segunda-feira, 16 de setembro de 2019

UM LUGAR POR AÍ (126)


FILME MOVE ALGUNS DE LONGE, TUDO PARA REVIVER O ESPÍRITO DE ÁGUAS CLARAS*
* Os quatro aqui citados, eu tenho sorte, são meus amigos, da mesma laia que a minha e com o mesmo procedimento, sem freios para as loucuras ainda possíveis nessa vida.

Na edição de ontem do diário bauruense Jornal da Cidade a história do dia em que Iacanga reviveu o mais famoso festival de música que este país um dia ousou e conseguiu produzir, o de Águas Claras, na vizinha Iacanga. Em matéria do Caderno Regional, texto escrito por João Pedro Feza, que esteve presente semanas atrás em Iacanga quando por lá, numa noite de sábado, com um imenso telão montado dentro do estádio municipal passaram para os munícipes o filme documentário “O Barato de Iacanga”. Os mais jovens nem ousam saber o que foi aquela balbúrdia, loucura criativa de gente com coragem suficiente para enfrentar a ordem estabelecida, no caso, ainda os militares quase no final dos 22 anos de ditadura sob os costados do povo brasileiro e mesmo os mais velhos, saudosos dos tempos quando ousavam ser, fazer e acontecer. Esse festival fugiu de qualquer controle e nos anos de 1975, 1981, 1983 e 1984, é considerado a versão tupiniquim mais aproximada do que foi Woodstock. Os tempos eram outros, a juventude também bem outra, ideais bem definidos, as estradinhas que levavam até Iacanga estiveram abarrotadas e uma pá de astros da nossa constelação da MPB marcos presença nas edições. No texto do Feza algo sobre o astral dos que estiveram no estádio para assistir o filme. Eis dois links com os relatos:

Luz, liberdade e Águas Claras - Exibição de filme sobre lendário festival se transforma em reencontro afetivo com o evento mais famoso de Iacanga, texto de João Pedro Feza: https://www.jcnet.com.br/noticias/regional/2019/09/696018-luz--liberdade-e-aguas-claras.html

'Hippies pagavam antes de comer' - Irmãs que mantinham restaurante na época ajudam a desmistificar imagem distorcida dos jovens libertários da época: https://www.jcnet.com.br/noticias/regional/2019/09/696022--hippies-pagavam-antes-de-comer.html

Todos os de minha geração e morando aqui em Bauru ou mesmo na região possuem histórias relacionadas das idas e vindas para Iacanga nesse festival. Essa história já foi contada por muitos e o filme revive isso tudo na mente de muitos. Não escrevo sobre o que foi o festival, mas aqui quero reviver a saga de uns poucos conhecidos, quatro em especial, que não se seguraram nas calças e no dia em que tomaram conhecimento do lançamento lá em Iacanga, saíram de suas cidades e foram para lá, primeiro com o intuito de rever o espírito que também o motivaram a marcar presença em edições do festival.

Maurício Passos e José Roberto Reginato estiveram juntos em algumas edições, ambos de Perderneiras e nesse sábado, deixaram tudo de lado, pegaram estrada até Bauru, 20km e depois mais 30km até Iacanga, tudo impulsionado por algo no interior de cada um o impulsionando a sentir novamente as fortes emoções de uma passado, que sabem, não voltará mais, porém nada como sentir o clima do que foi aquilo tudo e bem pertinho do local dos acontecimentos, pelo menos na mesma cidade. “Diante de tudo o que está acontecendo ao país hoje e nada acontecendo em Pederneiras, não pensei duas vezes e ao tomar conhecimento da data dessa exibição convidei meu amigo Zé, um que havia percorrido comigo em edições do festival o mesmo percurso, voltamos e as histórias foram passando como um filme em nossa memória antes mesmo de chegar no estádio. Quando assistimos o filme, choramos, pois só quem esteve lá sabe a emoção de ter estado em algo que, sabemos, nunca mais será possível algo igual neste país", conta Maurício. Zé vai na dele e diante das gravações vistas no filme, ia relembrando os anos em que lá esteve.

Um casal, Helder e Helóisa Leal são de Pirajuí e hoje moram em Bauru. Nas edições do festival, Helder se lembra muito bem, já roqueiro, tocando em bandas não podia deixar de presenciar aquela junção de todos ao mesmo tempo e no mesmo lugar. “Era um sonho se materializando ali quase ao lado de minha cidade, distância pequena, uns 20 e poucos quilômetros, tendo uma possibilidade única, a de estar ao lado de todos os grandes nomes da MPB. Aquilo tudo fortaleceu em mim o espírito roqueiro, esse que nunca mais me abandonou. Eu e Heloísa tínhamos que ir rever aquilo de perto, conversar novamente com o Leivinha, aquele maluco que os 22 anos conseguiu fazer a primeira edição do festival, em plena ditadura. Ele já não é mais o mesmo, mas ninguém é mais o mesmo, infelizmente o tempo passou para todos nós, mas mesmo assim, ao assistir o filme no telão eu tive novamente a certeza de que, aquele espírito do Águas Claras me contagiou e ele está junto de mim, no meu estilo de vida para todo o sempre”, conta Helder.

Esse texto tem o intuito de constatar exatamente isso, o quanto o festival influenciou uma geração de pessoas que, nunca mais foram as mesmas após ali estarem. Os fluidos ali auferidos foram desses a incrustar em muitos, bem o espírito desses quatro, que ao voltarem para Iacanga, tinham a certeza da renovação do sonho. Eles foram em busca da renovação desse sonho, de tentar enxergar um algo novo para seguirem adiante acreditando no poder da música como algo transformador. Abordar qualquer um desses por esses dias é reviver não só essa viagem, mas as demais, as onde estiveram de fato e direito na fazenda do Leivinha junto de uma galera que, se não está no mesmo astral da época, pelos menos eles ainda se sentem muito próximos, prontos para novas aventuras. Gente que sai de longe para assistir um filme, faz coisas que muitos nem imaginam serem possíveis. Esses são os melhores, pois não se movem como manada.

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