quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

ALFINETADA (186)


O ANO VIROU, ESCAPULI
1.) AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ - ONDE FORAM PARAR MINHAS PRIMEIRAS FEZES DE 2020 ou O RESULTADO DA COMIDINHA DE DONA MARIA GANHOU O MUNDO

Eu na correria de viajar, tudo de pernas pro ar, sem tempo nem para um bom e saudável peido, sem comida na geladeira, dia 30/12, passo voando no restaurante da Dona Maria, ali na rua Araújo Leite, defronte o supermercado Pão de Açúcar e degusto o seu prato feito, onde coloco de tudo, menos carne (escolho uma delas e ela me coloca a quantidade que entende justa), tudo por meros R$ 10 reais. Como de lamber os beiços, me despeço do simpático casal, sempre com casa cheia, pelo bom atendimento e boa comida, preço mais que honesto e como me acontece antes de qualquer estrada pela frente, o intestino trava e não funciona. Fica empacado por alguns dias. Ou seja, tudo o adentrando minha boca de forma sólida (urinar eu urino, viu!), fica lá guardadinho num reservado e aguardando a melhor oportunidade para a desova ou quando meu intestino resolver funcionar. Ele não me causa problemas, demora um pouco, mas expele tudo com certa morosidade. Foi o que aconteceu hoje, nesse exato momento.
Viajo todo o dia 31/12 e ele, o intestino, ali estático, imóvel, contido e reservado, sem querer trabalhar. Vou só juntando mais alimentos e tudo aquilo consumido de forma prazerosa lá na dona Maria é lançado ao mundo na manhã de hoje aqui na metrópole do mundo, Nova York. Acho tudo isso muito lindo, a comidinha simples, cheia de charme, mas sem rococós, feita por tradicional habitante das entranhas bauruenses, cidadã Lado B deste mundo, veio conhecer o outro lado do mundo e hoje está já viajando pela tubulação subterrânea dos esgotos de uma das cidades mais cosmopolitas do mundo. Escrever disso é também querer entender isso dessa globalização, que leva junto com ela, nas andanças e gastanças de solas de sapatos, muita coisa do nosso interior. E dessa forma e jeito, o tempero de dona Maria ganhou o mundo e hoje está em Nova York. Isso tudo me faz parar, pensar e escrever esse singelo e nada apetitoso texto, mais para comprovar que, viajando a gente espalha bocadinho do nosso interior pela aí, sejamos pobres ou ricos, remediados ou endinheirados. Foi uma viagem e tanto, ao final espalho algo de dona Maria pelo mundo e me sinto feliz por ter conseguido feito tão grandioso.

2.) HOMELESS
Impossível não notá-los, os milhares de moradores de rua da grande metrópole. Eles estão por toda parte e só os muito insensíveis para não ignorá-los. Nova York é muito linda, Manhattan é um lugar mais que especial, a capital cosmopolita deste país, onde se é possível encontrar com o resto do mundo e esses espalhados por todos os lugares. O mundo inteiro está aqui, idiomas, vozes, trajes, trejeitos e fisionomias do mundo todo. Junto desses, espalhados pelas calçadas e principalmente pelos lugares quentes, como os que soltam vapores quentes dos subterrâneos da cidade, os "homeless". O taxista que nos trouxe do aeroporto me explicou ao seu modo que, esses "são muitos, mas só estão nas ruas porque querem, todos com algum problema psicológico, algo contraído em guerras, coisas deste tipo". Não polemizei com o brasileiro que nos trazia e o via pela primeira vez, ele há seis anos por aqui, mas não os vejo exclusivamente tendo problemas, mas sim, excluídos, como existem em todos os países capitalistas. Sim, muitos desistiram de competir, de travar essa luta para se colocar no "mercado", mas muitos não conseguem espaço. Dentre esses todos, muitos latinos e gente de outras nacionalidades.
Os enxergo com altivez, pois enfrentam o touro à unha, principalmente o frio. A cidade é linda, aqui tem de tudo, mas o preço disso tudo é muito caro. Uma simples garrafinha de água me custou 5 dólares a grande e 3,25 a pequena. Para quem tem pouco, viver numa cidade como essa não deve ser nada fácil, pois todos circulam rapidamente, turistas olhando para as cores e maravilhas do lugar, sem notar os deitados pelas calçadas, escadas do metrô e se aquecendo nos terminais bancários, lugares aquecidos. Numa escada de uma estação férrea, três deitados, pés à mostra, enrolados em andrajos e ao focar meu click sobre eles, impossível não tentar se colocar no lugar deles, ver o quanto padecem numa estação fria com temperatura perto de 0°, quase nevando na cidade. Enfim, não existe país capitalista sem a presença de moradores de rua, pois por mais maravilhamento que os olhos enxerguem, impossível atender a tudo e todos. O capitalismo não entrega tudo o que promete. Olho para esses com a sensação de que, algo mais ainda pode e deve ser feito, não só aqui, mas em tudo quanto é lugar. Meu escrito é só mais uma constatação de quem veio fazer turismo, mas seus olhos não conseguem fingir não enxergar o que está ali exposto.
A presença deles ali nas sarjetas diante desse frio é algo para dilacerar sentimentos sensíveis para com o semelhante, o ser humano neste mundo cada vez mais individualista. Eles são mais que personagens representativos desta cidade.


3.) O QUE NÃO ESPERAVA ENCONTRAR BRASILEIRO EM NOVA YORK
Esperava ver algo de música ou até mesma da literatura brasileira, algo sobre os astros do futebol, a política do passado que tanto sucesso fez até com Obama, mas não, nada disso, a primeira coisa que me deparei sobre o Brasil aqui por Nova York foi uma sucursal, uma franquia da Igreja Universal, na Second Ave, no Village, coração de Manhattan. Chamadas em espanhol para atrair público latino. Vomitei na calçada.



4.) E ASSIM BRINDO A CHEGADA DE 2020, JUNTO AOS MEUS.

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