sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (60)


“MENTE QUE EU GOSTO”, UM LIVRO DENUNCIA A FARSA E UMA SÓRDIDA PRATICA DA MÍDIA, MUITO DIFUNDIDA NAS REDES SOCIAIS – POR QUEM MESMO?
Com a mentira sendo difundida aos quatro cantos, espalhada com o vento, a banalização da escrita. Vale tudo, desde que defenda o ponto de vista de quem ostenta o poder. “Eles” mesmo, só ganharam a eleição devido a tudo aquilo, a enxurrada de fakenews diuturnamente enviada para o celular de incautos, que caíram como patinhos. Sobre isso, um depoimento escrito do fundo da alma por um jovem jornalista, formado aqui em Bauru, atuando hoje em Catanduva, Rodrigo Ferrari:

“A nossa profissão acabou. As pessoas preferem acreditar em um energúmeno com um celular na mão - mas que fala as asneiras em que elas preferem acreditar - do que em profissionais qualificados, que passaram quatro ou cinco anos numa faculdade estudando para aprender a fazer uma cobertura crítica da realidade. O jornalismo está sendo derrotado pela cornice que marca nossa época. Corno é aquele que, mesmo diante da realidade crua que se apresenta, prefere acreditar no conto de fadas que alguém lhe vendeu”.

Hoje, não só a mentira, como a canalhice venceu a verdade dos fatos. Para entender melhor sobre o papel da mídia, esse meu foco no momento, busco na prateleira do mafuá um livro trazido da Argentina em 2015, o “Mentime que me gusta – De los interesses del periodismo al autoengano del lector”, do locutor, periodista, escritor, radialista e narrador esportivo, Victor Hugo Morales. Diante da avassaladora enxurrada de mentiras da mídia argentina para tentar de todas as maneiras denegrir e incriminar o governo de Cristina Kirchner, Victor Hugo foi juntando, uma a uma, tudo o que ia saindo, a repercussão inicial e depois, quando já havia caído no esquecimento, a conclusão, sem provas, tudo ficando por isso mesmo. Uma vergonha a acontecer lá e aqui também. Quem não se recorda de tudo o que fizeram com os filhos do ex-presidente Lula, as muitas mansões e sociedades ditas de sua propriedade, mas nenhuma o incriminando de fato, pois tudo se tratavam de meras e escandalosas mentiras.

Victor Hugo tem sua explicação para o fato. “Nunca antes na história argentina uma parte da mídia esteve envolvida a serviço de interesses políticos e econômicos, utilizando para chegar aos seus sórdidos objetivos de uma grande quantidade de mentiras. Porém, para que isso funcione, a mídia necessita de um leitor cumplice, que queira ser enganado”. O livro todo trata de como ocorre esse cruel e insano mecanismo. Foi um minucioso trabalho, editado em livro pela editora Aguilar, 208 páginas. O que os dois jornais analisados, o Clarín e o La Nación, fizeram com o casal Kirchner é mais que um caso de polícia, porém nada lhes aconteceu, mesmo a mentira tendo sido comprovada. O mesmo ocorreu aqui no Brasil. Separei algumas frase de Victor Hugo para exemplificar melhor o que escrevo:

- “Os meios de comunicação não deixam de se escudar sob o manto da liberdade de expressão para se defenderem de qualquer crítica, estão tendo uma responsabilidade fundamental para que as novas gerações não consigam entender nada do que ocorre... (...) ...operam para desinformar. (...) Esses setores passaram a ser parte de grupos com interesses diretos no domínio e no manejo das questões públicas e abandonaram a norma de independência e de responsabilidade social. (...) Ocorre uma concentração em muito poucas mãos, convertendo-se em primeiro poder em muitos de nossos países. (...) A ditadura midiática ...sua finalidade é manter os cidadãos em seu lugar, dentro do sistema de exploração. (...) promovem uma sabotagem permanente na integração e união de nossos países e nossos povos”.

- “As forma de mentira podem ser variadas, com uma viscosidade que se permite entrar em todos os espaços. (...) Apostaram que, com milhões de mentiras acumuladas, o imaginário coletivo se fixe nas estatísticas das cavernas. A desculpa possui a hipocrisia e o cinismo de um rei, que ante seus súditos, pronuncia falsidades que todos conhecem. (...) Sem nenhum elemento, se lançam à construção de um relato completamente sem provas. Atacam os que odeiam. (...) Contam com apoio incondicional de quem por ódio seguem este estilo, porém, ao mesmo tempo destroem o jornalismo. (...) Grupos capazes de tudo quando se lançam a confrontar com seu poder”.

- “Fotos, títulos, notas relacionadas, fóruns que interpretam o que a máfia periodista quer dizer, construção de personalidades e de temas, ironias a partir de fatos falsos, cinismo e mentiras jamais corrigidas, tergiversação dos ditos de quem a organização pretende denegrir, protegidos e perseguidos, nenhuma informação que não se alinhe aos seus interesses, lupa sobre os horrores, enorme insistência com palavras e frases que disparam raiva, dados econômicos adulterados, ocultamento de misérias de quem se alinham com seus interesses, espionagem, ações conjuntas com gente inescrupulosa e grande ironia, de sendo os piores corruptos do país, se convertem nos denunciantes. Um cachorro enlouquecido mordendo sua cauda”.

- “A construção da subjetividade é a mais exitosa tarefa dos grupos hegemônicos. (...) Quando mentem sabem de antemão o imenso prazer que causam a muitos dos seus leitores. A irrefutável mentira é um grande capital. Cumplicidade assegurada. (...) Trabalham sobre um terreno em que o leitor os reconhece pelo olfato. (...) ...não fazem outra coisa que enganar no que dizem, servindo para acelerar a fúria das pessoas. (...) Fazem tudo por maldade pura e desprezo profundo pela inteligência de quem os seguem. (...) Os diários hegemônicos estão atuando dessa forma e o ouvinte/leitor lhes fazem sentir deuses capazes de salvar a própria prova. Mais ainda, porque Deus quiçá tenha medo de que a verdade venha a ser de fato divulgada”.

- “Falsear a realidade para ter razão é não tê-la. Um bom leitor acompanha a análise editorial do que lê dando por sentido se os eixos não foram deformados, para só assim avançar. A arvora, a raiz, o mar e seu leito, do periodismo é a verdade. A mentira quando, por sua insistência, não pode ser confundida com o erro. Pois se rompe aí um contrato selado entre esse meio e seus seguidores. (...) Representam os interesses mais egoístas da humanidade e se opõem a qualquer sintoma de progressismo que possa desfrutar o povo”.

O desalento, como se vê, tanto lá como cá, é quase absoluto. 

Enfim, o livro está inteiro disponível em versão online: https://www.youtube.com/watch?v=YM2dDazoIyI

Um comentário:

  1. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
    Cassio Guarani Kaiowá Cardozo de Mello Por isto que preferi ficar fora disto... já faz tempo que ser jornalista é se coadjuvante de uma grande farsa!

    Ricardo Santana Não há democracia possível sem um jornalismo atuante.é fato q a democracia brasileira está sob vertiginoso ataque, pq o PT (com todos os erros) mostrou q o Brasil grande e independente propagado por GV é possível. Isso não interessou à elite nacional e nem aos interesses internacionais de exploração da colônia Brasil (é este nosso destino). Foi assim no tempo de GV é é assim agora. PHA ao afiar sua conversa alerta p uma perigosa postura das Forças Armadas: houve um tempo q os milicos aceitaram a canga desde q certos interesses nacionais fossem preservados
    HJ o pessoal da ativa se mostra um mero observador do entreguista. Preocupante!

    Daniel Pestana Mota Imprensa e jornalismo são cada vez mais antagônicos.

    ResponderExcluir