ONTEM “A VELHINHA DE TAUBATÉ, A ÚNICA QUE ACREDITAVA NO GOVERNO MILITAR, HOJE OS “VELHINHOS BOLSOMÍNIONS”, ESSA LEGIÃO SEGUINDO FIELMENTE O BOZO E SEUS FILHOS
Luís Fernando Veríssimo criou tipos incríveis e com suas crônicas retrata o Brasil como poucos, com maestria, picardia, humor, ironia e a acidez necessária, aquele chute no saco ou abaixo da linha da cintura, na medida para que o gajo, com o abalo caia na real. Com os escritos tendo como tema a tal velhinha, algo a atravessar o tempo e hoje, sendo revividas por mim às avessas, pois, infelizmente, com esse “Brasil Demente” (manchete de capa da última Carta Capital, a melhor revista semanal do nosso mundo), de uma só velhinha passamos para uma legião de mentes ao léu, mais perdidas que cegos em tiroteio, atirando contra o próprio patrimônio. Para quem não conheceu e para os com pouca recordação do que representou a Velhinha, reproduzo a seguir uma dessas crônicas:
“Velhinha tinha conta no exterior
Prosseguem as investigações sobre a morte da “Velhinha de Taubaté”, que ficou conhecida nacionalmente por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo. O inquérito está sendo conduzido pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, dada a repercussão do caso. Um promotor sai de cinco em cinco minutos da sala em que está sendo interrogado o gato da Velhinha, o Zé, para informar à imprensa o que se passa lá dentro, embora o gato tenha, até agora, dito muito pouco. “Miau”, basicamente. Houve um princípio de tumulto entre repórteres quando uma equipe da televisão, gravando clandestinamente no interior da casa da Velhinha, localizou um pedaço de papel com números e o que parecia ser a palavra “off-shore” em letra tremida, o que indicaria que a Velhinha tinha uma conta no exterior, onde receberia para acreditar no governo. Depois se revelou que eram números para jogar na Sena, que a Velhinha sempre acreditava que ia ganhar, e que a palavra escrita era “oxalá”. Mas alguém ficou como papel e é possível que a notícia “Velhinha tinha conta no exterior” apareça em alguma manchete nos próximos dias para atrair atenção, mesmo que o texto diga outra coisa. Sabe como é a imprensa.
Todas as CPIs em andamento no Congresso Nacional disputam a prioridade em convocar o Zé para depor em Brasília, o que tem acirrado o conflito entre elas, que muitos temem possa acabar numa guerra aberta com congressista brigando com congressista pelos corredores e todos se juntando para pegar o ACM Neto.
Só o gato poderia contar o que realmente aconteceu, na improvável hipótese de, ao contrário do que fizeram tantos outros nas CPIs, começar a falar. Mas pode-se deduzir o que levou a Velhinha a morrer – ou se matar com veneno no chá. Ela nunca se recuperou totalmente do choque da notícia da compra de votos para reeleger o Fernando Henrique, seu ídolo na ocasião, apesar de depois acreditar em todos os desmentidos. Debilitada, sofreu outro baque com as denúncias contra o Palocci, seu ídolo atual, e outro baque quando soube que nem no Ministério Publico se podia confiar. Foi demais para a Velhinha. O curioso é que as alegres multidões que iam até a sua casa na esperança de ver o fenômeno, um brasileiro que ainda acreditava, estão sendo substituídas por tristes romeiros que visitam o santuário improvisado na frente da sua casa, em Taubaté, na esperança de recuperar a fé. A Velhinha pode muito bem se transformar em milagreira depois de morta. As pessoas querem acreditar, pelo menos, em quem acreditou um dia”.
Lido isto, conto história passada comigo ainda hoje pela manhã. Vou até a banca de jornais do Cláudio, como faço todo sábado em busca da edição semanal da Carta Capital e desta feita, chego perguntando pela mesma, mas me deparo com um senhor de uns 65 anos, pela aí, lendo a mesma numa mesa no estabelecimento. Pego meu exemplar e vou pagar, mas noto seu comentário para um jovem, que deve ser seu filho, esse por volta de uns 20 anos: “Quem lê essa revista é tudo comunista”. Pago e antes de sair, me dirijo a ele e educadamente digo: “Antes de ir, tenho que cumprimentar o senhor, pois também é leitor da Carta”. Ele ri e me diz: “Sou não, só leio a Veja e a Isto É, mas hoje quis pegar para explicar algo para o jovem”. E começamos a parlar algo mais sobre quem lê a revista “vermelha”. Ele se volta para mim com o mesmo argumento usado quando o ouvi se dirigindo ao jovem. Sou obrigado a lhe dar a primeira pataquada: “Então para o senhor, bastou ser oposição ao Bolsonaro ou ler uma revista como a Carta que já é comunista ou petista? Ser sensato no país hoje é isso?”. Meio sem jeito tentou dizer do país deixado para o Bozo governar.
Vou na veia: “Dentre tantos candidatos que gente como o senhor, de direita tinham para votar, foram escolher justo o pior. Vejam no que deu, repare na qualificação dos ministros, o das Relações Exteriores, a Damaris, o do Meio Ambiente...”. O jovem me interrompe e diz: “Esse da Educação”. “Sim”, continuo. “E agora essa semana tentar emplacar o filho como Embaixador nos EUA, é o fim da picada. Imagine o senhor se fosse o Lula e ele optasse por escolher seu filho para o cargo”. Ele me sai com essa: “Mas o filho do Lula vendeu aquelas propriedades todas que tinha em seu nome”. Fui obrigado a interromper a ladainha: “Me desculpe, mas se o senhor com essa idade que possui, o conhecimento adquirido ao longo da vida ainda tem o desplante de repetir tamanha baboseira, creio deva ser filho da Velhinha de Taubaté”. O deixei espantado, pois pelo visto, nunca havia ouvido falar de tal senhora, mas ainda o ouço tentar argumentar: “Se a Dilma não tivesse caído, nós não teríamos eleito esse cara, mas sim o PSDB”. Viro as costas e me vou, levando minha revista debaixo do braço e deixando-o com outro exemplar da mesma edição aberta sob sua mesa, só folheando, sem a querer levar, pois a verdade além de doer, pode ser fatal para transformar o “Velhinho Zona Sul” em algo mais palatável.
Pelo visto, a velhinha de antanho não aceita ser contrariada e os de hoje, com um teor mais elevado de intolerância, cegos de ódio, não enxergam um palmo diante do nariz, são mais que papagaio de pirata, pois jogam contra o próprio patrimônio. A revista acerta em cheio na premonição aventada na capa: “A situação só vai mudar se aparecer um áudio inteligível pela população”. Ou seja, a demência já tomou conta de parcela significativa de mentes, imensamente piores que a Velhinha do Veríssimo. Ela, como Veríssimo anunciou faleceu de inanição em 2005, mas em seu lugar essa legião de bestas feras, pregando a estaca nos próprios costados e contra todos os interesses nacionais, inclusive contra a própria aposentadoria. Se não é demência, me digam o que porventura venha a ser o estado catatônico onde o país se situa?
Pelo visto, a velhinha de antanho não aceita ser contrariada e os de hoje, com um teor mais elevado de intolerância, cegos de ódio, não enxergam um palmo diante do nariz, são mais que papagaio de pirata, pois jogam contra o próprio patrimônio. A revista acerta em cheio na premonição aventada na capa: “A situação só vai mudar se aparecer um áudio inteligível pela população”. Ou seja, a demência já tomou conta de parcela significativa de mentes, imensamente piores que a Velhinha do Veríssimo. Ela, como Veríssimo anunciou faleceu de inanição em 2005, mas em seu lugar essa legião de bestas feras, pregando a estaca nos próprios costados e contra todos os interesses nacionais, inclusive contra a própria aposentadoria. Se não é demência, me digam o que porventura venha a ser o estado catatônico onde o país se situa?
COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
ResponderExcluirHenrique Perazzi de Aquino Fausto Bergocce, meu amigo e parceiro no livro sobre Reginópolis, de liga de onde mora, Guarulhos, pois diz ter gostado do texto, da lembrança que fiz da velhinha e aproveita para me lembrar que, a tal Velhinha de Taubaté se mostrava como a única quer acreditava em Delfim Neto, então ministro da Economia e mesmo depois de tudo, diz que o mesmo, tão conservador quanto antes, continua na paradas de sucesso até hoje. O regime militar se foi, ele não... Até a velhinha se foi e Delfim não.
Murilo Soares Temos que combater Bolsonaro, olhar para os bolsonaristas desvia o foco do principal.