segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

BAURU POR AÍ (171)


PRAÇA PORTUGAL, CASINHA DO PAPAI NOEL E DOIS PROFISSIONAIS ALI TRABALHANDO

Eu e Ana Bia lá estivemos na noite de ontem, tudo para rever essas duas pessoas, Francisco Cardoso e Marcos Arantes, cada um atuando em ramos específicos e ali prestando serviços para a realização do evento. Casinha do Papai Noel não é algo pelo qual nutro interesse em finais de ano e esse evento ocorre desde muito tempo em Bauru, sem chamar minha atenção. Tento passar ao largo do consumismo desenfreado desses tempos. Primeiro, como deve ser do conhecimento de todos, Papai Noel não é lá algo a despertar minha paixão, neste mundo movido muito por interesses comerciais, rentistas. Fujo, abomino, repudio a maioria onde despontem. A cidade borbulha em possibilidades onde o comércio faz de tudo e mais um pouco para aumentar seus rendimentos e junto deles, como nesse evento onde estive, abarcam muitos pequenos comerciante que, no entorno do grande evento, conseguem montar seus pequenos aparatos e auferem algo substancioso para dar prosseguimento aos seus próximos dias. Hoje felizes, amanhã findo o evento, terão que inventar e procurar se enfurnar em outros, tudo para continuarem sobrevivendo. Minha força é para esses.

Volto os olhos para todos esses e foi com esse espírito que lá estivemos na noite de ontem, domingo, 15/12. Começo minha fala com seu Chico Cardoso, artesão dos trenzinhos em Bauru. Tudo quanto é feira de rua lá está ele, aposentado da ferrovia, marceneiro e desde então dedicando a maior parte do seu tempo para a arte de confeccionar trens de madeira. Os faz de todos os tamanhos e meios. Uma belezura. Tempos atrás foi convidado, devido sua exposição com os trens e do sucesso obtido com eles, a participar do evento da Casinha e todo ano ali bate cartão. Possui uma barraca só para ele e lá leva peças soltas da casinha, réplica da montada ali na praça e os organizadores a revendem por meros R$ 5 reais a unidade. Ele dá uma oficina sobre o tema, monta junto com a criançada e passa o mês por ali. Tem a cada ano ideias boas para renovar o brinquedo e ao invés da mesma casinha a cada final de ano, algo diferente, mas os organizadores insistem na mesma coisa e lá está ele novamente com seu aparato na praça. Chico é um realizador, multiplicador de boas ideias, braço armado de artefatos de madeira, feitos um a um em uma oficina montada na área de sua residência, nos altos do Gasparini, seu bunker criativo e emancipatório. Estive lá para revê-lo, bater papo e ficar bocadinho de tempo ao seu lado.

Escrevo também de Marcos Arantes, bailarino de profissão, jovem atuando na Cia Estável de Dança de Bauru, hostes do diretor Sivaldo Camargo, já tendo feito estágio por seis meses no Canadá, morador da zona rural, Assentamento Aymorés, de onde vai e volta de ônibus circular até o parque Chapadão e caminha 4 kms até sua casa. Disciplinado artista, buscando um lugar ao sol e neste final de ano convidado a participar do projeto Casinha, dentro da vestimenta de um dos Papais Noéis no lugar. Diferente dos demais, ele faz parte de algo a envolver a dança, com ele no centro de uma armação, tendo mais dois Noéis, um na frente e outro atrás. Ele dança e os demais se movimentam de acordo com seus gestos e orientação nos movimentos. Faz a alegria da gurizada e muito sucesso, além de cachê estipulado para as apresentações. Com o dinheiro, essa a forma encontrada, pretende participar de evento de balé no início do ano da cidade de Salto. Junta cada centavo e tenta não gastar, pois do contrário não viajará. Sua literalmente a camisa, duas apresentações diárias, pois dentro da roupa de cetim, a temperatura é elevada além da conta. Marcos enfrenta tudo com a devida galhardia de um jovem em busca de ser visto, reconhecido e valorizado. Também estivemos lá com o intuito de revê-lo e quase perdemos, chegando ao final da última apresentação da noite, pois estava há alguns minutos do ônibus, que o levaria ao ponto de onde ainda caminharia no escuro, luzes de distantes postes a guiá-lo no meio da escuridão para sua casa.

Escrevendo deles presto uma justa homenagem a todos ali ralando e fazendo das suas para garantir um algo a mais no final do ano, uma sobrevida, reforço necessário para se ter a festa com um algo a mais. Ainda na praça, Ana fez questão de tirar foto com outro atuando no locasl, um imenso urso amarelo, pele grossa tipo de cobertor e alguém me dizendo ele ter até uma espécie de ventilador junto à cabeça, tal o calor lá dentro. Ele permanece o tempo todo alegrando as crianças e ao final, deve desabar, cansaço, suando em bicas. Isso é tudo o que tenho a destacar de um lugar abarrotado de gente, famílias prontas para uma agradável distração noturna, cores em profusão, luzes natalinas soltas no ar e gente trabalhando anonimamente no meio disso tudo. Valorizo esses, os grandes artífices desta vida, anônimos e desta forma fazendo a roda girar.


OBS.: Para ilustrar a escrita, compartilho vídeo distribuído pelos organizadores da Casinha do Papai Noel, onde são relacionados alguns dos itens dos atrativos constantes na praça Portugal, local de sua realização: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=2460365084233425&id=100007798722342.

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