quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

MÚSICA (193)


TERMINA UM, COMEÇA OUTRO, MAS TUDO COMO DANTES...

"Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim"
, CACASO E SUELI COSTA.

Eu fico dando risadas à toa para não chorar. Dizem que chorar em público é prova de fracasso. Fracassei em muito pelo qual lutei uma vida inteira, mas mesmo acumulando derrotas, consegui chegar até aqui. Carcomido pelo tempo, alquebrado e cheio de dores não sou de ficar me lamentando. Enfrentei meus dragões e moinhos, em alguns casos soube tocar o barco, noutros nem tanto. O fato é que cheguei aos 60 e do alto de onde me encontro, olhando para trás, dou boas risadas. Empreendi boas contendas e consegui sobreviver. Tenho um filho mais que maravilhoso, as mulheres que passaram pela minha vida guardo boas recordações de todas e da atual, felicidade e me conduz no que me resta de vida, conseguindo entender bocadinho do que vai pela mente desse velho lobo das estepes. Não é fácil estar ao meu lado, sei disso, até procuro ajudar, pois rabugento e agora também ranzinza, com a paciência por um fio, ando mais do que acabrunhado com tudo o que vejo à minha volta e pouca coisa posso fazer e daí, sofro e tenta passar alegria, rindo ou fingindo rir, mesmo estando triste pra dedéu. Não vai ser fácil continuar vivendo dentro desses desGovernos a que submetemos e submeteram o país, mas se chegamos aqui, quase no fundo do poço, temos que buscar forças e fazer o possível e o impossível para reverter, acreditar ser possível, pois do contrário, seria ainda mais triste desistir e se vergar. Quero continuar sendo aroeira, dessas que se verga e não quebra. Quero continuar tentando. Mais que triste ir perdendo pessoas tão queridas aos longo deste ano, ser obrigado a permanecer contrito, longe das ruas, distante dos lugares e pessoas que gosto, tentando sobreviver e até agora, aos trancos e barrancos, conseguindo. Baita abracito a tudo, todas e todos são os sinceros votos desse mafuento escrevinhador, o HPA para o ano que se inicia e em busca de dias melhores, lutando pela possibilidade de reversão dos estrago feito e crendo que, um dia a mesa ainda será virada. Só espero estar vivo pra ver a coisa diferente e sem esse bando de saúvas devorando tudo.
Em tempo: Eu queria muito poder escrever algo bonito nesse momento, mas confesso, nem escrever ando conseguindo a contento. Foi o máximo que consegui...

Quem me vê sentado
atrás dessa mesa de escriturário,
não vê o tarado, o louco, o sanguinário,
o bárbaro sem véu,
o estripador cruel.
Não me vê no convés
de um veleiro de três mastros
me guiando pelos astros
a caminho de Bornéu.
Não sabem que eu roubo
meninos na praça quando a tarde cai
e que os vespertinos já me apelidaram
de monstro assassino
do Parque Shangai...
Mas eles não sabem
que eu sou gigolô de beira de cais
que eu sou o autor do crime da mala
que eu larguei o trapézio por beber demais...
E nem imaginam
as atrocidades que vou cometer
Não desconfiam
que a causa de tudo
é não conseguir me esquecer de você
Eu não consegui
me esquecer de você..."
, ALDIR BLANC.

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