quinta-feira, 9 de setembro de 2021

UM LUGAR POR AÍ (152)


A DESTRUIÇÃO DA PRAÇA PORTUGAL É CARA DO DESGOVERNO SUELLISTA
Insensibilidade, essa a palavra chave dessa administração, claudicante, inoperante, catastrófica e também insensível. Tudo junto e misturado. São poucos os atos governamentais sem alguma crítica, pois todos de cima para baixo, atendendo interesses de uma minoria. Neste caso específico, o do que ocorre neste momento na praça Portugal, Altos da Cidade, quando uma ilha inteira da praça, a sua inicial, junto ao pé do início da avenida Getúlio Vargas está vindo abaixo, com quase todas as árvores cortadas, inclusive famosa e frondosa figueira é mais uma demonstração do desprezo por ouvir o semelhante, no caso o cidadão bauruense. O projeto viário, o que dá vazão aos veículos se mostra mais importante que tudo o mais.

Comecemos pelo início para se ter algum entendimento do que se passa. Esse projeto não é novo e foi rejeitado pela administração passada, a do Clodoaldo Gazzetta. Este não podia mesmo aprovar a derrubada das árvores como proposto, pois ele pessoalmente esteve envolvido no plantio da maioria delas. Ele se pronuncia ontem: “Que tristeza! Estão cortando todas as árvores da praça Portugal para transformar o local em uma grande rotatória. Que tragédia essa cidade. Nós que plantamos aquelas árvores em 1993”. Extraio de texto publicado por este o seguinte trecho, elucidativo sobre o triste momento: “Me lembro como se fosse hoje das mais de 300 árvores que plantamos na Praça Portugal em 1993. Ganhamos inclusive um prêmio do Guiness como a primeira cidade do planeta a plantar o maior número de árvores ao mesmo tempo. Na sequência, através de Decreto Municipal 6760 de 15 de novembro de 1993, tombamos as árvores como Patrimônio Histórico da cidade, imaginando que estariam protegidas para as gerações futuras. Ledo engano! Acabei de passar pela Praça Portugal e as árvores estão sendo cortadas. Que tristeza vez quase 30 anos de história sendo dizimados pelas motosserras, para transformar o local em uma pista de rolamento para carros. Estamos mesmo na contramão da história!!! No passado tentaram cortar também o Óleo de Copaíba da Avenida Getúlio Vargas, para dar lugar a pista de rolamento para carros. Uma escola inteira se mobilizou e as crianças conseguiram proteger a árvore, que até hoje embeleza esta avenida da cidade. Infelizmente essas árvores abatidas da Praça Portugal não tiveram a mesma sorte. A natureza e a história dando lugar ao concreto e o asfalto. Vale destacar que empresa que está executando a obra não tem culpa alguma de absolutamente nada neste processo! Ela está fazendo investimentos importantes na região e apenas está cumprindo a contrapartida obrigatória que a Prefeitura definiu como necessária”.

Fui em busca do texto do ex-prefeito só para uma simples comparação de posicionamentos e posturas administrativas. Uma e outra estão bem claras, evidentes, nítidas. No governo do Gazzetta existia um projeto, bem diferente deste e agora, outro, castrador para a praça e o verde existente no local. A aprovação deste foi só da SEMMA e se passasse pelo CONDEMA, com certeza, a aprovação da derrubada das árvores não teria ocorrido. Ou seja, foi feito um novo projeto só para contemplar a derrubada, sem dó e piedade das árvores. E isso tudo ocorreu no dia de ontem, para consternação pública da população que por ali transitou e presenciava a derrubada. Momento muito triste na história da cidade, até porque estavam tombadas e para serem derrubadas necessitaria autorização especial, o que não ocorreu. O argumento da Prefeitura é o PROGRESSO. Em seu nome sempre se cometeram barbaridades, essa mais uma. Existiam alternativas, mas sempre a preferência para o modal veículo em detrimento de todos os demais. No meio dessa praça tem uma pista, que foi feita para ligação futura e nunca utilizada entre a Comendador e a Getúlio. Foi toda preenchida pelas árvores e hoje resgatado pelo projeto descaracterizando o local.

De tudo, existe muito da sensibilidade humana, da mão humana nas transformações de uma cidade. Consulto também o professor e arquiteto Adalberto Retto Junior, morador em um dos prédios do local, pois recentemente escrevi a respeito de carta sua publicada na Tribuna do Leitor quando o ponto nevrálgico era justamente a utilização da praça, hoje descaracterizada. O projeto pensado e idealizado por ele foi renegado, menosprezado, mas no lugar algo feito exatamente ao contrário dos preceitos de respeito à natureza. “Por isso que fiz o texto, justamente para denunciar que o desenho leva a esse tipo de ação de grandes proporções”, escreve. E me envia algo para ajudar na crítica, o texto “Cidades do mundo todo começam a implementar novas estratégias de combate às ilhas de calor”, exatamente o contrário do que Bauru executa neste momento. Eis o link deste texto: https://www.archdaily.com.br/.../cidades-do-mundo-todo.... Ou seja, mais do que evidente estar Bauru na contramão de qualquer tipo de avanço e o já explícito retrocesso possui bem a cara e característica predominante do atual desGoverno da novíssima (sic) alcaide. Ela é hoje uma espécie de Rei Midas às avessas, pois onde coloca o dedinho, algo constrangedor e também com alto poder de destruição. E ainda estamos no primeiro ano de seu mandato. Ela e sua equipe já comprovaram neste curto período a que vieram e quem padece é Bauru.

44 ÁRVORES CORTADAS
Nasci aqui em Bauru.
Sempre morei numa região perto de um lugar chamado Praça Portugal.
Praça com muitas árvores.
Ontem eu vi elas no chão.
Nem liguei.
Eu também estava no chão.
Não tem nenhuma razão que impeça.
Estou vendo o mundo prosperar.
Em nome do progresso, eles dizem.
O velho vai ficando sem utilidade.
A renovação se impõe.
As decisões mudam de tempos em tempos nas mãos dos governantes.
Poucos se importam.
Eu mesma, estava tão dentro de mim, indo ao banco naquela região.
Minha senha era número 44
...igual ao número de árvores condenadas a morrer.
Eu e as árvores estamos morrendo.
Me sinto com a raíz exposta.
O progresso não está preocupado com sombra, qualidade de ar e ...olhar amoroso.
Todo dia eu morro um pouco junto com o mundo.
Todo dia sou lembrada que devo soltar das mãos do apego.
A modernidade exige que tenhamos engajamento.
Todo dia produzir um conteúdo atrativo nas redes sociais.
Negociar com o poder, com a matéria é uma lei que não consegui obedecer com muita competência.
Já chorei por muitas árvores na minha vida.
Ontem, veja só, nem liguei.
Vi motosserra, raíz de tudo quanto é tamanho secando ao sol, fora da terra.
Parecia que tinha estourado uma bomba.
Galhos cortados aos montes.
Sabe no que reparei?
Nas fitas plásticas preta e amarelo que contornava a Praça impedindo acesso.
Na verdade, é meu único jeito de sobreviver, é não acessar essa realidade.
Eu estou tão árvore...
Vendo chegar homens armados com motoserra.
Botas pretas.
Andar pesado e mãos fortes.
Trator bufando.
Eu acho que todo trator é mal humorado.
Trator quando chega, não negocia.
Em nome do progresso, em nome Deus, em nome do poder, em nome de interesses vão revirar a terra.
Eu, minhoca ou cobra cega, vou tentar escapar do corte de uma enxada.
Elas têm lâmina afiada.
Vão me cortar ao meio e nem vão sentir remorso.
Eu, alma, vou voar da copa das árvores quando elas tombarem.
Árvores altas que o pintor Vicent Van Gogh retratou tão bem.
Vou tentar, num pulo só chegar ao céu.
Aquele céu espiralado.
Onde o sol e as estrelas podem me servir de leito.
Talvez algum anjo queira ouvir minha poesia.
Vivi Ame...", Viviane Mendes

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