quarta-feira, 16 de março de 2022

RETRATOS DE BAURU (262)


EU, ROSE E O DILEMA
Sou amigo de Rose Barrenha de longa data. Empatia absoluta. Hoje sentamos para um café e tentar colocar as conversas em dia, algo impossível em pouco mais de meia hora. Ela corre de um lado, eu de outro. Damos nossos pegas e ainda acreditamos ter algo a contribuir neste amalucado mundo. 

A conversa girou exatamente sobre essa problemática. Tanto eu e ela, temos idades próximas, já nos metemos em infinitas jornadas ao longo da vida e agora, diante de mais uma encruzilhada, eis o que nos preocupa: o que ainda podemos fazer? Insistir em algo mais ou desistir de tudo e ir cuidar do que nos resta de vida? Eu e ela sabemos ser impossível nos apresentarmos como indiferentes, ausentes ou fingindo nada estar em curso e acontecendo. Somos inquietos e queremos fazer, contribuir, não só marcar presença, ser útil. 

Enfim, a gente quer lutar até o fim, mas como, onde, por que? Engajados com começo, meio e fim, eis como nos entendemos. Estamos neste momento bolando juntos uma pequena revolução em nossas vidas, enfim, não deixar tudo ficar modorrento. Odiamos a paradeira...

Em tempo: Quase no final da conversa, chega su filha, Bia Bassan e tudo recomeça. Queremos mais do que conversas.


KYN JR, SUAS DORES E A DISPOSIÇÃO DE NÃO ENTREGAR OS PONTOS
Por mais cacetadas que a vida tenha lhe dado, esse meu amigo não entrega os pontos e prolonga essa partida, comparada por mim com um jogo, talvez de futebol. Kyn recebeu bordadas de tudo quanto é lado e assim mesmo não se verga. Em alguns momentos se deixa abater, mas no momento seguinte já está em pé novamente e pronto para reiniciar a contenda. Primeiro ele se asolteirou de uma hora para outra, baque muito sentido, depois veio o falecimento de sua filha, sua escora e mola mestra na vida. Juntou isso, ficou vagando por um tempo, perdido, sem eira nem beira. O danado é forte e se reiventa, tenta de tudo, dá homéricas cabeçadas pela aí, mas não desiste de continuar tentando.

Eu sou um amigo relapso, mas atento. Mantenho-o sob vigilância e vez ou outra estamos juntos. Ele continua com aquele jeito próprio e peculiar, de falar de tudo e todos e continuar tendo a mais absoluta certeza de que, ele será um dia Secretário Municipal de Cultura e um dos únicos com chances de transformar aquilo tudo num antro verdadeiramente a irradiar Cultura por todos os poros. Em cada reencontro, me reafirma saber de cor e salteado tudo o que precisaria ser feito para valorizar de vez a Cultura bauruense. Eu o ouço, primeiro por ser seu amigo, depois porque me promete emprego, quando rimos juntos e lhe digo sempre, ser este o motivo de nada ainda ter dado certo.

Hoje ele me liga, quase choramos juntos e nos vemos. O trago para o Mafuá, proseamos e ao final, algo surreal e bem com a nossa cara, não falamos do problema que lhe afligia, ou seja, falamos de tanta coisa que nem deu tempo de falar de problemas. Ele me fez bem e eu devo ter feito bem a ele. Na verdade, o que a gente precisa mesmo hoje em dia é "amigar" mais. Rever as pessoas queridas, conversar, prosear, ouvir, deixar elas falarem e dessas prosas ir extraindo o néctar para ir conseguindo tocar nossas vidas. O Kyn vai se safando, nem eu sei como, mas segue de pescoço erguido, altivo, resoluto e senhor de si. Eu não sei se teria toda a disposição de enfrentar o que lhe caiu no colo, as provações todas e estar ainda enfrentando todos esses touros à unha. Eu gosto dele exatamente por causa disto, essa sua disposição de tirar leite de pedra. Queria fazer mais por ele, mas neste momento, não consigo nem fazer muita coisa por mim. O que faço é isso, produzir alguma algazarra quando dos reencontros, pois ao menos um empurra o outro para a frente. Quem não precisa de um empurrão hoje, um sacolejo e uma força. A gente só quer ser feliz e ter a chance de continuar vivendo, se possível com um mínimo de agruras possíveis. O Kyn já falou mal de mim, mas eu entendo, enfim, não devo ser lá flor que se cheire, mas continuamos nos entendendo bem. Tentamos seguir adiante, pois tanto eu como ele temos uma só certeza na vida: nosso ciclo não se encerrou e ainda temos muita lenha pra queimar. Se possível para incendiar e bagunçar esse coreto, hoje um tanto no marasmo.


SEU APARECIDO QUER REVIVER SUAS HISTÓRIAS E O QUE PODE FAZER PRA SALVAR O DAE
As boas histórias surgem assim do nada. Conto essa. Fiz semana passado o 82º Lado B, com o Jairo do Sinserm e lá algo da luta do DAE, contra sua privatização e as entranhas de uma autarquia, cujos funcionários lutam em sua defesa. Alguns lutam, outros se vendem para interesses outros, assim segue a boiada. Nos comentários do bate papo surge um senhor (já merecendo texto anterior aqui) e conta algo vivenciado dentro do DAE. Era este senhor, APARECIDO QUIRINO ANDRADE, hoje aposentado, mais de 30 anos atuando dentro das hostes do Departamento de Água e Esgoto de Bauru, amor desmedido pela autarquia, ciente de sua importância. Na maioria deste tempo foi motorista e circulou pelos mais diferentes pontos onde ocorria alguma atuação do DAE. Ou seja, viu de tudo e mais um pouco, sempre querendo falar, contar, dizer algo sobre as desventuras da autarquia. Enquanto na ativa estava mais comedido, mas agora, aposentado, quer dar sua contribuição e deixar registrado algo mais, até para dar sua contribuição em reafirmar ser o DAE mais do que importante para essa cidade.

Seu Aparecido é do time dos que não se aquietam nunca. Vive hoje com a esposa lá no altos do Santa Edwirges, vida tranquila, mas não consegue se manter calado quando ouve algo sobre os que estão preparando o DAE para ser privatizado. Primeiro ele comentou no meu post, depois ligou para o pessoal do seu sindicato, o Sinserm e pediu meu fone. Queria falar comigo, queria dar uma entrevista, queria contar suas histórias. Ontem fomos até ele, o Jairo e o Erivelto me guiaram até sua casa. Sentamos na área de entrada e ele se pôs a falar. Tem muita história para contar, a maioria de memória e alguma documentação guardada a sete chaves. Fui para ouvi-lo por um curto espaço de tempo e depois voltar, gravar e afunilar algo mais substancioso. Não deu, pois seu Aparecido se pôs a falar e não prou mais. Pessoas como ele precisam por pra fora o que está entalado em suas gargantas.

Ouvi muita coisa escabrosa, muita coisa boa, reviveu tantas passagens dignificantes e outras nem tanto. O faz tudo como alguém que não fala por falar, não fala sem conhecimento de causa, pois foi "testemunha ocular da História". Vou gravar com ele e depois vieram outros nomes, todos que por lá estiveram, deram suas vidas pela autarquia e continuam a tendo como a "joia da Coroa". Não sei se sabem, mas existem funcionários hoje aposentados que conhecem o traçado das linhas de água e esgoto desta cidade de memória, algo que nem os registros e arquivos do DAE possuem. Essas pessoas precisam ser ouvidas para deixar registradas as linhas, ligações, emendas, ou tudo o que foi feito nos mais diferentes pontos desta cidade e podem sumir quando se forem. As histórias deste Aparecido eu tentarei registrar, pois ele quer falar, precisa falar e buscava quem o ouvisse. Em breve estaremos por aqui, contando um bocadinho do que conseguirei extrair de sua fervilhando cabeça. Eu, desde que li o primeiro comentário dele, depois o transformei num post e agora o fui conhecer tinha a mais absoluta certeza, estava diante de alguém cuja história precisa ser resgatada. Farei só a minha parte, a de juntar o que me conta e passar adiante. E já me surgiram outros tantos nomes, todos fazendo questão de deixar bem claro: se for pra defender o DAE estaremos sempre a postos. É com esses que eu vou...

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