domingo, 12 de maio de 2019

FRASES DE UM LIVRO LIDO (140)


NAS MEMÓRIAS DO FOTÓGRAFO SEBASTIÃO SALGADO EU APRENDI ALGO MAIS PARA FAZER USO DAQUI POR DIANTE
Primeiro conto algo sobre biografias. Adoro biografias. Até o indefectível Sérgio Mouro diz gostar delas, mesmo não conseguindo se lembrar de nenhum lida nos últimos tempos. Ele, sabemos, não lê nada de literatura, representa o lado pueril desses assuntos. Eu já leio (quase) tudo o que me cai às mãos. Este livro que termino de ler, estava na estante da companheira Ana Bia e toda vez que o olhava, a empatia, até o dia em que sentei no vaso para meditar (e obrar), li as orelhas, a apresentação e não parei mais, até chegar ao fim. Esse “SEBASTIÃO SALGADO: Da minha terra à Terra – Pela primeira vez, o maior fotojornalista do mundo conta sua história”, dele com Isabelle Francq (jornalista do Le Monde e Le Nouvel Observateur) é instigante, provocante e cativante. Todos conhecem um pouco de Sebastião Salgado, mas nessas 158 páginas (editora Schwarcz, SP, 2014) um algo a mais. Gostar é pouco, pois é de gente assim que quero estar perto, seguir junto e construir esse novo mundo, ainda possível. Conhecê-lo melhor foi gratificante. Indico de olhos fechados e também empresto o meu exemplar, mas antes terão esperar algum tempo, pois de tanto falar do que li, minha mana Helena está com ele e depois outra pessoa na fila.
Junto frases para que viajem junto comigo pelo que vai pela cabeça desse abnegado fotógrafo e cidadão do mundo:

- “Contemplar uma fotografia de SS é ter uma experiência da dignidade humana. (...) ...a autenticidade de um homem que sabe combinar militância e profissionalismo, talento e generosidade”, Isabelle Francq.
- “Quem não gosta de esperar não pode ser fotografado. (...) Fotografar é a mesma coisa: é preciso ter paciência para esperar o que vai acontecer. (...) É preciso descobrir o razer da paciência”.
- “Cada espécie tem sua própria racionalidade. O importante é dedicar tempo suficiente para compreendê-la. (...) As espécies carregam em seus genes, por várias gerações, o perigo que os predadores representam”.
- “Há muito tempo adquiri o hábito de dormir uma noite num lugar, depois, em outro. (...) Muito cedo aprendi a viajar. (...) Os homens tinham tempo para conversar, para olhar a paisagem. Essa lentidão é a mesma da fotografia. (...) Mesmo que hoje nosso mundo seja rápido, muito rápido, a vida, por sua vez, não segue a mesma escala. Para fazer fotos, é preciso respeitá-la”.
- “A maioria dos franceses não sabe, mas os brasileiros adoram a França. Desde o final do século XIX, todos os nossos intelectuais a visitaram, e a primeira constituição brasileira se inspirou nos princípios republicanos franceses. Todas as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes tinham uma Aliança Francesa com um diretor francês. (...) Já nossa confiança para com os americanos era nula: eles estavam na origem da repressão quer nos oprimia. Nunca fizeram nenhuma aliança com qualquer coisa popular ou democrática. (...) A área do Brasil é quinze vezes maior que a da França, mas a França é quinze vezes mais diversificada. (...) Foi na França que descobrimos o significado da palavra solidariedade e, depois que a aprendemos, não a esquecemos nunca mais”.
- “Descobrir Ruanda foi como reencontrar o Brasil. (...) Voltei à África o máximo de vezes possível ao longo da vida. Minha história está totalmente ligada a esse continente. (...) Não afirmo ser um especialista em África, mas adoro fotografá-la. (...) Desde que descobri a fotografia, nunca mais parei de fotografar. A cada vez sinto um prazer enorme. Minha formação de economista me permitiu converter esse prazer instantâneo em projetos de longo prazo. (...) Não foram suas paisagens e seu folclore que decidi retratar, mas a fome que assola os africanos”.
- “Lélia e eu constatamos que o mundo está dividido em duas partes: de um lado a liberdade para aqueles que têm tudo, do outro a privação de tudo para aqueles que têm nada. E foi esse mundo digno e privado de quase tudo que eu decidi retratar. (...) Sempre fui capaz de colocar minhas imagens dentro de uma visão histórica e sociológica. O que os escritores relatam com suas penas, eu relatava com minhas câmeras. A fotografia é para mim uma escrita”.
- “Todas as minhas fotos correspondem a momentos intensamente vividos por mim. Todas elas existem porque a vida, a minha vida, me levou até elas. Porque dentro de mim havia uma raiva que me levou àquele lugar. (...) A única maneira de contar uma história é voltar ao mesmo lugar repetidas vezes; é nessa dialética que se evolui. É assim que atuo há mais de quarenta anos. (...) Em minhas imagens. A vida de cada pessoa com quem cruzei é contada por seus olhos, suas expressões e por aquilo que ela está fazendo. (...) Para tirar boas fotos é preciso sentir muito prazer. (...) Todos os que convivem com um fotógrafo sabem disso: a coisa mais maçante do mundo é acompanha-lo. (...) Colocando-se num estado de total integração com aquilo que o cerca, o fotógrafo sabe que assistirá a algo inesperado”.
- “As imagens que trouxe de lá não foram feitas unicamente por mim. Foi preciso que aquelas populações as autorizassem, as oferecessem a mim. (...) O ser humano é um animal gregário, quando desembarca sozinho em algum lugar logo é integrado pelos que ali vivem”.
- “Sempre fico de frente para as pessoas que fotografo. Não peço que posem, mas elas percebem claramente que as estou fotografando e tacitamente me autorizam a fazê-lo. Nenhuma foto, sozinha, pode mudar o que quer que seja na pobreza do mundo. (...) Não fotografo a pobreza material para fazer os outros se sentirem culpados – a pobreza faz parte de onde venho. (...) Cada uma de minhas fotos é uma escolha. (...) A fotografia é uma escrita tão forte porque pode ser lida em todo o mundo sem tradução”.
- “Em qualquer lugar, em todos os países e todos os setores de atividade, nunca me apressei. (...) Nos quatro cantos do globo, as pessoas são deslocadas essencialmente pelas mesmas razões econômicas, que favorecem uma minoria, enquanto a maioria se torna miserável. E em toda parte a superpopulação resultante amplia os mesmos males: precariedade, violência, epidemias... (...) Fotografei todos os tipos de migrantes. Todos pegavam a estrada ou se espremiam em barcos para tentar uma vida melhor em outra parte, muitas vezes arriscando sua própria vida (...) A semelhança entre todas essas situações começou a me oprimir. (...) Aquelas pessoas atravessavam momentos terríveis, às vezes os piores de suas vidas. Mesmo assim, aceitavam, ser fotografadas. Queriam que seu sofrimento
- “É curioso como algumas regiões do mundo marcam cada pessoa de modo específico. (...) ‘Diante de uma atrocidade, o que constitui uma boa foto?’, às vezes me perguntam. Minha resposta cabe em poucas palavras: a fotografia é a minha linguagem. O fotógrafo está ali para ficar quieto, quaisquer que sejam as situações, ele está ali para ver e fotografar. É através da fotografia que trabalho, que me expresso. É através dela que vivo. (...) Deveríamos todos admitir que a sociedade de consumo da qual participamos explora e pauperiza enormemente os habitantes do planeta. (...) Os fotógrafos existem para servir de espelho, como os jornalistas. (...) Sempre procurei mostrar as pessoas em sua dignidade. Na maioria das vezes, eram vítimas da crueldade, dos acontecimentos. (...) Minhas fotos foram tiradas porque pensei que o mundo inteiro devia saber”.
- “Não preciso do verde para mostrar as árvores, nem do azul para mostrar o mar ou o céu. A cor pouco me importa na fotografia. (...) Considero seu poder realmente fenomenal. Por isso, sem hesitação, foi em preto e branco que decidi homenagear a natureza. Fotografá-la assim foi a melhor maneira de mostrar sua personalidade, de destacar sua dignidade. (...) ...para se aproximar dos homens e dos animais para fotografar é preciso senti-la, amá-la, respeitá-la. Para mim, tudo isso passa pelo preto e branco”.
- “A história da humanidade é a história de nossa comunidade. Nós, pelo contrário, nos dispersamos, nos individualizamos. Ninguém poderá me convencer de que o individualismo, tanto quanto o cinismo, é um valor. (...) ...não devemos perder nossas referências, nosso instinto, nossa espiritualidade. Foi nosso instinto e nossa espiritualidade que nos fizeram sobreviver até agora. (...) Fotografei pessoas a vida inteira e nunca sofri um único processo. Já fotografei pessoas em situações difíceis, no limite de tudo. Mas nunca me senti um voyeur, nunca experimentei ser um. (...) Os povos que alguns chamam de primitivos sabem muito bem que depois de explorar um lugar é preciso deixa-lo descansar”.
- “Mas acima de tudo, graças à nossa energia, vinda de uma certeza: voltar-se para o planeta é a única maneira de viver melhor. O mundo moderno urbanizado, cheio de regras e leis, nos esgota. (...) Para nós, Leila e eu, o essencial será sempre levar uma vida que participe de nossa época. Ser ativos. (...) Minha fotografia não é uma militância, não é uma profissão. É minha vida. Adoro a fotografia, fotografar, estar com a câmera na mão, olhar pelo visor, brincar com a luz. Adoro conviver com as pessoas, observar as comunidades – e agora também os animais as árvores, as pedras. Minha fotografia é tudo isso. (...) O desejo de fotografar está constantemente me levando a recomeçar. A buscar outros lugares. A procurar outras imagens. A tirar novas fotografias, ainda e sempre”.

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