quinta-feira, 30 de julho de 2020

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (81)


DEZ PERSONAGENS BUENARISTAS CUJO PARADEIRO EM TEMPOS DE PANDEMIA GOSTARIA IMENSAMENTE DE TOMAR CONHECIMENTO
Não sei se já contei isso aqui, mas se não o fiz, faço neste momento. Todo ano, há exatos dez, eu e Ana Bia viajamos neste período para Buenos Aires. Programação pensada o ano inteiro, economias na ponta do lápis, tudo contadinho para no final de julho ir dar com os s na Argentina, lá passar nuns dez dias - no mínimo - curtir a cidade, as redondezas e se possível até algum país vizinho. O motivo principal é a participação da Ana no Congresso, Colóquio e Encontro na UP – Universidade de Palermo, Buenos Aires, onde ela é uma das fundadoras e todo ano lá atua de forma incisiva. Eu de início ia junto e flanava na cidade, que aprendi a amar cada vez mais e mais. Havia ido antes uma vez só na cidade, quando em 2008, eu e Marcos Paulo Resende lá estivemos para assistir Hugo Chávez num comício no estádio Ferrocarril, que depois virou artigo para a Carta Capital. Com o passar dos anos, comecei também a participar e agora, apresento trabalhos, dois por anos e já sou também conhecido por muitos no evento. Por outro lado, desvendo a cada ano a cidade e muito vou relatando por aqui. Conheci e entrevistei também para a Carta Capital o muralista Miguel Rep e o homem do rádio e TV Victor Hugo Morales, além de texto ano passado sobre a eleição que levou Alberto Fernández à presidência do país. Enfim, a cidade muito me apetece, tendo preferência inaudita pelas andanças que faço pela sua periferia. Este ano já tinha agendado um dia todo junto de Mauri Elbueno, repórter da rádio 750 AM, acompanhando-o na sua rotina junto a manifestações, bairros populares, enfim, percorrer junto dele e seu microfone lugares por mim desconhecidos na cidade. Tudo foi devidamente abortado, pois a pandemia nos pegou de jeito e como não fomos – ninguém foi -, a UP faz tudo de forma não presencial e as apresentações se dão daqui mesmo de casa.

Não viajaremos mais neste ano, assim sendo, nada de rua, muito menos de Buenos Aires. Algo pelo qual sentirei imensa saudade, além de todos os amigos (as) conquistados no entorno da vivência lá na UP, tem os que vou a cada ano, adicionando como amigos nas quebradas da cidade. Não terei como saber como andam estes todos e isso é o que mais me acabrunha, pois os que tenho contato aqui pelos meios internéticos, tudo bem, a gente vai se revendo, falando, sabendo as novidades, mas os demais não. Lembrarei aqui de alguns destes e aos lembra-los, reafirmo que o mesmo sentimento aqui exposto, nutro por todos os de todos os lugares por onde passo regularmente. Eu me apego facilmente a esses mais simples, os cujas histórias relato aqui, espalho com o vento e depois, nada como ir a cada ano, revendo-os e atualizando de como estão, o que fizeram no ano, coisas do tipo. Se são as histórias de vida destes as que me movem, as que gosto de tomar conhecimento e escrever, nada como se enfronhar mais e mais em suas vidas. Eu já quero ficar amigo, saber mais e neste ano, impossibilitado de rever estes todos, ao menos relembro algo passado juntos. Talvez, se tudo der certo, ano que vem lá estarei, como volto também a estradar, ruar e rever pessoas pelas quebradas do mundaréu. Por enquanto, o que posso fazer é relembrar algo onde já estive enfurnado, cheio de muita saudade.

Vamos a alguns destes, cujas lembranças me recheiam a mente.


Por onde andará, o que estará fazendo, como se safou disto tudo, continuará com portas abertas? São as perguntas que faço. 

1.) Ramon e Tereza possuem em pequeno restaurante popular, o Black Café, comida caseira num espaço dentro de um mercado popular na região de La Boca, próxima do estádio do famoso time de futebol. Tocam seu negócio reunindo populares e oferecendo uma honesta comida, feita por ela e servida por ele. Há três anos, em pelo menos uma vez passo por lá e no almoço, uma festa ouvindo suas histórias, relatos de vida. Estarão por lá?

2.) Sergio Horvath tem um pequeno sebo, onde revende livros, CDs, antiguidades e suas pinturas, obras criadas num estúdio num quartinho, onde também mora, junto ao mesmo galpão do mercado popular. Ocupa ali o Box 70 e em alguns dias sai para expor em feiras espalhadas pela cidade. Vive do que ganha com essas vendas e ano passado estava mais que contente, a Argentina respirava novamente novos ares, mas agora, com a pandemia, como se safou?


3.) Mel é brasileira de Volta Redonda e está em Buenos Aires cursando Veterinária, trabalhando numa das lojas de souvenires defronte o estádio do Boca. Foi contratada exatamente para atender os brasileiros que por ali passam em grande quantidade diariamente. Simpática, disposição de ferro, resiste como pode e hoje me pergunto: como sobrevive com tudo fechado?

4.) Alessandro é jornaleiro na movimentada avenida Callao, perto de outra a Corrientes. Sua banca é modesta e o que mais vende são os jornais, ainda motivo de muita procura por leitores. Ele resiste como pode à chegada dos novos tempos e com a diminuição da frequência já padecia, mas agora, com as restrições causadas pela pandemia, como estará sua banca?

5.) Natye Menstrual é uma mulher trans, ativista dos direitos LGBT, periodista num jornal local e artista plástica. Todos os domingos tem banca fixa numa transversal da famosa Ferira de San Telmo, vendendo camisetas pintadas à mão. Tenho algumas, uso-as regularmente e hoje ao vesti-la me pergunto: Como estará se safando com a feira praticamente sem a presença dos turistas?


6.) Norberto é garçom num restaurante de origem chilena na calle Suipacha, desses tradicionais, só servindo a la carte, pois em Buenos Aires o self service ainda não vingou. O argentino prefere e resiste, preferindo a comida feita especialmente para ele, mas gente como este senhor deve estar padecendo, mesmo com ajuda governamental, algo que se acontece no Brasil, feito com má vontade. Como estarão ele e o pequeno restaurante?

7.) Juan Carlos é taxista e como quase todos, mais ouve que fala, mas quando percebe afinidades no discurso do cliente, abre seu coração, conta suas histórias e se declara descontente com as injustiças deste mundo, pincipalmente para com os pequenos. Tinha seu fone, mas ano passado já não me atendeu no mesmo número e agora, como estará pelas ruas de Buenos Aires?

8.) Irene Rodriguéz mantem junto com o esposo, o Toto, o Primer Museo Historico Sudamericano Comandante Ernesto ‘Che’ Guevara, junto de papelaria mantida por eles no bairro de Cabalitto e recebe visitantes do mundo inteiro, interessados nas histórias de Che e deles, ambos resistindo e vivendo um eterno sonho. E hoje, como estará o museu e a loja?


09.) Hernán Esteban Fernandez mantém um espaço diferente de tudo o mais dentro do galpão do Mercado de Pulgas, no bairro de Palermo, onde vende de tudo, desde cacarecos, peças raras e antiguidades, mas tudo misturado, sem muita organização, tudo o seu modo e jeito, o que lhe faz chamar a atenção e continuar aberto, porém, com a pandemia deve estar passando por problemas. Como estará sobrevivendo o alegre “pulgueiro”?

10.) O chileno Alberto vende alpargatas feitas artesalnemnte na calle Florida, uma das mais movimentadas de Buenos Aires. O fazia dentro dos horários permitidos, sempre à noite, mesmo no frio, como das vezes que o encontrei, sempre sorridente e atendendo principalmente turistas. E hoje anda andará?

Aqui exponho e mostro as caras de dez pessoas, para mim das mais importantes, dessas que tocam o dia a dia de uma cidade, fazem e acontecem ao seu modo e jeito, resistem, insistem e persitem, sendo, fazendo e acontecendo. Meu questionamento é o mesmo que faço de gente que fui conhecendo por onde passei ao longo destes 60 anos de minha “rueira” vida. Minha preocupação neste e em todos o momentos é para com estes. Ficaria imensamente feliz se soubesse que, assim estou conseguindo tocar o barco, seguir adiante, eles também estejam e queria muito poder revê-los todos em breve, o mais breve possível. Devem ter outro tanto de histórias para me contar e quando isso ocorrer, faço questão de passa-las adiante por este “bat canal” onde ainda me é permitido escrevinhar o que me vai pela cabeça.
OBS.: A publicação das fotos segue a sequência numérica das chamadas.

ATENÇÃO, MUITA ATENÇÃO
CONSELHO DA JUVENTUDE É APROVADO - COMO NOTÍCIA TÃO BOA PODE SE TRANSFORMAR NUM PESADELO
A notícia é esta e saiu estampada no Jornal da Cidade, edição de 28/07/2020. Quase passa desapercebida por mim, não fosse um toque dado por dileto amigo, me alertando para um grave perigo em andamento. Primeiro leiam a notícia: https://www.jcnet.com.br/noticias/politica/2020/07/731002-conselho-da-juventude-e-aprovado.html

Da matéria extraio isso: "O projeto do Conselho da Juventude terá a finalidade de formular e discutir políticas públicas a jovens entre 15 e 29 anos de idade, e terá caráter consultivo. O órgão será vinculado à Sebes, sendo composto por membros da Prefeitura de Bauru, através da Sebes, Cultura, Desenvolvimento Econômico, Educação, Semel, Semma e Saúde, e mais dez membros, sendo dois de entidades que atuam no segmento, e oito de pessoas com notório reconhecimento no segmento. Os conselheiros deverão eleger um coordenador, um vice-coordenador e dois secretários, de acordo com emenda apresentada pelo vereador Coronel Meira (PSL), tendo ainda na composição o plenário, diretoria e grupos de trabalho e comissões. O mandato dos conselheiros, que não são remunerados para ocupar o cargo, será de dois anos, sendo permitida uma recondução".


Tudo parece normal. Parece, pois se nada for feito a quase totalidade dos membros será ocupada por representantes de forças CONSERVADORAS da cidade, todas com ligação umbilical com partidos políticos também conservadores, ou seja, ao invés de avanços no setor, somente proposituras com formato nada adequado e pouco relevantes. Na foto aqui reproduzida, sacada da página do vereador Manoel Losila, quando analisado quem está já se posicionando, de mala e cuia para ocupar esse espaço, observo alguns já bem conhecidos da cidade, ligações a grupos evangélicos neopentescostais, ações contrárias ao Carnaval, defensores do neoliberalismo e, pasmem, ao bolsonarismo. 

Sou de um tempo em que ser jovem era usual o caráter contestador, de confronto, ideias avançadas, progressistas, altaneiras e renovadoras, fazendo questão de ser também chama permanentemente acesa para instigar os mais velhos a irem ou continuarem na lida e luta. Pelo que vejo, não seria de bom alvitre uma composição tendo como mote algo diferente disso, portanto, conclamo à juventude desta cidade para que se mova, saiba ocupar os espaços, reivindicar e bater de frente com o que está sendo formatado. Aviso dado, faço questão de marcar a maior quantidade possível de jovens para ligarem o pisca alerta e não perderem a oportunidade, pois Conselho aprovado, mesmo necessitando de nova votação, na sequência virá a composição e quando tudo já estiver definido, daí reclamar só daqui dois anos, quando de sua renovação. É agora ou nunca. Achando necessário, por favor, convoquem nós, os velhinhos para dar todo apoio e impedir uma ocupação pelo conservadorismo.

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