sábado, 22 de janeiro de 2022

CENA BAURUENSE (222)


REGISTROS DESTE HPA EM LOCAIS E OBSERVAÇÕES MAFUENTAS

ELZA SOARES
Elza sempre foi um soco na boca do estômago da hipocrisia brasileira. Neste país, onde dizem que, inexiste racismo, como aceitar uma acintosa negra, que foi morar na Europa com seu nêgo, jogador de futebol e depois, voltou, separou e viveu a vida ao seu modo e jeito, sem se importar com os olhares de soslaio que sempre lhe incidiram sobre si e seus atos. Elaz fez e aconteceu, com um vozeirão desses mais do que incríveis, praticamente inesgotável. Ouvi-la cantar e vê-la pessoalmente é mais que um deleite, um tapa na cara nos que insistem em olhar para os negros como ela cantava, numa de suas tantas canções, "a carne mais barata do mercado é a carne negra". Ela conseguiu ser soberana em tudo o que fazia, principalmente por um único e exclusivo motivo: tinha qualidades mil. Praticamente impossível contestá-la. Ela também não se importaria e quando visse algo assim ocorrendo, tenho certeza, cantaria mais alto e com sonoridade inalcançável pelos pobres mortais. Divina dama, dessas no meu altar. Se existem de verdade as tais divindades, Elza é para mim mais que uma delas. Eu a venero, por tudo o que foi e continuará representando. Suas músicas permanecerão tocando ad eternum aqui na minha vitrolinha pessoal, sem em alto volume, para todos em volta saberem mesmo de quem se trata. Da última vez que esteve em Bauru, show no SESC, lá estava na fila do gargarejo. Não pudemos entrar no camarim, mas Tatiana Calmon o fez. Ela pulou em cima do palco, invadiu o camarim e foi por ela recebida com beijos e abraços. Representou a nós todos, os que não tiveram coragem de galgar o palco, enfrentar os seguranças e ir ter com ela em particular. Ficamos depois um longo tempo do lado de fora do SESC ouvindo as histórias que só Tatiana tinha para nos contar. Elza é assim, ela nos faz pular muros, galgar obstáculos. Linda demais da conta.
OBS.: Ilustração gileteada de Carlos Latuff.

01. Em 07/01/2022 publiquei: "Feliz dos que, nestes dias de muita chuva, podem permanecer recolhidos, esperando o furdunço passar. Pelas ruas, como no aqui registrado na vila Cidade Universitária, alguém não podendo fugir do compromisso de passar naquela hora, buscar os descartáveis que tocam sua vida, pois se o fizer, outro com a mesma necessidade o faz. São um reloginho no que fazem, trabalho de formiguinhas, ajudando a limpar e higienizar a cidade, faça sol ou muita chuva, como ontem à tarde".

02. Em 10/01/2022 publiquei: "Para quem sai do viaduto JK - Jucelino Kubitschek, sentido Jardim Bela Vista, logo na entrada se depara com a cena magistralmente registrada pelo professor e ilustre fotógrafo de nossas ruas, Mauro Landolffi: seriam as próprias Muralhas de Jericó diante do pobre mortal ou mais uma igreja evangélica neopentecostal, dentre as tantas dessas plagas?".

03. Em 12/01/2022 publiquei: "Interior do ferro-velho, praticamente debaixo do viaduto João Simonetti, avenida Nuno de Assis, com cobertura em petição de miséria, que um dia foi feita pensando ali ser montado um posto de combustível".

04. Em 15/01/2022 publiquei: "Numa das praças mais famosas da cidade, a Portugal, hoje um tanto despetalada, toda iluminada e vista do alto. Ali ao lado, querendo funcionar a contento, mas devido inapetência dois atuais administradores, uma bomba de captação de água, propriedade do DAE - Departamento de Água e Esgoto - mas pouco funcionando, dando constrantes periquipaques e gerando problemas na conscientização do que de fato ocorre. O problema não é o DAE, a estação de captação, o local onde está instalado, o equipamento todo ali existente, mas quem o administra, pelo visto, apostando fichas no quanto pior melhor para facilitar sua comercialização e privatização na bacia das almas".

05. Em 17/01/2022 publiquei: "Como bem sabemos, tudo na vida são ciclos. Uma hora se findam uns, dando início a outros. Não existe como fugir dessa realidade. Passo hoje na Comendador e ao ver placa de "aluga" diante da Escola de Ballet Vitória Régia, décadas ali funcionando sob o comando da professora Dalva, depois sua filha Marcia Nuriah, uma aposentada pela força da idade, outra por morar no exterior e assim, ontem local tão ativo, em breve ocupado por outra atividade comercial. É a vida, mas que entristece, disso não tenho a menor dúvida".

06. Em 18/01/2022 publiquei: "Quando vi a porta aberta, as inscrições na parede e o Flash gravado no letreiro, bateu aquele arrepio e fiquei indeciso, estático no meio do quarteirão. Será que, lá no alto da escada ainda é mantida aquela pista envidraçada de décadas atrás? Fiquei com medo de baixar um espírito John Travolta em mim e sair balançando as ancas como fazia no saudoso Flash Dance, no mesmo local, na avenida Rodrigues Alves. Consegui me conter, baixei os olhos, firmei o passo adiante e nem olhei mais para trás".

07. Em 19/01/2022 publiquei: "Bem defronte um dos mais antigos edifícios de Bauru, o Brasil Portugal, esquina das Nações com Rodrigues Alves ela se apresenta soberana, soberba e fonte de sombra para quase os dois lados da pista asfáltica, verdadeira rainha do pedaço".

08. Em 20/01/2022 publiquei: "Nas imediações do Mafuá, quarteirão onde se montam parques e circos, beirada do rio Bauru, hoje a chegada de novos temporários vizinhos. Desta feita grupo de animados ciganos, já avisados da força das águas ("do mesmo jeito que são rápidos pra levantar as barracas, talvez precisem ser também rápidos na desmontagem"), já instalados, trocando figurinhas com os moradores do local, fazem parte deste insólito cenário dos que se sujeitam a ir driblando as forças e intempéries da natureza".

09. Em 21/01/2022 publiquei: "Numa cidade onde existe um bairro homenageando o ditador Geisel, do outro lado da cidade existe outro homenageando um bravo guerreiro bauruense, Edson Francisco da Silva, o popular Bauru XVI, aqui orgulhosamente registrado num letreiro de onibus. Quantos sabem algo do lugar onde mora? Neste caso, motivo de muito orgulho ter como denominação do bairro o "Branquinho", como era conhecido, ex-vereador e lutador de tantas causas populares".

10. Em 22/01/2022 publiquei: "Modelo ainda resistindo ao tempo, pequenos prédios comerciais, com poucos andares, como este na esquina da avenida Rodrigues Alves com rua Virgilio Malta".

BRIZOLA 100 ANOS
Se tem um político que respeito, admiro e gosto, esse é Leonel Brizola. Quando meu filho nasceu, por mim seu nome já estava decretado, seria Leonel, mas fui vencido pela mãe, que não gostou da ideia. Nas idas e vindas ao Rio, toda vez que me deparo com os CIEPs, também denominados de Brizolões, bate uma baita tristeza, pois o que foi um exemplo, ensino tempo integral, hoje tudo remediado e poucas unidades com utilização. Brizola foi desses que não se vergou em nenhum momento de sua vida. O que fez durante a Campanha da Legalidade, convocando o povo para resistir é a história na sua plenitude. Seus dois governos no Rio de Janeiro estão bem vivos em minha memória, pelo forma como soube fazer os necessários enfrentamentos. Ver Cid Moreira, o então menestrel do Jornal Nacional ser obrigado a ler nota favorável à Brizola é destes momentos em que, diante de tanta luta, muitas consideradas infrutíferas, ali naquela fala, a certeza de valer a pena insistir, resistir e persistir. Quando esteve em Bauru, quem dele se aproximava e se filiava junto dele era Antonio Izzo Filho. Junto de Brizola naquela noite, Neiva Moreira, seu fiel escudeiro. Preparei um dossiê com detalhes revelando quem era de fato Isso. Entreguei nas mãos de Neiva e lhe pedi para entregar pessoalmente para Brizola. Ele me disse que o faria na viagem de volta. Fiz a minha parte. Brizola foi traído por muitos nos quais investiu e acreditou. Estes se perderam ao longo do tempo, Brizola nunca, pois sem pre se mante altivo e soberano. Bravo guerreiro, destes que, infelizmente, vejo hoje poucos com a mesma envergadura. Não consigo me esquecer dessa grande figura humana, um verdadeiro brasileiro, defensor de nossas coisas e riquezas.
OBS.: Ilustração gileteada de Gilberto Maringoni.

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