sexta-feira, 7 de agosto de 2020

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (182)


DUAS HISTÓRIAS

1.) ÍNDIOS – A CAUSA E ALGUNS DA REGIÃO COMPREENDIDA POR BAURU
Neste cruel momento brasileiro, quando terras indígenas são invadidas por hordas de brancos, incentivados pelo desgoverno ora no comando do país, diante dessa tentativa de destruição de uma cultura, por aqui muito antes da chegada do branco, vozes se alevantam e gritam bem alto contrários ao que vem sendo feito. Desse pessoal todo hoje ao lado de Bolsonaro, todos sabemos, não tem como esperar nada de positivo vindo deles e no caso dos índios, sempre vale a pena lembrar, relembrar, mais e mais, da importância da preservação da cultura que nos precedeu e hoje, nem suas reservas, locais intocáveis por decisão de lei, nem estes lugares são esquecidos dos vorazes bandidos disfarçados de governantes, daí a grita geral se faz necessário. Relembro aqui a luta e a perseverança de algumas lideranças, regionais e nacionais, para que o tema continue sempre na pauta do dia, onde o branco consciente possa dar o seu quinhão de ajuda para a causa dessas vidas em constante perigo.

“No início do século XX, a marcha do café para o oeste de São Paulo trouxe consequências violentas para os Kaingang que ocupavam esse território. Ocorriam constantes chacinas de aldeias inteiras e grande divulgação negativa dos Kaingang por meio da imprensa, com o objetivo de desvalorização das terras dominadas pelos indígenas, para posterior valorização para aqueles que as compraram. O extermínio não se completou graças à ação do SPI – Serviço de Proteção aos Índios. Desde então, a índia Vanuíre faz parte do imaginário da população da região, sendo considerada uma heroína. De acordo com a lenda, Vanuíre subia em um jequitibá de dez metros de altura, onde permanecia do nascer do dia ao cair da tarde entoando cânticos de paz. De fato, Vanuíre foi uma Kaingang trazida de Campos Novos do Paranapanema (atual Campos Novos Paulista)pelo SPI, como estratégia de atração dos Kaingang da região para que fossem aldeados. Assim, ela atuou como intérprete, como outros. Ela simboliza o fim dos conflitos, em 1912, que resultou no aldeamento dos Kaingang em duas áreas restritas, hoje as Terras Indígenas Vanuíre e Icatu, localizadas respectivamente em Arco-Íris e Braúna (SP). A índia Vanuíre faleceu em 1918 em Icatu, onde viveu seus últimos dias. Vanuíre é considerada por muitos como a grande “pacificadora”, imagem que o museu quer desconstruir, pois reforça a visão negativa dos Kaingang implantada há um século. O museu respeita o simbolismo que envolve essa personagem, mas atua critica e historicamente”, texto de apresentação do Museu Índia Vanuire, de Tupã SP, baseado em escrito de Darcy Ribeiro in Os índios e a civilização (A integração das populações indígenas no Brasil moderno. 2a ed. Petrópolis: Vozes, 1977). Meu amigo Paulo José de Oliveira Silva, de Tupã me envia um vídeo para contextualizar a sua história: https://www.youtube.com/watch?v=JPTdVa8CdYs&list=UURRxUyjIbZQUDCBAPvIYzqg&index=36.

Relembrar Vanuire, homenageada também em Bauru com a denominação de um bairro, ao lado do Gasparini é algo por demais importante, assim como neste exato momento, relembrar também de JUPIRA, outra índia de nossa região, falecida uma semana atrás, oriunda de Avaí e residindo em Bauru, brava guerreira não só de sua causa, mas de tantas outras libertárias e de soberania nacional. Reproduzo texto publicado pelo Jornal da Cidade quando de sua morte, 31/07/2020: “Morre em Bauru a líder indígena Jupira - Servidora pública, trabalhou na Funai e foi candidata duas vezes: A líder indígena Jupira Manoel Sobrinho, conhecida por Jupira Terena, 60 anos, morreu na manhã desta sexta-feira (31), no Hospital de Base de Bauru, onde estava internada por conta de problemas cardíacos. Sua militância, também em defesa das mulheres, a tornou conhecida na cidade, na região e em terras brasileiras bem mais distantes. Recentemente, para fazer o tratamento em Bauru, deixou o trabalho que fazia no Xingu. Era ligada à Fundação Nacional do Índio (Funai) de Colíder (MT), informa o sobrinho Ricardo Manoel Sobrinho. Natural de Araçatuba, ela foi criada na Aldeia Kopenoti, em Avaí, na Reserva Indígena de Araribá, e como servidora pública também trabalhou na Funai em Bauru. Jupira foi candidata a deputada federal em 2018 e a vereadora em 2016 por acreditar que o povo indígena precisava de um representante. Atualmente, estava filiada ao PSOL, que em sua nota de pesar destacou a luta dela em defesa das populações indígenas de todo o País. Em 1988, Jupira participou ativamente da discussão das propostas aos indígenas na Constituição. Em entrevistas concedidas ao Jornal da Cidade, contou ter enfrentado preconceito e discriminação, situação superada também por meio da educação. Entre as bandeiras de Jupira estava a criação da aldeia urbana. Em maio deste ano, ficou muito abalada com o falecimento da mãe Esther da Silva Sobrinho, a primeira mulher a tornar-se técnica indigenista da Funai e que redigiu uma carta para o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, em meados da década de 50, solicitando ajuda para estudar e, assim, auxiliar seu povo. Esther era companheira de Tibúrcio Manoel Sobrinho, falecido em 2016, que foi cacique dos terena da reserva de Araribá, com quem teve sete filhos. Jupira manteve a luta dos pais e agora deixa os filhos Karany Metuktire e Suiyane Sobrinho Txukarramãe de Oliveira Almeida, além de cinco netos”.

Tive o prazer de conhecer pessoalmente o índio Tibúrcio e dele fiz, mais de uma década atrás, belo ensaio fotográfico, onde pude ouvir suas histórias, inclusive dos tempos quando foi maquinista nas NOB. Aqui em Bauru a luta continua. Estamos muito próximos da aldeia de Avaí, reserva indígena distante 20km de nós, daí muitos índios estão aqui residindo, nos visitando frequentemente, nós a eles e dessa proximidade, ressalto duas pessoas, hoje tão próximos de nós, ou seja, nós da luta deles e eles da nossa, numa integração necessária para uma defesa coletiva de interesses em conjunto. Irineu Nje'a Terena (Werá Jekupé), aldeia Kopenoti, do Araci Cultura Indígena, idealizador do Espaço Terena Koixomuneti, com objetivo de orientar as pessoas a nível energético e espiritual por meio do conhecimento e das práticas do Xamanismo terena, além de estar envolvido também o Ateliê Terena de Artes Indígenas e do espetáculo teatral “A Dança da Ema”, junto com Mariza Basso. Aqui curta fala sua: https://www.facebook.com/chicao.terena/posts/3123081231046334. O cacique desta aldeia, Chicão Terena, pessoa querida de todos os na luta social, trava neste momento uma árdua luta contra o coronavírus na aldeia, com um caso já confirmado dentre eles e, a partir daí, isolando mais a reserva, para não propagação. Vê-lo dias atrás, junto dos seus, empunhando arco e flecha na porteira de entrada da reserva é a certeza dele cumprir seu papel com o máximo afinco e dedicação. Chicão não é mero cacique, possuindo formação em Geografia pela USC Bauru, atuando também como professor na rede pública estadual. Ele é muito mais que prefeito da aldeia, sendo também seu atuante representante, voz ativa na defesa dos seus, grito forte e feroz, se preciso for, intransigente e usando da sapiência secular indígena para auxiliar seu povo neste delicado momento do país e do mundo.

Lembro desses todos, os do passado e do presente, junto a eles dois grandes índios que se foram por estes dias, os caciques Raoni e Aritana e desta forma, presto não só homenagem, mas me coloco sempre à disposição destes para a continuidade da luta. Os vejo envolvido nas nossas causas, que na verdade são mesmo de todos nós e não teria como estar distante da luta empreendida por eles. Somos mais fortes UNIDOS e COESOS em torno de uma coletiva causa, onde cada um respeita seu espaço e juntos seguimos na lida, luta pela reconquista de dias melhores para nosso país. Estar com os índios, defender o que defendem, causa mais natural para quem entende de fato a história deste país, o que de maldade já foi feito contra essa cultura. Escrevo este texto movido pela emoção de ontem à noite ver na TV a invasão feita por garimpeiros inescrupulosos, incentivados por esse desgoverno Federal, propondo ao índio ser também garimpeiro, ou seja, ajudar a dilapidar sua terra, sua cultura e seu povo. Lembrei destes aqui citados, mas outros (as) tantos estão na lida, luta permanente, incessante e é com estes que continuarei minha caminhada. Resistir é preciso, com enfrentamento à tudo o que vem pela frente querendo nos aniquilar.

2.) AO RECEBER PUBLICAÇÕES EM PDF, ME PERGUNTO: "E AS BANCAS?"
Dou uma passada rápida nesta manhã pela banca de jornais e revistas da querida Ilda, ali na boca de entrada do Aeroclube Bauru. Ela lá, com seu comércio debaixo da caixa d'água, portal deste também aeroporto e das duas portas de sua banca, uma aberta, outra fechada, controlando os acessos e tomando todos os cuidados. "Henrique, as coisas mudaram muito e temo, que quando voltar ao normal, para o meu tipo de negócio, creio não voltaremos mais ao normal de antes. A pegada de banca de revistas está se findando. Hoje, abro as 8h e fecho por volta das 13h. Não existe mais necessidade de permanência o dia todo aberto. Todos que ainda consomem o que vendo, sabem desse meu horário e vem pela manhã. À tarde, fico em casa, cuido dos meus animais e de minha casa. Penso muito em como vai se dar a continuidade do meu negócio daqui por diante, sem ainda vislumbrar nada de positivo", me conta.

Conto a ela algo mais de algo acontecendo comigo. Um amigo jauense começou a me enviar dias atrás, conseguido não sei direito onde, as edições diárias de jornais. Como sabe que gosto muito do argentino Página 12, por dois dias seguindos tenho recebido dele arquivos em PDF com a edição completa do jornal como sai impresso. Ontem me enviou também o do Clárin e rejeitei de abrir, pois este é pérfido, cruel e insano. Veio mais, a edição de agosto da revista Piauí, cuja edição impressa ainda nem chegou nas bancas de Bauru. Dei uma olhada, mas quero continuar lendo e comprando a revista pelas mãos da Ilda, primeiro por não conseguir ainda ler esse tipo de publicação pelo meio virtual e depois, para continuar prestigiando a valorosa e combatente jornaleira.

Ela ficou estupefata em tomar conhecimento de que, a revista que nem ainda chegou em sua banca já pode ser lida por mim, em algo recebido via PDF. "Como vou resistir a isso? Como as pessoas vão continuar comprando o papel se tudo vai chegar a eles mais rapidamente pelo computador?", me questiona. Conversamos a respeito. Digo a ela do Cláudio e do Gustavo Mangili, com banca no Confiança Nações e Falcão. Tiveram que diversificar. Na da Falcão, algo igual a dela, mera banca com poucas opções, mas a única naquele bairro e se safando, como vejo outra, essa lá no Mary Dota, também ao lado do supermercado Confiança. Já a banca que pai e filho mantém no Confiança Nações, o 24h, ali tem cara de loja e assim procede e atua. Tiveram que se reinventar e tentam se firmar, resistir e sobreviver desta forma e jeito. As revistas e jornais passaram a ser somente mais um dos produtos ali oferecidos. Permanecem abertos até mais tarde, seguindo horários do supermercado e do público atraido e ali mantido. Se safam. Vendendo exclusivamente revistas e jornais, nada mais, quem ainda o faz é seu Orlando, ali na Primeira de Agosto, resistindo enquanto tiver forças. Passo as vezes, olho e não sei onde busca força. Ele faz o que gosta, atividade de mais de 40 anos, sem descontinuidade.

Enfim, quero e vou continuar frequentando bancas, mas cada vez menos, pois ler eu continuo fazendo e muito, mas cada vez menos com as atuais publicações. Já cheguei a ler e colecionar mais de dez, hoje não mais, persistindo somente com a Carta Capital, que assino e a Piauí, que compro na banca da Ilda. Hoje, parei na banca dela para ver se tinha as tabelas dos campeonatos de futebol, série A e B. A Alto Astral as imprimia, mas hoje, ela me diz, nada chegou. Das conversas mantidas só indefinições e muita preocupação. Do amigo que me envia os PDF, gosto do envio do Página 12, mas me preocupa as nacionais. Ele me acalma: "Henrique, o futuro é inexorável. Quem mais continuará lendo nesse modal? São as transformações, inevitáveis e incontornáveis. A leitura de um livro já permite fazer o que gosta, ir grifando os textos com o marca texto e anotações, daí o papel vai sendo pouco a pouco deixado de lado". Ouço, me contraio, resistindo e ainda com um pé fincado no passado.

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