do livro. Um luxo só. Rodrigo não pode ir de imediato almoçar conosco e saímos todos, pois Maria Helena chega logo a seguir e nos indica o "Cais do Oriente". Vamos caminhando a pé, ela nos falando sobre as transformações ocorridas no centro velho do Rio, as portas que foram se fechando, da alegria de antes e do presente. Lá nos fartamos de comer, conversar e dessa rica possibilidade de nos amarmos mais e mais quando todos juntos. Rodrigo chega no final e ainda tomamos umas cervas geladas. Conversas quase todas colocadas em dias. Voltamos a pé para a livraria ouvindo as histórias do pedaço e da grande festa que vão fazer no próximo dia 20, quando dos 21 anos da Livraria. Só para terem uma ideia, o gajo vai levar um piano de cauda para o meio da rua. Ele é abusado, mas sabe o que faz.

O interior da livraria é mais que uma loucura. Ali tudo o que gosto. CDs só da nata do samba. Livros só com temática de samba, futebol, carnaval, pessoas que fazem ou fizeram a história do Rio e tudo sobre a cidade se São Sebastião do Rio de Janeiro. Esporadicamente algo de outros temas, mas tem que ser de gente com afinidades com a proposta da casa. Rui senta e conta sua história, diz como se salvou graças a um acordo de última hora com alguém lá de cima que lhe concedeu umas horas extras e delas faz uso da forma mais divinal possível, tocando a vida mais suave, sem aflições e correrias. Cada um conta algo da sua. Rodrigo ouve tudo e tenta trabalhar. Sua mãe, dona Ferrari é um doce de pessoa, lembra muito minha finada mãe e por isso fiz questão de lhe dar um baita abraço, quando revivi algo da minha, do qual morro de saudades. Todos nós estamos mais do que irritados, descontentes e irados contra o FEBEAPÁ produzido pelos bolsomínios nesses apenas 11 dias de desGoverno. Desencontros dantescos levando o país a breca. E nós todos resistindo e sobrevivendo em guetos, como esse onde estamos e felizes ao nosso modo e jeito, pois ao lado de gente ao menos pensando e agindo por um interesse e ideal coletivo e único, libertar de novo esse país, reconduzi-lo para caminhos novamente arejados.

Abraçar o Rui pelos mimos foi pouco, acho que sai devendo mais uns apertos nele, mas fiquei receoso de apertá-lo demais e provocar algum estrago. Não queria mais ir embora. Quase peguei carona com Maria Helena, mas seria até em parte do caminho. Comprei um livro do Luiz Antonio Simas, o "Almanaque Brasilidades - Um Inventário do Brasil popular" e piquei a mula, ou seja, tive que sair correndo e a contragosto. Rui e a sua companheira de todas as horas foram comigo até a esquina esperar o UBER. Desembestei para o Grajaú, onde ainda tinha mala para arrumar e uma outra condução pra pegar. Atrasado, acho por bem tomar mais uma cerveja, gelada como de praxe, só para ver se não me esqueço de nada. Enfio tudo correndo nas malas e saio para a esquina em busca de condução. Tomara que não perca a condução que me levará de volta para a aldeia bauruense e os braços da felicidade com Ana. Ainda sento com o relógio diante de mim e batuco esse texto, saindo assim de qualquer jeito, pois não queria publicar as fotos sem nenhuma explicação. O desenrolar da prosa poderia ser mais apurado, melhor ajambrada, mas por hoje foi o que deu. E ainda bem que deu.

Pedo outro UBER e sigo para a rodoviário Novo Rio. O motorista é um morador de Bangu e a identificação bate logo quando me ajudou a colocar as malas no carro. O vejo de alpargatas e digo: "pronto se gostas desse pisante só poder ser gente fina". Foi o suficiente para iniciar uma longa conversa. Ele me relata em detalhes das agruras que é viver no calor de Bangu. No frigir dos ovos, ar condicionado do carro ligado o tempo todo, pergunto a ele quanto ele gasta de luz. Ele ri, diz que mora bem, numa confortável casa, espaçosa sala, lá um ar e outro no quarto, esse menor. Diz não poder permanecer com os dois ligados ao mesmo tempo e para gastar menos, o almoço ele faz no quarto. Por fim, diz que não paga condomínio, mas sabe que não dá para economizar e viver no calor, pagando por mês R$ 800 reais só de luz. Diz ser um luxo necessário. A conversa fluiu e ajudou a disfarçar meu nervosismo, pois o trânsito depois das praça da Bandeira, no viaduto e na entrada da avenida Francisco Bicalho é uma loucura no final do dia, com todo mundo querendo pegar a avenida Brasil. Chego com 20 minutos pra saída do ônibus. Carrego tudo pra dentro do terminal e ainda vou dar a última espiada na banca de jornais. Trago a edição do dia do Jornal do Brasil, com uma charge linda do Miguel Paiva na primeira página. Não deu tempo nem de mijar, pois estava mais que em cima da hora. Ufa! Próxima parada, Bauru, desmaiei e só acordei no meio da viagem, quando passava por Campinas.
OBS.: A gente quando escreve de amigos perde até o rumo, a noção do que deve ou não ser descrito. Eu me emociono com todos os que possuo e felizmente me rodeiam.

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