quinta-feira, 4 de junho de 2020

BAURU PELA AÍ (177)


VÍRUS SE ESPALHANDO NAS CIDADES MENORES E PERIFERIA - E TUDO DEVIDAMENTE REABERTO...

Não deu outra. O importado vírus, que aqui chegou via aérea, de avião e pelo aeroporto de Congonhas, foi levado para as cidades de origem das pessoas que estiveram voltando ou chegando de muito longe. Veio e aqui se instalou com a devida pompa. Primeiro circulando em camadas mais requintadas, esses souberam se cuidar, mas se descuidaram e deixaram que o danado do vírus fosse transmitido aos seus subalternos, empregados e esses, sem o saberem como se proteger, os encaminharam para suas comunidades. Estava pronta a desgraça. Devagar ele se pulverizou e hoje, com o mais abastado sabendo e tendo como se cuidar, quem pena são os desprotegidos, os que possuem informação desencontrada e tem que enfrentar o touro à unha para continuar soibrevivendo, ou seja, acordar cedo, pegar ônibus lotados, circular pelas ruas. Sem contar o tempo de quarentena, cada vez se estendendo mais, daí isso perturba as pessoas e essas se descuidam, saem às ruas e não puderam ver algo sobre reabertura, já bateram asas para flanar e fazer tudo o que é mais perigoso neste momento.

Assim como o vírus chegou de avião no país, ele hoje chega através de insólitos visitantes às cidades menores do país. Aqui pertinho de Bauru, em Borebi, o prefeito Antonio Carlos Vaca, 73 anos é um ótimo exemplo. Esteve em reuniões na capital e levou consigo, sem o saber, o vírus para sua aldeia. Hoje pena internado em estado complicado em rede hospitalar de Bauru. A pequena localidade, lugar de uns 4 mil habitantes no máximo, hoje está no mapa dos que estão começando a ter medo do que virá pela frente. Em cidades assim, outra é Bora, pouco menos de mil habitantes e um caso, agente de saúde que mora lá, viaja todo dia, ida e volta para Paraguaçu Paulista, onde trabalha e está hoje se cuidando em casa, são a percepção de que, nesses lugares, terras com poucos recursos, a maioria vivendo da renda dos aposentados (os filhos destes já bateram asas e estão pelo mundo), só com postos de saúde, com a chegada do Covid-19, não só são deslocados para tratamento em cidades de maior porte, como infestam todos os demais com uma rapidez que está assustando a todos. Os até então paraísos isolados do mundo são o novo must do vírus e com esse circulando mais e mais pelas cidades pequenas, quem pena são as com rede hospitalar apropriada, como Bauru, pois de toda região, todos acabam vindo se tratar por aqui.

Paralelo a isso, o caso das periferias de cidades como Bauru. Por que elas se descuidam mais que a Zona Sul, a região mais abastada da cidade? A situação já foi inversa, mas pelos mesmos motivos já citados no começo do texto, os mais abastados possuem recursos para se cuidar e hoje qualquer um que vá na Getúlio Vargas vai ver muito menos gente que nos pontos centrais dos bairros. Credito a isso a quantidade enorme de informações desencontradas. Ontem mesmo, conversando com o porteiro do prédio onde moro, ele da Vila Dutra, me dizia: "O povo não está aguentando mais. Já era hora de abrir, a gente precisa trabalhar e o vírus já se foi". Onde ele está obtendo essa certeza e informações? No desencontro, após quase 3 meses confinado, situação se deteriorando, ver e estar nas ruas, igual outros lugares, eis o que a maioria faz. Serãos os mais penalizados, não tenham dúvida. Se os abastados possuem condições de se cuidar melhor, esses não e só contam o serviço público de Saúde. E se esse não tiver mais vagas, respiradores e condições de atendimento, danou-se tudo. Junto a isso, a enorme pressão que entidades patronais e parte da mídia atrelada a esses fizeram para a reabertura, justamente quando o pico está em alta. O vil metal acima do ser humano, sempre.

Resumo da ópera: quem está e vai se danar cada vez mais são os pobres, os menos favorecidos, os dependentes do serviço público. Em Bauru, após reabertura docomércio e afins, em menos de três dias, já se fala em provável revisão das condições e até volta atrás, ou seja, novo período de fechamento e isolamento. Não existe mais vagas para pacientes com Covid-19 na cidade e só ontem, quarta, quase quarenta novos casos. O desencontro povocado por um tresloucado presidente e um desGoverno como nunca tivemos, ajuda em muito a ter o país na situação atual. Final da noite, eu cansado, quase extenuado, conversava pelo whatts com meu filho, ele com 15 anos, em Araraquara, eu aqui e sua conclusão sobre os destinos deste insólito pais: "Não adianta sofrer pai, o povo brasileiro é fascista. Possuem uma necessidade patológica de ser oprimido, de ser escurraçado, humilhado. Não vai mudar, pois esses completos boçais, vez ou outra continuarão se elegendo e a mente desses é assim, pensam de forma restrita, limitada". Eu desbafo, quero fugir, fazer coisas, protestar nas ruas, mas também quero viver e daí me contenho, resignado e cá continuo. Quem não fez o mesmo já sente os efeitos no lombo e, pelo visto, muito mais virá pela frente. Muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte. E o fascismo e o rascismo ocupando espaços...

COM QUEM EU ATRAVESSO AS TORMENTAS
Um baita amigo, o poeta e eletricitário Lazaro Carneiro, gente da mais fina estampa, desses que a gente pode, sem pestanejar colocar a mão no fogo. Duas coisas da verve afiada do caipira que habita as entranhas deste aguerrido cidadão. Primeiro uma reza (quem disse que o danado não tém fé) e depois uma explicação pela roupa na qual se apresenta na foto aqui postada, sobre seus verdadeiros heróis. É com gente dessa estirpe que atravesso as tormentas. Sem decepções. O que seria deste velho mafuento sem o ombro amigo de pessoas como Lázaro, baluarte de uma luta que, a gente sempre soube, não acaba nunca. Ele me ensinou a persistir, resistir e insistir. Assim prossigo.

REZA
Espírito santo dos ateus,
protegei-me contra toda forma de religião,
não permita que eu caia nas mãos dos avarentos que criaram um deus para tê-lo como fonte de renda.
Espírito santo dos ateus,
protegei-me contra os protestantes que já não protestam mais, pois criaram um deus único e mil maneiras de interpretá-lo.
Espírito santo dos ateus,
protegei-me contra os católicos que ama a deus sobre todas as coisas e alguns dogmas sobre todos os deuses.
Espírito santo dos ateus,
conservai-me livre de toda forma de fanatismo
e hipocrisia para que consciente e altivo eu possa respeitar o proximo
como pate integrante da natureza da qual também fui, sou e serei para todo o sempre.
Amém.

HERÓIS
Os meus verdadeiros heróis foram meus pais ,meus tios,nossos vizinhos que lá pelos idos dos anos 50 enfrentavam todas as adversidades e contra tempo do dia a dia tendo como agasalho apenas um chapéu e uma capa.

Nas madrugadas frias sob o rigor dos ventos meu velho embrenhava nos banhados e matas em busca das criações desgarradas e no clarear do dia vinha ele todo molhado de orvalho a repartir conosco a alegria do sucesso de sua incursão pelos matagais .

Ainda trago guardados como relíquias desse tempo um velho chapeuzinho ramenzoni desabado pelas chuvas e causticado pelo sol e a capa já poída pelos anos de uso que me serve como caleidoscópio pelo qual eu vejo cenas de minha infância, não veja isso como um desabafo, não é um lamento é apenas um homenagem aos nossos velhos nossos heróis anônimos os verdadeiros vultos de nossa pátria.


Observação final ao pé da página: O que seria de mim sem me escorar em baita amigos com essa postura de vida? Já teria fenecido faz tempo...

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