quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
UM LUGAR POR AÍ (129)
ENTÃO É NATAL... A cena fotografada por mim e se repetindo cidade afora é daqui de perto de onde moro. No exato lugar onde os prédio da redondeza armazenam seus sacos de lixo se forma uma fila e quando são disponibilizados começa um verdadeira disputa, tudo para ver quem chega primeiro e consegue os melhores produtos, ops, digo, lixo. Nesse prédio já está meio que estabelecido, quem primeiro tem contato com o lixo é essa família, que chega todo dia no horário já sabido por todos e vasculham o que existe de interessante, o que possa render alguns caraminguás. Eles possuem um velho carro, todo remendado, mas funcionando que é uma beleza e puxando uma carretinha, essa com aqueles imensos sacos de plástico para reciclados. A coleta tem que ser feita rapidamente ,daí envolver toda família, como se vê nas quatro fotos tiradas na tarde de ontem. Representam algo bem diferente do que se vê nos corredores dos shoppings e corredores comerciais da cidade. Aqui a questão é a sobrevivência, nada mais. Essa família descobriu esse filão, esse prédio disponibilizando essa prioridade para eles e mergulharam no trabalho, sem pensar em nada mais. Observo cenas como essa e penso muito no Natal que se aproxima e para mim, a festa é mais que triste, pois cenas como essa, não só se repetem, como tem aumentando e muito nos últimos tempos. Com a insensibilidade do atual desGoverno para com esses, a desventura tem se proliferado como praga. A miserabilidade assusta, mas não a todos, pois muitos nem mais enxergam cenas como essa. Passam batido, preferem se fingir de mortos, estão interessados em outras coisas. Esses os desassistidos, os invisíveis deste mundo onde o mercado, o capital vale muito mais que o ser humano.
CAIU UMA PAREDE, APROVEITE E DERRUBE TUDO Bauru está convulsionada por esses dias. Primeiro foi o ator Maurício Mattar, atendido quando enfartado em hospitais públicos, ele sem grana apara atendimento privado e passando na frente de centenas na fila, depois o escândalo da grana encontrada da casa do presidente da Cohab e o bombeiro tucano acionado para apagar o incêndio e dar cabo em tudo, Sempre a loucura. Escrevo de outra. O Hotel Estoril (Avenida Rodrigues Alves nº 2-41) fez sucesso no passado dessas plagas, tempos quando a ferrovia era o modal de transporte mais importante deste país. A região da Estação da NOB vivia lotada de gente, de todas as matizes, a maioria em trânsito, hotéis fervilhavam nesse entorno. Com a privatização da ferrovia, tudo feneceu e alguns não resistiram, fecharam e foram abandonados por seus proprietários. Esse um deles. Foi alugado, mas na deterioração, fechou e foi lacrado. Seus proprietários, os mesmos da Beneficência Portuguesa o abandonaram. O CODEPAC - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru promove o tombamento durante a administração de Nilson Costa, começo dos anos 2000. O proprietário não moveu uma palha pelo restauro e recuperação e o poder público tombou e nada mais. Alguma aproximação foi até tentada, tudo incipiente e sem resultados práticos.
O abandono prosseguiu até meses atrás, quando a SMC - Secretaria Municipal de Cultura, com a concordância dos proprietários cede o espaço para utilização de ONG de caráter cultural. Esses promovem eventos, um desses grandioso na praça Machado de Mello e acreditava-se, algo de concreto já estaria sendo feito no interior do imóvel para sua recuperação. Nessa semana, parte da parede da fachada frontal vem abaixo e o que mais se ouve é para aproveitar e colocar tudo abaixo. Com certeza, o proprietário concorda com o destombamento e ter seu terreno limpo, pronto para revenda. Os atuais locadores, precisam se posicionar do que já fizeram, como fizeram e o que pensam em fazer daqui por diante. Enfim, a ação que propiciou a queda da estrutura foi por causa da umidade e chuvas ou por algo sendo feito no seu interior? Por fim, junto a fala do descabido presidente da República, numa declaração entre evangélicos neopentecostais, quando desmerece o IPHAN - Instituto de Patrimônio Histórico, desdizendo de sua atuação e junto com a que o CODEPAC certamente terá que ter em breve: Manter ou não o tombamento do Hotel Estoril? Recentemente um já o foi, a Sociedade Beneficente 19 de Junho, quando tratores já limparam tudo o que lá existia de passado tombado.
Encruzilhada, eis a palavra certa para definir o atual momento no setor. A edificação está lá, parte interditada e aguardando próximos passos. Final de ano chegando, talvez algo somente para janeiro, se não ocorrerem férias nas instâncias decisórias e quando voltarem a colocar o assunto na mesa de discussão, talvez o outro lado da fachada já tenha também caído, facilitando as decisões. Não escrevo isso como crítica, mas como constatação. Participei do CODEPAC por oito anos, quatro como presidente, sem ter efetuado um único tombamento no período, só gerenciado os já existentes (mais de 40) e hoje, diante desse novo momento nacional, pressão por todos os lados, vejo instituições como a nossa de defesa do patrimônio cultural cada vez mais fragilizadas e quase totalmente mantidas e gerenciadas por interesses dos administradores públicos. Não que isso não ocorria no passado, mas hoje tudo é mais acintoso, declarado, explícito, sem escrúpulos. No país comandado por alguém como Bolsonaro é natural e normal colocar tudo abaixo e um "segue o jogo". Decisões difíceis, complicadas e movidas pelos ares perdendo oxigênio desses tempos.
OBS.: Nas duas primeiras fotos, tiradas por Pedro Romualdo, a situação atual e na última, de minha lavra, tirada em 2010, algo para confrontação de situações. A pergunta que não quer calar: o destino poderia ter sido outro, não o foi e sem querer buscar culpados, algo ainda pode ser feito para se manter essa edificação em pé?
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