domingo, 10 de julho de 2022

AMIGOS DO PEITO (200)


MEU PERSONAGEM DO DIA - ZANELO E SEU GAUCHISMO, EM MAIS UM EPISÓDIO DE "RUAR É PRECISO"
"A coisa mais bonita que há no mundo é viver cada segundo como nunca mais", poeta Vinicius de Moraes - eu sigo este mandamento.

Eu precisava de um só motivo para esquecer, pelo menos por algumas horas, das agruras da crueldade deste mundo. Sei o quanto é impossível se afastar de tudo o que nos cerca, mas em alguns momentos, se faz necessário um recarregar de baterias, até para na sequência, com energias recuperadas, dar reínicio no processo de turbulência em que todos estamos enfurnados. Sai de casa com esre propósito, o de encontrar um refúgio e ele me surgiu com a proposta do amigo Luiz Zanelo, fotógrafo de quatro costados, recentemente aposentado e também violeiro dos bons. Zanelo é tipo do cara que já fez de tudo um pouco na vida, estradeiro como poucos, com muito quilometro rodado e cheiuo de boas intenções, matuto cidadão desses que, só de bater os olhos a gente se sente entusiasmado e o acompanha, pois sabe de antemão, dali só sai coisa boa. Já escrevinhei muito dele aqui pelas ondas mafuentas, diversas histórias, desde as mais simples, como algumas complicadas. Um sujeito desses pelos quais a gente coloca a mão no fogo e não tem perigo de se queimar. Meu amigo de longa data.

ZANELO É VIOLEIRO ESTRADEIRO E HOJE, GAUCHESCAMENTE VEIO ME PROPOR ALGO
"Henrique, você me acompanha no domingo que vem numa caminhada na feira? Vou eu e o parceiro José Nitto". Compromisso assumido, já fez uma prévia do que virá pela frente. Eis a gravação de como tudo começou:

Enquanto ontem muito se falou de uma tal de Marcha com Jesus e o que me menos se viu foi atos religiosos. Tudo feito para beneficiar e favorecer esse insano presidente, adoecendo o País em cada aparição. Ainda ontem, um vigilante, comemorando sua festa de aniversário com tema petista, tem um carro para diante de sua porta e de lá sai um demente de arma em punho e mata o dono da festa. Isso dias depois de Bolsonaro dizer num dos seus pronunciamentos que, "vocês sabem o que tem que ser feito". Essa pregação de ódio precisa ter fim e nestes três próximos meses, deve acontecer de tudo neste Brasil, mas se faz necessário enfrentar a perversidade e vergá-la, pois do contrário não teremos mais gosto de fazer o que fiz hoje, o de sair livremente pela rua, cantarolando e expressando felicidade. Eu e Zanelo, ele todo paramentado como gaúcho, subindo e descendo a feira, trombando com conhecido. Um destes, olhou pra vestimenta dele e disse: "Olha o viado!". Sabe como reagimos? Eu olhei pro Zanelo e disse: "O cara conhece eu ou a ti?". E continuamos garbosamente nossa caminhada.

Zanelo queria brincar, passear sem ser identificado, mas isso é impossível. Muita gente acreditou no gaúcho ali diante dos olhos e assuntou, tiraram fotos e se aproximaram para conversar. O diferente chama a atenção. Passamos na banca de ovos do Moisés, onde ambos são amigos de longa data e Zanelo tenta emplacar que o amigo não o iria reconhecer. Este o rodeou, cheirou e bastou abrir a boca, pronunciar algumas poucas palavras pra cair no descrédito. "Não tem jeito. Essa voz é inigualável. Esse gaúcho eu conheço, é de Pederneiras". Zanelo não se conformava, pois queria continuar disfarçado. Pediu para o amigo falar baixo, mas ele não parava de rir. Saímos de lá e em muitos outros lugares, muita galhofa nas trombadas pela frente. Betinho, filho de um dos mais velhos feirantes da feira, hoje revendendo eletrônicos, tirou fotos e aproveitou para convidá-lo para cantar em sua festa de aniversário. Zanelo se esbaldava e eu junto, ambos esquecendo de tudo o mais.

ZANELO E BARBA - QUANDO DUAS FIGURAÇAS SE ENCONTRAM SAI FAÍSCA DE SUAS BOMBACHAS. No meio do percurso da feira, paramos no Bar do Barba, este no seu dia mais movimentado, mas isso não o impede de parar tudo, ir buscar algo de igual teor (roupa pampeira) e voltar todo paramentado, colocar algo para rodar na máquininha de musica e tocarem juntos, com direito a alguma dança. Eis o link: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/990375434981586/

O propiciado pelo Zanelo e que tanto bem me fez, é algo mais do que necessário, até para não perdermos totalmente o juízo, diante de tanta iniquidade, essa já quase nos cercando e querendo tomar conta de tudo. Sair pelas ruas e se embaralhar junto as pessoas numa feira é ainda uma possibilidade real de sentir o pulsar das ruas. Zanelo, quando fotógrafo, vivenciou isso em todos os dias de sua vida, pois seu trabalho sempre se deu entre os mais simples. Enquanto conseguiu manter aberto seu negócio, foi o registrador de pequenos eventos, de toda qualidade. Registrou desde casamentos, festas, jogos de futebol, visitas de autoridades e tudo o mais para o qual era contratado. Depois de aposentado e devido aos novos tempos, todos se tornaram um pouco fotógrafos e ele perdeu espaço. Passou o tempo pandemia longe dos encontros de violeiros, algo também a lhe ocupar a vida. Se safou por causa de uma pequena chácara, lá pelos lados do Jaraguá, de onde planta desde mamão a mandioca. Agora, quando percebe tudo um pouco mais calmo, quer tocar por aí, rever pessoas e assim me convidou para irmos juntos feirar hoje pela manhã.

Andar pelas ruas é trombar com conhecidos, que nos abordam e muitos até então desconhecidos, esse se achegando para uma conversa. Muitos se aproximavam por causa de sua vestimenta. Demos trela e ganhamos a manhã. Mas nem tudo é alegria. Impossível não notar que algo está completamente diferente nas ruas de nossas cidades. A pobreza aumentou, a miséria bate a porta de muitos. Enquanto andávamos, três pessoas se aproximaram com a mãosa estendida e clamando por alguma ajuda. Não existe como se manter indiferente a isso. Saímos para tentar ao nosso modo e jeito dar uma disfarçada na angústia que nos atormentava. Conseguimos o intento, mas também nos certificamos de que, a Bauru pós pandemia está mudada, muito diferente e nós também estamos, da mesma forma, alterados, um tanto mais tristes. Enfim, mesmo tentando disfarçar, impossível fugir da realidade que nos cerca. Eu e Zanelo sabemos disso. Não somos bobos alegres. Só queríamos perambular um pouco e tentar se alegrar internamente. A rua nos propiciou, como já sabíamos, esse recarregar necessário de energias, tanto que, agora com o seu parceiro, Zanelo quer voltar no domingo que vem e cantar na feira, descer a Gustavo cantando e encerrar seu show, ou no Bar do Barba ou no meio da Feira do Rolo. Eu me comprometi a reunir meus amigos (as) e convidá-los para nos acompanhar nessa romaria.

Todo o percurso feito na feira com Zanelo é inesquecível, mas teve algo mais. Quando nos despedimos de todos, caminhávamos a pé até o Mafuá, onde deixei o meu carro e ele sua moto, pouco antes da linha, cruzamos com um guardador de carro, trajando uma vistosa camisa do Corinthias e este olha incrédulo para a dupla indo atravessar os trilhos e nos diz: "Para onde vão? Pegar o trem?". Bem que queríamos...
Dupla se recarregando de energias positivas na feira dominical.

UMA HISTÓRIA MUITO TRISTE E FATAL NAS ENTRANHAS DE AREALVA
Noite passada, zona rural de Arealva, um casal de meia idade voltava da festa de casamento em Boracéia, com destino a Marilândia, pequena vila na beira do rio Tietê e ao passar por uma ponte, estrada de terra, algo ocorre, ele na direção, perde o controle do carro e cai dentro de um pequeno rio. O acidente é fatal para o motorista, mas não para sua esposa. Ela permanece desacordada por algum tempo e ao acordar, consegue sair do veículo, mas ao ver uma onça bebendo água ali muito perto, assustada volta para o carro, onde permanece até o dia clarear. O acidente só é descoberto na manhã deste domingo, quando sitiantes a descobrem sobre a ponte, ouvem sua história, lhe oferecem ajuda, alimentos e ligam para o socorro. Este chega ao local, retira o corpo do marido e a leva para o atendimento hospitalar. Falam em provável infarto, o causador da perda da direção.

Conto aqui, algo ouvido de uma só pessoa, versão única e desde o primeiro momento, me despertou um algo mais. Queria saber detalhes, a pessoa os sabiam poucos. Intrigado com essa história, uma dentre tantas ocorrendo pela aí neste momento, as tais crueis fatalidades da vida. O retorno de uma festa e tudo se transformando em tragédia, numa estrada de terra, sem nenhum movimento naquela hora da noite, mas mesmo assim, a perca da direção e o acidente fatal. Basta um só descuído, um deslize, um mero movimento brusco no veículo, ele num ponto da estrada, onde ali adiante, a tal ponte, o rio, o choque e as consequências fatais. Como pode, enfim, declinar em tão rápida alteração nas nossas vidas um simples descuído. Não devo conhecer nenhum dos dois deste triste episódio, mas fico impactado pelo relato ouvido. Tristes histórias.
OBS.: Vasculho algo a respeito nas redes sociais e encontro essa foto no site de notícias de Arealva, o Arealva Informações, também com poucos detalhes.


O QUE TODA RELIGIÃO DEVERIA PREGAR
Eu na minha vâ e ingênua ignorância, dianta das atrocidades que vejo acontecer neste mundo onde me situo, não sei nem como qualificar a atitude do padre Julio Lancelotti em sua homília numa igreja paulistana. Rendo todas as homenagens a este homem em busca de justiça social, algo que só conseguiremos, pelo visto, com muito "sangue, suor e lágrimas".
Eis o link dele em sua igreja versando sobre a bestialidade do auxílio moradia para os juízes, os detentores dos mais altos salários deste injusto país: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/posts/pfbid029wcgxebBhuCCgzSK2R8eYi9fWQy13SpxiXRncg6X75MvurQWbvXKZ839K9yFsdVSl

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