sábado, 9 de março de 2019

BAURU POR AÍ (162)


SÓ HOJE ENCONTRO TEMPO PARA ESCREVER SOBRE ENCONTRO NA FEIRA NO DOMINGO PASSADO
Bessa e esposa
 

Tudo começou na Banca do Carioca (que na verdade é fluminense, de Vassouras), um dos lugares mais picantes e envolventes desta aldeia, pois comercializa livros e música dentro da balbúrdia da Feira do Rolo. Por isso mesmo, acaba reunindo tipos dos mais variados e múltiplos, todos ali se reunindo como que imantados pela inusitado do ali proposto. A cada domingo, despontando de todos os lugares surgem pessoas prontas para debater, conversar, parlar, trocar ideias e o grandioso do lugar é esse rodízio. A cada domingo se renovam os integrantes. Num domingo venho, no outro não posso, mas sou substituído por outros e outras e assim a conversação segue altaneira. Nesse domingo quando comentava isso com um que por lá aportou domingo passado, o Bessa, percebo seu espanto e se põe a contar as pessoas escolhendo livros na banca. Naquele momento eram cinco. Fomos beber no Bar do Barba para comemorar os reencontro e saber que além de nós, existe ainda uma imensa legião, oculta e quase anônima, consumindo livros e não aceitando o que nos é imposto pelo desGoverno que tomou de assalto o país na ultima eleição.
Pedroso e sua mala, com alça


Entrego quem por lá compareceu neste domingo. Eu, este intrépido e desmemoriado HPA, mafuento de primeira linha e agora sem poder dormir, pois o ameaçam com um dossiê contando algo mais ocultado aos longo dos anos (que venga el toro!), junto de Gilberto De Almeida Bessa, sua esposa, Antonio Pedroso Junior, sua esposa e filho, Carlos Norberto Osilieri, um jauense carioca e o dançante Sivaldo Camargo. Foi combustão pura. Chovia, primeiro garoava e sentamos na beirada do coberto, calçada, ali permanecendo entre pingos e fumaça. Bessa sabia muito do Pedroso, mas não o conhecia pessoalmente. Trocaram contatos e promessas de parcerias. "Quero me informar contigo, pois quero ser seu concorrente no mercado livreiro", disse Bessa. Saco o "Livro dos Sonhos" do Jack Kerouac, comprado na banca por meros R$ 5 reais e a esposa do Bessa arregala os olhos ao ler o nome inscrito na primeira página. "É meu amigo, vou fotografar e enviar para ele, como veio parar aqui", disse ao ler ali "Luiz Felipe, 29/03/07". Bessa e ela falam da importância desse livro e do que queriam aqueles rebeldes norte-americanos. A conversa flui em cada novo assunto.
Osilieri, de Jaú para o mundo


Apresento a todos o Osilieri, um amigo que conheci pela interne, tudo por causa do amor à Cuba. Fui conhecê-lo pessoalmente mês passado no Rio no consulado venezuelano, quando nos reconhecemos num ato contra o golpe hoje urdido para entregar o petróleo daquele país para os ianques. Ele é de Jaú, ali nasceu e em 1964 foi com os país, primeiro para Sampa e depois, um ano depois, definitivamente para o Rio. Foi o que o salvou de conviver com o conservadorismo da vizinha cidade, quase 90% bolsonarista. Veio passear em Jaú, pegou um ônibus cedo, veio em Bauru só para bater papo, conhecer a feira de Bauru e não se arrependeu, pois participou de uma alvissareira manhã. Contou e ouviu histórias, pois todos tínhamos muito para por pra fora. Queria perguntar pro Pedroso quem ele conhecia de Jaú, daqueles do passado, que podem ser considerados de esquerda, de luta e de resistência. A pergunta ficou no ar, pois este estava de passagem, saindo para pegar estrada a caminho de sua casa em Sorocaba. Contei para o Osilieri a história do Toledo, filho do dono da Faculdade de Direito que morreu enfronhado na luta armada e livro do Pedroso, ali presente.
Sivaldo e os CDs


Sivaldo apareceu e sumiu, voltando meia hora depois e com um daqueles pacotes. Eram CDs comprados com o Carioca, três por R$ 10 e raridades só ali encontradas, desde jazz, MPB, clássicos e instrumentais. Ao fazer rodar de mão em mão cada aquisição, o tema musical fluía como mantra e o chopp passava a ser consumido com maior intensidade. Detalhistas, cada um queria contar algo de suas preferências musicais, pois as políticas estavam escancaradas ali na mesa, todos contrários à bestialidade em curso no país. Bessa escapou de tocar algo para nós, pois o Barba ao saber ser ele músico, ofereceu para lhe trazer o acordeão, o que preencheria a feira de boa música, mas este declinou: "Eu sou pianista, de sanfona e acordeão não entendo nada". Falamos dos tempos quando se auto-exilou na Alemanha, mais precisamente em Hamburgo e algo mais dos moradores do lado oriental e ocidental de Berlim veio à tona. Cada um explanava algo, aulas sapientes de conhecimentos adquiridos ao longo da vida e ali expostos, numa rara possibilidade de entre iguais tudo fluir sem neuras. Desabrochamos.
Barba, o dono do estabelecimento


E assim tudo prosseguiu até por volta das 13h, quando a chuva se foi, alvarás começaram a ter seu prazo de validade vencidos e o grupo começou a se dispersar. Cada um segue seu (des)caminho, deixo o amigo Osilieri na rodoviária e vou para meu lar, levando dois CDs e um livro na matula, nenhuma verdura e legumes, o que me causou problemas, pois tinha compromisso de levar folhas pra casa. Os domingo sem a convivência na feira não são os mesmos quando por ali aporto e me junto a quem comparece disposto a um bom bate papo. Local de resistência, nos domingos quando ninguém por lá aporta, passo e olho entristecido. Lembro de algo da semana anterior quando numa mesa estavam o Luiz Manaia e Aurélio Fernandes Alonso junto de amigos e soube depois que a feira acabou, a Emdurb limpou tudo, a roda de conversa não se desfazia, tendo prosseguimento até por volta das 17h. Também da semana passada, Ana Bia Andrade, a companheira de todas as horas, quando ao completar mais um aniversário marcou com amigos e foi sentar no mesmo lugar onde estivemos nesse domingo, ali recebendo os amigos para beijos e abraços. Aquele lugar está se transformando num local a ser agraciado como de "Utilidade Pública", mesmo alguns crendo de pés juntos que ali não existe utilidade alguma.
A muvuca dos que se encostam na parede vermelha e ficam a "parlar"

Um comentário:

  1. COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
    Fatima Brasilia Faria Aquela esquina tornou-se santuário. É pra lá que vamos quando queremos protestar, comemorar ou simplesmente prosear, claro na companhia luxuosa do chopp do Barba. Salve!

    Henrique Perazzi de Aquino VAMOS TODOS PRA LÁ NO PRÓXIMO DOMINGO E COM A CAMISETA DO TOMATE?

    Sivaldo Camargo Henrique Perazzi de Aquino vou chegar antes de você e sabe o motivo kkk

    Henrique Perazzi de Aquino Sivaldo Camargo, VAMOS TODOS PRA LÁ NO PRÓXIMO DOMINGO E COM A CAMISETA DO TOMATE? Prometo fazer plantão junto ao Carioca para ver se consigo levar ao menos alguns dos bons CDs que ele disponibiliza pra nós. Faltou contar isso no texto, as histórias do…Ver mais

    Antonio Pedroso Junior Caros, de Jau não me recordo de nenhum militante do campo da esquerda. Quem por lá morou e morreu anos atrás, foi Wanderico de Arruda Moraes, aos 96 anos de idade. Foi Delegado do DOPS nos anos 60 e seu diretor, antes do famigerado Fleury. No livro Aut…Ver mais

    Henrique Perazzi de Aquino Quer dizer que, segundo sua pesquisa e conhecimento, não existiram militantes de esquerda em Jaú. Lembro de um, um cabeleireiro, o Maurílio, fundador do PT na cidade, negro, seu salão era ponto de convergência e encontro dos descontentes. Se foi e com ele, pelo visto, o próprio PT na cidade. Roque Ferreira e Duilio Duka o conheciam...

    Antonio Pedroso Junior Olha, dos tempos antigos nunca encontrei referência a ninguém de Jau, claro, que deve ter existido sim, mas não consta de meus arquivos

    Roque Ferreira Maurílio, foi um dos fundadores do PT.

    Carlos Norberto Osilieri show de bola Henrique!

    Carlos Norberto Osilieri Foi um prazer conhecer essa turma maravilha. Valeu muito. Agora estou escutando uma boa Bossa Nova

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