sábado, 7 de novembro de 2020

DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (185)


TIROTEIO NA PRAINHA DE AREALVA – LEMBRANÇAS DE ANTANHO
A notícia é fresquinha, de uma semana atrás, quando do feriado prolongado de Finados e como por essas bandas o descuido pandemico já é quase regra, não podia dar outra diante do calor destes dias: a prainha de Arealva bombou. Ela bomba faz tempo. Eu tenho 60 anos e tenho lembranças inenarráveis de pra lá me dirigir no auge de minha juventude, juntar amigos, carro cheio e dá-lhe festa nas "escaldantes areias paradisíacas do rio Tietê" (sic, é o que temos, uai!). Quantas vezes. Naqueles tempos, assim como hoje, existia uma rivalidade de Bauru com o pessoal de lá – e de tudo quanto é lugar. A gente tinha que ir em bando, para não tomar uma coça e voltar com a catunda doendo. Sozinho ou mesmo em dupla e querendo dar uma de paquerador, era voltar escorraçado na certa. Eu ia, cagão que sempre fui, ficava na moita, só vendo as beldades desfilarem e sem arriscar nenhum galanteio. Fiz amizades com alguns de lá, mantendo-as até hoje. Escapei de apanhar lá – já em outros lugares, acabei levando alguns sopapos. Na época, se alguém viesse de outro bairro no pedaço onde o outro morava e desse em cima das moças do lado deles, era desavença na certa. E assim eles também agiam com os outro lado. Isso entretia a todos de montão nos finais de semana. Coitado de quem namorasse sério com alguma beldade de outro local, reduto de invocados. Tinha que ter muita lábia para escapar do esfrega.

Pelo visto a coisa não mudou muito de lá para cá, mesmo já tendo se passado bem uns quarenta anos. Vejo as fotos da prainha de Arealva, mostradas pelo jornal, pela TV e em fotos que recebo de amigos e constato ter mudado quase nada. Os mesmos bares, o mesmo espaço físico, as mesmas árvores, só mudando o público, porém, pelo que vejo a mentalidade também mudou pouca coisa. Desta feita, pelo que entendi um bando de bauruenses invadiu a cidade e foi festar na prainha, como estavam em turma, invocaram além da conta, além da bebedeira é claro. Na minha época tinha muita faca e a valentia era mesmo decidida no braço. No braço e na quantidade de gente que te rodeava e te moía. Hoje, alguns menos corajosos vão a estes lugares munidos de armas de fogo, um tanto liberadas e incentivadas pelo presidente de plantão, o seu Jair. Da história que li do último final de semana, a bagunça acabou em tiroteio e o pessoal lá da cidade revoltado com o bando de desorientados do lado de cá, ou seja, da terra “sem limites” – o cara não limites aqui e vai querer fazer o mesmo na terra alheia, sempre gera confusão, quando não até morte.

Ligo para amigo de longa data, desde aqueles tempos, ele sempre por lá, querendo saber dos detalhes. Foram uns quinze minutos para matar saudade, colocar algumas conversas em dia e depois de saber que ambos havíamos sobrevivido à pandemia, entramos no assunto da guerra lá na prainha. Ele foi logo me dizendo:

- Meu caro, os tempos são outros. A diversão dos daqui continua sendo a prainha. Entra prefeito, sai prefeito, uns largam mão, outros arrumam bocadinho mais, mas a prainha é o nosso must, ainda continua sendo a fonte de turismo desta minúscula cidade. Se tudo ficasse só entre a gente, tudo gente conhecida uma da outra, creio teríamos menos problemas, só os de bebedeira, pois aqui não existe outra diversão além de encher a cara e vomitar numa sarjeta qualquer. O problema continua sendo vocês, os bauruenses. Vocês continuam se achando. Neste final de semana foi uma turba de sem noção, desses que se juntam só pra se mostrar, promover arruaças e aprontar. Não querem se divertir. Nem sei o motivo por tudo ter começado, mas tudo acabou em tiroteio. Não é a primeira vez e nem será a última, nós sabemos disso, né! Você lembra do nosso tempo, o couro também comia, só que agora parece mais perigoso, os caras não querem só bater, eles matam também. Pra se mostrar pros outros dão tiros nos outros e se saem como os valentões. Nunca fui furado, não vai ser agora. Leve em consideração que, na nosso idade, aboli a prainha e se por lá apareço é durante a semana, calmaria. Prefiro os ranchos lá pros lados da cachoeira do Babalim, onde tem a venda que você também conhece e já tomou umas e outras. Nosso enrosco hoje se dá em outras paragens menos perigosas.

Juntei tudo num parágrafo só, quase meia hora de falação, ele explicando os seus motivos e eu tentando mostrar existirem outros, os dos que saem daqui e vão se divertir nos ranchos daí. Disse algo mais ou menos assim:

- A gente tá em outra faz tempo, né! Deixamos a vida perigosa de lado e caímos em algo mais ameno. No máximo amigos na beira de um rio, muita carne e bebida, depois roncar que é um beleza. Nem mulherada tem mais. Nós envelhecemos, elas também e esse pessoal dessa geração é diferente até na forma da azaração. 

Falamos de tudo e ele quis até, depois de já ter visto tudo lá na prainha, dizer ter a solução pra resolver definitivamente as contendas dominicais ali ocorrendo. Preferi não perguntar qual era a solução definitiva do imbróglio, pois se resolvendo tudo, creio eu, a graça estará perdida. E sem a graça, ninguém mais sairá de casa. 

Digo a ele ter admiração especial por Arealva, os sorvetes na praça e que hoje, tenho notícias aqui de umas empresárias que contratam toda mão de obra da cidade, mas registram pouco, tem acordo com a fiscalização e exploram o pessoal, mas são a única fonte de emprego garantida da cidade. E depois ainda sobre a realidade desses encontros lotados de gente, ele se mostra consciente e antes de desligar me diz como enxerga essa garotada toda festando como se nada estivesse acontecendo:

- Os mais jovens que se aglomeram nos bares, nas praias e nas festas, sem usar máscara, acha que nada lhes acontecerá se pegarem o vírus. Imaginam que a juventude é um salvo-conduto. Santa ignorância.

- Verdade – lhe digo. 

Se não fosse a esbórnia e confusão lá na prainha, motivo de muito trabalho para a dupla de policiais militares da cidade, ainda tem o vírus, ainda pulsando pela aí. Tanto ele como eu, ambos com 60 nos costados, deu para perceber, vivemos de saudade, relembrando fatos alvissareiros – outros nem tanto -, hoje não se metendo em mais nenhuma confusão só nas políticas. Ele me diz estar mais trancado que o aumento salarial dos tempos bolsonaristas e eu, confirmo, reafirmo e assim como ele, proponho a solução para tudo, inclusive para esparramar a bagunça da prainha, mas tudo a longa distância, sem aproximações. Envelhecemos e o que nos alimenta é manter a memória boa, cheia de filmes com histórias mirabolantes, passando um filme na mente. Ele mesmo me lembrou uma, mas não posso contar de jeito nenhum, pois fiz parte da trama. Nós já aprontamos, também na prainha, hoje aprontar pra gente é escapulir de casa escondido da patroa e ir tomar um ralo de galo na padaria da esquina, voltar correndo, escovar o dente e se fingir de morto. Ah, essa prainha...
OBS.: Divagações madrugativas, ainda sem muita noção do que está sendo escrito.

HISTÓRIAS QUE RECOLHO NAS/DAS RUAS - ESCORPIÕES COMO FONTE DE RENDA
Ouço e anoto um trechinho, para depois me lembrar e discorrer sobre elas por aqui. é só sair pras ruas e elas pipocam, uma mais interessante que a outra. A que ouvi hoje me foi contada não em nenhuma escapulida para por seu arteiro realizador e pela via telefônica. Estávamos a parlar sobre sua forma de ganhar a vida e ele me disse que tudo tem ficado muito difícil nesses tempos de pandemia. Faz de tudo um pouco para ir conseguindo juntar uns caraminguás. Contou uma das formas. Não sabendo como, pede para um amigo dicas de onde encontrar escorpiões. O amigo se espanta, ele explica (conto adiante) e por fim dá a dica: "Vá lá junto aos muros do cemitério do Jardim Redentor e eles brotam de lá de dentro". Ele foi e recolheu alguns. Disse tinham muitos. Sabe o que ele faz, escolhe aleatoriamente alguns quintais e joga os bichinhos lá. Passa pela casa algumas horas depois oferecendo seus serviços de limpeza e comenta algo para os proprietários: "Tenho ouvido de muita gente na região que tem muitos escorpiões por essas bandas". Em alguns lugares é contratado para fazer uma limpeza. Faz, ganha o seu e assim segue sua vida. O amigo lá atrás que lhe deu a dica do lugar onde tinham muitos desses bichinhos, lhe disse antes de fornecer a informação: "Não é muita maldade você jogar escorpiões na casa dos outros?". Ele responde: "Também tenho essa preocupação. Mato antes e os jogo mortos". A história eu conto como me foi contada. Hoje, diante de tanta coisa fervilhando o cerebelo, prefiro ir tocando o dia com algo assim mais ameno, do que adentrar questiúnculas da eleição norte-americana ou da derrota do meu Noroeste, desclassificado de subir para a AII do futebol ano que vem, ou mesmo do Bozo, que persiste em avacalhar e destruir com este país. Sigo nas amenidades e quero logo ver esse dia se findando. Da forma como me foi contado, daria até para fazer um conto, mas minha cabeça me fez resumir tudo nessas poucas linhas. Assim encerro meu dia. Tchau!

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