sábado, 18 de setembro de 2021

REGISTROS LADO B (63)


NO LADO B DE HOJE, O ANARQUISMO BAURUENSE DE MATHEUS VERSATI, 26 ANOS E INCANSÁVEL MILITÂNCIA
Sentando nessa manhã de sábado, quando ocorre uma ocupação vitoriosa na praça Portugal, após mais um ato desprovido de junção com os anseios da população, percebo que, nesses bate papos que faço toda semana, o LADO B – A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, tenho também que estar antenado com o que rola, seguir a onda de quem faz de fato nesta cidade e ontem, após alguns contatos para fazer a conversa desta semana, adiei todas as demais e fui à noite no Sarau na Praça, após ter contato o jovem – apenas 26 anos – anarquista bauruense, da vila Dutra, MATHEUS VERSATI e ele ter aceito o convite. Já o havia contatado tempos atrás e fui adiando. Ele só atuando, mais e mais, eu só tendo a certeza de que, a história dele é das mais importantes neste contexto da cidade, pois ele não se esconde, põe a cara pra bater a todo instante, segue na luta, aos trancos e barrancos, sempre com um novo perrengue pela frente, enfim, quem oriundo das camadas populares não sofre nestes tempos. Matheus é um deles, mas sofre mais, pois além da luta pela própria sobrevivência, tendo que trabalhar como a maioria dos sem emprego fazem hoje, como entregador de deliverys, ele e sua intrépida moto, tem também a militância. Os militantes padecem em dobro, primeiro pelas escolhas feitas e delas, padecimentos, pois nem sempre os tais empregadores entendem esse lado de luta. Ele sabe e conhece bem essas histórias, pois as sofre na própria pele no seu dia a dia. Daí, quando sai ontem para ir lá pelas 20h na praça ver o sarau rolando, tinha a certeza de ter acertado em cheio em trazê-lo à baila e conhecer bocadinho mais de sua trajetória.

Este Lado B dá voz para tudo, ou seja, os deste lado da vida, dos que resistem, insistem e persistem. Não abro a guarda mais para aqueles que jogam duplo, que fingem estar aqui, mas pegam leve ou mesmo se mostram coniventes com o baú de maldades sendo despejado sob nossas cabeças. Esses que cavem seus espaços em outros lugares. Cá estarei sempre ouvindo os que estão na luta, sempre acreditando e lutando por “um outro mundo é possível”. Matheus é uma jovem muito impetuoso, dedicado e sem medo. Só por isso quebra muito a cara, dá topadas na parede, mas não desiste e por ser assim, errando ali, acerta em tantas outras e aprende. As pessoas aprendem muito assim e ele mesmo me disse isso ontem lá na praça. “O trabalhador não tem muito tempo pra leitura, a teoria ainda é pouca e a maioria das coisas a gente aprende na prática, na luta, no dia a dia”, foi o que me disse. Entendo perfeitamente e por isso mesmo dou um valor danado para gente como ele. Ontem estava lá na praça com uma camiseta comum e quando disse que iria gravar a chamada para o bate papo, algo de uns cinco minutos, pediu um tempo e foi lá buscar sua camiseta com o emblema da Luta Antifascista. Eu sei que ele tem muita coisa pra contar, enfim, como começou sua militância, como se deram os passos que o levou para se tornar o que é hoje, um conhecido anarquista da cidade e mesmo na adversidade, participando de tudo o que se diz movimento social. O cara é engajado dos pés à cabeça. Quero saber e passar algo do que vai dentro de sua cabeça, até para estimular algo em outros.

E assim ele hoje estará por aqui e neste momento não posso querer gravar com ele de forma virtual, pois ele está acampado e com pouco crédito e carga em seu celular. Eu se quero tê-lo aqui tenho que ir lá e assim o farei, pois contar algo dele faz parte do que não só gosto de fazer, como me recarrega também para a continuidade do que me resta de vida. Daí, convite feito, posto abaixo algumas poucas coisas que já publiquei no blog Mafuá do HPA (www.mafuadohpa.blogspot.com), com textos diários ininterruptos desde 2007 e em alguns deles já algo deste intrépido e audaz militante social nas 24h do dia e da noite:

- Publiquei em 11.09.2020: “DEPOIMENTO DE UM, MAS PADECIMENTO DE MILHARES – ATÉ QUANDO?
“Sem perspectiva para conseguir terminar meus estudos.
Sem carteira assinada.
Lutando dia a dia para ter meu sustento.
Contas tudo no pescoço.
Namorada sofrendo todo dia com a pressão da sua empresa toxica, sem poder largar o trabalho para não perdermos nossa casa, sacrificando toda a sua saúde mental.
Valor no mercado absurdo.
Tratamentos para a nossa saúde tudo caro.
Todo mês tendo que gastar mo grana para arrumar a moto.
Governo tentando a todo custo tirar o pouco de direito que temos.
Pantanal, Amazonas queimando.
Governo tentando passar Leis Fascistas, para nos perseguir.
Amigos e mestres morrendo.
Quarentena nós empedindo de visitar familiares.
Sou Motoboy, toda semana passo raspando em sofrer um acidente, e se eu sofrer é eu por eu.
E mesmo assim todo dia na luta, sangue no olho, e a galera olha para mim e me chama de emocionado e imediatista... isso é Desespero, ou cai esse sistema ou nós aqui vamos ser esmagados.
Galera fala para ter calma, como man...
Quando alguém diz que não verei a revolução e que temos que ter paciência que ela vai demorar, eu fico em desespero... desespero sim, pois não consigo imaginar mais 5 anos nisso”.

"Cortina de fumaça - Porque a polícia que é a instituição com mais financiamento do Estado, fica enquadrando jovens e pobres para levar 5 gramas de maconha?
Porque a polícia não vai nas biqueiras e acaba com os pontos?
Porque que para escoltar um protesto são 15 viaturas mobilizadas por horas, e para pegar um bandido ou encostar nas biqueiras é 1 ou 3?
Porque com todo a "inteligência militar" que eles dizem que tem, consegue pegar ativistas e manifestantes que se organizam por grupos secretos, e camadas escondidas na internet, mas não prende os chefões do crime?
Guerra as Drogas é cortina de fumaça, é tudo política, o medo é uma ferramenta de controle.
A polícia é Militar e está aí não com a prioridade de defender o cidadão, ela está aí para proteger o estado e a burguesia de nós.
Se a polícia quisesse já teria fechado todas as biqueiras da cidade, aquelas que todo mundo sabe onde fica, já teria chegado nós chefões e refinarias de droga, mas não, toda a força militar está apreendendo 5 gramas de maconha".

"PCdoB faz aliança com PSDB e PL em Bauru - A tempos que sabemos que PCdoB não representa mais o socialismo, nem de longe representa mais alguma ideologia, estão agarrados em vencer nas urnas e manter seus cargos, ele não busca mais força no povo, e sim apoio na burguesia.
Os últimos idealistas da UJS se foram, e hoje só resta disputa por cadeiras, e luta por palco eleitoral.
Antes de lutarmos e avançarmos contra a esquerda, devemos acabar com os reformistas e pelegos que ainda rondam em nossos espaços, devemos construir uma esquerda revolucionária, que construa suas estratégias para chegar no socialismo.
E esses pelegos devem ser expurgados de nossos meios, essa é a esquerda que a direita gosta a esquerda que faz o jogo deles com eles", três textos de MATHEUS VERSATTI.

- Publiquei em dele em 23/09/2020: “De um Anarquista para os outros Anarquistas - É Anarquista não vota, isso é fato, mas também não adianta nada ficar defendendo voto nulo na internet, e não fazer trabalho de base, se não vocês só estão sendo isentão e acomodado mesmo, a briga não é por voto nulo e sim pela emancipação das massas e construção da Auto Gestão Libertária”, Matheus Versatti.

- Publiquei depoimento dele quando da morte de Roque Ferreira, em 04/09/2020: ““Hoje faleceu o maior Guerreiro que eu já conheci nesta cidade. Através do Roque eu conheci o socialismo, através dele e de seu gabinete conheci a luta de classe, ele me chamou para minha primeiro reunião política para descutir o aumento da tarifa de ônibus no início de 2013, ele me chamou para os meus primeiros protestos e greves, e dês de então nunca mais conseguir me afastar da luta. Ele me ensinou a não subestimar o proletário, ele me ensinou que as massas unidas e organizadas não pode ser barrada pela repressão do estado, ele me ensinou que se nossas táticas afastam os trabalhadores elas são falhas, ele me ensinou que a pessoa que sabe o que está falando não precisa falar muito, apenas o necessário. Aprendi tanta coisa com esse cara... Aprendi a admirar muito ele, o tive como uma referência por anos, ele não falava sem saber o que estava falando, dominava os temas que debatia na câmara e nos movimentos. Mas a parte que mais me fez ter carinho por ele é ele nunca hesitar em puxar minha orelha quando via eu me arriscando demais, quando via eu tomando atitudes que não agregava a luta. Uma perda inestimável para a cidade, para a luta e para todos os trabalhadores. Após tantas e tantas lutas, hoje ele partiu...”.

Vamos juntos? A conversa será ao vivo, direto da Praça Portugal, palco dos acontecimentos neste sábado na Terra dita e vista como "Sem Limites" e agora, também "SEM ÁRVORES".


BAURU: COMO DESTRUIR UMA CIDADE EM APENAS NOVE MESES*
* Meu 31º artigo para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, publicação virtual a partir de hoje:

Bauru está envolta numa névoa onde está difícil enxergar algo palmos diante do nariz. Não pensem que isso se deve somente ao fato dessa poeira, mistura de terrão do sertão, acrescido da fuligem das queimadas e do mormaço destes tempos sem chuva. Tem algo mais, muito além dos aviões de carreira. A respiração por aqui está dificultada pela ação intempestiva, diria mesmo, insana de parte dos atuais administradores da cidade e de outros que, seguem na mesma todas, a mesma infelicitando hoje o país num todo, a do desenfreado fundamentalismo, aliado ao bestial negacionismo, destruidor de mentes, abortador de avanços.

Foi uma semana muito cruel para a cidade, pois a incomPrefeita Suéllen Rossim, também chamada por mim de “novíssima” (sic) promove mais uma das suas e desta feita, sem ouvir nenhum segmento constituído da cidade, opta por realizar uma obra que estava há tempos sem solução de continuidade, pois com sua realização, praticamente a destruição de uma das áreas verdes urbanas mais importantes, a da Praça Portugal. O prefeito anterior, Clodoaldo Gazzetta não teve coragem e nem vontade para cometer tal crime com a cidade, até porque teve boa parte de sua vida envolvido com questões ecológicas e foi um dos que em 1993 plantou as mudas que até dias atrás vicejavam no local.

Suéllen atendeu interesses nada edificantes e deu voz ao tal do “progresso”, ou sua vertente beneficiando o modal quatro rodas, com muita poluição e cada vez menos verde, bem ao estilo de seu mentor, o capiroto ainda presente. De um dia para outro, aprovou internamente na Prefeitura e corta aproximadamente 50 árvores de um dia para outro, estilo vapt-vupt. Quando a cidade percebeu o estrago estava feito. Uma intensa movimentação ocorreu, mas já era tarde. Nos noticiários, quase todos se posicionam contrários, pois em a salutar discussão e outros propostas e sugestões tiveram alguma chance. Só mesmo ela e a rádio Jovem pan, ops, digo, Velha Klan estão favoráveis e tentando fazer passar algo criminoso como se fosse um conto de fadas, com proposta de se plantar no lugar 500 mudas, numa espécie de pega-trouxa.

Diante do crime cometido, um advogado entra com pedido de Ação Popular e a obra é embargada. Nos bastidores ela tenta movimentar a opinião pública, marca comunicado à imprensa, mas não justifica nada, ou seja, aprofunda a desconfiança, pois em outro local da cidade, árvore histórica na entrada de bairro popular, espécie única no local é também cortada sem que ninguém fosse ouvido ou pudesse sugerir algo diferente. Quem circulou tempos atrás na cidade, paparicando a prefeita foi o, felizmente hoje ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, o “Nero” do Bolsonaro, incentivando-a para posicionamentos esdrúxulos bem ao estilo do “finge que eu defendo a natureza”, quando na verdade, o que faz é “passar a boiada”.

Na verdade, o que acontece em Bauru é bem fruto destes tempos e dessa nova safra de políticos ligados ao bolsonarismo. Fazem tudo para desmontar o que está em curso e sem dar ouvidos para ninguém. Esse o estilo, destruir e atender interesses de uma minoria. Bauru, infelizmente caiu numa arapuca e o que se vê por aqui nestes nove meses de administração é o descalabro total. Um atroz autoritarismo, cargos lotados com neopentecostais, muita gente sem qualificação e os que a possuem, contidos, calados e ali só para fazer número, sem nenhum poder de fogo. Uma cidade sem projeto, ou melhor, com um projeto de destruição e aniquilamento, principalmente de ideias e ideais. Regredimos e em menos de uma ano, o arrependimento já está estampado na face de quem foi ludibriado pelo resultado das urnas.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

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