sábado, 12 de dezembro de 2020

REGISTROS LADO B (24)


24º LADO B COM MATHEUS BRITO, UM PADRE PROPONDO A RELIGIÃO PARA EMANCIPAR O POVO E SUA RESSIGNIFICAÇÃO ENQUANTO PRÁTICA
A cada semana procuro trazer à baila uma discussão bem dentro da realidade do mundo onde estamos inseridos e essa é a cara palpável deste LADO B – A importância dos desimportantes, onde os convidados podem até fazer parte da pauta da imprensa massiva – nossos jornalões, TVs e rádios -, mas nunca com o enfoque da libertação e emancipação popular. O grande mote da história ainda não contada de fato neste país é dar voz para os da camada popular ou os nela inseridos e ali atuando, nessa incessante e desbragada luta por ver um país completamente diferente dos privilegiando uma minoria e em detrimento de sua maioria, estes mantidos sob eterna vigilância. Tem quem atue na contramão do estabelecido como regra pelos “donos do poder” e tentam ao seu modo e jeito, pelas arestas e brechas ir fazendo, construindo algo, pedra sob pedra e assim, além de se doarem, possuem algo dentro de si, indestrutível, que é o colocar a mão na massa.

Nesta semana conta a história de mais um destes. MATHEUS BRITO é mais que um jovem impetuoso, pois com seus 26 anos já quebrou barreiras e deixou de lado a comodidade de ser alguém de olhos fechados. Preferiu mantê-los bem abertos e desta forma, os caminhos como sabemos, são sempre mais pedregosos, cheios de obstáculos. Matheus tem muito para ser contado, pois rompeu com algo em sua vida e pelas escolhas, continua altivo, propositivo e ciente do que faz. Pessoas assim merecem ter algo de sua trajetória ressaltada, contada e debatida, até para inspirar outros, menos animados a também não desistirem e na insistência, conhecer outros que estão a fazer algo parecido, daí todos se juntam, se espalham uns nos outros e a luta tem prosseguimento.

Matheus se descobriu crente em Jesus Cristo e foi fazer seminário. Cursou até quando deu, pois as contradições foram tantas que, preferiu seguir carreira solo, ou seja, fora dos braços da instituição Igreja Católica Apostólica Romana. Não desistiu de ler, se informar e concluir seus estudos. Encontrou abrigo numa igreja diferente, a Humanidade Livre e nela prossegue, com total liberdade, a forma de ministrar algo para fiéis em busca da palavra em torno de uma religião. Ele nos contará não só sua história, dos motivos de ter buscado estudar num Seminário, como o fato de ter o abandonado e o que aconteceu com sua vida daí por diante. Isso, por si só, seria motivo para muita conversa, enfim, também contará algo mais sobre o lugar onde se situa, a Humanidade Livre.

Tem mais e este o motivo principal para convidá-lo a conversar, um necessário BATE PAPO sobre religiosidade. O país num todo passa por uma transformação, onde as religiões mais conservadoras – nada transformadoras – estão a dominar o mercado e espalhando a fé nem um pouco libertadora. O que vem a ser isso e o que poderia acontecer se fosse instrumento de transformação social? Ela hoje transforma, mas segurando o povo, tornando-o manada nas mãos de inescrupulosos e aproveitadores. Em Bauru, pela primeira vez uma mulher é eleita prefeita, negra e jornalista, o que mais dizem dela é por estar inserida num partido dito e visto como da extrema-direita, o Patriota e mais, evangélica neopentecostal. Ou seja, faz parte de segmento fundamentalista. Pretendemos esmiuçar este termo e tudo o mais no quesito religioso. 

Dizem que conversando a gente se entende, pois bem, o papo com Matheus, para quem o conhece é sempre altivo, pois não foge da contenda. Não existe tema a lhe causar constrangimento, pois sabe muito bem que sem discussão nada se aprofunda e tudo continua raso, pueril e vazio. Será uma hora de intensa conversação, a boa prosa e com alguém preparado, nada bitolado e na contramão da maioria dos religiosos de hoje, estes fazendo acordo com os poderosos de plantão, interesses particulares, se enricando e não atuando como de fato, se entenda deva ser o papel do religioso. Ou seja, está sendo proposto a boa conversa, num papo agradável e com bom humor.
Dele havia escrito tempos atrás no blog Mafuá do HPA:

Em 12.11.2018 escrevi: “O HOMEM - MATHEUS BRITO é sacerdote na igreja Humanidade Livre, tem 24 anos e durante os dias da semana é professor de Filosofia na Rede Privada em Duartina e instrutor no Curso de Ética no CIPS, em Bauru. Não chegou a concluir o seminário, tanto em Marília como Bauru e os motivos são mais do que claros, evidentes e estão mais do que expostos, não existe mais espaço dentro da estrutura da imensa maioria das igrejas brasileiras para os envolvidos nas questões de libertação do povo oprimido. Ele um libertário, com posições bem definidas, uma delas no quesito da arbitrariedade cometida contra o ex-presidente, tanto que fez questão de estar na galeria dos que o defendem, o LULA LIVRE, como estar inserido em todas as lutas de libertação desse país do jugo conservador. Quer um papo pra lá de arrebatador? Esse bauruense propicia algo de grande valia para o engrandecimento do ser humano. Em seu facebook uma frase diz muito dele e de sua ação: "Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez...".

Algumas de suas frases e tiradas:
- Atualmente somos vistos como ameaça, por isso mesmo há muito mais pelo que lutar do que comemorar. Por melhores condições salariais e principalmente por LIBERDADE de cátedra!

- O fanático, quer seja, político ou religioso, não se interessa por fatos, mas por narrativas que alimentem seu fanatismo, por mais irracionais que pareçam.

- O amor verdadeiro não exerce nenhum forma de poder sobre outrem, mas alegra-se em deixar com o outro seja da maneira como ele deseja ser.

- Todo moralista deseja com a mesma veemência aquilo que condena.

- Há uma língua que fala e outra que nos fala: sobre a segunda se debruça a análise.

- Não sei o que me assusta mais, a velha política ou a tal “nova” política.

Para saber mais só mesmo assistindo.

Eis o link para assistir o Bate Papo de 1h10 de duração: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/4092391550790823 

COMENTÁRIO PÓS BATE PAPO:
Para quem possui todo tipo de olhar atravessado para com padres e afins, recomendo assistir o Bate Papo do começo ao fim e no término voltaremos a conversar, pois Matheus supera todas as expectativas. Quando lhe perguntei se a religião é o ópio do povo, conceito criado por Marx, ele não hesita e diz, "EVIDENTE QUE SIM". Aperto mais: "Então, por que continuar seguindo alguma?". Sua resposta é algo que não reproduzo aqui, pois recomendo ser ouvida na íntegra. Matheus prega uma ressignificação da igreja, com ela tendo utilidade até o momento em que o povo conseguir ter conhecimentos suficientes para a abolir de vez. Ou seja, um padre não só na contramão, mas PREGANDO algo contra tudo o que vê sendo praticado como religião nos tempos atuais. Da conversa, ótimas reflexões e tudo com muita consistência e pertinência. Como não poderia deixar de ser, tocamos também no fundamentalismo religioso da pior espécie dominando a maioria das religiões e não só o segmento neopentecostal evangélico, mas também o católico e outros. A pertinência do tema religião se mostra mesmo mais do que necessária, não só a discussão, como entender o que de fato se passa, como se passa e também, se ainda existe alguma saída, algo que possa ocorrer e mudar o atual rumo das coisas. Assistam e conversaremos na sequência...

Um comentário:

  1. A Teologia da Libertação em toda a AL foi perseguida pelo secularismo ultraconservador e patrimonialista, e sufocada pela famigerada renovação carismática católica, uma vertente neopentecostal reacionária importada dos EUA. A Teologia era a tentativa de se construir um catolicismo popular e democrático, uma forma da igreja assumir sua "mea culpa" pelos crimes cometidos contra os povos da América, desde o início da colonização. Afinal, a "cristianização" atrelada ao escravismo dos índios e dos negros matou em quatro séculos, 250 milhões de pessoas, liquidou povos e culturas milenares... Entretanto, a escalada da Teologia da Libertação confrontou o neoliberalismo. Por isto muitas lideranças populares religiosas foram assassinadas, por aqui Leonardo Boff e outros teólogos populares foram perseguidos pela própria cúpula da igreja... sigo sem saudades das vigarices do cristianismo, embora ainda considere a teologia uma utopia saudável, diante do pentecostalismo medieval que hoje envenena ideologicamente a maioria das cristandades.
    Dino Magnoni

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