quarta-feira, 20 de outubro de 2021

AMIGOS DO PEITO (191)


RECARREGADO PELOS TANTOS AMIGOS (AS)
A cada dia uma nova história. Como é bom poder continuar contando com diletos amigos pelos cantos, brechas e vicinais desta insólita cidade. Tempos atrás um destes tantos que, infelizmente já se foi, me dizia: "Só consigo sobreviver por aqui por causa dos amigos. A gente cria uma espécie de gueto só nosso, um grupo de gente e criamos uma agenda própria, encontros só nossos, regados a um bate papo não encontrado em outros lugares". Verdade absoluta. Desfruto de algo muito parecido. Pertenço a um agrupamento dito e visto como de esquerda, com pensamento anti-bolsonarista e nestes tempos um tanto obscurantistas, nada como estar ao lado destes, cada um recarregando o outro. Um encoraja o outro a continuar. Ouço as histórias dos demais, como cada um se safa das agruras destes tempos e da construção que faço de tudo que ouço, dou meu jeito de ir tocando minha vida, driblando as adversidades e me posicionando, reabastecido para os enfrentamentos todos. Só frequento lugares onde posso reencontrar pessoas queridas, pois sei que ao fazê-la, estarei me recarregando.

Ontem foi um dia destes. Passei na banca da Ilda, a brava guerreira lá dos altos do Aeroclube e esperava dar de cara com gente para um papo a mais. Não deu outra. Desta feita quem estava por lá era o jornalista Aurélio Fernandes Alonso, recentemente aposentado de suas funções no Jornal da Cidade, solto pelas estradas da vida e batendo cartão para ver as novidades editoriais lá na banca. Passo para buscar a edição dominical do Estadão, que mudou o formato e agora reduzido, cara de Estadinho, está gostoso de ler, com muitos colunistas, a maioria conservador, mas como leio de tudo, faço deles também aprendizado para ver como pensa e age os adversários. Aurélio também gostou e conversamos pra dedéu sobre esse momento do jornalismo e suas agruras e possibilidades. Por lá alguém que não conhecia, um jornalista que atuou por anos na Record e está batendo asas, indo morara na Irlanda. Está nos preparartivos arrumativos de malas e circula em busca de bons papos. Nos conhecemos e proseamos bocadinho sob os olhares atentos da dona do estabelecimento.

Aurélio está eufórico, pois em mais alguns meses (me diz antes do final do ano), deve lançar seu primeiro livro. O gajo me conta detalhes, mais de meia hora esmiuçando como foi formatando uma história pra lá de surreal, onde num pequeno distrito foi juntando personagens e situações amontadas em sua mente jornalística por mais de 20 anos e despejou tudo em hisórias. Deve ser um texto dos mais saborosos, tipo a história do Bem Amado e até a do ET de Varginha. Não sei como fez para caber tanta gente e suas histórias mirabolantes, todos juntos num pequeno distrito, mas isso é coisa que escritores sabem fazer com júbilo, aliás, essa a arte do escrevinhamento. Aurélio é bom no que faz, jornalismo à moda antiga e se tivesse grana iria propor uma sociedade para criarmos juntos um jornal semanal cheio de histórias, pequenas reportagens e algo pouco feito nos dias atuais.

Gostoso demais ir reencontrando pessoas como ele pelas quebradas da cidade. Passei por lá só para buscar o jornal, que ela havia guardado desde domingo para mim, algo que faria em cinco minutos no máximo, mas acabei por conta desse reencontro passando lá quase uma hora. Esqueci de tudo o mais, mas não me arrependo, pois creio ter ganho o dia. Ganho muitas conversas, pois ao sair de lá, anotei num caderninho que mantenho no carro - sempre a postos para não esquecer de conversas -, vários temas para escrevinhações futuras. Aurélio me possibilitou alguns já para ontem e o fiz baseado no que conversamos. As ideias que aqui publico saem e fluem dessa forma, de conversa que mantenho pelas ruas, portanto, necessita demais da conta da continuidade destes amigos todos. Sem eles, sei que, a minha vida por essas bandas seria também de difícil superação. Ainda bem existe por aqui mais que um arquipélogo de resistentes, bravos guerreiros e dispostos a esgrimar para que a coisa não desande de vez.

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