domingo, 9 de junho de 2019

COMENTÁRIO QUALQUER (189)


DAS TROMBADAS PELAS RUAS - CLUBE DO BOLINHA


SEU ROBERTO DO ALHO
Não existe reconhecimento melhor e maior do que ser chamado pelo nome, quando ontem à noite circulando e nuns bordejos a pé pela alameda Otávio Pinheiro Brizola, ser abordado por nada menos que, seu Roberto do Alho. Ele com sua lubrificada bicicleta, para no meio fio e no também no meio de seu ofício diário, o de percorrer todos seus clientes, variados e múltiplos pontos comerciais desta aldeia bauruense, vendendo seus graúdos pacotes de alhos, vindos do interior de Minas. Ontem confessava entristecido, pois no meio de um entressafra, não tinha para oferecer os grandões, classificação 9 e sim, por enquanto, somente os 6, considerados por ele de menor qualidade. Toda vez que o reencontro, não resisto em parar para um conversinha, quando me conta mais e mais detalhes de como prossegue sua vida, toda envolvida com a questão dos alhos e de como, após tentar fazer várias coisas como fonte de subsistência, acabou por encontrar no alho, que hoje entende como poucos, a sua mola impulsionadora e propulsora. Cidadão dos mais simples, conversador E ontem com um quase frio, estava em mangas de camisa, pouco agasalho e me explicando: “Na subida que fiz para chegar até aqui, só no pedal, não tem frio que resista, bate um calor”. Portanto, faça como eu, deixe de comprar alhos e bugalhos pela aí e o faça somente diretamente das sapientes mãos de gente a entender o que faz. Eu, assim como muitos criamos uma rede própria de consumo, adquirindo alguns produtos diretamente das mãos desses e não mais das grandes redes supermercadistas ou coisa que o valha. Valorizo esses todos e adoro ir escrevendo deles, fazendo com que, essa rede, se possível cresça e apareça, se mostre mais presente, viva, pulsante, impulsionante e assim ele continue sempre a sair pras ruas, ter a rica possibilidade de trombada pelas esquinas da vida. Só de vê-lo na ativa, já tenho o coração acelerado e quando me conta, como ontem, ter poucos pacotes no retorno para seu porto seguro, sua residência, feita no início da madrugada, algo mais servindo de alegria e aquecimento em dias não tão quentes. Seu Roberto é desses, que quando visto pelas ruas, possuidor de luz própria, tornam essa aldeia mais calorosa e luminosa. Isso sim é empreendedorismo.

ADVOGADO ZONTA
Esse Zonta é desses advogados considerados por mim como atuantes no meio social, o da camada com menor poder aquisitivo na cidade, tendo seus olhos e ação para com esses, motivo de sua atuação profissional. Tem história num passado recente e também o não tão recente desta aldeia. Dias atrás, eu e outro advogado na mesma cepa, Gilberto Truijo, o encontramos quando paramos nossas atividades para tomar um café com leite no meio da tarde numa padaria lá perto do Cemitério da Saudade. Eis que, lá dentro, tendo o mesmo procedimento, dr Zonta e um casal, seus clientes. Foi o suficiente para todos terem seus tempos de permanência no local mais do que estendidos, pois diante de uma pessoa tão rica e lotada de histórias, loucas para pularem fora, ou seja, serem reveladas, sentamos e nos pusemos a prosear. Naquele momento em especial dizia que a última vez que o trio ali esteve reunido foi no evento para homenagear o ex-prefeito, o comunista Gasparini. Nos disse: "Foi lindo, mas sabe o que senti a falta? Do meu depoimento, pois também tenho uma história mais que boa do Gasparini. Queria ter falado num fundo solidariedade criado por ele na cidade". Deitamos boa conversas, dessas a revirar a tumba da história oficial desta cidade, uma que até hoje é contada de um jeito, mas sem ter como pano de fundo a sua versão popular, a sob os olhos do Zé Povão. Dr Zonta, toda vez que o vejo circulando pela aí, faz com que remonte a isso, sentar com essas pessoas e ouvir algo das ocorrências de antanho, as passando batidas ou não foram ainda devidamente reveladas. Eu, Antonio Pedroso Junior e outros tanto, inseridos nesse contexto de bater pernas pelos quatro cantos destas plagas bauruenses, precisamos mais e mais arregaçar as mangas e nos colocar nas ruas ouvindo esses todos, cheios de coisas a arrepiar as tais "forças vivas" desta aldeia. Zonta é merecedor de uma prolongada e alvissareira gravação, horas de revelações.

FRED DO SAMBA E DA VILA FALCÃO
Esse é um daqueles que circula pela cidade inteira e mais um pouco. Sabe de tudo, anda por tudo, conhece tudo e está sempre antenado das coisas pelo lado do acerto. Conheço o Fred faz um baita tempão e até hoje não sei direito do que ele se aposentou, pois sei que ferroviário não é, nem funcionário público. O que sei dele é que o vejo pelos mais diferentes lugares da cidade e quando estou num evento, olho para os lados e lá está o Fred, com a mesma carinha, sempre bem disposta e cheio de palavras de incentivo, um inveterado lutador. Falou em samba, ele está presente. Morre de paixão pela sua Mocidade Independente de Vila Falcão e nessa reestruturação da escola de samba, muito dos trabalhos de bastidores, vieram de gente com esse espírito desprendido e dos que não arredam pé de pegar no pesado. Falou de política, vez ou outra compareço na Câmara dos Vereadores e quase sempre ele por lá e sempre com um algo a mais, um documento sacado lá do fundo do baú e sendo ali apresentado como prova inconteste do que está dizendo. Fred não anda em grupos, quase sempre só, mas desses que não foge da raia. Hoje trombo com ele na feira dominical, ou seja, mais um dos lugares onde bate cartão. Vem logo puxar conversa e me pergunta sobre o baú de maldades que o desGoverno do Bozo está despejando sob nossos costados. Sei, estará marcando presença na Greve Geral do dia 14/6 e além disso, durante a semana toda, estará participando ativamente da organização e contatos para que tudo ocorra a contento. Impossível não parar e prosear com gente da laia do Fred, desses mais que bacanas, pessoa a dignificar a luta e resistência das e nas ruas de Bauru. Não o vejo em bares, furdunços bagunçativos ou encrencas, mas sempre engajado e atento, radar ligado, de prontidão para o que der e vier. É desses que, para saber das novidades da cidade, aquelas que ainda não chegaram ao seu ouvido, se achegue dele e tome conhecimento, se informe, se atualize das últimas e só a partir de então dê seu palpite. Ele se antecipa e já chega nos lugares sabendo de tudo.

HENRIQUE AQUINO, NÃO CONFUNDIR COMIGO, ESSE MEU FILHO
Dei sorte danada com o filhão, Henrique Aquino, nome curto, sem delongas, duas palavras. Criei dois problemões para o danado. Nome curto, muito mais fácil de ter muitos homônimos e depois o mesmo nome meu, só sem o Perazzi, esse maior, pois pode ser confundido comigo e diante de tudo o que escrevinho ou estou enfurnado, corre risco de levar umas catundas pela aí e nem saber direito dos motivos. No mais, só orgulho. O danado concluiu o curso de Letras e me confessou: “Não quero dar aulas. Abomino a vida acadêmica, quero distância”. Faço o que? Nada. Tento incentivar a cursar outro, mais rentável, mas nesse país com os encaminhamentos atuais, o melhor mesmo é finalizar sua cidadania europeia para bater asas. Como posso querer segurá-lo por aqui diante de tudo o que ocorre? Não tenho como. Ele me surpreende em cada ato. Concluiu o curso em Araraquara, a única cidade paulista hoje comandada pelo PT, namora firme, se mostram apaixonados, gerencia uma livraria de rua (aquela cidade é talvez a cidade interiorana com maior número de livrarias de rua do país), revende bottons e agora quer lançar uma marca e produzir suas próprias estampas de camisetas. Ou seja, está se virando nos 30, muito mais que o pai. Ele veio passar o final de semana por aqui e ontem à noite não nos vimos. Marcamos hoje e no lugar mais democrático destas plagas numa manhã dominical, a feira, Bar do Barba, onde rola o rolo e os rolistas, como nós, marcamos presença. Foi pouco menos de hora e meia juntos, circulando pelas possíveis vielas, esbarrando nos apertos, esfregas e comprinhas, como livros e algo pelo qual ele gosta e eu desconheço por completo, jogos de tabuleiro. Sentou na nossa mesa e esbanjou simpatia, com algo pelo qual muito me orgulho e invejo, ele lê hoje muito mais que esse velho lobo das estepes, carcomido pelo tempo e com um chip mental já um tanto avariado. O dele está tinindo e pelo que vejo, cabe espaço pra caramba, algo seletivo sendo ali acumulado e despejado aos drops nas conversas e papos. Você não imaginam o benfazejo que é ter um filho que pensa, que não cai nessas armadilhas dos tempos atuais e que sabe muito bem separar o joio do trigo. Ganhei na loteria. Estar com ele, semana sim, semana não, papo não tão longos, mas todos tão rentáveis é algo a me recarregar até o próximo reencontro. Vi ele se afastando na feira, fiquei sentado na mesa, olhando aquele seu jeito, muito parecido com o meu e ciente de tê-lo encaminhado a contento pros embates da vida, isso não tem preço. Dia 14 eu sei, ele lá, eu aqui, estaremos nas ruas esgrimando contra isso tudo o que representa o retrocesso conservador e doente advindo com o golpe de 2016. Meu filho me embala, mesmo sem ter muita ciência disso.

2 comentários:

  1. Ué, mas o seu filho estava vestindo uma calça do exército. Acho que ele apoia o Bolsonaro também.

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  2. Resposta deste HPA:
    Pra você ver como nem todos vestindo algo representando Exército querem a mesma coisa. O meu filho, com toda certeza, não está mesmo vibe sua, a da entregação do país como feita hoje. Já que escreve do Exército brasileiro, uma pena, em 64, mesmo cruel e insano no golpe desferido, ainda eram nacionalistas, hoje nem isso. Uma pena!
    henrique - direto do mafuá

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