domingo, 15 de maio de 2022

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (165)


DIAS ATRÁS ESCREVI DO POETA MARGINAL FRANCÊS FRANÇOIS VILLON E...
"Quando Villon chegou às portas do céu,
Até Nossa Senhora tremeu e rezou.
Deus Pai graciosamente o deixou entrar no céu:
Porque sempre me procuraste, serás bem-vindo.
Agora me encontraste, não és mais poeta.
Junta-te ao bem-aventurado exército de anjos.
Então Villon sorri, sério – e dá um soluço:
Venho do mais profundo tormento dos infernos.
Se não permites que assassinos, ladrões, falsários, adúlteros,
Prostitutas, ladrões, bêbados, bandidos, esfaqueadores,
Que são meus irmãos, entrem no céu,
Então que não exista bem-aventurança para mim.
Não ficaria feliz por uma hora sabendo
Que no inferno um pobre irmão deve sofrer.
Deus Pai, adeus! Não quero felicidade hipócrita!
Vou voltar para o inferno para meus irmãos.
E não voltarei aqui até que a trombeta anuncie
Que Deus dá o reino dos céus também aos mais pobres.
Que Deus não zangou com o último pelo que ele fez,
Que não existiria sem Deus - porque Deus o quis.
Dê a todos os viageiros da terra a desejada paz! –
E abanou a mão para Deus. E mergulhou nas profundezas", KLABUND, poeta alemão em tradução Google do mestre Gilberto De Almeida Bessa. Um poeta fonte de inspiração pra toda uma existência. Me espelho no pouco que li dele, experiências com não concordância com a ordem estabelecida.
* François Villon, pseudônimo de François de Montcorbier ou François des Loges (Paris, 1431 — desaparecido em 1463) foi um dos maiores poetas franceses da Idade Média. Ladrão, boêmio e ébrio, é considerado precursor dos poetas malditos do romantismo.

DOMINGO TRANCADO EM CASA: DIA ÓTIMO PARA RELER ALGO MAIS DO VELHO E BOM "PASQUIM"
Continuo tentando manter algum isolamento para me reestabelecer por completo. Neste momento me encontro acorrentado aos pés da cama, tudo para não fugir e ir dar com os costados na feira dominical. Ontem, o mesmo procedimento para não ir presenciar o primeiro jogo das finais da série AIII, Noroeste 2 x 1 Comercial de Ribeirão Preto. Só não resisti e escapuli de estar, por pouco mais de uma hora, na reunião do PT local. No mais, linha dura e vendo tudo pela janela ou pela tela do computador ou TV. E papéis, muita leitura. Dentre as quais, algo para desviar a mente, um livrinho sobre a Lapa carioca nos anos de ouro, entre 1920 e 1937, por aí. Viajo com a então possível boêmia e de uma passagem, noitada numa boate e quando saem às ruas, tudo de pernas para o ar. Foi a Intentona de 35 ocorrendo do lado de fora e os de dentro só o perceberam na saída. Histórias de gente engajada e outras nem tanto, mais preocupadas com seu bem estar. Mas os trabalhadores na noite sofreram muito, como continuam sofrendo os de hoje, ambos sem registros em carteira.

Tudo isso me veem à mente com as leituras possibilitadas e sendo intercaladas, misturadas e das quais lanço lascas na hora do café, sem que Ana Bia, a companheira entenda muito bem os motivos de fazê-lo naquele momento. Quero por pra fora e, como ela, única ao meu lado, a uso como experimento do que vai saindo de minha cachola em plena convulsão. Agora mesmo, após ler um texto brilhante de Eric Nepomucemo, sobre o lançamento de mais um livro sobre o hebdomadário O Pasquim, "Rato de Redação - Sig e a História do Pasquim", do jornalista gaúcho Márcio Pinheiro (matriz, 192 págs), saio a cata de tudo o que tenho aqui em casa e me ponho a relembrar do velho Pasca. Comecei a ler, comprado na banca da antiga rodoviária, ali junto da estação ferroviária da praça Machado de Mello, nos meus 13 anos. Ia fazer Escolinha da Rede e o levava entre os cadernos. Era o must do momento a descoberta daquele tipo de linguagem e escrita.

Sinto falta de algo assim hoje, irreverente e também quebrando amarras e convenções. Aos 62, ando cansado demais da conta disso de seguir piamente regras de conduta, o tal do politicamente correto. Sempre mijei fora do penico e não será agora que acertarei o alvo. Talvez isso tudo se deva em partes também ao Pasquim. Minha querida professora bauruense e londrinense, Márcia Neme Buzalaf, que fez tese e amplo estudo em cima do tema, discorre sobre o machismo da turma pasquineira, o que não inviabiliza o conteúdo básico, o perpassado ao longo do tempo. Enfim, o espírito que guiava o semanário era: irreverência, criatividade, liberdade absoluta de expressão (e isso, debaixo de uma ditadura cruel que censurava tudo), uma linguagem coloquial debochada, ousada e creio eu, ainda não muito igualada nos tempos atuais. Medramos muito e o Pasquim taí pra povar onde deveríamos estar e atuar. Ironizando com essa gente toda hoje no poder, caíriam até mais rápido, por inanição.

Quero comprar o livro sobre o Pasquim, mais um. Tenho vários e leio tudo o que me cai nas mãos sobre este tema. Ainda mais quando tenho algum tempinho. Queria ruar, conspirar e fazer mais a minha parte contra este golpe em curso, mas por alguns dias, no estaleiro, me ponho a ler e o Pasquim me revigora, fortalece, revitaliza e recarrega. Quero já fazer como ele na época da ditadura, ser fazer e acontecer e que se dane o resto. Tenho que me segurar nas calças e Ana o faz, com o torniquete nas mãos. Tenho aqui em casa, começado e não terminado de ler, a tese impressa da querida Buzalaf e nela mergulharei - desta feita prometendo, até o fim -, pois esse Pasquim é mesmo da pá virada e pode causar revolução na mente de quem se entroniza daquelas ideias de contestar e enfrentar os dragões da maldade com a cara e a coragem. Será que com essas dores espalhadas pelo corpo aguento o tranco? O Pasquim me faz crer que sim, enfim, como relembra Nepomucemo no artigo que li: "alguns dos ensinamentos poderiam muito bem ser lembrados pelos profissionais da imprensa: audácia, criatividade, curiosidade e pluralismo. Ou seja, tudo o que falta em nossos meios de comunicação". Viva o Pasquim!

Em tempo:
Do Pasquim original me restam poucos exemplares, uns 50, mas da segunda versão, o PASQUIM 21, tenho todos numa caixa e se a contenda aí do lado de fora permitir, começarei a releitura desde já, ou nos próximos dias. Num formato jornalão, durou pouco, mas tentando reunir a nada de antes, assim como revista BUNDAS, são deliciosos. Me ajudam na subversão, excitação e ereção...

A AMEAÇA GOLPISTA ESTÁ FEITA - QUEM SE INCOMODA COM ELA?, POR MINO CARTA
As páginas da nova edição de CartaCapital mostram uma figura atual do governo Bolsonaro. Caso comparada ao boi da cara preta, este parecerá um jovem garboso, quem sabe disposto a versejar em tardes ensolaradas. Em sua função de ministro da Defesa do Brasil de Bolsonaro, apresentamos o general Paulo Sérgio Nogueira, este sim habilitado a assustar o país que haveria de defender. Na proximidade das eleições de outubro, ele avisa que as Forças Armadas brasileiras estão sempre alerta para cumprir sua tarefa constitucional. A ameaça golpista está feita.

A tal garantia do papel dos militares consta do artigo 142, cujo teor, quero crer, escapou ao presidente da Constituinte de meio período destinada a preparar o futuro, o doutor Ulysses Guimarães. Esta referência não consta de nenhum texto constitucional de países democráticos e civilizados. É coisa nossa, tipicamente nossa, atribuir às Forças Armadas o chamado papel moderador, com o peso que pode ter qualquer passagem da nossa Carta. É nela, evidentemente, que se baseiam os militares que, desde a derrubada da monarquia, infestam o País com seu golpismo inelutável apoiado pelas armas.

O golpe de 1964 é uma das grandes desgraças brasileiras, juntamente com a colonização predadora e a escravidão. A fala do ministro da Defesa foi enriquecida por um encontro anterior com o presidente do STF, Luiz Fux, aquele que faria a alegria de um sioux, caso o encontrasse, e, além do mais, pronto a aplaudir, até esfolar a palma das mãos, o discurso do general pronunciado em um tom imaginável, embora fosse evidente a ameaça golpista. Faz tempo verificam-se manifestações de contrariedade fardada e, sobretudo, de pijama à vista da eleição.

A ameaça está clara, mas quem se incomoda com ela? Desde o povo até os empresários da Fiesp, não reagem, inseridos em uma normalidade à brasileira, a mostrar algo assim como um misto de abulia e ignorância. Um dado positivo é representado pelo discurso pronunciado no lançamento da candidatura Lula, no início da campanha, pelo vice-presidente da chapa, Geraldo Alckmin. Um discurso substancioso, temperado com sutileza por passagens carregadas de senso de humor, a esclarecer a escolha do ex-governador de São Paulo como companheiro de chapa de Lula. Está no ar, contudo, a ameaça golpista do general Nogueira, favorecida pela tibieza tanto do Supremo quanto do Congresso e amparada pelo famigerado artigo 142.

Vale neste instante celebrar a ausência do embaixador dos EUA, Lincoln Gordon, que não hesitou em conspirar com os golpistas de 1964, ao ventilar a chegada às costas brasileiras da frota atlântica norte-americana. Convém louvar hoje a presença na Casa Branca de Joe Biden, disposto a determinar mudanças cruciais na política exterior de Washington. De fato, é do Departamento de Estado que emergem esclarecimentos muito significativos deste ponto de vista. Tio Sam agora nos sorri e manifesta contrariedade diante das posturas do general Nogueira.

Tentativas de golpe na América Latina serão condenadas, conforme os porta-vozes do Departamento. Não é trabalhoso demais estabelecer uma ligação de causa e efeito entre as posições de Washington e a ameaça golpista do bolsonarismo previamente amedrontado pela proximidade das eleições.

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