sexta-feira, 16 de agosto de 2019

FRASES DE UM LIVRO LIDO (143)


SER DE ESQUERDA JÁ É UM PERIGO EM AGUDOS E UM LIVRO RETRATANDO QUE ALGO DO PASSADO PODE ESTAR PRONTINHO PARA SER NOVAMENTE COLOCADO EM PRÁTICA – INTIMIDAÇÃO E OMISSÕES

Eu tenho vários amigos internéticos que nem conheço pessoalmente. Um deles é o Tita Pardin, da vizinha Agudos. Em 11/08 publicou no seu facebook uma imagem com esses dizeres “Neutro é shampoo de bebê. Eu sou de esquerda”. Era algo até para passar batido, não fosse a participação de um ex-presidente da Câmara de Vereadores daquela cidade e hoje novamente vereador, Auro Octaviani, irmão e tio de ex-prefeitos na cidade: “Vc não tem medo de ser exilado? Cuidado , Tita Pardin. Apaga isso! Os militares não gostam de comunistas”. Tita respondeu a seguir: “Eu também não gosto de pessoas autoritárias e que querem proibir as pessoas de expressarem o que pensam (que não ofende honra e não é mentira). Militares recebem o seu soldo para servirem na proteção da população contra criminosos, combate ao tráfico, etc... Isso defendemos e apoiamos”. Um assumido bolsonarista agudende, Paulo Torres entra na conversa e escreve: “ainda vai Levar borrachada nas costas. Comunista aqui é Alemão!!!!”. Tita responde: “Vô não. Numa democracia as pessoas tem o direito de escolherem a sua opção política. E também de se expressar (salvaguarda responder por seus respectivos crimes se for cometidos). Além disso, eu nunca mexi e nem opinei na opção sexual de ninguém aqui. Vocês são brancas, que se entendam”.
Auro volta à carga com: “Cuidado com os militares, Tita. Vc tá na mira deles kkkkk”. Tita responde: “Que os bons (maioria) dos funcionários públicos militares continuem a fazer suas funções com dignidade, ou seja, defensores da população”. Entro na conversa e posto isso: “Cruz credo, leio cada coisa aqui, ainda bem que Agudos deletou esses tais da vida pública de Agudos, pois representam um atraso sem fim. Estão do lado do que de pior temos. Por favor agudenses, leiam o que alguns escrevem por aqui e nunca mais votem neles”. Auro responde para o Tita: “Tita do céu, leva esse véio arregaçado pra Cuba. Assim esse maracujá enrugado para de encher o saco”. Tita responde ao seu modo e jeito: “Vocês são amigos da política... Eu sou moreninho. Vocês são brancos... chegarão a um entendimento em breve. Kkk”. Eis o link da publicação completa: https://www.facebook.com/titapardin2016/posts/2825092667504327?__xts__[0]=68.ARDKDYPPqexAmdXJkHyM0qiIUPpH09K6PAcDTH9Ii5p7li-YA-2Z5QZsjjWcn9syI5v-bc_mzHIWlzc5HoQwlnQRCBAm26wF6CdkWhbUWgxP3W0kjwSm0BNIPlVSu0VxhqFF14-Tfea8GoS8yy0Gh7ufPDwzuAl7f-JLYGnFmeErYAsL1K1R97N4oR8dO-uoA00H8UlntpJfHLAHaTuItJq_-MrGvzgGr2c1FA9z4v0Z7yz2K9DgTHJ81qt9IZTjwK63t2_abxcAKS1tMpwiReBYXmwG8n7pD4sNn1kkdrKLxFZbI6WSYAzqWblvJhvVcxUDhfBce8t78_OSkJnmIiGoWw&__tn__=-R

Entenda a seguir dos motivos de estar utilizando do diálogo acima para escrever o meu texto abaixo. Mais do que claro uma intimidação velada em muitos textos sendo publicados e muita gente se omitindo de dar opiniões nesse conflitante momento brasileiro, tudo numa tentativa de se preservar de algo que, porventura possa acontecer no futuro. Ou seja, já existe no ar algo além dos aviões de carreira, pairando no ar e causando frenesi degringolativo em muitos. Nos governos de Lula e Dilma, podendo ser incluído também os dois de FHC, algo dessa natureza era impensável. Todos podiam se manifestar como quisessem, sem admoestações, perseguições e ameaças, veladas ou intimatórias. Algo dessa natureza era impraticável, pois existia um respeito à normalidade das instituições e plena liberdade de expressão. Acusam os governos do PT de tanta coisa, mas foram tempos de ampla liberdade, disto ninguém pode negar ou duvidar. O mesmo não pode ser dito dos tempos atuais. Em apenas seis meses de desGoverno, Jair Bolsonaro & conluio já modificaram o quadro e hoje é algo até já tratado com certa naturalidade o sujeito sendo opositor, receber uma recomendação para se conter, pois na continuidade, algo não muito normal pode lhe ocorrer. Preocupante? Mais que isso. Detestável. Usa-se até o nome dos militares para calar a voz das pessoas. O exemplo citado cai como uma luva para o que escrevo. A alegação certamente será a tratar-se de mera brincadeira entre amigos, porém, creio eu, isso não é brincadeira que se faça, ainda mais nesse momento onde as instituições estão todas fragilizadas e já se sente no ar um certo medo na emissão de opiniões que possam desagradar os atuais donos do poder.

Isso tudo me faz lembrar um livro, cuja cópia acabo de receber via e-mail, presente de dileta amiga. Trata-se do “A Casa da Vovó – uma biografia do DOI-Codi (1969-1991), o centro de sequestro, tortura e morte da ditadura militar – Histórias, documentos e depoimentos inéditos dos agentes do regime”, livro escrito por Marcelo Godoy, editora Alameda, 2014. Logo no início uma frase de Cícero (CÍCERO, Marco Túlio. As Catilinárias), exemplifica do que trata o livro: “Nada fazes, nada trama, nada pensas, que eu não só não ouça, mas também não veja e não perceba integralmente”.

Também no começo uma reprodução de texto muito adequado para ambos os casos, o citado por mim e o do conteúdo do livro:
“Uma advertência
- ...Então quando você quer escrever ou falar uma coisa, acabam suicidando você. É aquela história: o que você acha disso ou acha daquilo? Eu não acho nada porque um amigo meu achou um dia e não acharam nunca mais o cara. Você entende?
— Entendi.
— Às vezes as pessoas deixam de escrever certas coisas ou de comentar outras coisas não por omissão, mas por instinto de preservação.
— Mas isso é uma época que já passou, né?
— Não, não passou, o duro é que não passou. O duro é que é o seguinte: pode ter passado para você, mas eu sei que não passou. Tanto não passou que você andou ligando para as pessoas e todo mundo ligou pra mim. Se tivesse passado, eu não estaria falando com você, eu ainda estaria no anonimato e você jamais saberia de mim... (Advertência feita por ex-agente do DOI-Codi ao autor. O homem telefonou-me dizendo representar os colegas, que estavam preocupados com a pesquisa -Anônimo, fita 1, lado A, em 25 de abril de 2006).

A explicação do que vem a ser a Casa da Vovó, dada pelo autor do livro: “SÍMBOLO DO ARBÍTRIO e dos crimes de um regime, o Destacamento de Operações de Informações (DOI) ganhou de seus integrantes um codinome. Chamavam-no de Casa da Vovó. Ali militares e policiais trabalharam lado a lado durante os anos que muitos deles hoje consideram memoráveis. Oficiais transformavam-se em “doutores” e delegados em “capitães”. Havia outros códigos naquele lugar: “clínica-geral”, “clientes”, “pacientes”, “paqueras”, “cachorros” e, dependendo de que lado se estava do muro, torturadores e terroristas. Centenas de agentes frequentaram-na e alguns chegaram mesmo a dar-lhe outro apelido: “Açougue”. Criada em São Paulo, seu modelo se espalhou pelo país. Na capital paulista ele ocupava um terreno entre as Ruas Tutoia e Tomás Carvalhal, no bairro do Paraíso. Primeiro foi conhecido como Operação Bandeirante, a Oban; depois, resolveram batizá-lo com a sigla que o tornou famoso: DOI. Até hoje muitos dos que trabalharam lá preferem chamá-la de Casa da Vovó, pois, como explicou um de seus agentes, “lá é que era bom””.

O livro inteiro tem exemplos e mais exemplos dos tempos mais duros da ditadura militar, quando intimidações eram rotina. Quando se acreditava isso já ser coisa do passado, eis algo despontando ali na curva da esquina, botando o rabinho pra fora e querendo ser, fazer e acontecer novamente. Ainda dá tempo de impedir, mas a ação tem que ser rápida, coletiva e algumas instituições precisam ser resgatadas das mãos do conluio e agirem dentro da lei ainda vigente. Eis o link do livro para uma leitura mais pormenorizada de todo o horror praticado no dantesco período: http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-casa-da-vovo-marcelo-godoy-em-pdf-epub-e-mobi-ou-ler-online/

Para quem enxerga tudo como uma brincadeira, eis um algo a mais. Hoje pela manhã, comento num post sobre a vinda de Sergio Moro em Bauru na próxima segunda-feira, de uma pessoa que conheço, mas não nutro amizade. Eles se organizando para dizerem “amém” ao hoje ministro, mesmo diante de tantas evidências de irregularidades e eu, dizendo que um grupo também iria para protestar. A resposta que tive de um senhor que não conheço, José Lauton Souza foi essa: “aonde ele pensa que mora, tudo e todos pra ele tem defeito, você deveria tomar uma atitude e sumir do Brasil, porque esse PAÍS amado pela maioria, não quer e não aceita pessoas contrárias à solução por um país melhor para viver”. Entenderam? O cara não escreve muito bem, mas dá para entender o recado. Por fim, num outro post, um vereador da vizinha Piratininga, ele policial militar, estava em vias de ser cassado pelos demais vereadores. Sem entrar no mérito motivacional, o recinto daquela Câmara de Vereadores foi invadido por policiais, em sua maioria na reserva e a cassação foi revertida. Num dos comentários do post algo bem sintomático dos tempos atuais: “Mexeu com um, mexeu com todos”.

E tenho dito.

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