quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
MÚSICA (193)
TERMINA UM, COMEÇA OUTRO, MAS TUDO COMO DANTES...
"Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador
Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro
Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim", CACASO E SUELI COSTA.
Eu fico dando risadas à toa para não chorar. Dizem que chorar em público é prova de fracasso. Fracassei em muito pelo qual lutei uma vida inteira, mas mesmo acumulando derrotas, consegui chegar até aqui. Carcomido pelo tempo, alquebrado e cheio de dores não sou de ficar me lamentando. Enfrentei meus dragões e moinhos, em alguns casos soube tocar o barco, noutros nem tanto. O fato é que cheguei aos 60 e do alto de onde me encontro, olhando para trás, dou boas risadas. Empreendi boas contendas e consegui sobreviver. Tenho um filho mais que maravilhoso, as mulheres que passaram pela minha vida guardo boas recordações de todas e da atual, felicidade e me conduz no que me resta de vida, conseguindo entender bocadinho do que vai pela mente desse velho lobo das estepes. Não é fácil estar ao meu lado, sei disso, até procuro ajudar, pois rabugento e agora também ranzinza, com a paciência por um fio, ando mais do que acabrunhado com tudo o que vejo à minha volta e pouca coisa posso fazer e daí, sofro e tenta passar alegria, rindo ou fingindo rir, mesmo estando triste pra dedéu. Não vai ser fácil continuar vivendo dentro desses desGovernos a que submetemos e submeteram o país, mas se chegamos aqui, quase no fundo do poço, temos que buscar forças e fazer o possível e o impossível para reverter, acreditar ser possível, pois do contrário, seria ainda mais triste desistir e se vergar. Quero continuar sendo aroeira, dessas que se verga e não quebra. Quero continuar tentando. Mais que triste ir perdendo pessoas tão queridas aos longo deste ano, ser obrigado a permanecer contrito, longe das ruas, distante dos lugares e pessoas que gosto, tentando sobreviver e até agora, aos trancos e barrancos, conseguindo. Baita abracito a tudo, todas e todos são os sinceros votos desse mafuento escrevinhador, o HPA para o ano que se inicia e em busca de dias melhores, lutando pela possibilidade de reversão dos estrago feito e crendo que, um dia a mesa ainda será virada. Só espero estar vivo pra ver a coisa diferente e sem esse bando de saúvas devorando tudo.
Em tempo: Eu queria muito poder escrever algo bonito nesse momento, mas confesso, nem escrever ando conseguindo a contento. Foi o máximo que consegui...
Quem me vê sentado
atrás dessa mesa de escriturário,
não vê o tarado, o louco, o sanguinário,
o bárbaro sem véu,
o estripador cruel.
Não me vê no convés
de um veleiro de três mastros
me guiando pelos astros
a caminho de Bornéu.
Não sabem que eu roubo
meninos na praça quando a tarde cai
e que os vespertinos já me apelidaram
de monstro assassino
do Parque Shangai...
Mas eles não sabem
que eu sou gigolô de beira de cais
que eu sou o autor do crime da mala
que eu larguei o trapézio por beber demais...
E nem imaginam
as atrocidades que vou cometer
Não desconfiam
que a causa de tudo
é não conseguir me esquecer de você
Eu não consegui
me esquecer de você...", ALDIR BLANC.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
BEIRA DE ESTRADA (132)
1.) O "PROGRESSO AMERICANO" E O BAURUENSE NA MESMA LINHALeio mensalmente a revista Piauí desde seu número 1 e na edição de dezembro, a de nº 171, terminada de ler ontem, extraio algo de um longo artigo de João Moreira Salles, sobre os destinos da Amazônia e quando com a comparação com o já ocorrido tempos atrás com os EUA, apresenta uma pintura a óleo de 1872, a Progresso Americano, autoria de John Gast, para demonstrar da bestialidade ocorrida lá e agora ainda em curso na Amazônia brasileira.
Cito entre aspas o seu entendimento do quadro: "Na tela, uma jovem descalça caminha no ar, flutuando, coberta por uma diáfana túnica branca. Inclinada para a frente, avança resolutamente da direita para a esquerda do quadro, do Leste luminoso, onde já amanhece, para o Oeste escuro, onde ainda é noite. Ao redor dela, seguindo-a como quem segue a luz de um farol, vêm os homens brancos, aqueles que civilizarão as extensões de terras brutas até o Pacífico. Trazem consigo as ferramentas do domínio e do progresso: a pá, o arado, o correio, a diligência, a locomotiva a vapor. A jovem, a quem Gast chamou Progresso, segura entre os dedos um fio de telégrafo e, como tecelã, leva-o de poste em poste, cerzindo assim o progresso. O livro escolar que traz na mão esquerda assinala a chegada da educação. À frente dela, apavorados com o fulgor de sua luz, bestas selvagens e grupos de habitantes nativos que fogem em direção à noite. Progresso Americano é a mais conhecida representação visual do conceito de destino manifesto, pilar da doutrina expansionista que forneceu o combustível ideológico para o avanço dos colonos em direção ao Oeste. (...) Olhando para o quadro, Robert Socolow disse: "O Oeste americano é o Norte brasileiro". Sim e não.
Cem anos separam o ocorrido nos EUA com o que está em curso na Amazônia e aqui no nosso caso, uma destruição praticamente irreversível. Lá 50% da população acabaria por se fixar no Oeste e aqui, menos de 1% da população. "A expansão do território norte-americano produziu uma épica que se espalhou mundo afora", ele afirma no seu texto e constato, continua influenciando ações. O que acontece hoje na Amazônia é um crime sem precedentes, pelos quais pagaremos todos muito caro num futuro muito breve, mas não é sobre isso que quero fazer aqui uma simplória alusão.
A faço com Bauru e o que os ditos "progressistas" (sic) tentam fazer com a eliminação da única reserva florestal hoje mantida por decreto, a ecológica do cerrado, que tem Bauru como um dos seus epicentros. Vejo a explicação para o quadro e me ponho a comparar a bestialidade em curso, tudo sempre em nome do progresso, quando até as nuvens conspiram contra a resistência popular, a do progresso sempre alvas e as do retrocesso (sic) escuras. Assim como a Amazônia está correndo todos os riscos, na proporção bauruense, o cerrado idem. Aqui também, destruir essa reserva será algo irreversível e o farão somente para auferir mais lucro em seus cofres, pois o progresso para estes é somente isso, mais dinheiro. O amanhã não é importante para estes, os próceres da especulação imobiliária, incluídos todos os donos do poder local, pois em primeiro lugar, não mais estarão vivos e os seus, estes conseguirão se safar, pois terão grana para tanto. Já os pobres mortais sofrerão toda sorte de desgraça proveniente dessa bestial ação sendo feita hoje. O progresso real, verdadeiro, este pode ocorrer sem que toquem no cerrado, mas querem também lá, inventam mil justificativas e sempre conseguem, enfim, são os "donos do poder" e se não convencem por bem, o fazem pelo mal. No momento lamento aqui olhando para o quadro o fim trágico da Amazônia, assim como o que irá se suceder com o cerrado no entorno de Bauru, enfim, tudo faz parte de um ardiloso plano dos detentores do poder para encher seus bolsos e que se dane o resto. O Progresso Americano é idêntico ao Progresso Bauruense e posso até fazer se o quiserem uma comparação com tudo o que lá foi citado com algo daqui. Os argumentos continuam os mesmos. Pensando nisso encerramos o ciclo Gazzetta e iniciamos o Rosim, onde ambos já tem seus compromissos firmados, estabelecidos, declarados e prontos para execução. Enfim, todos se dizem e gostam de serem vistos como progressistas.
2.) PEDIRAM PARA O POETA LÁZARO CARNEIRO PUBLICAR ALGO CAIPIRA PRA ESTE FINAL DE ANO E SAIU ESTE ESCRITO, DAÍ LHE PEDI, "POR FAVOR, PUBLIQUE COISAS CAIPIRAS O ANO INTEIRO"
Domador de tempo
Rasgando a vida estrada a fora e sertão a dentro como se se eu fosse um vaqueiro perdido no sertão ralo e seco do Jequitinhonha, despreparado que sempre fui nunca agreguei ninguém nem comigo e nem pra mim, mas trazia na garupa do meu petiço muita coisa além de poeira, eu sempre dei garupa para o tempo, esse sim sempre viajou comigo no sertão, quem me conhece de vista sabe que sou homem de pouco peso, desmilinguido, só sei lidá com as vaquinhas daqui do vale, são desnutridas cua seca, de pouca sustança obedece fácil, meus braços sem força de comida e carne dão conta de tanger as pobrezinhas que vão quietinha e de cabeça baixa pro curral. Mas, eu não lido com gado não, só lido com o tempo véio esse que faz parte da minha comitiva cada lugar que poso eu eu deixo um dia amarrado na beira do caminho sou domador de tempo e vida.
Sou espantador de boiada alheia e fazedor de serenata, tendo lua eu canto até amanhecer o dia só pra ver o sol enciumado por saber que beijei a face prateada da lua cheia.
Rasgando a vida estrada a fora e sertão a dentro como se se eu fosse um vaqueiro perdido no sertão ralo e seco do Jequitinhonha, despreparado que sempre fui nunca agreguei ninguém nem comigo e nem pra mim, mas trazia na garupa do meu petiço muita coisa além de poeira, eu sempre dei garupa para o tempo, esse sim sempre viajou comigo no sertão, quem me conhece de vista sabe que sou homem de pouco peso, desmilinguido, só sei lidá com as vaquinhas daqui do vale, são desnutridas cua seca, de pouca sustança obedece fácil, meus braços sem força de comida e carne dão conta de tanger as pobrezinhas que vão quietinha e de cabeça baixa pro curral. Mas, eu não lido com gado não, só lido com o tempo véio esse que faz parte da minha comitiva cada lugar que poso eu eu deixo um dia amarrado na beira do caminho sou domador de tempo e vida.
Sou espantador de boiada alheia e fazedor de serenata, tendo lua eu canto até amanhecer o dia só pra ver o sol enciumado por saber que beijei a face prateada da lua cheia.
3.) AS HISTÓRIAS QUE ADORO COMPARTILHAR - O CISNE NOS TRILHOS
Esta foi publicada hoje na edição do melhor jornal impresso
do nosso mundo, o argentino Página 12 e conta algo bem singelo, simples, porém
significativo. Um cisne perdeu seu parceiro e se quedou nos trilhos, não como
forma de suicídio, mas algo desesperador em busca de seu companheiro e por
causa disso, os trens daquela linha pararam de funcionar por quase uma hora,
até sua retirada. Em Tempo: isso ocorreu na Alemanha e me pergunto, o mesmo se
daria no Brasil? Talvez, sei o valor dos metroviários brasileiros, acompanho
sua luta e creio, são tão sensíveis quanto, mas o ato seria entendido por parte
dos usuários, todos com pressa de chegar em algum lugar e tendo o atraso
ampliado por causa de um cisne. A pensar...
4.) "AS VEZES SER 171 É UMA QUESTÃO DE SOBREVIVÊNCIA"
Essa senhora se mantém há muitos anos perambulando pelo centro da cidade, mais precisamente na rua XV de Novembro, onde pede ajuda aos que param seus carros nos sinais na região. Já foi motivo de muita perseguição, pois diante de tanta negativa, acabou por criar meio facilitador das pessoas lhe darem atenção e ouvidos. Foi criticada por muitos, o que piorou ainda mais sua situação. Depois de tanto tempo, pouca coisa mudou, hoje ela continua no local, clamando pela ajuda de sempre e agora sem os subterfúgios de um algo a mais, ou seja, chama menos a atenção e se faz menos notada. Quem sou eu para se mostrar moralista e crítico, ainda mais com quem se encontra numa situação aflitiva? Queria mesmo ela vê-la em outra condição e sem ter mais necessidade de voltar quase diariamente para as ruas em busca de algo para sua subsistência.Comentários:
- "Alguém sabe onde essa mulher mora? Há alguns anos atrás ela tampava um olho,para pedir esmola, e não havia nada de problema no olho, continua do mesmo jeito, !!", Cilene Cabreira.
- "Sim, minha cara. Ela como não se fazia perceber, criou um meio para facilitar as coisas. Errou? Sim. Mas nada tão merecedor de elevada crítica, pois continua como dantes. Essa senhora não lesou ninguém, não praticou nada tão acintoso, ainda mais diante de tanta escobrosidade como vislumbramos hoje, vide tudo o que se vê sendo feito por gente, por exemplo, a defender o bolsonarismo", HPA.
- "Exatamente! Achei tão exagerado o q fizeram. Concordo com vc Henrique, a quem ela lesou? Merecia tantos julgamentos? Muita falta de empatia", Nádia Barnes.
- "Sim, minha cara. Ela como não se fazia perceber, criou um meio para facilitar as coisas. Errou? Sim. Mas nada tão merecedor de elevada crítica, pois continua como dantes. Essa senhora não lesou ninguém, não praticou nada tão acintoso, ainda mais diante de tanta escobrosidade como vislumbramos hoje, vide tudo o que se vê sendo feito por gente, por exemplo, a defender o bolsonarismo", HPA.
- "Exatamente! Achei tão exagerado o q fizeram. Concordo com vc Henrique, a quem ela lesou? Merecia tantos julgamentos? Muita falta de empatia", Nádia Barnes.
- "Verdadeira 171", Marluz Dias.
- "Por que? Só porque teve aquela história. Deve ter uma história de vida sofrida. A vejo nas ruas e nunca compreenderei isso de uma pessoa de idade necessitando pedir para ter algo a mais. Aquela história, como disse, foi uma maneira dela se fazer ser enxergada. Vejo tantas coisas imensamente piores e muitos passando a mão nas cabeças destes", HPA.
- "As vezes ser "171" é uma estratégia de sobrevivência", Flávia Giglioti Rocha.
- "Caro Henrique, você foi cirúrgico. A muito tempo confesso que até a questionei o motivo de não usar mais o tapa olho. Ela esbravejou - Mas com razão, pois perguntei ironicamente. Hoje mais amadurecido, vi que fui extremamente indelicado e infeliz. Uma pena ainda continuar nas ruas", Marcos Riego.
- "Eu a vi nas ruas dias atrás e ao postar agora a intenção foi exatamente essa, a de provocar e ver a opinião das pessoas e verificar até onde criticamos o outro como se o ocorrido tivesse uma proporção imensa. Eu a entendo e não a considero 171 por causa daquele ato", HPA.
- "Por que? Só porque teve aquela história. Deve ter uma história de vida sofrida. A vejo nas ruas e nunca compreenderei isso de uma pessoa de idade necessitando pedir para ter algo a mais. Aquela história, como disse, foi uma maneira dela se fazer ser enxergada. Vejo tantas coisas imensamente piores e muitos passando a mão nas cabeças destes", HPA.
- "As vezes ser "171" é uma estratégia de sobrevivência", Flávia Giglioti Rocha.
- "Caro Henrique, você foi cirúrgico. A muito tempo confesso que até a questionei o motivo de não usar mais o tapa olho. Ela esbravejou - Mas com razão, pois perguntei ironicamente. Hoje mais amadurecido, vi que fui extremamente indelicado e infeliz. Uma pena ainda continuar nas ruas", Marcos Riego.
- "Eu a vi nas ruas dias atrás e ao postar agora a intenção foi exatamente essa, a de provocar e ver a opinião das pessoas e verificar até onde criticamos o outro como se o ocorrido tivesse uma proporção imensa. Eu a entendo e não a considero 171 por causa daquele ato", HPA.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
RELATOS PORTENHOS / LATINOS (86)
Moramos todos no Brasil lesma, seguindo em frente nem se sabe como, pois com um desGoverno Federal tocado por gente desqualificada como esse Senhor Inominável, tudo anda não devagar, mas para trás. Foram tantas as marchas rés deste período, travando o país e o fazendo regredir que, cansou já a escrita. Valeria a pena, de verdade, a gente se unir, reunir o que ainda temos de energia e partir pra algo concreto, sacando esses a desgraçar com o país, isso sim seria uma ação alvissareira para 2021, no mais, tudo continuará no ritmo que o cartunista JEAN GALVÃO demonstra com a situação da vacina, mas serve para tudo o que é avanço progressista. Já para destruir esses lá encastelados em Brasília se mostram altivos e rápidos. Já passou da hora de algo ser feito...
PANDEMIA, CHUVA FORTE E COMO É A AÇÃO DE ALGUNS DOS VETUSTOS COMERCIANTES DESTAS PLAGASO motoboy atua junto aquele comerciante de lanches há bastante tempo e ali continua, pois foi este o emprego que conseguiu. É entendido como um microempreendedor, pois não possui carteira assinada, obrigatoriamente possui uma MEI, a tal da microempresa e toca seu negócio, sem assistência nenhuma, inclusive a proveniente de acidentes de trabalho ou mesmo falhas mecânicas em sua motocicleta. Tudo por sua conta e risco.
Em tempos de pandemia, tudo agravado. Ele conta que o serviço melhorou, pois com bem menos pessoas indo in loco no recinto do estabelecimento comercial, seu serviço de entrega foi ampliado. A casa onde trabalha possui bom movimento, daí não para, circulando pela cidade até por volta da 1h da manhã, quando finalmente vai pra casa. Por lá, se quiser comer um lanche, tem que pagar ou descontar do auferido no dia. Sem chance de ganhar um dos mais baratinhos no final do expediente.
Dias atrás, uma chuvarada muito forte caiu sobre Bauru e suas entregas despirocaram. O patrão (pera lá, ele não é dono do seu negócio?), aquele que o contrata sem contrato, impõe suas regras e não quer nem saber se chove forte ou fraco, lanche pronto, ele tem que sair para entregar, independente se faça sol, chuva ou raio que o parta. Muitos se molharam naquela noite. Num momento quando a chuva estava no seu grau mais elevado, foi inevitável entrar água no reservatório, que dizem ser inviolável, acoplado nas costas. As embalagens externas de papel, todas se molharam e os escritos nela contidos idem. Além da confusão na entrega, muitos lanches molhados e pouca compreensão das pessoas. Muitos gritaram e o ofenderam, primeiro pela demora, com poucos sacando que o motivo do atraso foi a chuva, depois o ocorrido não foi culpa dele e sim do acaso. Ele engole em seco e continua, instruído pelo instinto de sobrevivência a não reagir.
Voltou com vários lanches para ser refeitos e para piorar, o patrão (sic) já tinha estabelecido como norma da casa, mesmo ela tendo alto movimento, que tudo o que ocorresse do lanche saindo de lá seria por conta e risco do entregador, ops, desculpe, microempreendedor. Nem a chuva naquelas proporções sensibilizou o vetusto empresário e quem arcou com todos os prejuízos foi mesmo a parte mais fraca, o detentor da MEI. Reclamando perde a vaga. Ao final daquele expediente ele relata algo demonstrando como é muito bela a vida de verdade correndo solta aí fora da nossa vã imaginação: "Naquele dia não ganhei nada, pois todo meu lucro foi utilizado para pagar os lanches que tiveram que ser refeitos, ainda sobrando uma quantia para ser descontada no dia seguinte. Desconfiando de mim, assinei que devia e no dia seguinte, ao quitar com novas entregas, zero a conta e recomecei".
Essa história ilustra muito bem como se dá de fato e de direito as intensas relações entre os andares de cima com os debaixo, nessa muito bem estruturada composição que é o indestrutível capitalismo vigente e possibilitando oportunidades iguais para todos. Na maioria das vezes, regra básica, não pode ocorrer a quebra do prescrito, pois abrindo exceções, criando vínculos e concessões, o empresariado nacional acredita que pode por tudo a perder. A inflexibilidade é a alma do bom negócio. Daí, a insensibilidade é o modal de atuação que mais se vê pela aí, vicejando como mato num terreno baldio após essa chuvarada. Tenham todos boas e frutíferas interpretações e reflexões, são os votos deste mafuento para este final de ano, onde dizem a Economia está se recuperando e daí deixo a pergunta no ar: "Pra quem mesmo? Vale para tudo e todos ou só para alguns, os do alto da pirâmide?".
Escrevo sobre a insensibilidade na parte do mundo capitalista onde vivemos, tudo acrescido dessa pitada irracional dos tempos atuais, dominado pelo modo miliciano de comandar um país, daí, diante de tanta iniquidade, volto meus olhos para um livrinho que me cai nas mãos assim do nada, ao tentar uma arrumação lá pelos lados do mafuá e começo sua leitura. Viciei, agora em cada ida para tratar do meu cão, leio um novo capítulo e de lá não saio sem o concluir. Trata-se do "Recordações de Amar em Cuba", do mineiro Oswaldo França Junior (adoro ler tudo o esse cara produziu, joia rara, sabe dilapidar as palavras), editora Nova Fronteira RJ, 1986. Foi escrito logo após ele voltar de uma viagem à Cuba para participar do júri do Prêmio Casa de las Américas daquele ano. São as suas impressões da viagem e de como foi observado, anotando e depois, transformando tudo num livro.
Dessa leitura, inevitável a comparação com o país que temos e o que eles vivem. Num certo momento a frase, "...e o fato de não termos visto ainda, em Cuba, ninguém afobado ou tenso". Só ela daria para escrever um tratado. A afobação que temos, inerente a quem vive dentro da própria instabilidade é bem diferente da deles, onde se quiser, a vida transcorre numa boa, com dificuldades, mas sem miséria. Oswaldo e seus colegas, todos convidados daquele ano, estranham tudo o que encontram pela frente, mas aos poucos as diferenças mais gritantes são essas, as deo relacionamento humano e de como encaram a vida. "O relacionamento entre as pessoas era, ali, mais aberto e mais tranquilo", diz num outro momento.
Essa boa vontade geral, diferente da vivenciada no Brasil, era e continua sendo mais aberta e tranquila. As preocupações inerentes a ter que ganhar a vida, ralar que nem louco, enfrentar o touro à unha nos faz entrar numa cirando quase sem volta e onde o pensamento levanta voo, até sem que agente perceba. Quando nos damos conta já estamos agindo igual aquilo que condenamos. "Impossível preparar um país inteiro para impressionar os turistas", diz num outro momento e faço questão de grifar essa parte, pois por mais que queiram nos impressionar, quem teve o prazer, como tive, de perambular pela ilha, sabe do que estou falando. Falta a eles o que sobra por aqui, a maldade capitalista.
Os cubanos não são ingênuos, são pessoas desarmadas, puras, sem o vício do bem material comandando suas vidas. É compreensível que um brasileiro não entenda como um médico cubano pode deixar seu país para trabalhar mundo afora por tão pouco e do que recebe, a maior parte volta para seu país, tudo para que a roda possa continuar girando. Quem nasceu, cresceu e vive sob os auspícios da acumulação como mola mestra, tem dificuldades em entender esse procedimento pelo coletivo. Quase impossível. Hoje mesmo, a população da ilha é a mesma da grande São Paulo e os bestiais ficam todos boquiabertos em ver como pode lá ter tido tão poucos infectados pelo Covid e aqui esse descontrole.
São tantas coisas e o modo de viver tem tudo a ver. O trabalhador lá ganha o suficiente para viver, sem luxo, mas tendo quase tudo o que precisa a preços subsidiados, quando não gratuitos. Quando algo assim seria pensado pelos milicianos no poder ou mesmo qualquer outro, onde o predomínio das ações são capitalistas? A vida tem tudo para ser levada a cabo sem sobressaltos, mas a gente aprende desde cedo que a ela pode ser anexada benesses, que muitas vezes não precisamos, mas pela propagando, parece não conseguirmos viver sem elas. Brigamos por coisas desnecessárias, enquanto deixamos de lutar pela dignidade da vida.
Quando em Cuba teríamos motoboys sendo ultrajados no seu ir e vir, massacrados na sua força de trabalho em detrimento de uma minoria que o explora, tudo para se enriquecer mais rapidamente, sem dó e piedade? A essência de um não bate com a do outro. Daí, evidente, fazem de tudo para Cuba se enquadrar e passar a ter o mesmo modo de vida daqui, excludente, discriminatório e desleal para com a vida. O livro que leio em drops, aos poucos me mostra um país de mais de duas décadas atrás, mas ainda tentando de todo modo e jeito não se entregar, pois quando o fizer, será apenas mais um e tudo o que fizeram nesses mais de sessenta anos estará jogado na lata do lixo. Ah, se os que lutam pelas liberdades inexistentes do lado de cá soubessem o mínimo do que ocorre, incessante luta em busca de algo inatingível, talvez entendessem que o caminho trilhado por eles, mesmo longe do ideal, é algo pelo qual ainda os de cá não conquistaram nesse negócio denominado vida.A humilhação que os pobres de cá passam, difere em muito da pobreza vivenciada pelos cubanos. O livro me faz viajar no tempo e aos 60 anos, almejo e renovo as esperanças de alcançar, ir em busca de algo mais simples, possibilitando viver mais e mais, sem o stress e a tormenta em que vejo a maioria do povo brasileiro atolada. Ah, Cuba, este ódio tem motivo. Viver sem preocupações é mesmo infernal.
OBS.: Escrevo por estes dias sem o gosto de outros dias, daí talvez me falte aquela pitada de algo mais, como a esperança perdida e creio eu, nunca mais recuperada. Impossível não estar mais e mais angustiado.
Já contei aqui a história da Duvirges, inquilina ao lado do Mafuá e emérita padeira. Havia dias atrás consegui placa quando do fechamento do Bar Aeroporto e lhe repasso pelo mesmo valor. Hoje ao chegar no final do dia para alimentar meu cão, ela me chama e diz querer me mostrar algo. Chego até seu portão e de lá vejo a placa pintada. Ela foi vender pães ali perto, no Bauru Painéis, disse para um pintor de lá ter ganho uma placa e escreveria nela a mão, com giz. Ele diz querer ver a tal placa e hoje a devolve pronta. Será colocada na esquina indicando sua casa. "Seu Henrique, ele não quis me cobrar nada, mas escolhi um dos mais bonitos pães da fornada e lhe dei de presente", me conta e faço questão de contar pra tudo, todas e todos. E assim ela vai seguindo em frente, cada dia um passo, degrau por degrau, vitoriosa e feliz.
DESPUDORADOS NOS RODEIAM
"Aldo Fornazieri: as elites brasileiras, que apoiam Bolsonaro, não têm pudor - Em conversa com Mino Carta, cientista político também aponta o que a esquerda deve fazer para superar o que chama de 'transição transada'", artigo da edição Especial de Final de Ano de Carta Capital e colocado aqui de propósito, pois depois da leitura dos QUATRO itens acima, o ideal fechamento com este, bem conclusivo.
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
MEMÓRIA ORAL (263)
"EU TRABALHO COM A CRIATIVIDADE" - A HISTÓRIA DE SEU ROBERTO PEDROSO E SUA ÁRVORE DE NATAL AMBULANTEEssa a frase que mais sai da boca de seu Roberto Pedroso, 48 anos, morador da rua Xavantes, na vila Cardia, quase esquina com a rua Marcondes Salgado, pouco menos de 300 metros do imponente e pomposo Boulevard Shopping. Ele vive num outro mundo, bem diferente do que rola dos muros do shopping para dentro, mas com sua "criatividade", além, de fazer e acontecer, brilha e chama muito a atenção por onde circule. Quando o encontrei estava limpando sua própria calçada, defronte seu lar e na calçada, estacionado e sempre em exposição sua indumentária de trabalho, o que denomino de "parangolé" - em homenagem ao artista Hélio Oiticica e a Bispo do Rosário, que certamente ele não conhece -, numa justa comparação, clara e evidente demonstração de como anda a criatividade na mente e ação de muitos brasileiros, ou ao menos os predispostos a sair pela aí mostrando o que vai pelas suas cabeças.
Roberto ganha a vida, ou sobrevive como ele mesmo diz, na maior dificuldade, antes catando reciclados, mas diante do aumento da concorrência, expandiu suas ideias e hoje, o que mais faz é bater de porta em porta e se oferecer para pequenos serviços. Faz de tudo, desde varrer, podar, limpar, recolher entulhos, ou seja, limpeza geral. Na manhã de hoje, na falta de serviço, fazia algo que tinha em mente há meses e sem tempo adiava, a da execução de uma limpeza no seu próprio espaço, no caso, a calçada de sua residência. Foi quando, passando sem rumo, voltando pra casa, me deparei com a performance propiciada pelo seu meio de locomoção, parei e fui assuntar, em primeiro lugar se podia fotografar.
Permissão concedida, mantivemos a distância regulamentar exigida pela pandemia em curso e fiz mais, tirei um bloco de anotações, sempre presente no console do carro e me pus também, além das fotografias, a anotar. Roberto falava rápido e as vezes pedia para repetir, pois não queria perder os detalhes de seus relatos. "Eu trabalho com a criatividade", ele repetiu várias vezes. Vi isso com meus próprios olhos e me encantei. Ele, na verdade, é o encanto em pessoa. Simpático e falante, confia nas pessoas e se abriu comigo. "Trabalho sozinho, pois cansei das decepções. Muito difícil um parceiro honesto. Muito difícil botar fé nas pessoas. Faço o que posso, sempre só", diz.
Começo a reparar nos vários objetos fixados em seu carrinho e ele vai me explicando. "Esse guidão, o sujeito acha simples, mas ele tem um jeito diferente para conduzir o carrinho. Se não souber, trava em questão de metros. Tem que ser assim, pois tem muita curiosidade. Explico, converso, mas tem os que se aproveitam quando não estou por perto e querem sair com ele, levar embora, roubar mesmo". Aponto um Louro José numa das laterais e ele explica: "Tive que fixar ele, pois a meninada já tentou levar o boneco. Não tivesse parafusado, já o teria perdido e assim faço com vários outros objetos, como esse vaso feito de pneu. O som que vocês vem aqui, já funcionou, mas hoje não mais. Ele permanece, pois um dia conseguirei consertar. Fiz além deste primeiro, mais cheio desses objetos que fui ganhando e recolhendo das ruas outro, para coletar os reciclados. Diminui a coleta, mas por onde ande, continuo juntando o que consigo vender com mais facilidade e me dá melhor retorno".
Ele me diz que ao circular pelas ruas faz uma espécie de "exposição ambulante" e acredito, pois o que me motivou a parar e querer registrar o que estava vendo foi exatamente o inusitado, o diferente e a forma como foi montando. Tudo muito simples, mas de um colorido bem chamativo e que, comparei quando com ele a uma árvore de Natal. Ele riu, concordou e me disse só faltar o pisca-pisca. Para cada coisinha ali presente ele tem uma explicação, uma história e para ouvi-las todas teria que ter muito tempo. No momento da abordagem, nem eu, nem ele a tínhamos. Ele, ali na calçada, saco já cheio de folhas e lixo ajuntados, pronto para adentrar o portão que dá pra rua e continuar a faxina de final de ano do lado de dentro.
Para os interessados em que leve até eles sua exposição ou mesmo necessite de um serviço rápido, eficiente, bem feito e concluído dentro do combinado, faz questão de pedir que venham até seu portão, na rua Xavantes nº 2-51. Me despeço e ainda tiro mais algumas fotos do outro lado da rua, ainda deslumbrado com a conversa e tudo o que ali presenciei. São pessoas como esse seu Roberto Pedroso, os tais dos encantadores de serpente, os cheios de uma pureza quase não mais existente, os que ainda me fazem parar na rua, mesmo diante de uma avassaladora pandemia, tudo para ter contato e tomar conhecimento de algo, que sabia de antemão, arrebatador. Desta forma, dou de cara com a mais imponente árvore de natal bauruense deste final de 2020.
Poucos dias antes do Natal uma das famílias cuja mãe ali estava internada leva um panetone para ser entregue a cada funcionário e essa senhora fica impaciente quando percebe que todos seriam entregues aleatoriamente ou coletivamente. Consegue se comunicar com a direção e explicita que, o daquela nova funcionária ela mesmo queria entregar. Ela o fez e ao vê-la chegando pela manhã, estava irradiante, se preparou para o que considerava um evento. Vestiu um belo vestido, passou perfume e quando a viu, gritou, a chamou em voz alta, chamou a atenção de tudo e todos. Só acalmou quando ela se aproximou e entregou o seu panetone, após um inevitável abraço, percebido por todos. Era como se estivesse entregando um troféu de reconhecimento por serviços prestados. Choraram abraçadas.
Nessa semana após o Natal, a dona do estabelecimento já tinha determinado o horário para essa próxima semana e a novata estaria no plantão noturno. Se viu obrigada a mudar tudo, readequar o pessoal, pois o rendimento dos internos estava se alterando sem a novata e suas estripulias na parte da manhã. Muitos a vendo somente a noite estavam trocando o dia pela noite e querendo ficar mais tempo acordados e a ouvindo contar histórias, ocorrendo o contrário durante o dia, quando deveriam ter atividades outras, algumas externas, na tal área verde, porém rejeitadas e sem estímulo para suas realizações. Não sei o destino que vai ter essa história, mas fiquei estimulado a conhecer essa cuidadora e tomar conhecimento in loco dos seus revolucionários métodos que, se aplicados ao caso do Brasil e de sua inércia atual, talvez nos motivassem para as transformações que se fazem necessárias, pois por aqui todos atordoados e sem saber como realizá-las. Ah, como gosto das pessoas que fazem e acontecem, com amor e dedicação, não tornando o dia a dia mera rotina. Vou assuntar melhor e tomar umas aulas de como produzir adrenalina e arrebanhar estimulo pra prosseguir na lida com mais gás.
AS HISTÓRIAS NADA COMOVENTES
ESCOLAS MILITARES ESTADUAIS, RETROCESSO SEM PRECEDENTES, AMBIENTE HOSTIL À PLURALIDADE DE IDEIAShttps://www.cartacapital.com.br/.../parana-e-o-estado.../ Meu dileto amigo, o jornalista paranaense do staff de Carta Capital René Ruschel, lotado em Curitiba, publica na última edição do ano da melhor revista semanal do nosso mundo, a Carta Capital, texto elucidativo sobre a invasão das escolas militares, sendo implantadas pouco a pouco na rede estadual de ensino, com a complacência de governadores e também de prefeitos. Um vergonha, um retrocesso sem precedentes para a mente humana ainda em formação, pois as tonará cada vez mais limitadas. Jaú, aqui vizinha de Bauru, prefeitura conduzida até o final deste ano por um ex-petista Rafael Agostini, aceitou e foi encantado pelo canto da sereia e já está fixando datas para aceitação e implantação do novo esquema educacional. O resultado, como sabemos, será "o da intervenção militar e não o de um ambiente construído por profissionais de diversas especialidades. (...) Conteúdo escolar que figura mais como adestramento intelectual, comportamental e moral do que instrumento de reflexão", relata o texto. No Paraná, o pérfido governador Ratinho Jr (que esperar de um governador com este nome?) consegue no apagar das luzes deste ano, aprovar sua implantação, escamoteando informações e fazendo tudo nas sombras, ou seja, tudo o que é feito meio que as escondidas, traz sempre surpresas mais que desagradáveis para o povo. Esse entusiasmo com as escolas militares é algo surreal, demonstrando para onde o país bolsonarista quer e está nos levando. Leiam o texto e tirem vocês mesmo suas conclusões. Pelo que sei, Bauru continua de fora da modalidade educacional, mas com prefeita eleita por partido conservador e bolsonarista, Suéllen Rosim, evangélica neopentecostal de linha conservadora, creio eu, será questão de meses para o anúncio da adesão também ser feito. Veremos...
domingo, 27 de dezembro de 2020
CARTAS (223)
PEDIATRAS DE BAURU QUEREM TUDO ABERTO ESCANCARADO E AGEM CONTRA O QUE PREGA A CIÊNCIALi estarrecido no dia 06/12, domingo, longa missiva publicada na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade, “Carta aberta de um grupo de pediatras de Bauru à sociedade bauruense”. Eis o link para sua leitura: https://www.jcnet.com.br/.../743315-carta-aberta-de-um.... Na verdade, todos eles endossavam que tudo deveria ser aberto e funcionar em Bauru, pois as razões do mercado suplantam as da vida humana. Tentaram embasamento científico, a tal da consistência na defesa do arrazoado, mas ficaram somente na superficialidade e na verdade produziram um texto dantesco diante do que o mundo está presenciando, quando com a abertura e licenciosidade está se dando o alastramento da doença. Eu pensei em responder e quando conversando com o dileto amigo Marcos Paulo Resende, percebo que ele já o havia feito, porém a carta ainda não foi publicada e após duas semanas, peço a ele sua autorização para tornar pública o desagravo ao triste papel dos pediatras de Bauru. Marcos acha que sua carta ainda será publicada, eu já perdi as esperanças, pois sei como se dão essas coisas (ele sabe melhor que eu) quando a indústria da mídia massiva que domina a agenda política é encostada na parede e precisam decidir entre o que existe e o que não existe, optando pela opinião dos pediatras, em detrimento da resposta praticamente provando eles todos terem defendido o lado mercantilista do mundo. Se a resposta ainda não saiu lá, sai aqui compartilhada por este mafuento observador:
Carta aberta aos 62 pediatras bauruensesNo dia 06/12/20 foi publicada na Tribuna do Leitor uma carta aberta assinada por 62 pediatras de Bauru à sociedade bauruense. A longa explicação sobre o que se sabe até o momento do contágio do SARS-CoV-2 entre crianças e as justificativas para reabertura das escolas me chamou a atenção por vários 'poréns' na carta. As explicações sobre o contágio de fato batem com o que foi publicado até o momento sobre a doença, mas falham miseravelmente nas justificativas cheias de buracos.
Qualquer pessoa pode acessar publicações nas revistas científicas como a Nature.com, estudos como o "Distinct antibody responses to SARS-CoV-2 in children and adults across the COVID-19 clinical spectrum" que tratam desse assunto específico e outros mais publicados. Realmente crianças não estão nos chamados grupos de risco e raramente desenvolvem a doença, porém um alerta já foi ligado também nesse caso com novas cepas do vírus que além de possivelmente ser mais transmissível, tem provocado mais internações entre os mais jovens. Crianças podem ter uma taxa de transmissão menor (mas transmitem) assim como um adulto assintomático também pode ter um potencial menor de transmissão por estar com uma menor carga viral segundo estudos que podem ser lidos na nature.com.Mas o primeiro dos grandes 'poréns' é que entre as observações que vários estudos apontam para reabertura das escolas está o da não transmissão comunitária, controle da pandemia com testes em massa, rastreio e isolamento de uma área quando do surgimento dos primeiros novos casos, países como a China, Vietnam e Nova Zelândia fizeram isso com excelência e estão não apenas com escolas abertas mas com atividade econômica funcionando, recentemente a China descobriu 12 novos casos numa área, isolou a região e fez milhares de testes (rastreio). O Brasil desde o início está no escuro com a pandemia, não testamos em massa, não fazemos rastreio, não isolamos nada, não temos um plano de combate a covid-19, não temos plano de vacinação, não temos sequer Ministro da Saúde e um governo que transformou o Brasil em pária no mundo e uma escalada de uma crise sanitária que toma ares de genocídio.O segundo grande 'porém' é o total desconhecimento dos 62 pediatras da realidade da maioria das escolas e da população brasileira entre as mais desiguais do mundo. Muitas escolas sequer tem água regularmente para lavar as mãos, quando leio na carta os requisitos para uma reabertura "segura" como tapetes sanitizantes, aparelhos de ozônio, luz ultravioleta e outros equipamentos e acessórios similares, minha vontade foi de rir mas me contive diante da gravidade do momento que estamos passando. Escolas mal tem materiais, estruturas para uma aula digna entre alunos e professores quanto mais pedir por tais itens que não serão atendidos e será mais uma responsabilidade nas costas dos professores que já não conseguem dar conta do ensino diante de tanta precarização do Estado com a Educação.
Me recordo de um artigo recente do Ruy Castro em que cobrava da classe médica onde uma parte considerável ajudou a eleger esse insano governo (mesmo cientes do negacionismo do Bolsonaro) e que deveriam publicamente fazer um mea-culpa e fortalecer a cobrança diária para que possamos ter em primeiro lugar um Ministro com um plano nacional de combate e vacinação para dar dignidade inclusive para os heróis da saúde da linha de frente do combate a covid. Qualquer coisa fora disso é sim uma carta política e beirando a irresponsabilidade.
E sobre o aumento do quadro depressivo nas crianças, um estudo publicado já mostrava um aumento da depressão que vem de alguns anos, depressão que com ou sem pandemia será um quadro comum visto a sociedade ocidental doente em que vivemos referindo um consumismo insano à algo felicitante, aceitação social e "sucesso" pessoal, nossa concepção de indivíduo que foge de qualquer ótica coletiva só pode nos levar a um profundo e escuro buraco depressivo.
Marcos Paulo Rezende
A finalidade do Cafeo no JC, descubro tardiamente, não é responder e sanar dúvidas de Economia, mas sim substituir o saudoso Broncolino - O Primeiro a Rir das Últimas. Ele hoje comprova estar na seção de Humor, uma que desde o falecimento de Broncolino foi extinta, mas agora tenta ser ocupada pelo até então economista. De onde ele tirou que 2021 será um ano melhor? Bola de cristal furada, opaca ou mesmo suja, dificultando a sua interpretação, enfim, nem vacinas ainda definimos. Dizer que a inflação teve apenas uma pequena alta e está sob controle, além dos juros estarem baixos - queria muito saber o que juros baixos tem a influenciar positivamente a economia brasileira, essa em frangalhos - é demais pra qualquer um. Fala que os agentes econômicos vão resgatar a confiança em 2021 e daí não contenho o riso. Depois fecha com chave de ouro preconizando que as pessoas precisam ter um bom planejamento familiar, lembrando da regra 50/15/35, ou seja 50% da renda para gastos essenciais, 15% para prioridades financeiras e 35% para gastos com seu estilo de vida. Sentei e as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Quantos brasileiros conseguem pegar o orçamento do mês e separar 50% para gastos essenciais? Tem que ser um puta de um salário, algo em torno de uns R$ 10 mil mês, no mínimo, ou seja, percentual ínfimo dos brasileiros. Geralmente vai tudo e ainda fica faltando, mas o incrível são os 35% para o estilo de vida, inacreditável um negócio desses.
Com todo respeito que sempre tive para com o saudoso Broncolino, pois possuidor de elegante e fino humor, creio o jornal ter feito uma substituição fora dos padrões de qualidade. Creio o nome de sua Coluna deveria ser "Chutes e Bicudos, todos distantes do Gol". Fora da realidade é pouco, mas creio que a intenção foi alcançada, ri para não chorar.
EM BAURU, VENCEU O PODER DE WALACE SAMPAIO E DOS DONOS DO CAPITAL E O COVID NADA DE BRAÇADASomente agora, passado o Natal, ou seja, o momento quando os comerciantes puderam fazer o que quiseram com o horário de abertura e fechamento do comércio é que se pode falar em fechamento de portas diante do agravamento do COVID na cidade e região. Antes nem pensar, pois por determinação mediante forte pressão, tudo era decidido pelos detentores do mando de fato do poder local, os próceres da livre iniciativa e seguidores fiéis das leis de mercado e estes já haviam determinado para as autoridades que definem se algo deve fechar ou não, no caso a Prefeitura Municipal, o que iria ser feito até depois do Natal. No estado de SP e quiçá no país inteiro, a mesma coisa. Somente agora, quando o comércio tem queda livre de circulação de pessoas, algo neste sentido pode ser pensado e olha lá, tudo feito sob o jugo, orientação e seguindo o que vai pela cabeça destes. Aqui em Bauru, ficou bem explícito quem de fato manda e decide, sendo a Prefeitura, após ter perdido publicamente o poder da canetada final, meramente executora do que gente como Walace Sampaio, o presidente do SinComércio dá as cartas neste quesito na cidade. Basta ver o que aconteceu quando alguém fala em fechar as portas por prevenção, daí na sequência uma movimentação nas portas da Prefeitura e na sequência tudo atendido. Já para o número de leitos, praticamente no limite da ocupação, situação até pior que antes, quando tudo permanecia fechado, isso não é levado em conta, pois o que conta é a determinação das leis do mercado. O resultado disso tudo veremos na sequência, mas mesmo assim, a culpa não deverá recair sobre quem impôs manter tudo aberto, pois este nunca foi o lado mais fraco na questão. Com a chegada da novíssima prefeita, Suéllen Rosim, situação inalterada, pois ela já entendeu que em time assim impossível alterações. As orientações ditadas pela Ciência sempre acabam perdendo, enfim, assim é que o jogo é jogado nestas plagas.
sábado, 26 de dezembro de 2020
REGISTROS DO LADO B (26) e RETRATOS DE BAURU (247)
26º AO VIVO LADO B ENTREVISTA A CARNAVALESCA E MILITANTE SOCIAL TATIANA CALMONEm 26 bate-papos LADO B - A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, eis um dos mais esperados, o com TATIANA CALMON. Desde sempre foi pensado entrevista-la e as tentativas não foram poucas. Quando de um dos contatos, antes das eleições municipais, ela declinou e pediu para esperar, sob a alegação de que poderia ser mal interpretada ao tecer comentários sobre alguns candidatos e mesmo pessoas ligadas á esquerda concorrendo ao pleito. Deixamos para depois, depois em outros momentos, seus compromissos iam adiando o dia da fatídica conversa. Ela, como é sabido está enfurnada dos pés à cabeça nas ações sociais, primeiro de seu grupo o “De Grão em Grão” e assim, os horários não batiam, depois passou a cantar mais e as apresentações idem, daí sua agenda estava pra lá de desconcertante. Tatiana não mudou nada, ou seja, continua a mesma de antes, ousada, liberada e atuante, sempre presente em variados e múltiplos lugares, alguns ao mesmo tempo. Diz o que pensa, na lata, sem filtros e receios, daí esta conversa ser uma das mais aguardadas, pois enquanto muitos se seguram, contidos por este ou aquele motivo, não dizem tudo, escamoteiam alguns temas, ela não, abre o verbo, doa a quem doer – inclusive para com este mafuento escrevinhador. Somos amigos de longa data e isso não a impede e nem a cerceia de me dizer na lata o que pensa, inclusive a meu respeito. E acho isso mais que ótimo, pois nada melhor do que conversar nesse nível. Se proponho e insisto na conversa com ela, sei dos riscos e deles não fujo, pois ouvir Tatiana e o que nos tem para contar vale mais que tudo.
Autenticidade é sua marca principal, motivo de sua inquebrantável credibilidade. Pessoa marcante por onde circule, isso desde os áureos tempos de sua juventude, quando quebrou barreiras e enfrentou a cidade sempre fazendo o que gosta, ao lado de quem gosta e ousada, preferiu sempre ser feliz, doa a quem doer. Companheira de Roque Ferreira, onde ao seu lado empreendeu uma das mais vibrantes lutas sociais nesta cidade, tem muito para contar, não só do relacionamento, iniciado e terminado – com a morte deste - nas ruas e lutas, mas feito de escolhas. Ela nos contará bocadinho dessas escolhas, de onde esteve enfurnada nesse tempo todo e o que a motivou e continua motivando a seguir tocando o barco adiante, afinal, mesmo depois do choque pela perda do Roque, tem dois filhos jovens dentro de casa, Dandara e Tales, dependendo dela para serem incentivados a não desistir da lida da vida. Uma eterna batalhadora e sua história comprova isso. Ela mesmo nos contará algo desses pouco mais de cinquenta anos de vida, onde sempre se manteve firme, persistente e resistente, aliada ao segmento de luta que a move. Ou seja, Tatiana é fonte de muitas histórias e ouvi-las, mais que um aprendizado. Eis a oportunidade e a pego num momento muito delicado de sua vida, alguns meses após a perda do Roque e tendo neste final de ano, conseguido dar um breque em tudo, buscar refúgio junto dos filhos num lugar distante, a Colônia de Férias dos Ferroviários, na Praia Grande/Cidade Ocean, que neste momento se encontra de portas abertas, mas atendendo 30% de sua capacidade. Quase todo ano, ela e a família iam para a praia e desta feita foi muito mais para se recarregar. E assim está sendo feito, com todos os cuidados e reservas.
Muito já escrevi de Tatiana nos meus escritos pelo blog Mafuá do HPA, com textos diários desde 2007 e aqui relembro alguns dos trechos dessas publicações, até pata aguçar a curiosidade e audiência deste depoimento, dos mais importantes e significativos para a ressignificação da história das lutas populares nesta cidade. Vamos aos trechos:
- Publiquei em 11/09/2008: “RETRATOS DE BAURU (36) - TATIANA CALMON, UMA MULHER DE RESISTÊNCIA - Para aqueles que apregoam que só publico aqui fotos de machos, aqui vai uma pra lavar a alma de todos nós. Tatiana Calmon é uma mulher de responsa, daquelas que a gente conhece é quer logo ser amigo e ficar tricotando, fazendo confidências. Tem um jeitão de vidente, daquelas que lêem a mão da gente e acertam na mosca os motivos de nossas dores. É que essa moça é de luta e vive o dia-a-dia dentro de um lar diferenciado, ao lado do grande Roque Ferreira. Ambos se completam, uma na sua calma e fleuma de comedimento e ela, na sua impaciência e agitação. Quem conhece o passado dessa moça, sabe muito bem como ela desandou nisso que é hoje, pois é filha do grande Fred Calmon, figura marcante na cidade, passando muito para sua personalidade envolvente, daquela que se pode colocar a mão no fogo de olhos fechados. Dia desses um amigo em comum, meu e dela, escreveu algo que transcrevo aqui: "Tatiana é companheira do amigo e camarada Roque, sindicalista ferroviário, Tatiana é um exemplo de revolucionária no ocidente, mais precisamente em minha cidade, uma mulher belíssima, com um vasto conhecimento e o melhor, atitude, sabe ser diferente e vai pro pau quando precisa, ela sabe que todos os problemas nascem de uma única raiz e por isso tem uma luta mais ampla, objetiva e puramente libertadora, revolucionária, Tatiana nunca ficou presa num sectário discurso "pseudo-feminista", pois sabe que toda emancipação passa pelo foco revolucionário e também jamais se incomodaria se alguém a chamasse de gostosa". Tatiana é isso e muito mais, corajosa como poucas, foi até a Parada no último domingo e festejou como nunca, sem medo de ser feliz, como deveriam sermos todos”.
No último sábado, 03/04, debaixo de uma chuva que insistia em cair durante todo o dia, amigos e parentes foram até sua casa e saborearam uma suculenta feijoada (sai de lá carregado e quase necessitando de serviços médicos). O melhor de tudo foi privar de momentos ao lado dela, do maridão, o vereador Roque Ferreira, dos filhos todos, irmãos, parentes e de gente que gostam e vivenciam o dia-a-dia de tão encantadora pessoa. Enquanto ela esteve na cozinha, cuidando do refino do acepipe a ser servido, a conversa divagou e falamos de tudo, mas quando parou para comer e pode jogar conversa fora, dominou o recinto. Só deu ela. Falou e cantou, isso mesmo, fui pego de surpresa quando ela adentra a área de sua casa empunhando um violão, presente do seu falecido pai, o Fredão Calmon e diz logo de cara: "Cuidado com esse, último presente de meu pai". E cuidou do objeto enquanto ele esteve em cena. Entrou cantando uma música de Mercedes Sosa, em castelhano. Engasgei com um osso de porco na traquéia e tentando localizar a máquina para gravar tudo, quase me cai o prato no chão e perco a apresentação, ao estilo do melhor e bom karaokê. Perdi a oportunidade da gravação.Depois ela atendendo a pedidos cantou de tudo um pouco e me deixou gravar algo rápido. Não vou citar nomes dos presentes, pois não conheço todos de sua família e nem alguns amigos. Fica chato ficar citando só os que conheço. As fotos estão aí e o vídeo com ela cantando, uma raridade, que será guardado para sempre. Daqui para frente, algo irá lhe atormentar toda festa em que estiver presente, um pedido meu para que toque (toca só tres notas, como ela mesma disse) e cante Mercedes Sosa. Queríamos esperar a chuva passar para ir embora, mas como ela insistia em continuar, jantamos e depois, pouco a pouco o grupo foi se dispersando. Vendo a panela ainda com mais da metade, me despedi com um pedido: "Posso voltar amanhã?". A Tatiana precisa viver uns cem anos para continuarmos aprontando um pouco mais (cada vez mais) e pregando umas peças nos poderosos deste mundo”.
- Publiquei em 13/09/2011: “TATIANA CALMON é minha amiga do peito, valente obreira de tudo quanto é ação voluntária pelo engrandecimento dessa cidade, estado e nação. Penou por alguns meses após passar por uma cirurgia mal concluída de redução de estômago. Para se salvar acabou tendo que refazer a mesma mais duas vezes e um “touro” como sempre foi, resistiu bravamente a essas provações todas. De fato emagreceu, mas sofreu um bocado e nesse momento quando a vejo com novos ares, esperança renovada e com uma verdadeira luz no fim do túnel, só posso me sentir mais feliz que pinto no lixo, pois Tati está dando a volta por cima. Não conseguiu chacoalhar o corpanzil na Parada desse ano, pois os pontos não estavam totalmente cicatrizados, mas promete que domingo que vem estará saindo da toca para a primeira atividade cultural fora de casa após a convalescença. Iremos num grupo lá no Jardim Botânico assistir o show do maestro George Vidal. Peguem leve com a menina e a apertem de leve, pois ainda não está agüentando um tranco de acordo. Tatiana nunca teve e nunca terá medo de cara feia”.
- Publiquei em 10.09.2014: “BIOGRAFIAS NÃO AUTORIZADAS DO LADO B DE BAURU (10) Esse texto está saindo publicado na edição nº 15 da revista/jornal mensal METRÓPOLE NEWS (dos amigos Borika Hegyessy e Vinicius Burda), Setembro 2014, espalhada pela cidade toda, com distribuição gratuita e toda colorida. TATIANA CALMON É UMA MULHER PRA LÁ DE RESISTENTE, AROEIRA PURA - Gosto demais das meninas (meninos também) nem um pouco sérios. O mundo já é sério demais da conta para levarmos tudo ao pé da letra. Um produto em falta hoje em dia é a irreverência, a ousadia e a descontração, ou seja precisamos ser mais desbocados, descolados e desvalidos. Daí, quando me deparo com alguém reunindo um bocadinho disso tudo caio logo de amores e me derreto todo. Esse é o caso da amiga de todas as horas, a TATIANA CALMON. Vocês não a conhecem? Nunca ouviram falar? Não sabem o que estão perdendo. Conto só um bocadinho nas linhas seguintes, pra todos ficarem com muita água na boca.
Para aqueles que apregoam que só escrevo de machos (eu alterno, mês homem, mês mulher), aqui vai uma pra lavar a alma de todos nós. Tatiana Calmon é uma mulher de responsa, daquelas que a gente conhece é quer logo ser amigo e ficar tricotando, fazendo confidências, confabulando até gastar a língua. Tem um jeitão de vidente, daquelas que lêem a mão da gente e acertam na mosca os motivos de nossas dores. É que essa moça é de luta e vive o dia-a-dia dentro de um lar diferenciado, ao lado do grande Roque Ferreira, seu esposo. Ambos se completam, uma na sua calma e fleuma, com um excessivo comedimento (até certo ponto) e ela, na sua impaciência e agitação. Não sei se devo dizer na sua apresentação ser ela a esposa do Roque ou o contrário, o Roque ser esposo dela. Ambos fervem essa cidade, além do abafado pelo fato de estarmos localizados no meio do sertão paulista.
Quem conhece o passado dessa moça, sabe muito bem como ela desandou nisso que é hoje, tudo por um simples e único motivo, o fato de ser filha do grande Fred Calmon, figura marcante na cidade, passando muito da personalidade envolvente dos aprontamentos que o pai proporcionou a essa cidade épocas atrás. Dia desses um amigo em comum, meu e dela, escreveu algo que transcrevo aqui: "Tatiana é companheira do amigo e camarada Roque, sindicalista ferroviário, Tatiana é um exemplo de revolucionária no ocidente, mais precisamente em minha cidade, uma mulher belíssima, com um vasto conhecimento e o melhor, atitude, sabe ser diferente e vai pro pau quando precisa, ela sabe que todos os problemas nascem de uma única raiz e por isso tem uma luta mais ampla, objetiva e puramente libertadora, revolucionária, Tatiana nunca ficou presa num sectário discurso "pseudo-feminista", pois sabe que toda emancipação passa pelo foco revolucionário e também jamais se incomodaria se alguém a chamasse de gostosa". Tatiana é isso e muito mais, corajosa como poucas, sem medo de ser feliz, como deveriam ser todos os seres viventes.
Eu tenho muitas histórias ao lado dela e uma das últimas é que sem sua presença o bloco farsesco burlesco e nas horas vagas também carnavalesco, o Bauru Sem Tomate é MiXto (com X mesmo) não existiria. É dessas que chega e dá alma às aprontações todas que tínhamos em mente. Chega e abafa, ou melhor, “Abala Bauru!”. Amigos a gente conta nos dedos, nos de uma só mão, dizem muitos. É cada vez mais difícil confiar nas pessoas diante do mundo atual. O negócio hoje é um "salve-se quem puder" ou até um "antes só que mal acompanhado". Outra amiga apregoa que "boi preto anda com boi preto". A amizade com Tatiana é mais nessa linha, pois quem pensa e age na mesma linha de pensamento acaba seguindo pela mesma trilha. E pensando assim é impossível não ser amigo dessa incansável batalhadora. Ser amigo dela é um privilégio, ser convidado para sua festança de aniversário, mais ainda. E indo à sua casa, além da comidinha de primeira, o privilégio de ouvi-la cantando.São tantas emoções.A gaja atua durante o horário comercial nas hostes do Sindicato dos Ferroviários de Bauru e depois disso ninguém mais sabe do seu paradeiro, pois é um tal de Jantar Comunitário pra cá, aulas de Karatê pra lá, buscar e levar filhotes em lugares incertos e não sabidos, diversos eventos culinários, passeios múltiplos com a mãe, acompanhentos básicos ao lado do marido, visitas acertadas na última hora e daí só mesmo um maluco consegue acompanhar a agenda de tão espevitada pessoa. No mais, afirmo com todas as letras que conheço e também com as desconhecidas, Tatiana é uma das pessoas mais “movimentadas” desse torrão. Ela é mais Bauru do que possa imaginar nossa vã consciência (não seria filosofia?). Daí ela ser essa imensa pessoa, um ser humano que saiu diferente dos demais, devido a algo que o Fredão deve ter feito além da conta lá no passado quando de sua formatação. Deu no que deu.
Obs.: Os errinhos, como sempre, são de minha lavra e risco.
Publiquei em 05/09/2015: “VIRGINIA E A MAIS LINDA REAÇÃO DIANTE DA FILHA - Uma foto é uma foto, mas algumas delas dizem muito mais do que mil ditas palavras. A do menino morto numa praia turca é uma dessas. Expressa uma secular luta dos vendilhões de almas, os que fazem tudo (e mais um pouco) por dinheiro, destroem nações com um simples estalar de dedos (falo dos EUA, viu!) e não estão nem aí quando a discussão resvala para a solução dos problemas causados justamente por eles. Essa semana, mesmo distante de Bauru, vi uma foto a me tocar profundamente. A de uma idosa mãe brincando e mostrando a língua ao ver diante de si a querida filha. Ela, igualmente diz mais do que mil palavras, por motivos diametralmente opostos a outra, mas igualmente diz. VIRGINIA CALMON foi austera professora durante o período onde atuou como mestra de gerações nessa varonil Bauru. Uma altiva senhora, dura na queda, porém transparente em tudo o que faz. As professoras de antanho tinham outra forma para se imporem, outros tempos. De suas decisões, eram assim e pronto. E quem era inteligente respeitava, acatava sem pestanejar. Existiam pouquíssimas alternativas em contrariar decisões tomadas, que o digam seus filhos, dentre eles, a hoje espelho da mãe, Tatiana Calmon. Seu marido, o self made man (se fazia sózinho, por si só, nada mais) Fred Calmon a entendia e deixava essas decisões domésticas todas por sua conta. O inexorável tempo passou, Fredão já se foi, mas Gina, como Tati as vezes a chama, resiste bravamente e bem cuidada, ao rever a filhona, uma reação diferente para cada dia. Essa da mostrar a língua me lembrou de cara a minha mãe, confesso, quase chorei. Essa, já doente, quando diante de mim, me olhava com aquele jeito só seu e desferia um: “Seu velho. Tu ficou velho”. Nessas reações de nossos anciões, queridos e insubstituíveis, o nosso inapelável derretimento. Como não correr para seus braços e abraçá-los fervorosamente?”.
- Publiquei em 10/04.2020: "Não me interessa qual o nome do remédio, importa é que cure e que todos tenham acesso. Inclusive ao hospital, ao medico, a receita, ao exame e ao remédio em si.. Morreu uma senhora hoje em Bauru não foi covid, foi por falta de vagas.... Estamos fazendo 35 exames para cada milhão de habitantes, vocês tem noção em quem se faz esses exames? Quem está internado e tem recursos, todos eles... Quando o vírus chegar nos locais mais pobres da nossa cidade e do Brasil, irá faltar até como carregar os corpos. Sabe por que? Por que não terão medicos, não terão exames, e não terão acesso ao remédio... Isolamento social, ead, mascaras, álcool gel, tudo saidinha para quem tem acesso. O resto é discurso. Simples assim", Tatiana Calmon Karnaval em seu facebook 09/04”.
- Publiquei em 06/10/2020: “O MURO DO ROQUE NA CASA DA TATIANA E FILHOS - Ficou lindo. Ela, Tatiana Calmon foi de uma sensibilidade imensa ao ocupar o muro da casa onde vive, o reduto do Roque, dela e seus dois filhos, com a história do Roque, relembrando no traço, pincel e grafite de artistas reconhecidamente populares, todos com a vertente da luta empreendida pelo nosso eterno militante. Bauru não possui murais, algo tão lindo de ser ver, pois neles um bocado da história do retratado. Este, creio eu, o primeiro, pois ali Tatiana deve ter sentado, pensado muito até chegar na decisão final de tudo o que deveria estar ali contido. Ela foi precisa, cirúrgica e foi dando as dicas para os artistas, que iam deitando e rolando no espaço que tinham pela frente. O resultado é não só a cara do Roque, como também a da Tati, dos seus filhos e de quem esteve a vida inteira dedicado numa militância infindável. Espero muito em breve poder ir lá, olhar pessoalmente, tirar minhas próprias fotos, talvez até com a explicação da própria Tati para cada pedacinho ali contido. Eu me emociono com o que vejo, pois fui ali incontáveis vezes, na maioria para não só visitar Roque, mas para buscá-lo ou levá-lo de incursões juntos cidade afora. Falo muito neste momento de minha vida com Marcos Resende, o Comunista em Ação, um hoje isolado militante, assim como o bravo guerreiro que lutava contra os moinhos praticamente sózinho e ele me diz em todas as vezes: "Não vou deixar o idela de Roque ser esquecido. Eu vou estar aqui para lembrar a todos que a luta se dá dessa forma". O muro agora pronto está num local um tanto restrito, dentro do residencial no coração da periferia, mas no fundo até acjo bom, pois terá visitação controlado e bestiais não poderão danificá-lo. Esse é um presente de Tatiana para a cidade e nele deveria ter um cantinho reservado para os visitantes irem com um pincel acrescentando seus nomes e datas de visitação - só os que a Tati permitir que o façam. Ainda vejo tudo de longe e vejo do que está sendo entregue, pronto e acabado, um maravilhoso mural, o primeiro desta cidade, reverenciando nosso maior e mais ilustre militantes das causas sociais. Ficou mais que ótimo e tem a cara da sensibilidade da Tatiana. Eis o link do vídeo da Tatiana: https://www.facebook.com/tatiana.calmon/videos/3484375894916586”.
Gente, isso aqui já ficou longo demais e lhes digo, é só o começo. Escrevei muito da Tati e hoje falaremos muito mais. Sintonizem...
EIS O LINK DO BATE PAPO COM TATIANA, DURAÇÃO DE 1H18: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/4129104417119536