sábado, 8 de janeiro de 2022

COMENTÁRIO QUALQUER (222)


SENSAÇÃO DE IMPOTÊNCIA DIANTE DA BÁRBARIE*

* Meu 45º texto para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição circulando pela aí a partir de hoje:
Viver num estado onde o medo predomina deve ser algo abominável. Não afirmo categoricamente já vivenciarmos algo parecido, mas estamos caminhando para isso. Se aqui em Bauru a coisa ainda é um tanto light, em outras paragens, nem tanto. Por aqui, mesmo com a grita e estardalhaço dos que pregam o retrocesso, prevalece ainda o Estado de Direito. Perceba algo bem nítido. Tem uma turba aí se lixando para leis, direitos, conquistas, lutas sociais, pobres empoderados ou algo parecido. Para esses, se fechar tudo, se vozes forem caladas, estariam constantes. É contra isso que lutamos, para que não avancem mais do que já conseguiram. Viver com medo é uma nhaca. Ter receio de fazer coisas, ser veladamente ameaçado e se fechar em copas, vendo tudo acontecer e cada dia mais assustado, seria o mesmo que morrer antes da hora.

Tão perigoso quanto um fascista discursando diariamente pelas ondas de uma rádio ou um pastor pregando contra a vacina, algo como o "fuher" fazia discursando para os alemães, é o cidadão de bem que acredita conciliar o amor dos seus com o ódio pelos outros. A sensação de impotência diante da barbárie, tem que, mesmo com todo risco ser combatida. É a tal da necessidade de resistir intelectualmente a ela. É esse o ponto que me interessa traçar nessas linhas. Estava na fila para tomar minha terceira dose da vacina e nela um senhor, talvez cinco anos mais velho. 
Discursava em voz alta, senhor de si, a favor de pegar pesado contra os que lutam por melhorias e igualdade social. Um pregador, conservador até a medula, doente. Ouvir é uma coisa, mas quando é acintoso é outra. Bati boca com o sujeito e por fim, ele me disse: “Fosse num regime decente, você não teria vez, nem voz. Liberdade demais precisa ser contida”. Percebi a inquietação, mas a maioria prefere se calar. Eu não. Deixei-o sem argumentos e quando mais o contestava, mais irado ficava. Foi uma boa contenda.

Eu temo que, este país, depois de todo o estrago proporcionado pelos anos do capiroto no poder, mesmo com sua derrota, ainda demoraremos para nos ver livre do bolsonarismo. Assim como existia um hitlerismo inconsciente no coração dos alemães, o bolsonarismo foi difundido, ganhou corpo, hoje representa percentual de 25% da população, mas pelo visto, persistirão. “Se pudermos nos libertar da escravidão, libertaremos os homens da tirania. Os Hitlers são gerados por escravos”, escreveu Virginia Woolf. Gente como Hitler e mesmo Bolsonaro são a expressão de valores hediondos disseminados pela vida social. Tão perigoso quanto esses é o cidadão comum, o que se diz de bem que acredita conciliar o amor pelos seus com o ódio pelos outros, o religioso que prega a fraternidade seletiva, o adolescente que normaliza a agressão aos diferentes, o delator proeminente.

Muitos nestes tempos, falam por aí como donos da verdade absoluta, pregam o separatismo, o ódio ao semelhante, principalmente ao que tem consciência de classe e lutam por um outro mundo, com menos injustiças e privilégios. Estamos diante de uma tarefa mais do que utópica, trata-se de expelir, o que nos aproxima do fascismo. Aquilo, que em nós, referenda o autoritarismo não por colaboração ativa, mas por obediência cega, servidão voluntária ou, de modo mais sutil, desmobilização. Precisamos parar de pensar que aquilo que pretendo fazer para mudar o mundo atual pra melhor é pouco, ineficaz ou mesmo, algo inconsequente, impossível de se realizar. Eu me vi diante de algo assim hoje. Ninguém veio me ajudar na refrega com o bruto. Depois que se foi, vieram me cumprimentar, mas no momento não. Todos se encolheram. Tivessem levantado a voz junto comigo, ele teria percebido mais rapidamente seu isolamento. Eu não me aquieto mais. Pago o preço, não consigo ser diferente. Não suporto fascistas e reaças. Ainda mais neste momento. Reagir é preciso.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e historiador (www.mafuadohpa.blogspot.com).

MEDO É DO COMUNISMO, MAS É O CAPITALISMO QUEM DECRETA O FIM DAS EMPRESAS – O CASO EXPRESSO DE PRATA
O brasileiro é instigado a morrer de medo desse tal de comunismo, um que antes comia criancinhas e depois, mais aperfeiçoado, diziam que tomariam seu carro e sua única morada. Muitos se cagavam só de ouvir a palavra “comunista” e poucos destes sabem de fato o que venha a ser isso. Para os que sabem, só mesmo rindo da situação brasileira, onde se acredita em tudo, inclusive em história de carochinha. Hoje mesmo, li um textão muito bom do meu amigo Luís Paulo Césari Domingues, escritor e músico. Escrevia ele sobre o comunismo que não veio e hoje, mesmo com o medo persistindo, quem destrói as empresas capitalistas brasileiras, pelo que se se constata não é o comunismo. Antes fiquemos com o trecho final do texto do Luís:

“Já vai longe 1980, e o comunismo não veio. Mas vieram a MRV e as centenas de empresas análogas. Da mesma forma que na URSS, elas construíram milhares de apartamentos todos iguais, onde um monte de gente convive no mesmo ambiente. O capitalismo neoliberal nos deu os apartamentos da União Soviética que todos temiam. Também trouxe, manteve ou incentivou a miséria e a fome. Mas no caso dos apartamentos há muitos benefícios, pois uma das coisas que o comunismo levou aos habitantes da URSS foi criar lugares dignos para eles morarem. Assim como milhões de brasileiros compraram a primeira casa em um condomínio desses, milhões também deixaram de morar em comunidades sem qualquer tipo de urbanização para viver em residenciais abraçados por programas de governo que proporcionaram essa mudança, mesmo que insuficiente. Hoje, já existem até as versões mais sofisticadas dessas moradias ditas populares.

O medo do comunismo continua atemorizando o Brasil, mas pelo menos as pessoas perderam o temor de viver todas juntas. Talvez seja a hora de a gente ter medo do capitalismo neoliberal, de suas consequências, de seus efeitos, do butim que o sistema financeiro internacional praticou no mundo todo desde 1980, mas que graças a algum deus (que não é o nosso), já retrocedeu e foi derrotado na maior parte do mundo. Parece só sobreviver com força aqui”.

Agora, lido este texto, finalizo com algo de uma conversa que tive essa semana com amigo que trabalha para uns grandões capitalistas desta aldeia. Falávamos da situação de empresas que estão fechando nos últimos tempos e em todas o mesmo mantra, uma pregação de décadas contra o tal do comunismo e seus males. Fizeram, fazem e pelo que vejo, continuarão fazendo isso ad eternum, mas hoje, usando como exemplo vivo o que acontece com o Expresso de Prata, onde seu prócer, o ex-deputado federal e ex-prefeito manteve até a “Turma da Garagem”, grupo de direita a profetizar, propagar e espalhar com o vento cidade afora do perigo comunista e hoje, quando vemos sendo concretizado o triste fim da saga desta empresa bauruense, percebe-se nitidamente que quem a derrotou, quem a vergou, quem a fez ser vendida praticamente na bacia das almas, em situação, pelas quais seus proprietários não desejavam, não foi pelo advento do comunismo e sim, pelo CAPITALISMO. Foi a insanidade do perverso, cruel e predatório CAPITALISMO e toda sua engrenagem quem derrotou e pôs por terra tudo o que foi amealhado ao longo dos anos por esse espírito empresarial bauruense. O mesmo que acontece neste momento aqui, dentro das hostes bauruenses, ocorreu e continuará ocorrendo país afora. O CAPITALISMO é cruel com seus próprios profetizadores. Isso não é divagação, mas pura e simples constatação. Se quiserem fico aqui a explanar por muitas linhas de como isso se deu, como mesmo defendendo-o, ele apunhala quem o defende. Hoje, o mundo atual, cada vez mais das grandes coroporações, daí, empresas não tão grandes como a Prata, são derroytadas ao longo do percurso. O santo CAPITALISTA não é nada Santo. Ele apronta das suas e, pasmem, contra quem o defendeu até então. Pensemos sobre isso.

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