sexta-feira, 29 de março de 2019

UM LUGAR POR AÍ (119)


EU E NANA CAYMMI
Sempre a tive entre as grandes. A ouvi desde sempre com louvor. Voz diferenciada, repertório idem, parcerias benditas, sempre esteve presente aqui no Mafuá. Agora mesmo lança um CD só cantando algo de um baita amigo, Tito Madi. Não descarto o que tenho dela, porém minha relação pessoal de fã está extremecida com sua declaração favorável ao Bozo e contra Chico e Gil. Tem algo não muito bom ocorrendo em sua vida para ter chegado a tamanhos impropérios. De Lobão, por exemplo, ainda tenho seus primeiros trabalhos aqui, alguns muito bons, nem os ouço mais, porém não os descartei até agora. Nana e a Família Caymmi me tocam mais. Que diria o velho patriarca disto tudo? Que pena...




ESSE BOTECO É CARA DA REBELDIA

Meses atrás o Marcão, ex-dono do Dona Pingueta me disse algo e não me esqueço mais da dica, advertência e conselho: "Nesses tempos a gente tem que valorizar e sair, beber e estar em lugares que comungam com a nossa cabeça, concepção de vida. Se sou de esquerda, por que vou lá beber num barzinho da Getúlio? Não tem liga isso, a gente fica bancando lugares onde não tem nada a ver com a gente. O negócio é ser e estar presente nos onde sabemos vamos nos deparar com gente da nossa laia". Isso não me sai mais da cabeça, já colocava em prática, mas agora o faço mais e mais, além de fazer questão de relembrar tudo e todos, para que não gastemos rojão em festa alheia.

Assim sendo, falo de um boteco desses que a gente conta nos dedos, mas não nas duas e sim, nos de uma só mão. O BODEGA foi um criado para preencher um vazio num festival de teatro lá junto de um dos espaços mais lúdicos e com o astral lá nas alturas, o Protótipo Tópico, na rua Monsenhor Claro, quadra 2, perto da antiga estação da NOB. A pegada do Protótipo é única e já atrai muitos, porém agora tem um algo a mais, o Bodega, um bar parangolé, desses que a gente bate os olhos e já quer sentar, ir se acomodando e não tem mais intenção de ir embora. Fui ontem ver de perto a reunião do prefeito com o pessoal da Cultura e conheci a proposta da dupla dinâmica, o Fábio Valério e a Juliana Ramos. Foi encantamento à primeira vista, gamação. Um lugar para seguir a rica o que o Marcão prescreveu e citei no começo desse texto. Bar é também isso de pele, da gente se sentir imantado, plugado na proposta do lugar e ali esse algo mais acontece na sua plenitude. Como para mim, boteco é vida e ainda mais nesses tempos onde precisamos muito de estar interligados umbilicalmente com gente na mesma vibe que a nossa, esse é o lugar. A dupla acertou em cheio e tomara essas iniciativas tenham imenso sucesso e a gente quando for cair na gandaia, botar o bloco na rua, lembre assim de cara: um lugar maneiro é o Bodega. E mais que tudo, o local é um dos nos levando pra centro velho da cidade, área ainda dregradada, abandona e um tanto vazia. Esse malucos dão seu quinhão de contribuição para nos fazer voltar ao centro velho de Bauru durante o período noturno.


RODEADOS DE INSENSATOS

MAFUÁ RENASCENDO... - AGRADECIMENTOS/ENCAMINHAMENTOS
Esses dias não tem sido fáceis. A barra está pesada, principalmente pelo amor que tinha por muita coisa perdida com essa absurda enchente aqui pelos lados ribeirinhos do rio Bauru. Eu ainda não entendi direito como isso tudo acometeu somente esse lado, o do rio Bauru e quase nada aconteceu naquela noite na Nações, um local onde os alagamentos são muito mais frequentes. Estou trabalhando com muito afinco por esses dias, deixando de lado tudo o mais, numa tentativa de recuperar algo. Assim por cima devo ter perdido perto ou mais de 50% do que guardei ao longo dos anos. Um acervo que nunca pensei em levar para o apartamento onde moro com Ana, até porque faltaria espaço. Desde quando herdei essa casa, hoje denominada de Mafuá, isso aqui virou exatamente isso, um imenso mafuá e ganhou forma por causa desses amigos, esses que me rodeiam e aqui aconteceram encontros, reuniões, festas e inciativas louváveis, admiráveis e a movimentar minha vida e a de mais pessoas.

Esse não será o fim do Mafuá. Ele vai renascer, creio que com uma outra roupagem, menos objetos, mas até mais fortalecido. Talvez isso tudo sirva para nos unir ainda mais. O momento do país pede isso e quero dispor isso tudo para algo onde possamos atravessar esses tempos sombrios mais unidos e coesos. Escrevo isso tudo tentando ainda acordar do pesadelo, pois hoje quando botei na rua parte da coleção d'O Pasquim, toda a da revista Bundas, Coojornal, Carta Capital, revistas Senhor que herdei do sogro, mais toda a coleção de livros do João Antonio e do Plínio Marcos, livros de História e romances pelos quais nutro verdadeira paixão, daí senti o baque. Um metro e meio de água dentro de um espaço cheio dessas preciosidades foi demais da conta. Eu perdi isso, parte de mim, mas outros perderam mais, tudo o que tinham e aqui no quarteirão e adjacências as histórias são de arrepiar. Que fazer com uma casa na beirada do rio? Vender pra quem? A saída é incrementar o Mafuá e para tanto convoco quem acredita nessa possibilidade.

Sim, muitos se propuseram a ajudar, não só com ajuda material, mas com ideias. A ajuda material eu anotei várias, mas ainda não contatei as pessoas, pois antes preciso rearrumar o espaço. Hoje joguei fora sofás, camas, guarda-roupas, mesas, armários e cômodas. Estavam inservíveis. O que sobrou está secando, depurado e resistindo a mais essa investida. Estou terminando de limpar os CDs e amanhã começo nos LPs. Os livros salvos ainda estão espalhados, mas em breve tudo terá nova cara. Creio que até o final desta semana, terei novidades e daí farei os contatos com quem se predispôs a incrementar o renascimento do Mafuá. Se ele já incomodava antes, farei de tudo para que incomode muito mais. Isso me move. E não conseguirei fazer isso sozinho. A gente quando unido dá sempre um trabalhão pra quem nos quer contidos e atuando como manada. A gente vai se falando e vou contando as novidades. Beijão pra tudo, todas e todos que se solidarizaram comigo por esses dias. Não vou me lembrar de todos, mas nos reencontros, saberei reconhecer. O Mafuá persiste, resiste e insiste...

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