sábado, 7 de setembro de 2019

CENA BAURUENSE (190)


TRÊS HISTÓRIAS DE BAURUENSES DE FIBRA E EU TENTANDO MELHORAR A ESCRITA
1.) SÉRGIO CERVANTES SE VIRA VENDENDO COMIDA E COISINHAS NA FEIRA DO ROLO

Eu fico só a observar como o povo hoje tenta se virar, fazendo das suas para sobreviver. Com a vida pela hora da morte, crise mais que estabelecida por esses hoje no poder e não sabendo como nos tirar da situação calamitosa, fazendo sempre questão de continuar criticando os governantes anteriores, mas nada de uma solução vindo da cabeça deles, os que assumiram o baralho sem saber ao certo como conduzir o jogo. E o povo cada vez mais tendo que se virar, inventando novos ofícios, pois do contrário, sem esperanças de algo vir desse desGoverno, ou se safam sozinhos ou morrem de fome. Conto a história de um que faz exatamente isso, pois ciente que o país não vai melhorar um tiquinho com Bolsonaro, arregaça as mangas e vai à luta.

SERGIO CERVANTES é descendente de espanhol, facilmente detectável pelo seu sobrenome. Sua história é parecida com a de muitos, pai ferroviário, o seu Felisbino, ele tendo sido representante da Cobra D’Água, viajou boa parte do país, ganhou muito, investiu e com a passagem do tempo foi perdendo o que amealhou. Não reclama, continua na lida, fazendo o que gosta, pescando, cozinhando e também juntando coisas para vender aos domingos na Feira do Rolo. Suas dificuldades não são diferentes das da imensa maioria dos brasileiros, dos que já tiveram posses e hoje as perderam, mas não a dignidade, a hombridade de ter que inventar algo novo para conseguir colocar algum dentro de casa. Com 60 anos, está bem ciente que, emprego com carteira assinada já é algo descartado em sua vida, daí cozinha toda sexta e revende pastas, antepastos, coalhadas, quitutes variados em embalagens plásticas, além de cuscuz e variedades a gosto do freguês. Vai conseguindo amealhar novos clientes e amigos a cada semana, agendando entregas e assim tocando a vida. Desce na feira todo domingo, sempre com algo novo, desde quadros, antiguidades e novidades que vai conseguindo pela aí e vislumbrando poder vender. Sérgio está separado, tem filhos crescidos, mora hoje lá pelos altos da Rodrigues Alves, num reservado num salão de festas perto da Tiliform, junto do irmão e vai tateando tudo com um algo novo em sua vida, os problemas de saúde, uma cirurgia recém-feita e não podendo fazer o devido descanso, o repouso necessário, pois a necessidade fala mais alto e as comidas precisam ser feitas e entregues, as vendas na feira idem, do contrário a roda de sua vida não gira. Ver Sérgio na lida é algo para enobrecer o ser humano, a ciência de que algumas pessoas são inquebrantáveis e seguirão seu caminho sempre de cabeça erguida, sóbrios e altaneiros, com uma dignidade dessas de envaidecer todos à sua volta. Atende pedidos pelo fone 14.998333900.

2.) NO CENTENÁRIO DE ANTONIO PEDROSO, PERSEGUIDO POLÍTICO NA DITADURA MILITAR
Nesse espaço eu publico na maioria das vezes pela minha escrita, mas vez ou outra capitulo e o faço pela de outros, textos encontrados em publicações variadas, como nessa onde o filho do aqui homenageado, Antonio Pedroso Junior, diante do centenário de nascimento do seu pai, faz um relato sobre sua vida e dele transcrevo a maior parte do que aqui publico, primeiro em reverência a alguém que soube resistir, mesmo com todo o padecimento inerente a essa entrega, pois todos os dedicados com fervor a uma causa, ainda mais quando revolucionária e diante de um regime excludente e ditatorial, sabem que o preço a ser pago é sempre muito alto. Esse aqui do relato abaixo sabia tudo de antemão e assim mesmo nunca se entregou, daí comprovado seu inestimável valor.

ANTONIO PEDROSO “nasceu em 03 de Setembro de 1919 em Botucatu SP. Entrou para a Estrada de Ferro Sorocabana em agosto de 1934, pouco antes de completar quinze anos de idade. Ao completar dezoito anos de idade foi promovido a conferente e começou a trabalhar nos armazéns de café da Estrada entre Botucatu, Bauru, Sorocaba e Bastos. No início dos anos 50 se fixou no Armazém Regulador de Café de Bauru, localizado em Vila Industrial, entre o extinto IBC e o CEAGESP. Em dezembro de 1942, casou-se na cidade de São Manuel, com Alzira Ferreira dos Santos e ela sempre esteve ao seu lado, nas lutas da classe ferroviária. Sempre foi atuante nas entidades sindicais da ferrovia, em busca de melhores condições de vida e de trabalho para a classe ferroviária. Foi durante muito tempo Delegado Regional da União, sempre liderando os movimentos reivindicatórios na região de Bauru, ao lado de Arcôncio Pereira da Silva, Homero Penteado, Ramiro Pinto e Geremias Renato Comin. Com o advento do Golpe Militar foi preso em 03 de Abril, ocasião em que teve sua casa invadida por vinte e sete soldados da então Força Pública, permanecendo encarcerado por 54 dias na Cadeia Pública local. Em outubro de 1964, quando faltavam 28 dias para sua aposentadoria, foi demitido “a bem do serviço público” por decreto do então governador Adhemar Pereira de Barros, com fundamentação no Ato Institucional de 09 de Abril de 1964. Vendeu o pequeno patrimônio que havia amealhado, enquanto ferroviário, acabando por adquirir dois terrenos no quarteirão 9 da Rua Campos Salles em Vila Falcão, construindo um salão comercial na esquina, onde acabou instalando o Mercadinho Carcará, em março de 1966. Em busca da sobrevivência, reduziu sua militância política, entretanto não deixava de ser monitorado pelo então DOPS, principalmente por diversos dos perseguidos políticos bauruenses frequentarem com assiduidade seu estabelecimento. Em janeiro de 1969, novamente era preso e desta vez, conduzido para o DOPS de São Paulo. Depois desta prisão, nunca mais foi o mesmo e sempre tentando manter o senso de humor, demonstrava claramente que a prisão o tinha maculado para todo o sempre”. Em sua homenagem existe hoje uma praça pública em Bauru levando o seu nome.

3.) DONA LAURA AOS 75 VENDE PANOS DE PRATO NAS ESQUINAS POR ABSOLUTA NECESSIDADE
O que mais dói é ver pessoas em idade avançada tendo que continuar trabalhando para não só complementar ou mesmo ter alguma renda. Hoje, segunda, nas imediações da rua Maria José, depois da Duque de Caxias fiquei a acompanhar uma senhora que ia de lixo em lixo, preferencialmente no dos prédios e ali revirava tudo em busca de algo que pudesse fazer dinheiro. Ela devia ter perto de uns 70 anos e me é impossível não sentir dor interna imensa ao me deparar com cenas iguais a essa, dos maus tratos todos sendo feitos aos mais idosos, os menos favorecidos e diante do andamento do país, cada vez mais desumano e individualista, a tendência é cenas como essa se repetir mais e mais. Ontem, domingo à tarde, me deparo com outra e do que fico frente a frente, consigo produzir um texto com pessoa de tamanha envergadura, uma brava resistente de nossas ruas.

LAURA PRÓSPERO tem 75 anos completados meses atrás, mora no Jardim Bela Vista e numa tarde de domingo, chuvoso como o de ontem, não pode permanecer em sua residência junto aos seus, pois a necessidade falou mais alto e a levou para seu habitual ponto de revenda de panos de prato, a esquina da rua Araújo Leite, na curva da Baixada do Silvino, bem junto ao sinal com a Nações Unidas. Na parada dos carros, ela com seu corpo franzino, queimada de sol, não por hobbie, mas por permanecer horas sob o mesmo, tentando vender alguns paninhos e levar algum para casa. Ela me diz já ter feito quase de tudo na vida, lavadeira, passadeira, faxineira, servente e cozinheira, mas pela idade e sua condição de saúde, o que lhe resta fazer e ainda consegue é descer de onde mora para tentar vender os paninhos de prato. Do valor que vende, ainda precisa retirar algum para poder comprar mais e assim continuar na lida até não sabe quando, ou as forças não a abandonarem. “Eu tenho contas, a gente precisa comer, não posso ficar dentro de casa esperando que tudo me caia do céu, pois não vai cair, tenho que fazer alguma coisa e é o que me traz aqui”, me dizia ontem sob a garoa do final da tarde. Mirrada, um tanto encolhida, de poucas palavras, temerária de contar algo mais sobre sua vida, abre um sorriso do tamanho do mundo quando lhe digo que não quero comprar nada, mas dar o valor para lhe ajudar. “E como vai ajudar, filho, você nem imagina como”, completa. Como em sã consciência um ser humano passa por ali, como eu, para comprar algo numa loja de bebidas na mesma esquina e consegue depois ir pra alguma festa depois de conversar com dona Laura? As muitas donas Lauras, seus Pedros, Manés e Marias estão clamando por algo em todas as esquinas, sarjetas e calçadas. Aumentaram gradativamente nos últimos tempos, idosos sem eira nem beira, sem nenhum futuro auspicioso pela frente e para não passar fome, se submetendo ao que encontram pela frente para fazer frente suas necessidades. A sua fisionomia não me sai da retina e com ela termino meu domingo e começo a semana, matutando cá comigo: o que a gente ainda pode fazer por essa legião de gente pelas ruas? Por não saber, escrevo e assim consigo ao menos desabafar, botar pra fora o que me engasga.


O OFÍCIO DE ESCREVER MELHORADO EM OFICINAS
Quem me passou a dica foi o amigo bauruense Jeferson Barbosa da Silva, professor aposentado da Unesp Bauru e hoje residindo na afrodisíaca e paradisíaca Natal RN, com possibilidades de se recarregar positivamente a cada novo dia. No texto do Jornal do Comércio, algo sobre isso de melhorar o repertório escrevinhativo com acompanhamento e alicerçado em trabalho coletivo, calcado em leituras contínuas. A receita eu já adotei e passo para os diletos amigos (as), pois escrevinhar todos nós gostamos de fazer e se ocorrer com mais afinco e depuração, melhor ainda. Neste momento do país onde a classe dirigente atual incentiva a não leitura, pregam o emburrecimento do país, pois desta forma irão manipular todos com maior facilidade, o proposto aqui é exatamente o contrário, a gente se preparar e vencê-los também na escrita, humilhando os boçais a denegrir quem se prepara para os enfrentamentos todos que temos e teremos cada vez mais pela frente. Eu, por exemplo, quero se for morto por eles, poder na hora da execução, dizer umas palavras muito bem ditas e colocadas, humilhando-os até na hora de minha partida. Eis o link da matéria no jornal: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/especiais/reportagem_cultural/2019/08/700835-quer-escrever-pergunte-me-como.html?fbclid=IwAR38arI1UAVdYOJaTMXrrswwj6UH3elZS2D5jW7XRop2f7Y6VrASuV5UvTc

Será que tem cura ou com tratamento adequado melhoro a escrita?

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