domingo, 8 de agosto de 2021

REGISTROS LADO B (57) e AMIGOS DO PEITO (189)


NO 57º LADO B, ERIC SCHMITT, LIBERTÁRIO FRANCÊS, ANTENADO COM NOSSAS LUTAS E NELAS ENVOLVIDO DOS PÉS À CABEÇA

Por aqui, a cada semana uma vida devassada, os tantos considerados por mim de luta, fibra e resistência e aqui retratados de forma límpida e transparente. O projeto LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES tem por objetivo resgatar histórias, conversar com as pessoas, conhecer experiências, mas não a de qualquer um. Por aqui só o resgate das histórias de quem está envolvido com a luta e busca por um outro mundo, bem mais palatável do que o vivenciado. Em todas as histórias, um bocadinho de luta, que no frigir dos ovos é a de todos os aqui retratados. O interessante, além do aqui retratado por cada abordagem é juntar todas e entender algo da luta, desse desprendimento e sempre em busca do fim das injustiças sociais. Nesta semana o escolhido para a conversa é ERIC SCHMITT, francês de 64 anos, nascido em 1957, exatamente a mesma numeração sequencial dessa série de bate papos, sendo ele o 57º. Um luxo ter por aqui algo da história de vida deste cidadão do mundo, que aqui aportou há 15 anos atrás, firmou uma espécie de oásis, um reduto independente, encravado no meio do cerrado paulista, distante alguns quilômetros do centro urbano e de lá, sendo, fazendo e acontecendo.

Eric trabalho por longo período de sua vida com estudos espaciais e já tinha vindo algumas vezes ao Brasil, catalogando balões e foi pegando gosto pelo que aqui presenciava, um país evoluindo e conseguindo não só sua soberania, como destaque mundial. Enfim, quando decidiu vir de mala e cuia para cá, os acontecimentos mundiais mais envolventes de emancipação e libertação dos povos acontecia em alguns países da América Latina. Ele teve seus motivos para aportar e ter escolhido o Brasil e isso ele contará pessoalmente, detalhando tanto algo de ter nos escolhido, como também de ter sido escolhido por uma brasileira, sua esposa, Malu Nejm de Carvalho. Impossível não olhar para a fisionomia de ambos e não os identificar pela semelhança, pois se parecem em muitas coisas. O modal de vida alternativa, fora do modal convencional faz parte das opções e, pelo que se vê, ambos se completam.

De sua experiência bauruense, impossível não querer conhecer a história do local onde moram, a Colina dos Pardais ou Parque das Fadas, até porque a sua história se mistura com a do lugar, tanto que, é muito conhecido também por Eric da Colina. Como aquilo tudo foi possibilitado, aquela construção que deve ter tudo a ver com a sua concepção de habitação. Não existe nada parecido na cidade e quando da construção, preservou dentro da casa uma árvore e ela foi emoldurada, modelada pelo interior da residência. Só quem conhece aquilo tudo pessoalmente pode dizer algo de como foi concebido e mantido. Só mesmo Eric e Malu para ter adaptado tudo de uma forma tão natural e integrada. São histórias que não acabam mais. E tudo o que por lá já rolou, as tantas visitas, cursos, visitas ilustres e gente que para lá ia em busca dessa paz só possível no campo, afastado de toda agitação urbana. Além de tudo, algo mais do que instigante é conhecer algo da luta, do envolvimento político dele, antes da vinda ao Brasil, no seu tempo no país de origem e depois a integração com este escolhido para viver. Eric tem também uma longa trajetória como fotógrafo e como viajante do mundo. Assunto não falta para um longo bate papo.

Eis algo já publicado por mim no meu blog pessoal, o Mafuá do HPA:

- Em 07/01/2013 escrevi dele: “ERIC DA COLINA, UM FRANCÊS DE LUTA E RESISTÊNCIA – “ERIC SCHMITT é francês e desde quando aportou aqui pelas bandas de Bauru, acabou recebendo um apelido acoplado ao nome, do qual todos os chamam, ERIC DA COLINA. O motivo é simples, pois foi morar no campo, num lugar só seu, com a sua cara, identidade própria e batizou-o de “Colina dos Pardais – Parque das Fadas”. Vive em contemplação com a natureza, vegetariano, porém sem permanecer isolado, estando sempre muito envolvido com problemas sociais do lugar escolhido para morar/viver, questionando as injustiças e se posicionando contra elas. Criador de possibilidades, como gosta de se apregoar, tendo vivido algo singular junto do Centre National d’Etudes Spatiales francês, hoje vive exclusivamente do que gera a sua particular "colina". Estava com ele quando da criação do grupo “Indignados” em Bauru, motivando os jovens, mas parece que tínhamos uma bola de cristal quando prevíamos que aquilo dificilmente daria certo no formato apresentado. Com um sotaque ainda demonstrando claramente ser estrangeiro, fala bem o português e caiu nas graças de uma legião de pessoas, pela forma como conduz sua vida. Boa companhia é o que não lhe falta, como também a de estar sempre ao lado das boas causas. Esse é o Eric, uma desigual pessoa e isso é ótimo, ainda mais num mundo hoje dominado pela forma bovina, onde o pensamento único quer tudo dominar. Esse é dos que resistem”.

- Em 20/12/2019 escrevi dele: “O FRANCÊS DA COLINA E SUA CASA LONGE DE TUDO E QUASE TODOS – UM PROJETO SENDO REPENSADO - O francês estava cansado de viver nos grandes centros urbanos europeus, veio para o Brasil algumas vezes atrás de balões, conheceu um terra nova, cheia de possibilidades e com um futuro mais que auspicioso. O lugar o conquistou, juntou forças e descobriu um lugar perdido no meio do nada, ou seja, um pedaço de terra rodeado de muito verde, distante uns quinze quilômetros da cidade de Bauru. Era a realização do seu sonho, sair da Europa, após anos enxergando a decrepitude de sistemas políticos que iam de degenerando ao longo do tempo. Vislumbrou na nova terra uma possibilidade de acompanhar um algo novo, renovador, inspirador e podendo acompanhar esse novo momento, tomou a decisão de vir de mala e cuia para a aldeia bauruense. Esse um curtíssimo resumo da história de Eric Schmitt, o francês que fez o caminho inverso. Enquanto muitos do lado de cá sonham em ter um pedaço de chão ou mesmo simplesmente morar dentro de território europeu, ele preferiu os trópicos, tudo novo, desde a temperatura, ares, como gente, além da cultura. O sonho ia além de ter um pedaço de terra e a sua materialização era se fundir com a natureza do local escolhido, vegetação do cerrado. Conseguiu adquirir com suas economias o pedaço de terra almejado e bem no meio uma imensa árvore, a maior do lugar. Viajou junto de seus amigos, alguns arquitetos para levantar a sonhada casa no entorno do seu tronco. Várias tentativas e numa delas, planta pronta, construção iniciada e quando vão colocar os alicerces, no meio do caminho a raiz principal, seiva de vida da árvore. Refazem tudo e mudam os pilares da casa, mas não tocam na raiz. O projeto caminha aos poucos, desacelerado e com mão de obra local. Tudo também comprado no comércio da nova cidade, inclusive as toras com grande diâmetro, todas depois perfiladas como tábuas, para serem o piso da casa. Com alguns tropeços, gente querendo passar a perna no estrangeiro maluco a levantar uma casa do meio do mato, mas a obra segue e chega ao seu fim. (...)”.

Antecipo algumas das perguntas para fazer com que a conversa deslanche:
- Queríamos conhecer algo da sua formação? A família, escolaridade, cidade e região francesa onde viveu? E suas atividades profissionais e o envolvimento político em seu país?
- E essa opção pelo Brasil, como seu deu? Não foi por acaso? O que ocorria por aqui que te fez deixar a França e se fixar na América Latina? O que é isso de se sentir cansado de viver nos grandes centros urbanos europeus?
- E Bauru, como seu deu a escolha? Fale de Malu, qual a influência dela para aqui ter aportado? E como foi a recepção, como se deu a integração com a vida de uma cidade do interior brasileiro?
- E essa opção pela construção de uma inusitada casa de campo, retirada do centro urbano e com uma arquitetura privilegiando o que já existia de vegetação no cerrado? Como se deu esse projeto e sua concepção?
- E a aproximação com Bauru e o envolvimento com suas coisas? Essa participação tão intensa com tudo, desde a Cultura com a política, não só nacional como a local?
- E da vida na Colina, as atividades ali ocorridas? O futuro do lugar. Como encara o Brasil de hoje e suas perspectivas de continuidade do projeto. Fale também de como, com sua experiência, enxerga o futuro do país.
- Algo da política atual francesa, o seu papel no mundo e o Brasil?

Ou seja, a conversa vai fluir e será das mais instigantes e interessantes. Fosse você não perderia por nada.

COMENTÁRIO FINAL: Eric chegou pronto e acabado ao Brasil. Veio para ficar, comprou uma área rural, construiu ali um oásis, conheceu a Malu e juntos tocaram um projeto socializante, participativo, inclusivo, mas não obtiveram o sucesso esperado. Ele mesmo reconhece que, talvez tudo não tenha dado tão certo por causa do individualismo destes tempos, mais exacerbado no Brasil de hoje, além de tudo com esse irracionalismo de um desGoverno, cujo nome do presidente Eric se recusa a sequer pronunciar. Um estrangeiro que não veio para usufruir, mas sim para participar e isso faz desde que chegou. Foi se inteirando da cidade, se enturmou junto à classe artística e toda movimentação social que aqui ocorria e, a partir daí, se tornou muito conhecido. Neste bate papo ele conta em detalhes algo até então pouco conhecido, sua vida na França, as andanças pelo mundo e a escolha pelo Brasil e mais precisamente por Bauru. Foi algo mais ou menos assim, "dos subúrbios de Paris para o interior paulista". Chegou em 2006 e não mais parou de agitar, se posicionar e depois de tudo, acompanhando criticamente as mudanças depois da queda de Dilma, conclui que, "se estivesse saindo do meu país hoje, te afirmo, não escolheria mais o Brasil. Penso até em rever minha estada aqui e se desfazer de tudo o que fiz se nada mudar com a eleição de 2022". Uma conversa mais que reveladora e ótima para se ter ideia de como se deu a formação política de um verdadeiro e original cidadão do mundo. Criado num família, onde perdeu o pai aos 5 anos, sua mãe, trabalhando para agência internacional de jornalismo trazia para sua casa a cada dia uma edição de um jornal diferente, de todas as linhas políticas e a partir disso, comparando o que lia no dia a dia, construiu sua forma de ser e agir, Ótima conversa.


DIA DOS PAIS E ALGO DA RUA

1.) "POR QUE A GENTE TEM QUE CRESCER?"
https://www.youtube.com/watch?v=1CysuXpTZDA
Tatiana Calmon sabe se reinventar e neste Dia dos Pais lança um clipe dos mais instigantes, relembrando seu pai, Fredão Calmon, o "Tanto ou Queria". Melhor homenagem não podia existir. Ouça a música, vejo a clipe e penso no meu, bate aquele arrepio, muito pesa saudade eterna e das histórias vividas, da segurança de um verdadeiro pai sempre ao seu lado. Ficou linda a gravação e a montagem com fotos do seu pai, tiradas de álbum familiar e também do vídeo gravado pelo seu filho Tales Clamon e a menina Lívia Macedo. Ficou uma delícia...
2.) ESSES PAIS...
Junto três fotos de minha lavra e envolvendo os meus próximos e escrevo deles. Na primeira, o trio de ferro aqui de casa, eu no centro, ladeado com meu filhão, Henrique Aquino, hoje em Araraquara e do outro lado, meu pai, Heleno Cardoso de Aquino, falecido em 03/05/2016. Essa, creio eu, foi a última foto que tiramos juntos, os três mosqueteiros. Meu velho pai, baluarte de minha vida, mentor do Mafuá onde hoje guardo meus pertences mais preciosos, meus livros e discos, casa onde cresci e a cada retorno, uma infinidade de lembranças inenarráveis. Na segunda foto outro pai, seu Zé Pereira de Andrade, meu sogro, pai de Ana Bia, Procurador do Município do Rio de Janeiro e que em cada ida pra a Cidade Maravilhosa, me levava para degustar os sebos cariocas em andanças que hoje me enchem de muita saudade. Na foto, esquina da rua do Ouvidor, ele me levava na livraria Folha Seca. Essas histórias todas que carregamos junto da gente e a gente vai relembrando em cada dia como esse. De meu pai, a lembrança, como na última foto, de todas as vezes em que o convidava, já viúvo para ir ruar comigo e ele, todo pimpão, se levantava de bate pronto e saíamos sem rumo, lenço e documento. Nessa foto, eu de chapéu, estávamos num botequim, vendo um Festival Internacional de Bonecos. Estes somos nós. Meus queridos...

3.) COMO TENHO FEITO PARA PUXAR CONVERSA COM DILETOS AMIGOS
Hoje foi assim e conto aqui a história. Na banca do Carioca, Feira do Rolo bauruense, nosso Mercado das Pulgas, por lá algo inusitado e dos mais frequentados do lugar, um livreiro. O danado é de Vassouras, interior do Rio, portanto fluminense, mas se intitula Carioca e assim todos os conhecem. Vive dos e para os livros. Vez ou outra apronto com meus amigos com livros publicados e quando me deparo por lá alguns de sua lavra, tiro foto e envio a eles com um recadinho, quase sempre com a mesma escrita: "Olha só o que encontrei por aqui, exposto no maior livreiro de Bauru".

Pronto, está dado o mote para a conversação ter início. Hoje o agraciado foi o Gilberto Maringoni, nosso eterno Beto, chargista de traço inigualável e bauruense de uma safra de revolucionários, destes todos pela qual Bauru ficou pequena demais e foram ganhar o mundo. Não resisti a tentação, tiro a foto do livro no meio do furdunço livresco, esparramação no meio da muvuca dominical e lhe envio mensagem: "Olha quem eu reencontro na Banca do Carioca, o livreiro da Feira do Rolo em Bauru". Não deu dez minutos, o danado me responde: "Eita. Que maravilha, meu camarada. Já dá para ir à feira? Abração". Respondi: "Eu já tinha, claro, mas trouxe para presentear algum amigo. R$ 8 reais". Ele diz mais: "A Feira do Rolo é a democratização do conhecimento". Posto outra foto, que não publico aqui, com um algo mais: "Esse veio com dedicatória e tudo". Ele só me responde com um "hahahahahahah". Pronto, isso foi o suficiente para estabelecer uma conversação desviada para outros assuntos e temas. Ficamos por ali mais um tempo e no final deste texto, conto no que resultou.

No começo de julho fiz o mesmo com outro dileto amigo, o jornalista Márcio Abecê, quando estava também no mesmo lugar e olhando para o mesmo esparramo de livros, quando por lá me deparo com um da verve dele. Não resisto a tentação e lhe escrevo: "Te reencontro aqui na banca livros do Carioca na Feira do Rolo". Márcio naquele dia não estava a postos, demorou uns dias para responder, daí não pude estender a conversa, mas o fez assim: "Puxa! Lá se vão quase 20 anos do primeiro livrinho. Hehehe obrigado pela lembrança, Henrique! Um abraço!". Abecê é sempre gentil comigo, mesmo quando aprontamos com ele. Num dos seus lançamentos de livros, acontecimento lá do Templo Bar, estava bebericando com o Sivaldo Camargo, contando os caraminguás para restar algum, enfim não fomos lá para beber e sim para prestigiar o lançamento do amigo. Assuntamos o preço, somamos o que tínhamos nos bolsos e tascamos pra ele quando chegou nossa vez do autógrafo: "Vamos comprar em conjunto, pagando metade cada um, ele lê primeiro e eu depois". Ele levantou da mesa, nos abraçou, disse algo da intrépida dupla, pelo qual não me esqueço: "Vocês são baluartes da Cultura local". Da parte do Siva concordo, de minha parte exagerou e assim trouxemos seu livro, creio que o mesmo reencontrado na calçada da fama dominical - não o nosso exemplar.

Isso já me aconteceu outras vezes. Tempos atrás ligo para o Fausto Bergocce e lhe digo que nosso livro, feito a quatro mãos, o da história de Reginópolis estava sendo ofertado ali na banca. Ele só perguntou por quanto. Nem me lembro do valor, mas ali vale tudo, inclusive escambo. O legal é que já na semana seguinte não mais o vi por ali e não sei se o Carioca, até para não me chatear o retirou do catálogo ou o deu para algum conhecido. Será que vendeu? Com o Pedroso Jr aconteceu o mesmo e foi do livro da biografia do Darcy Rodrigues. Disse que a ele ter visto o livro no não existente sebo do falecido seu Bau, na Rodrigues Alves e ele, me pede para levá-lo lá, pois esse era o único que não tinha. Lembro bem, lá fomos, resgatamos o foragido, já quase mofado exemplar e pela bagatela de R$ 5 reais.

Tem mais histórias e na medida em que vou resgatando as fotos nos meus arquivos vou contando por aqui, até para desopilar o fígado, algo mais do que necessário nestes tempos tão insalubres e pouco livrescos. Encerro este texto com baita novidade, conseguida na conversa com o Beto Maringoni. Aproveitei a conversa para convidá-lo para ser um dos próximos bate papos do meu Lado B - A Importância dos Desimportantes e ele topou. Só me pediu algo, que não podia ser nem no sábado e nem domingo, pois nestes dias gosta de bater asas. Então marcamos para a próxima sexta, 13/08, 17h, quando ele relembrará suas histórias quando por aqui, depois as andanças todas, inclusive a dos países latinos. Pela primeira vez antecipo quem vai ser o próximo entrevistado com uma semana de antecedência e tudo graças ao livro dele encontrado lá na Feira do Rolo e aqui comigo, aguardando um amigo que não o tenha para ser devidamente repassado. Precisa ser alguém que, no mínimo, tenha apreço pela Venezuela...

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