sexta-feira, 28 de maio de 2021

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (91)


TRÊS POETAS NA ESTRADA, RUAS E SUANDO NA DIVULGAÇÃO DO QUE PRODUZEM – AMANDA, BLIMER E FÁBIO
Eu quando circulo pelas ruas da cidade vejo gente se virando em todas as esquinas e isso se dá hoje por todos os lugares. Cada um tentando, ao seu modo e jeito, um lugar ao sol. Nestes tempos mais que bicudos, piorados com a pandemia e o descaso de governantes ineptos e milicianos, o país ficou ao deus dará, cada um por si e mesmo assim, todos na intensa luta pela sobrevivência e encontrando tempo para escrever, produzir e poetar. Hoje ressalto algo de três destes, dois já conhecidos aqui por escritos anteriores e um, recém chegado. Histórias que se unem na adversidade ou no gosto pela escrita marginal, em forma de protesto, resistência e sobrevivência. Escrever destes e ao observá-los, um fio de esperança, enfim, não sei como ainda conseguem diante de tanta coisa jogando contra. Olho pra eles e imagino que, no passado, outros tantos já passaram por algo similar, muito parecido e numa comparação simplista, somente duas, os comparo com LIMA BARRETO e CHARLES BUKOWSKI. Ambos escreviam assim do mesmo jeito, entre “sangue, suor e lágrimas”. Um breve texto de cada um e assim a minha percepção destes tantos tirando leite de pedra.

1.) AMANDA HELENA é velha conhecida, mora bem atrás da Anhanguera, entre as avenidas Nações Norte e Moussa Tobias. Uma batalhadora e agora, com a crise mais do que instalada, tudo pela hora da morte a vejo escrevendo mais e mais. Acho até que, escreve melhor agora, numa pegada mais forte, de alguém cuspindo sangue ou fogo. Seus escritos ela vai repicando pela sua página nas redes sociais e após a leitura, é como ser socado no estomago. Ela não nocauteia, mas fere fundo. Eu sinto o baque e cada vez gosto mais. Ele pulsa a rua, sentimentos de quem padece, mas não entrega os pontos. Agora, tirou leite de pedra e está lançando um livro com seus textos, crônicas e poesias, algo que só ela mesmo sabe como conseguiu produzir. Muitos a ajudaram e ela, juntou seus escritos e ainda neste final de mês sai do forno sua mais nova cria, o “Cavalos Insones em Galopes Alados”. O título sugere mil coisas, tudo ao mesmo tempo e é assim, instigando e provocando, que ela despeja mais uma obra fumegando e balançando a roseira. Ela faz e acontece, consegue pagar a impressão e vende quase toda a tiragem de forma antecipada, entre amigos, conhecidos, admiradores. Para começar a seguir e admirar Amanda, basta ler algo dela, daí impossível deixar de segui-la. Comigo assim se deu. Eis algo do que encontro dela na sua página no facebook:

Pedra
Se o nóia fosse Drummond fumaria a pedra
Se Drummond fosse o nóia não estaria no caminho
estaria de quabradinha
Se Pedro fosse a pedra seria Pedra
a trans mais abusada da quebrada, deceparia mais cem orelhas
na navalha
Se a pedra fosse filosofal montaria uma empresa
de pedrarias para filósofos que não sabem ser ou não ser
em suas agonias
Se minha vesícula fosse esperta seria agro seria pop
tiraria leite de pedra
ganharia mais grana que os Stonnes
bussiness lactose
se a sua pedra fosse um coração
bombearia sangue
nessa minha helcose.

2.) CLÁUDIO DOMINGUES KNOP, o poeta FLOYD dos sinaleiros da Duque de Caxias, vendendo sua poesia impressa em xerox pelas esquinas, é também BLIMER, agora sua nomenclatura, escolhida para lançar o que faz em forma de livro. Seu livro está distribuído pelas ruas de Bauru, entregue de janela em janela, dentre as pessoas que compram suas folhas. Na junção daquilo tudo, eis mais do que um livro. Ele não produz somente o que distribui nas esquinas, pois tem muito mais a oferecer e o faz também pela página de sua rede social. Blimer se desdobrou para lançar seu livro, ou melhor, ainda se desdobra, pois junta forças e tenta vender seu livro de forma antecipada, reunindo amigos e admiradores. Divulga seu fone, 14.965843491 e assim espera conseguir pagar a impressão e espalhar por aí algo novo. Será seu primeiro livro, pronto e já na gráfica, contando com amigos para diagramar, a preparação de bastidores. Sua poesia é a do asfalto quente – diria, fervendo -, pulsante e assim, igual ao que escreve, toca sua vida, atribulada, intensa e pulsante. Só ele sabe as condições para escrever e produzir, mas é assim mesmo, entre trancos e barrancos, sua cria está sendo parida e “Memórias de Blimer”, o título deste pontapé inicial, estará nas ruas, esquinas e para quem não o conhece, eis algo retirado de sua página na internet, pois assim, já vão se inteirando das possibilidades do assumido estradeiro:

NAS TRIPAS DUM BOM EXU – 11/02/2014
Perdoa por eu jogar botão!
Perdoa por eu gostar de cão!
Perdoa por eu não saber
Ecoar nem o “si” e nem o “sol”!
Perdoa por eu me relaxar!
Perdoa por eu ser tão vulgar!
Perdoa por eu existir
Sem lugar nem ninguém!
Perdoa por eu me distrair!
Perdoa por eu me descobrir!
Perdoa por eu te fazer achar
Que eu me instalei nu
Nas tripas dum bom Exu!
Perdoa por eu pouco amar!
Perdoa por eu amar demais!
Perdoa por eu não saber
O que é, de fato, o amor!
Perdoa por eu beber o mel!
Perdoa por eu voar no céu!
Perdoa por eu te presentear
Quando carreguei a cruz
Nas tripas dum bom Exu!
Perdoa todas as minhas secretárias!
Perdoa todos os meus atletas de ironman!
Perdoa todos os meus seminários!
Perdoa todas as enciclopédias que não vou ler!
Perdoa por eu não ser tão bom!
Perdoa por eu errar o gol!
Perdoa por eu pisar na bola
No meio da competição!
Perdoa pelo que me traduz!
Perdoa por ter perdido a luz!
Perdoa por eu me organizar
Quando quis ser o que não fui
Nas tripas dum bom Exu!

3.) FÁBIO VIEIRA DE ALENCAR é um poeta de Teresina PI e aqui aportou tempos atrás em busca de algo prometido, um trabalho na ferrovia. “Estou desempregado, fui desligado da empresa que estava trabalhando na sexta feira, fiquei apenas três meses, a experiência, eu estava trabalhando na manutenção da linha férrea aqui. Dos oito contratados ficaram apenas três”, filho de pedreiro e costureira, começou a escrever desde muito cedo e sua trajetória nós daqui, com sua chegada estamos ainda conhecendo aos drops, aos poucos. “Vim por convite de uma companheira de minha terra, o tal "lugar ao sol" é para os que tem berço, sobrenome e para bajuladores de políticos, raramente a competência era valorizada, fora outras coisas pessoais resolvi vir. Cheguei em janeiro e de lá para cá, já vi e percebi a diferença. Estou no grupo Expressão Poética , já fiquei classificado em um concurso de poesia e foi a primeira vez que ganhei dinheiro com poesia rsrsrs. Vou participar de uma antologia poética do grupo, onde fiz parceria com artista, desenhista daqui, poesia em forma de HQ. Já estou preparando um livro e só dei um freio por ter perdido o emprego. Tenho as poesias separadas, vai ser um livro subdividido em três - Cidade suicida (caso não saiba, Teresina é uma das cidades com o maior índice de suicídio no Brasil), cidade solidão e cidade boêmia. Já criei a capa e tudo. Tem uma poesia minha, que com umas parcerias que conheci no grupo, vai se tornar uma película, um curta, fizemos três reuniões, paramos por conta da pandemia”. Em tempo: Fábio vai ilustrar o livro do Blimer, o Cláudio dos semáforos. Ou seja, Bauru ganhou mais um poeta e precisamos conhece-lo, daí escolhi dentre tudo o que vi em sua página no facebook uma só para o pontapé inicial:

JÁ JAZ AO NASCER
Tudo já jaz ao nascer
toda fuga é fugaz
pois a morte amordaça
o ancião
o infante
e o jovem
a noite nada nota
ou se importa
a luz da lua
lambe o fraco e o forte
o nobre e o pobre
tudo já jaz ao nascer
o poeta perece
por cada palavra que escreve
inspiração
respiração
empíricas respostas
passos que o aproximam do abismo
o seol que seduz
sem ser percebido
tudo já jaz ao nascer
lícito
proibido
tudo tem o perfume perfeito
inferno e paraíso
... o cheiro do perecer.

Enfim, este HPA só se envolve com gente desta laia, a sua laia e assim, destes envolvimentos, saem meus escritos. Na próxima semana, Fábio quer me contar algo mais de sua trajetória, pois dos outros dois, já conheço algo. Sentaremos pra conversar, mas ele tem algo mais urgente antes de tudo. Precisa arrumar um emprego para se manter por aqui e aceita tudo o que vier pela frente. Poetas precisam comer...

PORQUE SE FAZ NECESSÁRIO IR PRAS RUAS AMANHÃ - OS JOVENS NOS LEVANDO PROS NECESSÁRIOS EMBATES
Os motivos do povo brasileiro ir pras ruas e colocar pra correr o mais rápido possível o seu Jair e toda sua thurma é mais do que conhecido de tudo, todas e todos. Amanhã, 29/05, sábado, em Bauru, como em muitas cidades brasileiras, ocorre um ato corajoso, ainda dentro deste período de pandemia, mas em alguns momentos se faz necessário a gente correr mais do que riscos, pois na continuidade do país como está, o caos será imensamente pior. Eu estarei envolvido nessa luta e tenho um motivo a mais além da luta pra deletar Bolsonaro.

Tem gente preocupada pela organização do ato, mas eu nem um pouco. Quando fiquei sabendo que a organização de tudo era da "molecada" bauruense, me empolguei ainda mais. Sabendo que estes são os organizadores, pensei comigo mesmo, "deixa a molecada fazer o que, nós, os com mais idade estamos deixando a desejar". Eu quero mais é comemorar deles estarem fazendo, propondo e nos empurrando para as ruas. Quero mais é ir junto, estar lá e me incluir, me ver dentro dessa e de quantas outras manifestações forem marcadas. No Chile e Peru a "molecada" também foi pras ruas e tratorou a pelegada, os que ficam só falando e pouco estão fazendo. Eu já imagino uns 50 "moleques" destes adentrando o PT e renovando tudo, bagunçando o coreto e impulsionando todos. Seria alvissareiro". Conhecido questiona: "A molecada é que marcou tudo, temos que fazer alguma coisa". Minha resposta: "Temos sim, urgente. Temos que ir junto deles, pois se não formos perderemos ainda mais o bonde da história. Feche os olhos, mergulhe de cabeça e desfrute, usufrua e façamos o que tem que ser feito. A molecada é ótima".

Isso tudo me faz lembrar de LEONEL DE MOURA BRIZOLA. Certa feita ele se pronunciou sobre isso dos jovens irem pras ruas e nós, os mais velhos, irmos à reboque, conduzidos por estes. "Tome o destino pelas próprias mãos, não confie nos políticos, façam vocês mesmos", disse ele e eu vou pras ruas para me juntar aos jovens, a dita aqui como "molecada", no sentido mais positivo possível, pois vigor e disposição não lhes faltam, não lhes faltaram em muitas outras oportunidades e que, agora e sempre, sigam embalando e nos conduzindo pra frente. Eis um link da fala de Brizola: https://www.youtube.com/watch?v=Vk_e8gVnDRw

Portanto, se tudo está no comando dos jovens e da "molecada", eis mais um motivo para estar nas ruas e lutas. Vamos juntos?

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