segunda-feira, 11 de abril de 2022

AMIGOS DO PEITO (196)


EU TÔ VOLTANDO
1.) A HISTÓRIA DA DESPEDIDA
Eu e Ana Bia estávamos nos despedindo da cidade, últimas comprinhas na praia mais famosa de Natal e numa loja próxima da pousada, pouco antes de fechar as malas escutamos um daqueles diálogos demonstrando a crua e nua realidade brasileira. A balconista, muito simpática, conversando conosco, loja abrindo as portas, ainda quase nenhum cliente, brinco com ela, dizendo da vontade de antes de partir, atravessar a rua a adentrar pela última vez o mar. Ela sorri e diz: "Sabe, que trabalho aqui há quase cinco anos e nunca entrei no mar neste local. É que pego dois ônibus para vir trabalhar, quase hora e meia de percurso, depois o trabalho o dia todo, depois o retorno. Não dá tempo. E quando chega o dia de minha folga, não sou louca de enfrentar novamente isso tudo para entrar no mar aqui. Fico lá pela Zona Norte mesmo".

Sua fala cala fundo. Não é nem um pouco diferente das ouvidas em outros lugares. Ana me contava tempos atrás de pessoas simples do subúrbio carioca, dos seus tempos de Rio, trabalhadores do dia a dia, que vinham também da Zona Norte (sempre ela, representando a periferia, enquanto a Zona Sul representa a nobreza, o canto dos mais abastados) e nunca haviam pisado em Copacabana. Não existe como, num momento como o vivido por nós, final de férias, voltando pra casa, ser colocado assim de bate pronto com a nua e crua realidade deste imenso país continental, suas mazelas e contradiações, muitas seculares. Não deixo de viajar, quando posso por causa disto, mas lutarei sempre para ao menos diminuir essa enorme diferença existente entre os que ainda usufruem e os que, bem pertinho dela, não conseguem. Tenhamos todos melhores dias para este nosso país, nessa incessante luta pelo fim das injustiças sociais. Este é só um mero exemplo, nada mais do que isso.

2.) HERZOG SEMPRE

3.) NA DESPEDIDA DE NATAL, AGRADECIMENTO ESPECIAL AO GAROEIRO
Garoeiro, como sabem, é o professor Jeferson Barbosa da Silva, professor aposentado de Física da Unesp Bauru, com nove anos de Natal e de Pontas Negra RN. Ele fez questão de ciceronear o casal e muito mais que isso, de trocar muitas ideias. De suas conversas nascem muitos dos meus relatos. No último dia ganhei um novo bloquinho de anotações - peça inseperável em minha indumentádia para sair às ruas - e ela foi inaugurada com algo do que ia ouvindo deste. Jeferson foi um brilhante professor e hoje, de seu bunker - que ele chama de bangalô -, continua plugado no mundo e aguçado observador. Depois de tudo, fomos convidados para uma peixada em seus aposentos, noite de domingo, quando mais uma vez ouvimos suas histórias e o conhecemos melhor. Saímos de lá com aquela saudade dilacerando as entranhas, pois estaríamos desde então privados dessa boa conversação, que no meu caso é também indutora para a contenda. Ele leu muito durante sua vida toda e também fez, não só como professor, mas como Diretor de Cultura, dos tempos da administração Tidei de Lima. Ele foi um administrador que além de fazer Cultura, frequentava todos os fazeres, ou seja, estava no gabinete e na frente, assistindo e pulsando junto. Grande pessoa humana, hoje desfrutando de sua merecida aposentadoria e sapiente como só ele sabe ser, se enfronhando nos meios mais poulares desta cidade, conhecendo cada vez mais, de perto, in loco, dos avanços e recuos de nossa história. Um marxista na acepção da palavra, teórico e prático, dono de uma memória mais que louvável. Jeferson é um homem feliz, um lobo solitário, mas rodeado de gente pulsando vida, pois só frequenta lugares assim, onde pulula povo, daí vive bem e muito mais. Não poderia deixar de, na partida dessa intensa convivência que tive por aqui, render homenagens a este bardo - dos poucos que nos restam. Continuarei me servindo de suas diárias mensagens internéticas, ligado que está em Bauru e no mundo, mas estar com ele é de inigualável sabor e aprendizado. Todos que vierem até Natal, querendo ser de fato recarregados para não desistir da luta pelo social, o procurem, pois do seu escritório sentado na areia da praia ou em qualquer mesa de bar - indicado por ele - ou outro lugar, gotas de sabedoria serão acrescentadas em nossas vidas. Saio de Natal fortalecido pra a contenda que se avizinha.
Ele fez questão de usar as duas camisetas do bloco, comprada e só agora entregues, nas andanças por Natal RN. 

4.) A FARRA ACABOU...
"Diz que eu tô voltando". Ethel Spetica da Selva me explica algo da Cidade Sem Limites: "Bom retorno! Em Brasília a farra continua. Aqui em Bauru, estão meio quietos. Devem estar esperando o resultado do ouro do MEC...".
Próxima parada Bauru
HPA e ABPA

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