domingo, 29 de novembro de 2020

CARTAS (222)



A VIOLA ESTÁ EM CACO – INOLVIDÁVEL TRABALHÃO PELA FRENTE
Não tenham dúvidas, a viola está em caco. Bauru na estaca zero, pois as duas candidaturas chegando ao 2º Turno são pérfidas, horrorosas. Tudo bem, tenho certeza disto, mas quem mais acha isso? A maioria da cidade decididamente NÃO, pois descarregaram seus votos em propostas conservadoras, pueris, vazias e estéreis. Tenho, com um pintor, revelador diálogo, algo a lhes contar, alguém que me prestou um serviço necessário no Mafuá, se tornando meu amigo, pessoa boa, evangélica, simples até não mais poder, sem vícios – não fuma, não bebe, não trai, não mija fora do penico, não trepa fora do que lhe diz seus ensinamentos religiosos, porém também nada lê e só se informa assistindo a TV Record e pelo que lhe indica a igreja, através de links repassados via celular. Ele, neste momento, representa não só este segmento, mas o da periferia, se posicionando contra o candidato oficial do momento, este onde toda nossa mídia massiva joga pesado para ganhar – tal do menos pior.

- Seu Henrique, ela vai ganhar, todos ao meu redor já decidiram. Nem vejo mais a TV no horário eleitoral, pois já sabemos em quem votar no domingo. Ele representa o novo, o diferente, algo pelo qual não vemos e nem enxergamos no outro candidato. Onde moro, lá nos altos do Bela Vista, perto do Assentamento Cannã, ali a conversa é só essa. Em todas as rodinhas só se fala dela. Nosso bairro vai votar em bloco, poucos se mostram diferentes.
Ouço o que me diz e me ponho a matutar com meus botões, enfim, quem mais me ouve neste cruel momento? Eu, eu e eu. Nós, os ditos progressistas e de esquerda perdemos e feio. Pouco ou nenhum avanço, pois regredimos ao que já tivemos. O conservadorismo avançou e nada de braçada diante de tudo o mais. E pra pior, pois o status quo da cidade, o que representa a elite e seus interesses está por um fio para perder a hegemonia. Contra nós, os ditos progressistas e esquerdistas estes possuem uma forma de jogar, sempre muito eficiente, mas agora se viram perdidos e estão quase desmoronando, sem saber como reagir diante de uma força da qual não sabem explicar direito de onde surgiu, como foi construída e está chegando lá. Eles, os capôs destas plagas perderão mais do que todos. E estão feito baratas tontas, iguais as que despontam por todos os lados ao acender a luz durante o meio da noite no abandonado Mafuá.

Ouço nas rodas de conversa que, Raul, o candidato de todos os interesses de mercado destas plagas demonstrou interesse em chegar no 2º Turno tendo como adversária a Suéllen, nova, despreparada e sem sal, nem açúcar. Na verdade, acreditava levar no 1º Turno, mas diante da impossibilidade, imaginava que seria difícil derrotar Gazzeta no 2º Turno, pois todos estariam unidos contra ele, como já ocorreu na eleição passada. Só que a coisa tomou proporções inimagináveis e ela não só chegou lá, como o ultrapassou. E hoje, dizem e percebo isto nas conversas com quem de fato decidirá a eleição, a periferia bauruense. Ele, Raul e todo e establishment deve estar suando frio. O que o pintor me afirmou na conversa ao pé de ouvido deverá se impor sobre todas as demais forças políticas até então atuantes é algo novo, pior que tudo o que já tivemos, mas eleições são assim mesmo, estão sempre nos apresentando novidades, as piores possíveis.

Estejamos todos preparados, pois se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. Bauru num beco sem saída. Creio já deva ir abaixando as calças. Gonzaguinha profetizou lá atrás, algo mais que necessário: “Começar de novo e contar contigo, vai valer a pena...”. Com as calças arriadas ou não é começar tudo de novo ou se entregar ao que vem por aí. Resistirei enquanto viver e o trabalho será insano, mas necessário, se quisermos todos continuar vivendo de cabeça erguida.

O FATO MARCANTE DA VÉSPERA DA ELEIÇÃO
Ocorreu num dos lugares mais inusitados para ocorrências dessa natureza, mas se deu, de fato e de direito. A USP, Faculdade de Odontologia perdeu ao longo do tempo aquele poder de antanho de ter estudantes se posicionando politicamente, atuantes e fazendo e acontecendo na cidade. Triste sina, desembocando no seu famoso Diretório Acadêmico, prédio vistoso ali na rua Rio Branco, onde um dia assisti Adoniran Barbosa se apresentar, está sendo vendido, pois não existe mais organização estudantil por lá. Nem lá e nem na maioria das escolas, vide a ITE também sem Diretório Estudantil e com sua Casa dos Estudantes permanecendo lacrada como elefante branco ali nos altos da rua Campos Salles. Deixo o comentário das demais instituições, públicas e privadas pra outra oportunidade.

Dito isso, me redimo e ontem, antevéspera do pleito em Bauru pelo 2º Turno, quando o roto está concorrendo com a esfarrapada, eis que o desGoverno Dória ameaça fechar de vez o HC - Hospital das Clínicas, o imenso elefante branco ali ao lado das instalações do Centrinho, dentro do terreno pertencente à USP. Um bafafá foi criado e, pasmem, para surpresa geral uma movimentação estudantil se agigantou e tomou as dores pelo não fechamento. O que já era alvissareiro se tornou de proporções grandiosas quando na tarde de ontem o então candidato, o Raul das elites e da mídia massiva lá esteve junto dos filhos na tentativa de abiscoitar vantagens de última hora. Foi rechaçado pelos estudantes e um deles, pelo que se diz e vi num vídeo tentou lhe entregar um pacotinho de ração - não entendi o significado, depois alguém me explica - e ele, numa reação intempestiva arremessou um copo de água que estava em suas mãos na direção do rapaz. O vídeo viralizou, assim como a ação dos estudantes.

Das duas uma. A ação dos estudantes foi mais que válida e delas, hoje pela manhã, passo pelo local e tiro fotos de todos os cartazes ainda lá ficados no muro da USC e no caso do candidato Raul, mais uma vez, esse midas ao contrário, pelo visto, onde tudo que toque, acaba se transformando em caca. Novamente usam o vídeo para desancar o candidato das elites de Bauru, nessa desenfreada luta hoje ocorrendo na praça bauruense, entre a Zona Sul, quase toda apostando fichas no que melhor lhe representa e a periferia, desassistida desde muito tempo, acreditando que alguém se apresentando como sua algoz, possa ser a salvadora de sua lavoura.

O ocorrido diante dos muros da USP é só mais um capítulo dessa trama que deve ter fim hoje quando as urnas forem abertas. Se de tudo, isso servir para levantar o ânimo dos estudantes daquela instituição de ensino, creio que o objetivo terá sido suplantado. Já do resultado do pleito, tanto faz, como tanto fez, cada qual representa algo a mais do retrocesso pelo qual Bauru está enfurnado e hoje, só mais um capítulo, algo a mais. 

Das opções que Bauru faz neste momento, algo de um futuro nada auspicioso para os próximos anos. Agora, ver estudantes rebelados, revoltados, irados e propositivos, isso não tem preço.

MINHA INDUMENTÁRIA DE VOTAÇÃO
Guardo tudo em dois invólucros ganhos muito tempo atrás. Ali naqueles compartimentos plásticos, todos meus comprovantes eleitorais. Não me pergunte o ano, mas são de muito tempo atrás. Hoje, ao sacar meu título de eleitor para o mesário, um deles, conhecido de outros lugares, brinca e diz, ter colinhas dos tempos do zé gaia, hoje sem validade. Rimos e só aí me dei conta. Fui guardando essas e hoje representam preciosidades. Nelas duas boas recordações, os nome de Roque Ferreira e Roberto Felício, ambos baluartes de luta de memoráveis tempos, além é claro, Lula, Genoíno e Mercadante. Vale o registro.

CENA MUITO RECORRENTE NO/DO DIA DO PLEITO
Hoje, domingo, 11h da manhã, restaurante Bom Prato fechado e quem necessita de se alimentar faz fila defronte algo que será distribuído como almoço pela igreja católica localizada na praça Rui Barbosa. Essa talvez seja a maior preocupação que os dois candidatos na disputa hoje para chegar à Prefeitura Municipal devam ter e já irem pensando no que fazer daqui por diante, pois o número de gente necessitando de auxílio, inclusive para se alimentar diariamente, tem aumentado e muito nos últimos tempos.

O INEVITÁVEL RESULTADO - E AGORA BAURU?

EM BAURU DEU O QUE TINHA QUE DAR, NENHUMA SURPRESA - A Zona Sul, o lado opulento e cheio de pompa votou no candidato deles, Raul, mas não foi suficiente para elegê-lo prefeito, pois a periferia, o lado volumoso dos votos já havia se decidido pela candidata Suéllen. Algo ficará marcado e diferente de outras eleições: os Donos do Poder local estão desorientados e talvez demorem bocadinho de tempo para voltarem a ter chão. Como já escrevi, eles derrotam fácil a esquerda, mas isso surgido neste pleito é a novidade bolsonarista, negativista, precarista e fundo do poço tomando forma e com isso, os vetustos importantes destas plagas ainda não sabem como lidar. A maioria da nova Câmara e os que se dizem importantões de lá, Meira, Chiara, Segalla e Telma estavam todos perfilados com Raul. Não vai ser fácil. Faltará grana, insolvência à vista e gente sem nenhum preparo no comando da cidade, enfim, gente vindo não se sabe de onde para os cargos mais importantes. Não que o outro candidato fosse melhor. Longe disso. Bauru cada vez mais conservadora. O povão vergou os poderosos, mas nem isso será grande feito, pois a escolha de qualquer forma não propiciará alteração de lado. Talvez dos artífices, com novos personagens adentrando o campo de jogo. Temo muito pelo lado igrejeiro que virá com tudo isso. Quando a vi agora falando em escolher qualificados para cada função, temo também por estes, pois ao aceitarem, podem se queimar num curto espaço de tempo. Será ver para crer e isso não se trata de achismo, pois ambas campanhas não representam nada novo, só velhacaria, velha política na sua essência e num momento onde os cofres estarão mais que vazios. O povo não confiou nos candidatos que meu segmento político atua e daí, temos que recomeçar um intenso e exaustivo trabalho de “ir lá onde o povo está” e a partir daí, irmanados buscar essa mudança de mentalidade. Do contrário, a decrepitude só aumentará. Nem Suéllen, nem Raul podem se dizer vitoriosos deste pleito, pois ambos foram suplantados pela soma dos brancos, nulos e abstenções. Ou seja, existe uma massa aí fora clamando por algo diferente, mas precisa ser convencida da existência de outras alternativas viáveis. Serão anos de intensa luta contra a implantação do projeto conservador embutido por detrás do discursinho oco, vazio da agora prefeita. Estarei onde estive na maioria dos anos de minha vida nestas plagas, na oposição e propondo o diferente. Não aposto no quanto pior melhor, mas o que vem pela aí não é nada alvissareiro. Estejamos preparados com todos os unguentos imagináveis em busca de proteção, pois daqui por diante é o que mais Bauru precisará.

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