sexta-feira, 27 de março de 2020

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (138)


QUEM ME LIGA – LIGAÇÕES ESPERADAS, INESPERADAS, EQUIVOCADAS, OPORTUNAS E SAUDOSAS...

Nesses tempos de reclusão, dita como voluntária, mas na verdade quase obrigatória, passada pouco mais de uma semana de completo isolamento, eis que começam a pipocar ligações telefônicas, gente pela qual não esperava trocar conversações, mas elas surgem assim do nada e a cada dia algo novo. Juntei diálogos:

1 - Meu caro, aqui seu amigo G. Eu te ligo, pois você sabe eu te leio todos os dias, gosto muito e não posso deixar de te passar uma grande ideia que tive, algo realmente revolucionário e que, se colocado em prática, vai nos ajudar e muito a dar uma reviravolta nessa bagunça dominando nosso país. Sente aí, quero lhe contar tudo nos mínimos detalhes. Minha ligação não é só para isso, mas também por outro motivo, esse também de grande valia. Eu quero que você, o mafuento HPA seja o que vai publicar em primeira mão essa minha ideia e se quiser, pode fazê-lo em seu nome, pois tem minha autorização. Eu lhe confio isso, pois sei da sua idoneidade, retidão de princípios e um cara fiel, de brio. Nós não podemos ficar estáticos, temos que nos movimentar e tenho por ti, você sabe disso, alguém como o repórter da maioria silenciosa, o que publica o que tantos outros não tem coragem. Posso contar em tocar a ideia pra frente?

2 - Henrique, tá lembrada de mim, sou a X. Sou mais ou menos da sua idade e hoje, aqui trancada em casa, sozinha e sem ninguém pra conversar, fui me lembrar de algo ocorrido quando tínhamos lá nossos 18 anos. Eu chorei aqui sozinha, tinha que te ligar. Tentei seu telefone com muita gente, pois não queria escrever nada, mas te dizer pessoalmente, ouvir sua voz. Nós quase namoramos, o tempo passou, a vida nos levou para lugares distintos, cada qual seguindo caminhos bem diferentes e hoje, além de rever aquele momento, te peço algo, como amiga de longa data, pare de brigar por causa de política. Eu hoje penso completamente diferente de ti, mas nem imagino a gente brigando por causa do Bolsonaro ou do Lula. Muitos estão fazendo isso, eu mesmo já fiz com tantos, perdi clientes, amigas pelos quais colocava a mão no fogo. Eu sei que você lê o que escrevo, assim como leio o que você escreve. No nosso caso, por favor, releve, não me bloqueie, pois quero continuar sendo sua amiga. Eu sempre te admirei demais da conta, viu!

3 - Tudo bem com você, lembra que você esteve aqui em Reginópolis escrevendo o livro da minha cidade. Ficamos amigos, hoje sou aposentado, ganho uma miséria, a vida está difícil, pois além dos meus gastos, tem também o de alguns bem próximos de mim e em pior situação. Sei que é uma pessoa de muito bom coração, tanto que toda vez que vinha pra cá, passava em casa para uma prosa, algo pelo qual nunca esqueci. O tempo passou e sei que já deve fazer mais de cinco anos que não nos falamos e ainda bem não mudou o número do celular. Tenho vergonha, mas preciso te dizer, queria ver se pode me ajudar. O dinheiro que ganho já acabou, comida eu ainda tenho, mas já pedi para todos aqui que podiam me ajudar e não posso ficar pedindo sempre para os mesmos. Estou louco para fumar, roendo as paredes, desesperado. O senhor não tem como me transferir uns R$ 40 reais na minha conta do Banco do Brasil, pois o considero muito, mora no meu coração, gente boa. Se o fizer, me avise antes, pois só sairei quando o dinheiro estiver na conta, o senhor sabe, a gente não deve ficar andando a toa nesses dias.

4 - Seu Henrique, aqui a M., sua amiga de bloco e arruaças outras. Ligo, pois não consigo mais permanecer aqui trancada entre quatro paredes, quieta e isolada do mundo. Todo mundo esqueceu de mim e eu não mereço isso. Até meus filhos, quando ligo pra eles, inventam umas coisas e desligam logo e o que eu mais quero nesses dias é conversar. Se for pra falar só por alguns minutos eu nem ligo, pois tenho tanta coisa pra dizer. O senhor tem um tempinho livre pra mim, né? Não vai desligar na minha cara, vai? Eu preciso desabafar, tem muita coisa aqui guardada, coisas que não falo pra ninguém e como nem sei se terei mais muito tempo de vida, talvez esse vírus me leve e não quero levar isso pro túmulo. São tantas histórias, poderia pedir para o senhor passar aqui em casa, mas agora não é um bom momento, daí pensei em te ligar e vou te contando aos poucos, um pouquinho por dia.

5 - Henricão, você é quase um irmão para mim. Te ligo para desabafar, sou mais um dos que não estão mais aguentando ficar dentro de casa. Antes eu queria um tempo para ficar só, poder arrumar minhas coisas, ler tudo o que não li, permanecer no meu canto, mas agora que tenho isso tudo, não estou conseguindo me concentrar e não quero outra coisa a não ser ir pra rua. Eu sei que não posso, não devo e nem tenho para onde ir nesse momento, mas isso me aflige, pois está muito difícil permanecer aqui trancado. Eu nunca fui muito rueiro, sempre do trabalho pra casa, de casa para o trabalho, poucos bares e diversão, mas agora vejo o quanto isso sempre foi necessário. Quero tirar o atraso e não posso. Sei lá se uma terapia resolve isso, mas nem isso eu posso, pois esses profissionais também estão parados e nem irão me receber. Eu não quero ser um problema para os que me aturam e muito menos para você, uma pessoa que considero muito, mas preciso de um conselho. O que faço?

6 - Oi Henrique, sou eu a J. Te ligo só para conversar, nada mais. Sei que você é bom de conversa e de ouvido. Escreve bem e também ouve bem, daí pensei comigo, ele vai me ouvir. Por aqui está tudo normal, minha mãe lá na sala, ela ouvindo TV, eu aqui no quarto com o celular ligado, sem computador em casa e se for assistir um vídeo por ele, quase todo o valor que coloco voa, daí para não ficar tão sozinha, te liguei. Estou fazendo isso com várias pessoas. Meu celular permite ligações baratas de um para outro, desde que a mesma operadora e como isso ainda posso fazer é muito bom ouvir a voz de alguém conhecido do outro lado e a sua me fará muito bem. Tenho nada de livros em casa e como sabe leio pouco. Queria muito ter aprendido a ler livros, mas nunca fui chegada e isso é ruim, principalmente agora. Os telefonemas são meu escape. Não tenho nada específico para te dizer, nem nada para te pedir, só conversar mesmo. Hoje vejo a importância do conversar e de ter alguém para conversar. Posso te ligar mais vezes por esses dias?

7 - Companheiro, a gente enquanto frente partidária poderíamos tentar bolar alguma coisa, mas não sei o que. O Dória é governador, tem mesmo que ter atitude e está capitalizando muita coisa pra ele, faz política adoidado e com o enfraquecimento do suicida do Bolsonaro, está assumindo uma liderança ainda maior do que já tinha. Eu acho que nem teremos eleições neste ano, vão acabar cancelando ou adiando como fizeram agora com as Olimpíadas e nem sei se isso é danoso ou não. Sei que queria estar começando a fazer campanha, mas se simplesmente ligar para alguém, seria rechaçado, pois as pessoas estão em outra, interessadas no bem dos seus mais próximos, em cuidar dos seus velhos, de si próprio e nem me ouviriam. Como ser protagonista nesses tempos onde o único meio de mensagem para os demais é pelo facebook e alguma coisa pela whattshap? Até nas mensagens que a gente passa tem que ser cuidadoso, para não demonstrar o interesse partidário acima do das pessoas. Na defensiva não quer dizer, parado, estático e sem ação. Eu quero continuar aprontando, abalando as estruturas.


8 - Caríssimo HPA, sou seu fã! Leio, diariamente, ao menos duas vezes, seus agapeados posts do Blog. Parabéns! Gosto de sua linha de não deixar de tratar do que interessa a muitos, sem ficar surfando no gosto da audiência, repetindo o que quase todo o mundo diz. Quanto ao "serviço" da empresa do Dono de Bauru, o Expresso de Prata, não se trata do Garoeiro, que está, tanto quanto o HPA, cumprindo, heroicamente, sua quarentena, em Natal,RN. É que todo o mundo lembra, escreve, comenta, discute e briga sobre as nossas temáticas de esquerda, enquanto a direita toca seu bonde e fatura. "Se tudo vai tendo que parar, aos poucos, num abençoado confinamento social gradual, não para acabar com as ameças da pandemia, mas, para protelar, ao máximo, o pânico coletivo que advirá do colapso dos sistemas de saúde pública, quando é que o Expresso de Prata, do Dono de Bauru pretende parar", pensou o Garoeiro. Fui lá no site deles e constatei que eles estão na mesma de sempre, ou seja, gente como o Prata, do dono de Bauru, esse pode tudo e não vai parar nunca. Dele nada se cobra, ninguém se lembra na hora de cobrar nada, pois dono é dono. É isso... Ou, não? Abraços do Garoeiro e vamos nos falando cada vez mais, um ligando para o outro (Obs: esse eu posso revelar o nome).
Em tempo do HPA – confesso, adoro conversar, ainda mais agora. Ouvir as pessoas é sempre muito bom, ainda mais quem se lembre da gente. Não reclamo, acho é bom. Na maioria, me instigam, provocam, cutucam, orientam... Tem mais, muito mais e que assim continue.

PARA OS DISPOSTOS A IR NA PASSEATA/CARREATA DOS EMPRESÁRIOS DE BAURU - O FAÇAM DESTA FORMA E JEITO:
"Li que os empresários bolsonaristas bauruenses pretendem fazer uma carreata-manifesto contra a proibição de abertura do comércio na cidade.
Poxa, não façam carreata. Isso é muito frio, impessoal...
Penso que vocês deveriam fazer um piquenique no Vitória Régia no domingo.
Ou na praça da Copaíba, tanto faz.
Nada de ficarem trancados em seus carros.
Piquenique mesmo. Todos aglomerados, irmanados e compartilhando beijos, abraços...
Mostrem que são fodões e que se o vírus aparecer, vocês matam no peito!
Ou melhor, coloquem um vidro entre vocês e o vírus... tipo aqueles de lotérica (palavra do presidente... esse vidro é muito eficiente!)", advogado Márcio Machado.

UMA PALAVRINHA SOBRE NEW ORLEANS E O CORONA VÍRUS

O baita amigo, professor e mestre de todas as horas, consultor para assuntos diversos e variados, hoje exilado em Natal RN, Jeferson, também copnhecido como Garoeiro, sempre me envia dicas de leituras, assuntos para serem por mim abordados. Ontem me faz relembrar da viagem que eu e Ana Bia Andrade fizemos aos EUA, mais precisamente em New Orleans, começo de janeiro. Foram os dias mais intensos da viagem, pois ali vivenciei o que vem a ser isso de um povo viver na rua, da e para a sua música, além do Carnaval deles, algo só deles e que aconteceria logo a seguir, fevereiro. Aconteceu e na edição de ontem do New York Times, um dos maiores jornalões norte-americanos, o resultado foi catastrófico. A cidade é um dos polos no país de maior incidência do vírus, algo triste de se ler. Conversamos a respeito e disse ter presenciado o quanto o povo daquela cidade é rueiro, gosta da rua e dela não sai. Festeiro e sabendo dela extrair tudo o que lhe mantém vivo, passa dissabores exatamente por causa dessa qualidade, a de se expor mais, estar ruando mais que as demais. Precauções não foram tomadas e deu no que deu, o estado atual e por lá algo a consumir seus habitantes. Tudo isso muito me entristece, pois sei o que vem a ser isso de gostar demais da rua, de nela fazer o ponto nevrálgico de suas ações e diante de algo onde a reclusão se faz necessário, quando isso acontece com certo desdem, atraso no recolhimento, um padecer a mais. Eles e nós sairemos dessa, com muita dor, sofrimento e quarentena, mas sairemos e que a festa depois disso tudo possa continuar, pois quem viveu até hoje reverenciando o que de melhor possuem, esse maravilhamento de ser e estar nas ruas, não pode querer mudar o modo de vida. Só temos que dar um tempo e depois estravazar novamente. Faço o mesmo e me acabrunho lendo o que passam neste momento. Eis o link da matéria do NYT sobre a encantadora cidade: https://www.nytimes.com/…/coronavirus-louisiana-new-orleans…

PASCHOALLOTO JÁ É CASO DE POLÍCIA
Se essas três fotos sendo repassadas a mim por um amigo, aqui um explícito caso de polícia. Algo precisa ser feito para salvaguardar os funcionários desse lugar, que hoje sabemos, não é mais propriedade somente da família Paschoalloto. Com os funcionários, obrigados a trabalhar quando tudo está praticamente parado na cidade, para evitar aglomerações não fazem as refeições no refeitório e sim, nas escadas, quando não sentados na sarjeta defronte os prédios. Quando vai acabar isso? Vão esperar internar quantos jovens pra por fim nessa esbórnia? Intervenção já!

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