quinta-feira, 1 de abril de 2021

BEIRA DE ESTRADA (136)


MEUS DOIS CONTATOS COM A CLASSE TRABALHADORA NO DIA DE ONTEM
No primeiro aqui no meu portão, o com o entregado terceirizado, ganhando merrecas para fazer as entregas delivery de gigante supermercado bauruense. Ele vem com seu próprio carro, não possui nenhum vínculo empregatício com o mercado, e para ganhar de fato algum precisa correr, agilizar, pois quanto mais entrega, mais ganha. Mesmo assim, ao entregar minhas compras e ver o valor que gastei me diz: “Tá difícil, né. Como pode tão pouca coisa ter dado tanto. Comida vale ouro, né?”. Respondo que sim e aproveito para dar estocada no ex-capitão: “O Brasil piorou muito, não só com a pandemia, mas com um desgoverno jogando contra os interesses do povo”. Sua resposta me deixa incrédulo: “Esse Dória não tem mesmo jeito, nem vacina direito ele garante para nós”. Sou obrigado a retrucar de bate pronto: “Dória não é mesmo santo, mas a vacina que chega a nós e paulista, via Butantã. Se fosse por Bolsonaro nem vacina teríamos, pois o demente não as encomendou”. Sua resposta: “Ele não comprou, pois se ela tivesse problema, não fosse aprovada a culpa seria dele”. Respondi: “Hoje o mundo todo é vacinado e nós, pela irresponsabilidade desse péssimo presidente não o somos. Só comprou vacina praticamente obrigado e você ainda vem me dizer que o cara é bom pro povo. De onde tirou isso. Ele só nos dana. Nem trabalho registrado existe mais”. Ele me olha com cara espantada e me diz: “O sr é petista, né?”. Vendo ser inútil a continuidade da conversa, pago e me despeço. Eu tentei.

Logo depois, no posto de gasolina o frentista que já me conhece, mal me vê chegar e vem na minha direção. “O senhor viu, o cara demitiu os três militares de uma vez, está ficando difícil pra ele, perdeu apoio até de quem o defendia. Está cada vez mais desacreditado. Acho que não chega até o final do governo”. Quando ele puxa conversa eu sigo em frente: “E, pelo visto vai ser difícil encontrar militares que comunguem das ideias golpistas bolsonaristas. Olha, meu caro, a pessoa pode não gostar do Lula, pode ser contra a esquerda, mas de algo ninguém pode discordar, quando da comparação da situação do trabalhador naqueles tempos e agora. Perderam tudo, até o emprego hoje, antes garantido por Justiça do Trabalho, hoje tudo terceirizado e praticamente sem regras”. Ele me olha e concorda: “Verdade, aqui já acontece isso faz tempo. Ainda continuo registrado, mas em um ano reduziram o salário várias vezes e não podemos mais reclamar, não temos mais para quem fazê-lo. A gente sente na pele e para não perder o emprego se cala. Não tem nem mais pra quem recorrer”. Concordo e lhe digo mais: “Já deu pra perceber, com gente como Bolsonaro, só atraso e quebradeira. A pandemia destrói muita coisa, mas Bolsonaro é infinitamente pior”. Sua resposta é definitiva: “Só mesmo os muito besta para não juntar tudo e ver quem está do nosso lado e quem está contra. Nunca passei tanto aperto como agora, sempre empregado, mas cada vez mais sem direitos. Ele não pode continuar, pois vai nos matar de fome”.

São os dois lados da mesma moeda.

A CARONA, O MOTIVO E O GESTO HUMANITÁRIO DO EMPRESÁRIO LENÇOENSE - TUDO POR SUÉLLEN
A novíssima (sic) prefeita bauruense, Suéllen Rosim procura e acha. Desta feita, tinha agendado reunião com o vereadores bauruenses, para tratar do assunto do momento, a Covid e os próximos passos. Gerou expectativa do lado de lá, mas na calada da noite, pediu sigilo para os mais próximos e foi cumprir algo fora da agenda, uma viagem para Brasília, num avião particular, arrumado pelo prefeito de Lençóis Paulista, cedido graciosamente e sem nenhum interesse desses inconfessáveis, com custo todo pago. E assim recebendo também a ilustre presença de outro negacionista, o prefeito de Jaú foram em tour para um dia na Capital Federal, com o mesmo entusiasmo que alguns adolescentes fazem de tudo e mais um pouco para conseguir boquinha livre para ir aqui no Hopi Hari, Playcenter ou mesmo Disney. Foi, voltou, tirou fotos, voltou de mãos abanando e sem dar explicações, sempre a mesma justificativa: foi tratar de assuntos inadiáveis, recursos, verbas, enfim, holofotes. A prefeita, como se vê, se sente, se sabe e só não enxerga quem não quer, cego ou fingido, governa ao "deus dará", conforme o vento bate. Na verdade, não está nem aí. Navega, diria, surfa e os apoiadores, legião de melas cueca, esses aplaudem, mas não conseguem elencar uma só iniciativa louvável. O tempo urge, a prefeita não irá se mandar, pois está gostando da coisa, acha que pode tudo, que possui retaguarda a lhe dar sustentação e garantia de prosseguir. A cidade padece e fenece a olhos vistos. Não é questão de criticá-la pela crítica em si, mas pela ausência de atuação minimamente plausível. Não existe administração, não existe governança. Existe sim, um jogo de cena, onde a enganação deve ter tempo limitado de atuação. Aguardo neste momento, a revelação do nome do empresário tão solicito, o que generosamente cedeu sua aeronave para tão laboriosa viagem de negócios? Quem seria ele e em que condições se deu a tal viagem, acordada de comum acordo seguindo quais recomendações? Por fim, é de bom alvitre governantes aceitarem viajar assim de grátis nessas aeronaves? Eu também, gosto muito de viajar de grátis, mas os convites não aparecem, ou seja, devo mesmo representar grande merda.

A CLASSE EMPRESARIAL BAURUENSE E A PREFEITURA MUNICIPAL
Num post ontem de Alexandre Zwicker, a informação da doação de quantidade grande de medicamentos feito por empresa de Engenharia da cidade para a Prefeitura de Bauru. Acho sempre mais que ótima essas iniciativas, porém ao ver o nome do medicamento e o momento vivido pela pandemia, uma pergunta me resta fazer antes de continuar elogiando: o citado medicamento foi doado para atender demanda relacionada ao tratamento da Covid ou de vermífugos antiparasitários? Se o foi para vermífugos, parabéns, se para a Covid, meus pêsames. Sem mais comentários.

PELAS ONDAS DO RÁDIO
UMA HISTÓRIA CONTADA A MIM PELO MÁRIO MORES, DONO DA "VOZ"
Mário era um radialista com aquele vozeirão indisfarçável. Poucos o conheciam pessoalmente, mas quando abria a boca por aí, tenho certeza, muitos já o conheciam, como eu, de longa data. Eu mesmo, conversava muito com ele, sempre através do telefone da rádio Unesp FM, programa matinal, onde prevalecia a saborosa e soberana Música Popular Brasileira. Mário comandou esse programa por mais de uma década e revezava o microfone com outro, este amigo, que conheço pessoalmente, o Wellington Leite. Durante um certo tempo, ambos abriam o telefone e permitiam indicações, atendidas na sequência. Foi a partir daí, das ligações surgiam outros papos. Como o público sabia que, naquele horário, ou melhor na rádio, não tinha espaço para música fora do padrão de qualidade, os pedidos já recaiam naquelas que sempre seriam tocadas. Isso não quer dizer que, muita gente não ligasse pedindo um Wando, um Belo, uma Roberta Miranda ou mesmo algo do Daniel. A proposta da rádio sempre foi se fixar na MPB e quando pediam isso, insistiam muitas vezes, a resposta deles já estava mais ou menos pronta: "sei não, mas acho que essa não temos aqui no nosso arquivo musical". Sabiam tirar a coisa de letra. Isso uma coisa, outra foi quando a direção da rádio deixou de atender os ouvintes. Não adiantava mais ligar, pois os telefones já não mais atendiam e quando conseguiam completar a ligação, perceptível o constrangimento na explicação. Num destes dias ouvi do grande Mário, o qual já me conhecia pelas conversas ao telefone: "Pô, Henrique, você entende essas coisas, nem preciso te explicar. Eu e o Wellington adoramos atender os ouvintes e colocar a música que vocês pediam aqui na sequência, mas a coisa mudou por aqui e não nos deixam mais fazer isso. Agora vem tudo pronto, a lista do dia já está definida antes do programa começar. É uma pena a gente perder essa possibilidade de contato com os ouvintes, mas quiseram assim". Foi a forma como se desculpou pela mudança, que me diz, não pode fazer nada, mesmo querendo. O Mário era assim, um cara sensível, conversador e destes a entender como nunca os do lado de lá, os ouvintes, os que carregam a rádio, sustentam a coisa e a tornaram o que é hoje. Hoje, passados uns dias do falecimento da VOZ, 68 anos, de Covid, ouvintes como eu lamentam, pois sentiremos muita falta daquele vozeirão nas manhãs pela única rádio ainda tocando algo que presta na cidade, música de reconhecida qualidade. Ele foi por muito tempo a VOZ da Unesp FM e soube ao longo do tempo, enquanto esteve no ar, dignificar o trabalho, fazendo uso daquilo que tinha de excelência, não só a voz, mas o jeito, o trato para com o ouvinte. Faz muita falta, até porque a rádio já tinha perdido recentemente o Wellington Leite, atuando em outras paragens e na impossibilidade de concursos e novas contratações, o serviço público vai se virando como pode. Hoje, na verdade, nem sei como a Unesp FM consegue se virar com tão pouca gente à disposição. A VOZ do Mário seguiu firme até quando deu, sendo dessas que nunca mais vai sair da cabeça e mente de tanta gente, dentre os quais me incluo.

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