quarta-feira, 15 de setembro de 2021

MEMÓRIA ORAL (272)


EU SÓ FAÇO SERVIÇO COM O “PEDRÃO”, MESMO QUE ISSO ME TRAGA DORES DE CABEÇA
A vida não está fácil pra ninguém. Nem pra ninguém, nem pra quase ninguém. Enfim, a “gente segue em frente segurando o balão”, diz o refrão de uma música do grande Gonzaguinha e a traduzir a dureza da vida vivida no seu dia a dia. O aprofundamento da crise e o desprezo com que o desGoverno atual trata a população e suas questões é por demais conhecido de tudo, todas e todos. Vive-se pela hora da morte e as relações pessoais estão a cada dia se deteriorando mais e mais, pois com as dificuldades, o povo sem emprego, sem garantias de trabalho, está tendo que se virar como pode e consegue. É um tal de tentar driblar as adversidades na base da criatividade, algo inerente ao povo brasileiro.

Diante deste quadro que poucos escapam, pois só mesmo uma nata está acima do bem e do mal neste país e navega num mar de tranquilidade. Os demais, fazem e acontecem e se desdobram nos trinta para sobreviver. Conto como resolvo algo com as pendengas que me surgem pela frente no desenrolar de cada dia. Estou tentando me desdobrar neste momento para dar uma cara novo para o Mafuá, meu canto herdado dos pais e local onde armazeno minha vida. Todo meu passado e parte do de Ana está ali contido e aguardando essa recuperação para ser novamente colocado em circulação.

Dias atrás contratei – tudo de boca – um pedreiro, indicado por outra pessoa querida, minha irmã e o cara já chegou atrasado, cheio de desculpas. O percebi enrolado e com as histórias contadas pela irmã, sabia de algo, mas ele se mostrou bocadinho mais do que esperada. Definimos o que iria fazer, começou, descobriu outras, interrompeu e deu cabo do que era mais urgente e foi postergando o inicialmente combinado, algo que nunca mais acaba. Já se passaram mais de um mês e agora, de desculpa em desculpa, adiamentos em adiamentos, acabei entrando na vida do cara e já sei tudo dele, os problemas com a esposa e principalmente os com o seu carro. Tudo parte da vida e dos envolvimentos tornando nossas vidas essa coisa inebriante e de inesgotável procedimentos e rumos.

A cada dia ele me conta algo novo para adiar o horário de sua chegada ou mesmo para sair mais cedo. Como não tenho urgência, converso, ouço, rimos juntos e seguimos adiante. Ele me enrola, eu me deixo enrolar e por fim nos tornamos amigos, ele confidente de algo mais acontecendo em sua vida nesta conflitante momento, quando está prestes a se separar da esposa. Dias atrás, um dos motivos pelos quais mais se ausenta é o dos pneus do seu carro, que sei, pois os vejo aqui estacionado diariamente. Estava já nervoso pelo atraso e ele me liga, diz se não posso salvá-lo, pois vinha pela Rodrigues Alves, seu pneu furou, conseguiu virar a esquina da Treze de maio e estacionar junto ao ponto de táxi ali existente. Ele me explica que não tem estepe, daí convenceu os taxistas a olharem o carro e vou com ele em busca de conseguir outro pneu. Rodo três borracharias e a do aro de seu carro é algo difícil. Compra outro em petição de miséria por R$ 30 reais, voltamos ao local, ele troca seu pneu e troca também ideias com os taxistas, todos entendendo seu problema.

Neste dia foi isso, mas nos dias seguintes, cada um com algo novo. O fato é que as histórias se renovam e, na verdade, me compadeço, sofro junto e tento entender sem explodir. O trabalho lá em casa já está mais do que atrasado e tudo revirado, de pernas para o ar. Deixei de lado e hoje, ele marcou de chegar as 8h, mas quando deu 10h, escreve e posta uma nova foto de outro pneu, estourado e ele tentando resolver para ir trabalhar às 14h. Ele já se comprometeu outras vezes, fiquei esperando e nada. Mas continuo acreditando nele, pois é boa praça, faz o que pode, um tanto irresponsável, mas um batalhador. Por fim, executa bem o seu serviço, sabe fazer, mas não tem muito jeito para algo organizado ou dentro de uma padrão de responsabilidade. O fato é que me pede adiantamentos, tudo também contadinho de minha parte e fui até onde deu. Era para comprar material, o que não foi feito e agora, gastou em outros compromissos e não tem mais pra comprar o material que iria executar a mão de obra.

Ana Bia, a dileta esposa me puxa a orelha constantemente, mas não consigo mudar, não tenho jeito para agir de forma dura, implacável com estes, nem com ninguém destes tantos que sofrem para dedeu nos tempos atuais, pois bem sei a vida anda pela hora da morte. Ela diz que, eu sou contumaz em me defrontar com situações parecidas, pois ao invés de procurar uma firma de nome vou atrás do “Pedrão” e daí, sempre dá que dá. O fato é que me identifico com os tantos Pedrões, pois vejo neles a necessidade de continuarem na lida, fazendo de tudo para pagarem suas contas, muitos ótimos profissionais, só que em condições adversas. Esse cara que arrumei e está neste momento, marcando e desmarcando comigo é um destes. Ótima pessoa, mas perdido, cabeça ao leu e sem perspectivas de conseguir um direcionamento, pois tudo o que ganha aqui, paga ali – quando consegue fazê-lo. Eu sigo com ele, pois sei que, mais dia menos dia, ele vai terminar e me entregar tudo o que combinamos e desta forma, terei conquistado mais um amigo. Pelo que já fez, está muito bem feito, mas confesso, demora um bocado e tenho que ficar em cima, mas acaba saindo.

OBS.: As fotos não são meramente ilustrativas. São mesmo as enviadas pelo amigo em questão, com suas justificativas pelos atrasos, demoras, adiamentos e postergações. Vamos indo, enfim, por que deveria fazer os serviços com alguém cheio de pompa se estes precisam muito mais? Privilegio em tudo e com meu suado dinheirinho a estes, os que enfrentam o touro à unha.

COM OS “PEDRÕES, TUDO É CONCLUÍDO, MAS COM OS GANHADORES DE LICITAÇÕES, EXISTE SEMPRE UM JEITO DE EMBROMAR E EMPURRAR TUDO COM A BARRIGA
Existem muitos tipos de “Pedrões” em atuação hoje. Explico. Num texto hoje pela manhã disse de minha preferência por procurar profissionais fora do circuito chic para executar serviços pelos quais TENHO NECESSIDADE. Os tipos populares que atuam nas beiradas da cidade, atuando individualmente, sem estar inserido em grandes empresas e com currículos pomposos, mas que, no frigir dos ovos, mesmo com alguma morosidade, me atendem. Alguns demoram mais, talvez motivados pelas dificuldades as quais estejam inseridos, mas sabendo fazer, acabam me entregando o serviço. Ana, a esposa brinca comigo e diz que procuro sempre pelos “Pedrões”, ao invés de ir logo em busca de gente com cabedal. Não me rendo e assim prossigo, valorizando os que mais necessitam. Posso até demorar mais para ter tudo solucionado, mas estes acabam não me decepcionando. Ainda mais num momento como este, prefiro a companhia dos “Pedrões”. Aquele mecânico de vila, o pedreiro por indicação, o eletricista aqui das redondezas, o encanador que me indicaram e mora lá nos cafundós do judas. Estes fazem das tripas coração, mas terminam o serviço e assim seguem em frente, briosos nos seus ofícios.

Escrevo de outro tipo de “Pedrões”, os que ganham licitações públicas e por mais que recebam, tentam fazê-lo com a praga hoje dos tais aditivos, tudo para ir burlando os contratos e ganhando mais, quando por fim, jogam a toalha, inventam desculpas esfarrapadas e acabam não concluindo o que estava previsto em contrato. O caso mais escandaloso nesta cidade nos últimos tempos é o da execução das obras da ETE – Estação de Tratamento de Esgoto. Ainda durante o governo do prefeito Rodrigo Agostinho, também Governo Federal do PT, Lula e Dilma, Bauru tem reservado um valor considerável para conseguir ter seu tratamento de esgoto realizado. Um sonho de muito tempo, que nem Rodrigo e nem seu sucessor, Clodoaldo Gazzetta conseguiram terminar e agora, a incomPrefeita Suéllen Rosim, pelo visto também não, pois segundo a manchete de hoje do Jornal da Cidade, “Por problemas na execução, prefeitura rompe o contrato com a construtora da ETE”. Ou seja, os caras já receberam os tubos e agora, devido a falhas gritantes, repetitivas e sem solução, o contrato é rompido e uma outra licitação será feita para se tentar terminar a obra. Uma vergonha, pois agora existe o risco da perda do carimbado dinheiro. Ou seja, pra tudo existe um limite.
Este um característico  "Pedrão".

Eu, quando preciso do serviço de alguns dos tais “Pedrões”, sei de suas limitações e dificuldades, tendo que até antecipar algum para que realizem o combinado. Costumo não me arrepender. Tenho até dores de cabeça, mas todos terminam e por fim, seguimos amigos. Já nos tais contratos de licitação firmados nos últimos tempos, existe algo bem diferente destes procedimentos. Existe hoje uns espertões no mercado e fazem de tudo para ganhar uma licitação, sabem suas artimanhas e ganhando, sabem também como ir levando a coisa em banho maria, sempre exigindo mais. O “Pedrão” que vou atrás vive no aperto, se enrola, mas tem um nome a zelar e quando demora, mais do que justificável.
  Destes como vejo hoje pelo JC, com a prefeitura tendo que promover rompimento unilateral com o milionário contrato é mais, muito mais do que um contrato de boca que faço para execução de meus míseros serviços domésticos. Nos que firmo, no “fio do bigode”, posso rebolar, mas chego a um denominador comum. Vejo que, nas licitações com contrato assinado, registrado em cartórios, inúmeras testemunhas assinando junto, estes nem assim terminam bem. Daí minha conclusão: como gosto de fazer negócio com os meus “Pedrões” e cada vez mais desconfio, do que vejo ocorrendo nos tais entendidos, que na verdade, conhecem muito é de sacanagens e nem com tudo “legalizado”, acabam dando seu jeito de embromarem a coisa. Preciso dizer por que de minha preferência pelos "Pedrões"?

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