domingo, 20 de setembro de 2020

REGISTROS LADO B (12) e MÚSICA (190)

 O FOTÓGRAFO E VIOLEIRO ZANELLO É O 12º AO VIVO LADO B – MAIS PÉ NO CHÃO IMPOSSÍVEL 

Prossigo neste domingo com mais um Lado B – A Importância dos Desimportantes, retratando ao meu modo e jeito as histórias que valem a pena a gente tomar conhecimento antes de bater com a dez. Diante de tanta iniquidade e desvalorização da vida, insisto por este canal na produção e resgato de histórias dos populares, os tantos envolvidos nas quebradas e rolanças da vida suburbana desta Bauru, dita e vista como “Sem Limites”. O que faço pode ser uma pequena gota no oceano, mas é assim mesmo, faço a minha parte e com essa pandemia transformando nossas vidas, resolvi inovar. Lives a gente vê pela aí a todo instante e daí me dei conta: Por que não fazê-las com essa gente que não estará em nenhuma delas? Aqui só os invisíveis, os ignorados, desabilitados, desacreditados, despossuídos, enfim, a nata que sobrevive e luta diuturnamente para, não só sobreviver, como mostrar outras possibilidades para os conformados e aceitando tudo o que lhe é imposto. Termino neste momento de ler um relato de uma atriz libanesa, Wafa’a Celine Halawi, fazendo nas suas na destruída Beirute e dela extraio algo ali lido: “Nesse momento me dei conta de que todos nós temos um papel a interpretar. É esse o papel dos que sobrevivem. Alguém precisa ficar pra contar a história. Talves seja essa a razão pela qual sou atriz. Porque uma vida inteira não bastaria para minha história. Porque atuar é também curar. É uma experiência de humildade em termos de humanidade. Uma experiência que nos obriga a ir a todos os lugares escuros e a perdoar”. Eu só sobrevivo porque tenho também a possibilidade de tentar fazer o que gosto, passar um bocadinho disto adiante. É isso que faço com estas entrevistas semanais.


Semana passada quando postei também num textão bem longo, com todas as citações onde já havia escrito sobre a entrevistada da semana passada, a Audren Victoria, fui chamado a atenção pela Rose Barrenha, minha dileta amiga e também futura entrevistada pro aqui: “Fale menos das pessoas, você publica tudo e daí perde o interesse pelo que virá. Deixe a expectativa no ar”. Assimilei o que me disse, mas não irei alterar o procedimento de aqui explicitar algo do entrevistado da semana, pois sei, mesmo com tudo o que já foi dito, ele dizendo pessoalmente, de própria voz e com pitadas a mais, outro sabor. Daí, na sequência desta publicação reproduzo o que já escrevi sobre o entrevistado da semana, o ZANELLO nas páginas do blog Mafuá do HPA, escrito diariamente desde 2007 por este mafuento. Vamos ao que interessa:

- Em 27.01.2009 publico: “ZANELLO, O FOTÓGRAFO FREE-LANCER - Conheço Zanello há décadas e sempre esteve munido de sua potente máquina fotográfica registrando eventos pela cidade de Bauru. Percorre a cidade de um extremo a outro, em busca de pequenos contratos onde possa tirar o seu ganha pão. Pessoa de fibra, com uma disposição de causar inveja, não esmorece diante das adversidades e continua diuturnamente indo à luta, trabalhando do jeito que pode e para quem continua a lhe pagar pelo espoucar de seu flash num acontecimento qualquer. Com sua jaqueta nas costas (aquela que todo fotógrafo adora usar), ele é daqueles que dá gosto de parar para conversar. Não vive só de fotos, pois sempre esteve também envolvido com música sertaneja. Participou de algumas conhecidas duplas na cidade e fez muito sucesso em bailões pela periferia. Hoje, de amor novo, parece revigorado e sem esmorecer, continua acreditando que conseguirá atingir seus objetivos. Perdeu até o lugar onde morar, vivendo hoje nos fundos de uma modesta casinha num bairro escondido do mundo, mas isso não é motivo para desistir. Luta, tropeça, levanta, segue em frente, demonstrando que a vida foi feita para ser enfrentada de peito aberto, com coragem e despreendimento, como ele sabe fazer. Torço muito por gente como Zanello, gente simples, sofrida e guerreira”.

- Em 15.01.2010 publico: “Dias desses reencontro na feira dominical, Luiz Gomes da Silva Zanello, 57 anos, o popular Zanello, fotógrafo e músico local. Ele sempre atuou nas rádios da cidade, empolgou várias campanhas de políticos, com uma dupla sertaneja que fez muito sucesso na cidade, a Zanillo e Zanello. Bauru o conhece de duas formas, uma nessa de músico, sempre acompanhado de seu violão e na outra, o inseperável instrumento de trabalho pendurado ao pescoço, sua máquina fotográfica, registrando eventos mil pela cidade. Participou também da Virada Cultural 2007, com o Zanello Trio Sertanejo. Me diz que dia desses esteve lá na Cultura com a intenção de expor uma idéia, um projeto de levar cultura popular aos bairros, shows de viola quinzenais, com patrocínio para cachês já conseguidos. "Fui recebido por um assessor, que demonstrando ter pouco tempo disponível, me disse não existir verba para artistas de Bauru porque não existiria público. Eles prefeririam contratar, por exemplo, um cantor de pagode famoso, como o Rodriguinho, que é também de Bauru, do que alguém daqui. Entre escolher um nome desses e um daqui, não pensariam duas vezes. E quando lhe disse que iria reclamar, virou às costas e me disse: "Veja o que você pode fazer". São pessoas despreparadas. Tenho muito a oferecer, não sou contra o tal do Rodriguinho e sim a menira de me colocar como se fosse um João Ninguém", foi seu desabafo. A situação é exatamente essa, gente despreparada até para atender os artistas locais, sem nenhuma sensibilidade. Não conseguem nem escutar as pessoas. Essa pequena amostra é o quadro geral do atendimento por lá. Exemplos iguais ou piores existem aos borbotões e faltaria espaço para citação. E muitos sairam de situações idênticas e foram reclamar diretamente ao prefeito, que os ouviu. Porém, a situação persiste e cada vez pior”.

- Em 16.11.2013 publico: “ZANELLO E O CASO DO VELHINHO PERDIDO ENTRE BROTAS E FOZ DO IGUAÇU - ZANELLO é um fotógrafo free-lance em Bauru, atua junto da periferia da cidade, potencial de sua clientela. Tira fotos em eventos, festividades variadas e tudo o mais que pintar pela frente. Assim vai formando o ajuntamento que no final do mês lhe dará o provimento para sua sobrevivência. Gosta por de mais da conta de moda de viola, já tendo atuado em alguns programas de rádio, todos voltados para o segmento sertanejo raiz. Toda quarta na parte da tarde, toca e canta graciosamente na famosa novena na paróquia do Santuário Nossa Senhora Aparecida, um que ferve a região e lota todo o seu entorno. Zanello gosta de se doar para os demais, um ser sensível, que trabalha com e junto com os menos desprovidos. Não sabe nem cobrar direito e o faz quase gratuitamente quando percebe que a situação do contratante está mais periclitante que a sua. Nos encontramos na cidade essa semana e queria que fosse conhecer umas famílias, descobertas por ele ao acaso, enganadas por um suposto empregador, que as trouxe para Bauru na esperança de emprego e hoje estão abandonadas na rua, vivendo de esmolas, enquanto que o dito empregador não está nem aí. Não deu tempo de irmos conhecer a situação desses, o feriado chegou e eu escapuli. O que deu tempo foi dele me contar uma historinha, dentre tantas ocorrendo com ele pelos seus dias afora. Essa ele me conta e no fim, vejo seus olhos marejados, cheios de sentidas lágrimas, próprias de quem respeita o seu semelhante e mesmo estando com uma situação não lá muito boa, encontra um jeitinho de ajudar o seu semelhante e de dividir o pouco que possui com gente em pior situação que a sua. É de gente assim que me aproximo cada vez mais. Ali na praça Washington Luiz, a do Santuário coisa de um ano e pouco atrás se deparou com um senhor, lá pelos 75 anos, sozinho e lhe abordando em busca de alguma coisa para comer. Lembrou-se do seu pai e parou para ouvir a história do velhinho. Disse-lhe que estava vindo de Brotas, onde morava um dos filhos e estava à caminho de Foz de Iguaçu, onde queria muito visitar um outro, cujo neto era recém nascido e ainda não o conhecia. Sua mente só conseguia pensar no novo neto e no caminho viu-se sem dinheiro, com fome,perdido, sem eira nem beira. Zanello arrumou um canto para ele junto da igreja, forrou tudo com papelão, revestiu do lado e foi comprar algo para ele comer. Nisso foi matutando sobre a história de Brotas e quando voltou, quase noite, perguntou sobre o tal filho em Foz e nem o endereço tinha, disse saber chegar quando na rodoviária da cidade. Pensava em como resolver a situação. Na manhã seguinte levou-lhe o café da manhã e conseguiu mais, o telefone de Brotas. Ligou e do outro lado, para sua surpresa um filho desesperado já dando o pai como perdido. Ele havia sumido sem deixar rastros e quando ouve a história sobre Foz, vem buscar o pai de imediato. Larga o trabalho e dispara no caminho para Bauru. Zanello vai até o PoupaTempo e consegue junto de uma assistente social, um local seguro para o homem ficar até a chegada do filho. Fez tudo isso, mas não pode esperar o reencontro, o trabalho o fazia ir para outros cantos. Quem lhe conta como isso ocorreu foi um segurança do lugar, que lhe diz que o pai quando viu o filho, leva um susto e diz que não era ele que queria naquele momento e sim, ver o outro. Por fim, promessas de que daria um jeito de levá-lo para lá e voltaram juntos para Brotas. Zanello me conta isso tudo meio que em lágrimas, dizendo que em certos momentos pensa em desistir de tudo, das durezas dessa vida, mas sempre essas histórias se renovam em sua mente e acaba buscando forças para continuar navegando e navegando. Trocamos um forte abraço na calçada defronte minha casa e ele sai em desabalada carreira para atender um chamado da esposa. Sua moto se afasta dali e fico matutando que a maioria dos meus sinceros amigos são todos um pouco como o Zanello. São pessoas especialíssimas para mim e para mundo, mesmo que não saibam direito disso”.

- Em 18.07.2015 publiquei: “AS HISTÓRIAS E ALGUMAS DECEPÇÕES DE ZANELO – A AJUDA AO PRÓXIMO -.Certa feita encontrou um mendigo na rua Gustavo esquina com Rodrigues, muito sujo, casco nas mãos, pele grossa e puxando conversa, descobre algo mais dele. “Alguma coisa me diz que você já foi atleta ou participou de algum esporte? Sim, ele me disse ter caído nesse mundo das ruas por causa das drogas. Quando criança sonhava ser jogador e conseguiu se aproximar do sonho, foi ser gandula e aprovado numa peneira dentre tantos meninos. Ficou num alojamento para fazer exame médico e na sequência, uma noite antes, aceita um convite para sair na rua e se divertir. Encontrou umas pessoas erradas e consumiu drogas. Perceberam isso, que estava jogando sob efeito de drogas e me dispensaram, quando tinha tudo para prosseguir carreira. Tinha perdido minha mãe, sabia que a bola mudaria minha vida, mas fui fraco e fiquei sem rumo, perdi tudo, comecei a viver na rua”, conta. Conta mais. “Eu o encontrei na rua naquele dia e disse que iria ajudá-lo. Propus a ele arrumar um kit com objetos pessoais para dar uma nova roupagem nele. Devido ao estado em que se encontrava ninguém abriu as portas para fazer sua higiene, pois tinham medo de serem contaminados. Igrejas, postos de combustível, ninguém emprestou sequer água de mangueira. Uma escola de aprendizagem de corte de cabelo, duas quadras para cima da Rodrigues, ali na Antonio Alves de inicio recusou, mas devido a minha insistência aceitaram se eu fizesse a guarda dos minutos em que ele estivesse tomando banho. Após tudo feito, foi motivo de aplauso por todos, pois ele saiu impecável, limpo. Fiz isso, ele recebeu um kit de roupas, a própria escola contribuiu com mais. Saiu de lá vangloriado, mas não consegui mais que isso e continuou nas ruas”. A sua decepção ocorre depois disso, alguns dias após. “A minha intenção era arrumar sua documentação e fazer algo mais para tirá-lo da rua. Dias depois o encontrei na mesma situação de antes, sujo e sem aquelas roupas, nada do que havia lhe arrumado estava mais com ele. Voltou ao convívio da rua. Ele foi roubado em todas suas coisas e estava só com a do corpo. Perguntei por que não quis dar prosseguimento na minha proposta de lhe ajudar? Ele deu a entender que se ficasse como antes seria melhor, pois continuaria recebendo doações das pessoas e que, na convivência das ruas a lei é sempre a do mais forte. O mais forte toma do mais fraco, foi o que aconteceu com ele. Havia tirado até fotos três por quatro dele, mas não quis que fosse regularizar seus documentos. Nem sequer me deu o nome, só contou sua história de vida, sofrida, dolorosa, mas mesmo propondo levá-lo a algumas instituições onde tinha feito contato, recusou tudo e preferiu continuar vivendo sujo e nas ruas.” “Tentei ajudar outro cidadão e só de conversar com ele, para primeiro conhecer a sua história e depois ver como podia ajudar, ele se afastou me dizendo que o estava prejudicando, pois perdia tempo comigo, enquanto poderia continuar pedindo e ganharia mais com isso. Estávamos defronte a ITE, ele todo sujo, degradado, barba toda grudenta e só de bater os olhos vi que havia tido outra vida, que veio para as ruas por causa de algum motivo e me propus a ajudar, mas ele recusava, rejeitava minha presença. Não queria reviver seu passado, algo querendo esquecer, talvez por algo feito e com sua identificação poderia ser reconhecido e isso lhe causaria problemas. Mais um que preferiu continuar vivendo nas ruas, mesmo também tendo ido procurar lugar para seu abrigo. Se a gente for analisar o ser humano, como tem desigualdade, fico surpreso e somos felizes e não sabemos. Quero fazer boas ações, mas as vezes ocorrem barreiras. Vejo essas situações e quero fazer o bem, mas não sei muito bem lidar com isso tudo”, continua me contando. “Se eu ver alguma coisa nas ruas, eu passando com minha moto eu continuo me tocando, paro e vou conversar, ver no que posso ajudar. Chego a doar algo meu para fazer a pessoa feliz. Doei outro dia um paletó, dos únicos que tenho e para uma pessoa se sentir mais feliz, poder com ele ir para sua igreja. Não vou parar, são coisas minhas que me incomodam e não falo para ninguém, mas como você se interessou e tocou no meu coração estou falando. Queria poder compreender mais o ser humano, entender de alguns motivos que o levam a fazer algo e abandonar outros. Estendo minha mão, faço o que posso, mas algumas vezes chego a achar que faço de forma não muito certa. Mas qual a forma certa? Vejo alguém com necessidades, isso me toca profundamente e não consigo me manter indiferente, passar por eles e sem ao menos tentar fazer algo. Algumas vezes me coloco no lugar deles e daí quero fazer algo, mas nem sempre consigo”, concluiu”.

- Em 30.05.2017 publiquei: “HISTÓRIA DA SENSIBILIDADE HUMANA – ZANELO E DOCUMENTOS ENCONTRADOS APÓS LIMPEZA DE BUEIRO - O fotógrafo Zanelo é por demais conhecido em Bauru, pois sobrevive em sua casa revendendo seu trabalho fotográfico para quem ainda se predispõe a adquirir seus serviços profissionais. Morando na vila Falcão, mais precisamente na rua Vital Brasil, quadra 3, vivia perturbado com problemas provenientes de bueiros entupidos e provocando seguidos alagamentos. Após o último, com água da enxurrada chegando a invadir seu quintal, foi até a EMDURB e pediu a limpeza. Foi prontamente atendido e após a limpeza, tudo sendo registrado pelas suas lentes, ao fotografar o entulho saído de um dos bueiros, uma grata surpresa: uma carteira. Pegou a mesma nas mãos e a levou para casa, toda embarreada e foi verificar seu conteúdo. Toda a documentação era de um senhor de 82 anos, Mauro Gonçalves de Freitas. Mas como descobrir seu paradeiro? Dentro da carteira, além dos documentos e cartões de crédito, um exclusivo do supermercado Confiança Falcão. Foi até lá e descobriu o telefone do seu Mauro. Ligou e foi prontamente atendido. Mauro, que já havia refeito muitos dos seus documentos, nem mais acreditava ser possível encontrar os mesmos, motivo de roubo em sua residência, há uns quatro meses atrás. Foi até a casa de Zanelo, se conheceram e pegou de volta seus documentos. Zanelo foi tão prestativo que já havia limpado tudo e entregou tudo para o incrédulo Mauro. Conversaram bastante e dialogando, esse queria lhe remunerar com algo, pela presteza de lhe procurar e devolver tudo. Zanelo deu o assunto por encerrado com uma solução das mais sensíveis: “Tá bom, já que quer me dar um presente, me dê uma muda de planta, uma arvore e vou cuidá-la em casa junto de tantas outras e toda vez que olhar para ela, saberei ter sido a que me deu”. Tornaram-se amigos e Zanelo já o vê como uma espécie de pai, dada a diferença de idade entre um e outro. Essa simples história termina assim. Muitos a podem achar simples demais, mas é dessas pequenas coisas, desses momentos de entendimento entre as partes que tiramos grandes lições de vida. Quem conhece Zanelo sabe de sua sensibilidade, como trata e leva sua vida. Circula pela cidade toda com sua possante moto CB 300, toda equipada com bagageiros variados, tudo para atender sua clientela em Bauru e região. Histórias assim comovem exatamente por ocorrerem dentro de um mundo cada mais desunido, com as pessoas agindo individualmente e com algo assim, comprova que a sensibilidade quando atuando no ser humano, tudo tende a seguir da melhor forma possível”.

- Em 19.08.2018 publiquei: “EU VIVO DOS REENCONTROS... - Saio na rua por causa deles, os inevitáveis reencontros, o inesperado de rever pessoas queridas. E como gosto de ir trombando a cada esquina com essa gente toda que gosto muito. Felizmente são tantos. O melhor exemplo que posso ter disso tudo hoje está resumido nesta singela e sugestiva foto. Nela um baita de um amigo das ruas, o ZANELLO, o melhor fotógrafo do meu mundo, um que consegue, mesmo que as duras penas, sobreviver fotografando gente em eventos. O gajo já se aposentou, mas nenhuma aposentadoria hoje em dia dá para o cara permanecer em casa e viver tranquilamente. Se faz necessário continuar na lida. Zanello sai por aí tirando fotos de tudo o que vê pela frente e que imagina possa lhe trazer algum retorno. É também contratado por gente simples cidade afora e esses lhe pagam, mesmo todos hoje tendo suas máquinas fotográficas. Pagam, pois ele entrega as fotos reveladas naqueles antigos álbuns e com o seu acabamento final, os cuidados que só ele sabe dar para cada foto. Lindo ver sua abnegação. Eu passei a amá-lo de paixão logo que o vi fazendo isso pela primeira vez. Foi amor a primeira vista. Pois bem, esse meu amigo me viu hoje na feira e me cercou. Ele tinha acabado de comprar algo mais para sua moto e seus afazeres, um desses trecos que será acoplado em sua moto, um bagageiro onde colocará suas tralhas de serviço. A peça é cheia de um rococó, parecendo um manto desses de colocar no lombo de um cavalo. Lindo, bem a cara de homem matreiro do campo como só ele sabe ser. E o é. Eu fico cheio de orgulho desses meus amigos, pois bem, conto dos motivos dele ter me cercado hoje e me dito assim na lata: "Estou triste contigo, você se esqueceu de mim". Ele reclamava que tenho lhe visto pouco nos últimos tempos, que o tenho ligado pouco, dado pouco atenção para o que continua fazendo. Ou seja, coisa de dois amantes. Um meio desligado, deixa de se interessar pelo que o outro faz. Lasquei um baita de um abraço no danado para deixar bem claro minhas intenções para com ele e assim selamos mais uma vez nossa eterna amizade. que o reencontro diz ter uma bela e nova história para me contar e quer que a transforme num texto e publique. Como dizer não para ele, tão gentil e sempre cheio de palavras doces para comigo? Nem tenho como. Sou derretido para com amigos desse naipe. Diz que vai em casa essa semana e me conta em detalhes a coisa. Ficarei aguardando. Conta também de não ter perdido a esperança de encontrar um parceiro de viola e sair mundo afora cantando suas modas, sem eira nem beira, ao sabor do vento. Ele bem sabe que isso é meio que impossível, pois casado e com mulher brava em casa, ela nunca que vai deixar ele sair pela aí sem lenço e documento. Vivemos de sonhos não realizados e assim tocamos nossas vidas. Faço festa em cada reencontro com gente como ele. Ele foi só um dentre uns quatro que revi hoje na feira e renderiam histórias e causos maravilhosos, desses que me fazem parar tudo, dar um breque na vida e ficar de papo pro ar, esquecendo dessas agruras todas, só flertando com algo do mundo do impossível. Como é bom ter amigos e amigas dessa laia. Eu chego a acreditar que só continuo vivendo, nessa sobrevida que tenho hoje, por causa desse recarregamento de energias que a rua me proporciona. Não me confinem num quarto escuro, numa casa fechada, num beco sem saída, pois daí, tenham certeza, morrerei num piscar de olhos. Eu quero mais e mais ruar e rever essas pessoas maravilhosas, como esse belo exemplo de ser humano, o fotógrafo Zanello, um cara de bem com a vida, simples, singelo, sem maldade no coração, vivendo como a maioria, de migalhas, mas feliz da vida, fazendo o que gosta, sorrindo para o seu semelhante e dando um chute, ou melhor um sonoro bicudo nas adversidades todas que se apresentam diante de nós no dia a dia. É isso. Quando me verem sorrindo pela aí, é por ter cruzado na rua com alguém tipo Zanello. Ele me encheu de felicidade no dia de hoje”.

- Em 28.05.2019 publico: ODE A AMIZADE - Eu e o fotógrafo Zanello. Muitas histórias juntos, uma amizade ultrapassando barreiras, mais de décadas de excelente convivência. De uma simples trombada na rua, ideias e confissões. A sua simplicidade me conquistou, numa espécie de amor a primeira vista. O reencontro sábado passado quando caminhava pela avenida Rodrigues Alves, ele todo pimpão, barba recém feira, paletó de terno e um sorriso de orelha a orelha. Paro, trocamos um fraterno abraço e lhe pergunto: "Qual o motivo da alegria?". Ele não se contém e me me conta várias histórias ao mesmo tempo. Gosto dele exatamente por causa disso, ele é um sujeito dado, franco e cheio de boa conversa. O motivo, fico sabendo, é salutar. Após tantos anos de labuta, contribuindo para a Previdência não se sabe nem como, conseguiu a tão almejada aposentadoria. E o fez no exato momento quando, se demorasse um bocadinho mais, após a aprovação da tão decantada reforma da Previdência, com certeza não mais o faria e teria que amargar, pelo menos mais uma década de contribuição. Ele acabara de voltar de um serviço, um casamento civil e mostrava a versatilidade de seu novo celular, com duas câmeras de fotos. "Henrique, eu sempre andei com aquelas máquinas a tira colo e hoje, continuo para fazer pose, pois talvez os clientes não entendam muito bem e nem compreendam ao me ver tirando fotos lá no cartório ou mesmo nas igrejas e com o celular. Mas é a mais pura verdade, esses novos celulares possuem uma definição muito melhor que muitas das melhores máquinas que já tive". E para provar tira algumas fotos minhas e mostra como é o resultado, as amplia e pede para que verifique a definição. Eu, com o meu, também percebo isso, mas continuo intercalando, ora a maquininha portátil, ora sacando o próprio celular e clicando o objeto do interesse. Ele me mostra fotos tiradas com o celular hoje no cartório, intercaladas também com outra máquina, essa daquelas pesadonas, hoje não mais penduradas em seu pescoço como até bem pouco tempo. "Eu tiro as fotos com a profissional e ofereço um vídeo grátis, esse feito com o celular", diz. Zanello conta isso para abrir o leque de conversas que virá pela frente. Mesmo conseguindo sua tão almejada aposentadoria, algo que nem pensa em fazer é permanecer trancado dentro de casa. "Você me conhece, sabe que gosto de estar na rua, ver as pessoas e ir registrando seus momentos. A aposentadoria, agora junto com o salário da esposa me dá mais segurança para fazer o que gosto e com mais afinco, mais dedicação e até esmero. Vou continuar fazendo o que sempre fiz a minha vida inteira. Eu vou atrás dos meus serviços, descubro eventos, percebo de longe onde vão precisar de um fotógrafo e vou pra lá, me ofereço. tenho muitos clientes fixos, que me conhecem de longa data. Faço de tudo, desde o tradicional casamento, como festas variadas, torneios de futebol e de esporte em geral. Essas festas com políticos, sempre alguém me chama e depois proponho o meu pacote. Hoje eu não levo somente a foto revelada, mas junto levo também um disquete com os originais, além de quando possível, acrescentado com alguma gravação. Eu mesmo faço tudo, todas as etapas. Só não revelo, no mais monto tudo".

Cada reencontro com Zanello rende sempre boa conversa e ele surge assim do nada com algo novo, e do que ouço, quase sempre escrevo algo, relatos que coloco no papel. O desta feita será mais que auspicioso, pois será o relato de sua vida, desde seus primórdios, suas andanças, até o dia de hoje. Ele é mais que um Lado B, é destes que circulou e fez tanta coisa pelas rebarbas desta cidade, merecedor de muito mais do que mera entrevista. Bater papo com este grande personagem da vida cotidiana desta cidade é engrandecedor. Enfim, quem sair sempre ganhando é quem dele se aproxima, ouve o que tem para relatar e assim vai se recarregando com seus relatos. Aproveitem, como sempre faço toda vez que tenho a oportunidade de estar junto deste grande cidadão destas plagas.

EU CONHEÇO PESSOAS SENSÍVEIS, MAS ZANELLO É SENSÍVEL MESMO... 

Zanello não tem Facebook - e me diz não sentir falta nenhuma -, daí não conseguimos fazer a gravação do Bate Papo não presencial, pelos meios ele lá e eu aqui. o jeito encvontrado foi ele vir até mim. Sua esposa o trouxe e íamos gravar na praça aqui defronte, mas ventava e já tinha garoado. Adentramos o prédio e a gravação foi feita pelo Ao Vivo do Facebook, em três etapas. Eis a seguir os links:

Link 1: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3847160335313947

Link 2: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3847223465307634

Link 3: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3847398995290081 (essa última, ele já na praça, após o término da entrevista, viola afinada, local um tanto vazio, não quis ir embora sem antes tocar algumas modas pra quem nos lê, vê e ouve).


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