DAS MARAVILHAS QUE É TER UM AMIGO A FUGIR DO TRIVIAL
Eu tenho vários assim, que não são nada normais. Aliás, a normalidade é mesmo uma nhaca. Ser normal é não mijar fora do penico, é seguir regras previamente estabelecidas e delas não sair por nada neste mundo. Ou seja, o cara passa a ser um chato de galocha. Fujo dos chatos. Prefiro os que vivem nas vicinais e tangentes da vida. Escrevo de um, o artista plástico e funcionário público municipal aposentado, Esso Maciel. Uma pessoa a dispensar apresentações. Já escrevi muito dele por esses espaços todos dos quais disponho e em todos, sempre reverencio sua autenticidade e coragem em ser o que sempre foi na vida, um sujeito morando ali sózinho na rua Campos Salles, vila Falcão e senhor de si, fazendo o que quer de sua vida sem dar importância para tudo o mais à sua volta. Paga o preço por ser e agir desta forma, mas já passou do tempo em que se preocupava com essas coisas miúdas. Hoje sua maior preocupação reside em como tratar bem sua prole de cães. Faz de tudo e mais um pouco por esses. Se desdobra e para eles não falta nada. Para si, falta muita coisa, mas seus queridos animais nada falta. Assim toca sua vida.
Ontem na feira dominical, banca do Carioca, quando tiramos uma foto juntos, eu, ele, o dono da banca e Roque Ferreira, me contava um algo mais e o que me fez escrevinhar esse texto. Falávamos de seu gosto por filmes. Passa quase todo domingo lá na banca em busca de novidades, filmes para depois assistir em casa. Tem uma coleção com milhares de títulos, todos ocupando muito mais do que um cômodo em sua casa. Confessa não ter assistido a todos, mas algo o impele a continuar comprando. Compra e os acumula para depois assistir. Faço isso também, com livros e CDs, muitos adquiro hoje e só alguns meses lá na frente os lerei ou ouvirei. Disse não conseguir se conter (eu também não) e se parar de agir assim, talvez até adoeça, pois isso move sua vida. Conta detalhes de sua rica coleção, só de clássicos, filmes cults e sabe de cor o nome de diretores e atores de quase todos. Um catedrático no quesito filmes de qualidade, algo que desconhecia até ontem dentre todas suas outras virtudes, algumas delas conhecidas por mim.
Não me contou somente isto. Teve mais. Certo dia estava saindo de sua casa e algo lá no seu interior o impelia para que se dirigisse a amontoado de coisas inservíveis depositadas na esquina de onde mora. Estava indo ao supermercado, lista de compras à mão, mas o chamado interno, aquela voz que ninguém sabe ao certo proveniente de onde surge, mas nos leva para caminhos outros. Foi até o amontoado de entulhos e lá algumas caixas e dentro delas uma coleção só de filmes, a maioria clássicos. O que aconteceu a seguir foi arrebatador. Deixou tudo o mais de lado e se pôs a carregar tudo para dentro dos seus aposentos. Levou todos, várias caixas e agora está catalogando uma a uma, curtindo seu encarte e alguns até já assistiu, outros colocou na fila e os repetidos, esses ainda estão por lá, pois nem jogar fora ou passar adiante teve coragem. Esso, assim como eu e uma infinidade de pessoas somos contumazes acumuladores. Gastamos o que temos e o que não temos com essa mania, para alguns, doença, para nós mera mania de ter pra si algo do qual gosta por demais da conta. O fato em si com todo o relato é ter acabado de descobrir mais um cinéfilo dentre meus amigos e daqui por diante, posso compartilhar conversas outras também com ele, além de todas as que já levamos pela aí.
Esso é de uma sensibilidade rara. Brinco com ele ali diante da banca do livreiro da feira que, quando eu e ele formos desta para outra, batermos com as dez, pifarmos, apagarmos nossas luzes, lhe pergunto: O que será feito do nosso acervo? Mostro a calçada cheia de livros, discos, DVDs, antiguidades e digo: Inexorável, estarão por aqui. Sabemos disso, pois cada vez menos as pessoas querendo e se dispondo a resgatar esses tesouros em seus espaços pessoais. Com o advento dessa tal modernidade, uma compactando tudo num mero pen drive, sem sal e açúcar, tudo ali naquele quadradinho, onde os encartes todos deixarão de existir e mesmo o ato da leitura estará prejudicado, sem o cheiro e o contato do papel, os riscos e marcações que faço nos meus livros e o prazer de virar os LPs, Lado A para o B. Nos abraçamos cordialmente, cientes de fazer parte de um mundo jurássico, quase em extinção. Se bobear, lhe digo, creio já sermos figuras exóticas e logo mais talvez também personagens de um mundo não mais possível, pois se nem as estantes forradas dessas maravilhas culturais existirão, que será de quem ousar guardar quinquilharias em casa? Olhamos juntos para o horizonte à nossa frente e imaginando ainda, cada um de nós, tendo alguma lenha para queimar, tocamos o barco, comprando e consumindo tudo o que ainda podemos, sem pensar nas consequências. Aliás, isso vai ser problema para quem vier depois da gente, quem herdar nossa única herança. Queremos mais é curtir tudo isso ainda disponível e rosetar o tempo que nos resta por essas plagas. E que tudo o mais vá se roçar nas ostras.
Isto acaba de acada de acontecer em Calamuchita, interiorzão da Argentina, numa eleição ocorrida ontem, conforme registra matéria publicada hoje no melhor jornal diário do nosso mundo, o argentino Página 12. O sonho pode se tornar realidade em qualquer lugar, basta o povo deixar de votar naquele que depois se mostra a favor dos interesses do outro lado. Precisamos de representantes e dirigentes com os olhos e ações voltados para nós, o povão e não para o interesse de minorias.
Eis o link: https://www.pagina12.com.ar/200763-el-intendente-hippie-de-un-pueblo-cordobes
COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
ResponderExcluirLuciana Franzolin Eu juro que é melhor não ser o normal
Helena Aquino Nunca fui normal. Não sou desse mundo.
Adilson Jorge Esso, gente finééééérriiima do nosso Bauru, sua cultura e saber é enorme😍😍😍😍
Adilson Jorge AAAAADOOOOROOOOO meu amigo Essooo
Vanda Silvia Novelli Eu tinha compulsão por livros, comprava muitos e não dava conta de ler todos. Hoje já quase não leio, gosto mais da internet e tenho aquela montueira de livros. Minha filha tem alergia a livros velhos e tb tem uma biblioteca enorme. Azar dela qdo tiver que limpar as estantes!
Tatiana Calmon Karnaval O Esso as vezes me empresta filmes, contadinho e cobra a devolução rs.
Ro Santos Orlando Terra ele ganhou de você na sua coleção 📼📺📻🎬🎞️🎥📽️
Maria Cristina Romão Que maravilha 👏👏👏💖💖💖
Moro numa cidade na Argentina onde a primeira prefeitura foi hippie e eles foram como herois da conservação dos bosques e proteção das aguas, artes e agricultura familiar graças a eles a Patagonia não está destruida.
ResponderExcluirMas a mega mineria avança...
Flaviah Motta