quinta-feira, 25 de novembro de 2021

MEMÓRIA ORAL (274)

MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA COM O BUSER – PREÇO BOM, COM EVIDENTE PRECARIZAÇÃO DOS SERVIÇOS

Saber aquela velha propaganda, “O primeiro sutiã a gente nunca esquece”, pois bem, aqui conto a minha primeira experiência viajando com os tais ônibus da BUSER, a uberização do transporte coletivo. Assim como, creio eu, nunca mais teremos o sistema de táxis atuando no mercado como dantes, em muito pouco tempo, o mesmo ocorrerá com o sistema implantando desde que me conheço por gente, o da empresas credenciadas para nos levar via estrada de uma cidade a outra deste país. Até hoje vigora que, para te transportar, tudo tem que ser feito via terminal rodoviário, empresa credenciada, algo regulamentado pelo Governo Federal. Isso está caindo por terra em algo ocorrendo mundialmente, beneficiando uns poucos capitalistas espertos, os que criaram algo “libertador” (sic), novos moldes e com isso, inevitavelmente a quebra de antigos monopólios. A princípio tudo lindo maravilhoso, pois os preços caíram e para o usuário, isso conta muito. Com a chegada do sistema Uber, chega junto a precarização do ser humano, pois não existe mais garantia de empregos, registros em carteiras e tudo o mais nos moldes antigos. A tal modernidade chega pra derrubar isso tudo e implantar preços baixos, mais com altos preços para tudo o que está embutido no processo, ou seja, bom por um lado, pérfido e cruel por detrás dos panos.

No sistema BUSER, o do transporte rodoviário de passageiros, a mesma coisa. O Buser não é uma empresa de transporte. Ela chega e derruba os preços praticados pelo mercado em mais da metade. Quem não gosta disso? Todos os usuários sem distinção. Na verdade o sistema Buser é um possibilitador de viagens, onde você por ali contrata um serviço e eles quando conseguem um número a preencher um ônibus para executar aquela viagem, contratam uma empresa de ônibus e essa faz a viagem, sendo todos os riscos e custos por conta dessa. É como se a viagem feita fosse algo como uma excursão feita entre amigos para determinado lugar. Assim sendo, não sai de rodoviária e sim de qualquer outro lugar. Burla a lei existente e te proporciona uma viagem com custo muito mais reduzido. Quem organiza esses viajantes ganha um percentual por fazê-lo, igual o feito como Uber. Evidente que, isso vai quebrar as empresas antigas e os monopólios todos. Uma viagem que fazia de Bauru/São Paulo pelo Expresso de Prata por R$ 110,00 hoje sai pela Buser por R$ 40,00. Diante de tamanha diferença não existe como você se manter indiferente e assim como ocorreu no caso do Uber, o Buser vai ocupar o espaço num curto tempo e dominar o mercado. Inevitável.

Leio que, algumas empresas tradicionais, como a Viação Cometa já se anteciparam. Percebendo o que está em curso e se nada fosse feito, perderia toda a conquista de décadas, essa se esvaindo como poeira pelo vão dos dedos diante de um vento forte, já vendem também num aplicativo próprio e com preços iguais aos praticados pelo Buser. As que, nada fazem, vão ser tragadas pelo avanço inexorável dessa avalanche de empresas deste tipo, ditas modernas, mas eivadas de algo cruel no seu arcabouço. Não que as habituais não possuem crueldade no jeito como praticam preços, pois sempre o fizeram. Chegou o momento da transformação e neste momento, o que precisa realmente ocorrer é uma regulamentação, para o trabalhador por detrás disso tudo tenha garantido seus direitos, algo pelo qual, até então lhe dão sonora rasteira.

Diante deste quadro, na noite do último sábado, 20/11, necessitando de estar em Campinas naquele dia, primeiro consultei o Prata e não só os horários, preços, como tempo de viagem era incompatíveis com minha necessidade, tendo uma com duração de 3h30, sem parada, ou seja, direta e reta, preço de R$ 40,00, não hesitei e comprei. Recebo a confirmação, reserva feita de ida neste dia e volta para 24/11. Na de ida, ao invés da saída pelo terminal rodoviário de Bauru, a viagem teria início no Posto Graal Sem Limites, beirada da rodovia Marechal Rondon, através da empresa Alphaville Turismo. O local é dos mais movimentados durante a noite com paradas de várias empresas. Não existe funcionários da Buser no local e toda informação conseguida sobre chegada ônibus me foi dada por funcionário do posto. Incialmente ouço que, atrasos existem, algo em torno de no máximo 20 minutos, quando viagem não tem início na cidade. Um grupo se forma e diante do atraso, nos conhecemos ali esperando pelo nosso transporte. A demora inicial desta viagem foi de mais de duas horas. Pelo que apurei, o ônibus quebrou por Ourinhos, uma mangueira no motor. Chega, embarcamos e gostei do sistema, tudo pelo virtual, com nomes constando de relação maquineta em poder do motorista que vai dando baixo um por um das reservas feitas.

Adentramos e pelo cansaço todos caem no sono rapidamente. Enfim, já era mais de 3h30 da manhã. Acordo com o ônibus quebrado novamente na beira da pista. Durmo mais um pouco, achando que já estivesse próximo de Campinas. Quando o dia começa clarear, saio para fora e vejo que o mesmo está quebrado diante do posto da Polícia Rodoviária de Jaú, ou seja, rodamos no máximo 60 km. A mangueira trocada não suportou. O atencioso motorista nos contou das várias outras vezes em que quebrou em estradas e dele ouvimos que a empresa já estava notificada (Buser ou Alphaville?). Disse que, havia empresa auto-peças ali perto e quando abrisse, das 8h em diante, compraria e trocaria peça. Pouco antes desse horário estaciona um outro ônibus, o da empresa Beto Transportes, essa de Jaú, todos são transferidos e seguimos viagem até Campinas, com chegada lá por volta das 11h30. Como já nos havia sido informado, a parada se deu numa espécie de terminal criado pelo sistema Buseu para embarque e desembarque de passageiros, no Largo do Pará, avenida Aquidabã 211.

De viagem que teria início 1h40 e foi concluída às 11h40, somem o tempo de sua duração. Algo pra lá de inesquecível dentro do trecho que, de carro, duração de 3 a 3h30 no máximo, quando sem paradas. Depois, pelas consultas realizadas, muitas outras reclamações da mesma empresa, a Alphaville, todas de usuários contando suas peripécias em comentários variados pelas redes sociais. Daí minhas conclusões são as de que, se o BUSER veio para ficar, algo já visto como inexorável e o sistema de viagens do futuro será este, mais precarizado, como já demonstra serão as relações comerciais, que ao menos existe um controle de qualidade dos serviços. Dificilmente você fala com o Buser lá aguardando a chegada da viagem no local do embarque. Ele se comunicavam de quando em quando através do aplicativo, como quando disseram lá pelas 3h da manhã, quem em trinta minutos chegaria o que levaria passageiros aguardando em Bauru. São relações ainda promíscuas, onde os caminhos de reclamação são lentos, tardios e até devolvem grana, mas de algo, creio eu, isso não se dissipará com o tempo: o de que estou adentrando um campo minado, onde era explorado por um sistema cruel, capitalista e controlador, sendo substituído por outro, com preços bem mais em conta, mas com algo pelo qual, me sentirei sempre como um ser indefeso diante de um monstro poderoso e incógnito. Ganha-se por um lado, perde-se por outro e no frigir dos ovos, o barato sempre sai caro e cada vez mais, tudo, todas e todos nas mãos de um tentáculo que o guia.

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