domingo, 11 de setembro de 2022

REGISTROS LADO B (102)


NO 102º LADO B, DIRETO DE BUENOS AIRES, SANTIAGO PACHECO, CANTANTE AMANTE DA BOSSA NOVA E DE VINICIUS DE MORAES, CRÍTICO DO ÓDIO REINANTE EM SEU PAÍS, QUASE RESULTANDO NA MORTE DE CRISTINA KIRCHNER.
Com o máximo prazer possibilito amanhã, domingo à noite uma conversa internacionalziada no 102º LADO B - A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES. Um assunto permeia hoje as relações internacionais nessa nossa América Latina, o ódio reinante , capitaneado pelo LAWFARE, espécie de pelotão de fuzilamento judicial e midiático contrário a qualquer avanço social e na defesa da classe trabalhadora. SANTIAGO PACHECO, ou só Santi Pacheco é buenarista, viajante e andante do mundo, músico, amante principalmente das canções de Vinicius de Moares e, consequentemente, da Bossa Nova. Sua história de vida está entrelaçada com a brasileira. Viveu anos em Florianópolis, fala um ótimo português e além da m´pusica é um entusiasta pela Pátria Grande, que nada mais é do que a libertação dos povos latinos, num entendimento coletivo, onde os países atuariam de forma coletiva e integrada.

O convite para este Lado B nasceu da forma mais inusitada possível. Estive em Buenos Aires um mês atrás e passeando num dos bairros mais envolventes de Buenos Aires, o de La Boca, psso diante de um restaurante com m´suica ao vivo e noto uma canção brasileira sendo cantada em castlehano. Paro, ouço, assunto, adentro o local, bato palmas e me apresento. Era Santigo, ficamos amigos. Conversamos e bebemos um vinho juntos. Ele, assim como este HPA, ama seu país e o defende com unhas e dentes. Falamos de tudo o que ocorre lá e aqui. Fico de voltar e levo mais pessoas para ouví-lo dois dias depois. Mais música e conversa. Nos intervalos nos conhecemos mais e mais. Ele conta de suas andanças e do que vai pela sua cabeça. Um ser pensante e vibrante, desses não conseguindo se segurar diante da inconsequente ação neoliberal dos tempos atuais, uma versão muito piorada do capitalismo.

No espaço de tempo entre minha volta ao Brasil ocorre o atentado eivado de ódio contra Cristina Kirchner e as ações com bolsonaristas armados nas ruas se intensificam no período eleitoral. Das conversas tidas com Santiago, tinha a certeza dele ter muito para contar para nós brasileiros, ou seja, juntar histórias e falar disso ao vivo, numa conversa entre amigos, informal, porém reveladora. O convido, ele topa e gravamos ontem uma chamada. Em onze minutos ele se mostra muito mais do que uma pessoa esclarecida e é dado o pontapé inicial para algo grandioso dentro do projeto aqui iniciado. Falamos muito em off e me diz: "Nos últimos dez anos, o periodismo argentino e brasileiro perderam a vergonha, a compostura e a lisura. Querem e propagam a briga de rua, o quanto pior melhor, para a partir daí implantar o seu sistema. É muito grave o que está acontecendo em nossos países e em muitos outros da América Latina". Versamos também sobre o seu habitat natural, a música e a Cultura: "A Cultura hoje é entretenimento, deixou de ser arte, tudo é banalizado. Um artista tem que falar do que sente, como vive, expor seus sentimentos. Ele não pode querer só estar ali para divertir e bailar. Infelizmente, os artistas ficaram em sua maioria condicionados e acabam interpretando um papel para viver de música. Sofrem uma pressão midiática e cumprem um papel de fotocópia, xeros de sucessos conhecidos e quase sem chance de expor o seu próprio trabalho. Aceitam isso e se condicionam".

Santiago sabe o que fala. Do momento atual me diz algo sobre o entendimento que devemos ter de compreensão para os iludidos: "É muito mais fácil difundir o ódio do que o amor. O ódio foi difundido e colou. Foi uma construção. O povo hoje é vítima, daí nas conversas nas ruas devemos se utilizar de frases para sensibilizar, sem ser agressivos. Procuro passar a ideia de que, o governo hoje necessita ser de todos, fazer algo para todos e não para um grupo restrito, os amigos. Tento algo para que enxerguem isso. Digo da necessidade de buscar políticos e políticas para que todos possam ter alguma coisa melhor e quando não enxergo isso nos governantes, busco os atuando dessa forma. Muita conversa, muito diálogo". Quando lhe explico dos motivos do projeto se intitular Lado B, ele compra logo a ideia: "Você e eu sabemos o quanto é cada vez mais difícil ser Lado B na América Latina, viver no Terceirto Mundo. Como é triste ver tantos do meio cultural deixando de fazer o que sabe por não conseguirem viver disso. Vão fazer outras coisas para sobreviver. Você resgata histórias destes e agradeço por ter me incluído neste rol dos personagens".

De tudo, tenho a mais absoluta certeza. Se conseguir a contento, extraio do encontro uma incolvidável e inesquecível conversa, algo necessário nessas possibilidades surgidas entre os povos latinos. Vivemos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes, incentivados a viver assim, isolados, quando poderíamos estar muito mais unidos, ligados e plugados por interesses em comum. Santiago falará também de sua infância, como se tornou músico, sua formação e suas histórias,seus envolvimentos profissionais e pessoais. Enfim, uma reveladora e contagiante história de vida. Vamos juntos?

Eis o link da gravação de 2h01, algo muito intenso, que não consegui interromper e desta forma, o deixei ir falando um pouco mais. Ao final, mesmo com a entrevista já concluída, creio que seu depoimento ao final, melhorou e se tornou um documento destes tempos:https://web.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/471998398144947

EU PRECISAVA CONTAR ESSA HISTÓRIA, OUVIR UM ARGENTINO E O FIZ...
CONHECENDO OS FATOS: "O que mudou e o que não mudou com o ataque contra CFK
"Discursos de ódio e ações violentas contra Cristina Kirchner e o peronismo, enquanto o futuro está em jogo na economia. A investigação judicial, suspeitos aparecendo. A oposição regateando rejeições. Discurso de ódio relacionado à violência. Massa em ação, macroeconomia e finanças. A inflação e as necessidades dos trabalhadores.

Dez dias se passaram desde o ataque contra a vice-presidente Cristina Fernández de Kirchner. O pior não aconteceu... é virtual mas pode acontecer. Dá medo repensar, rever as imagens. O que é real é inegável, a tentativa de assassinato que falhou.

As primeiras reações também são história. Manifestações em massa em todo o país abraçando Cristina. A sórdida barganha da oposição principal para formular rejeições, mais atentas aos puxões internos ou ao "o que vão dizer" das bases intransigentes do que para dar o exemplo. Ou para mostrar solidariedade com aqueles que estão engajados na mesma atividade que eles. O distanciamento emocional impressiona. Em Pasos Perdidos del Congreso, em tantos programas de rádio ou TV e (oh) em muitos encontros de café entre as pessoas comuns, pouco se paga à dimensão humana da vítima e seus filhos. Figuras políticas (até mesmo líderes) são pessoas de carne e osso. CFK vem de uma circunstância atroz da qual escapou por um milagre ou algo assim. Ele foi salvo de homicídio, sua vida mudou do mesmo jeito. O gesto de chamá-la, de lhe mandar um abraço, pareceria um andar de cortesia e humanidade. Não funciona assim aqui, em um momento ruim.

Este cronista continua a pensar que o crime coroa uma escalada de violência, que se enraizou anos atrás e se intensificou nos últimos meses . Não ocorreu por acaso naquele lugar e tempo. “Corresponde”, equaliza, é uma sequência do anterior. Pode acontecer que dois acontecimentos sucessivos não tenham correlação, há quem o diga desta vez. Continua-se a acreditar que a escalada levou a esse resultado e que não precisa ser o limite final. Talvez no fundo do poço, talvez não. O partido no poder denuncia o Together for Change (JpC) por ter criado o clima anterior e se concentra no discurso de ódio. Não faltam motivos, há leis nacionais e internacionais que tipificam e condenam.

O signatário desta nota pensa que a mera referência ao discurso de ódio talvez seja insuficiente porque não descreve as formas de violência real que foram sofridas nestes anos, cometidas durante a presidência de Mauricio Macri . Vamos rever um punhado, não exaustivo. A perseguição judicial de opositores, sua prisão sem condenação definitiva e às vezes sem julgamento. Os assassinatos de Santiago Maldonado e Rafael Nahuel, que não foram os primeiros desde a restauração da democracia, mas que incluíam a macabra novidade de terem sido instigados diretamente pelo governo nacional e depois reivindicados ou negados.

Episódios iniciais esquecidos, como notificar funcionários do Estado sobre demissões, pular as exigências legais (notificações escritas, especialmente telegramas), bloquear as catracas de entrada, humilhá-los, submetê-los a uma privação de direitos e a uma espécie de abuso corporal. Discursos de ódio, porque incitam, elogiam, agravam atos específicos de violência ou violação de direitos básicos. Por outro lado, a alusão e eventual sanção ao discurso de ódio não explica totalmente as variadas reações sociais à tentativa de assassinato. O apoio, sem dúvida, numeroso, para a posição dos líderes cambiamitas. Gambetas no repúdio compensam porque há pessoas comuns que os depositam ou pedem mais.

Além disso, é visível que muitos argentinos não se inscrevem nas manifestações de apoio ao vice-presidente ou nas diatribes da oposição. Que seguem suas vidas, que talvez não acreditem nos "políticos" em geral. Que em todo caso não sejam enquadrados ou preocupados pelas intensas minorias peronistas e cambiamitas.

A Pátria é o outro (grande slogan ou bandeira). É tolice ignorar a realidade, é mais construtivo compreendê-la para tentar modificá-la. A política foi inventada para isso. Uma força nacional popular tem o dever de ouvir para ampliar suas bases, somar, acumular forças, reformar ou revolucionar.

***

Factos, provas, tribunais: Fernando Sabag Montiel disparou um revólver próprio para disparar. Ele foi visto em flagrante, imediatamente preso. A presunção de inocência é abalada, ele é o autor da tentativa de homicídio. O Ministério Público tentará provar as circunstâncias agravantes. Entre outras premeditações, traições, crimes cometidos com a ajuda de duas ou mais pessoas.

A defesa tentará levantar circunstâncias atenuantes ou desculpas. É a estrutura do processo penal. As primeiras hipóteses, prematuras, foram distorcidas: tanto o negacionismo de alguns jornalistas “consagrados” quanto o do “lobo solitário” . O agressor contou com a ajuda de Brenda Uliarte que também está detida. As investigações indicam outros participantes ou cúmplices quase pregados. Na reportagem de capa deste sábado , os colegas Raúl Kollmann e Irina Hauser revelaram que há críticas da equipe de investigadores pela lentidão em apreendê-los. O arquivo começou horrível, atormentado por negligência. O conteúdo do celular de Sab ag Montiel foi apagado. Duas incursões foram "necessárias" em um estúdio com uma pequena área de superfície.

As barbaridades não surpreendem, são comuns em grandes e pequenas causas. A repetição não é uma desculpa ou consolo. Mas os tribunais são o que são. Comodoro Py por excelência. Não faltam casos ressonantes na memória dos especialistas e do público com provas perdidas, cenas de crime contaminadas, testemunhas falsas, especialistas improváveis… Desde os ataques à AMIA e à Embaixada de Israel aos assassinatos de María Marta García Belsunce ou Nora Dalmasso

Mais uma vez: Sabag Montiel não preparou o ataque sozinho. A lista de possíveis cúmplices continua a acrescentar nomes. A questão da gaveta permanece: eles eram uma quadrilha mais ou menos solta de neonazistas ou assassinos de aluguel pagos por alguém mais poderoso, “de cima”? No momento, comentam os especialistas (o signatário não é) não há elementos para afirmá-lo. Mas a investigação começa, o palco está aberto. A falta de jeito do agressor, a precariedade da arma nos levam a pensar em um grupo isolado, não profissional. Mas nada é definitivo. O assassinato de José Luis Cabezas foi cometido por "Los Horneros", uma quadrilha de lumpens comandada por policiais e ex-policiais por sua vez conspirados pela custódia do empresário Alfredo Yabrán.

O acompanhamento jornalístico e parlamentar é necessário para que juízes e promotores ultrapassem seus próprios registros, para que funcionem bem em algum momento. Eles não estão acostumados com isso, em geral. Em um deles nem sabem agir de acordo com a lei e com eficiência mesmo sendo responsáveis ​​por um crime de Estado. Vai ter que ver. As outras agendas, as pessoas comuns: Uma tentativa de assassinato deixa sequelas tremendas, mas não gera luto. O medo e a angústia se processam de outra maneira. O presidente Alberto Fernández acertou ao decretar um feriado para permitir que as mobilizações ocorram em um ambiente sereno, permitindo que os ânimos esfriem. A multidão respondeu com calma, civilidade e alegria. O sistema de produção não sofreu com o feriado, negando a agonia das berretas.

As tentativas do funcionário de estabelecer instâncias de diálogo colidem com a cultura política existente. A missa em Luján é instrutiva, vale como gesto e sinal de pertencimento. Ao mesmo tempo, apenas um e peculiar líder da oposição compareceu: o ex-presidente Eduardo Duhalde. Concordo com JpC frisa com o impossível. Bastante árdua é a tarefa do Congresso Nacional cumprir.

Com todas essas mochilas nas costas e no meio da comoção, o partido no poder tem que governar, se encarregar de “outras” agendas. O ministro da Economia, Sergio Massa, está em turnê nos Estados Unidos. Ele conseguiu que os exportadores agrícolas vendessem soja, garantindo-lhes um preço favorável para o dólar. Ele cedeu, encurralado pela necessidade. A macroeconomia está acomodada, explicam em torno dele e na Casa Rosada. O fantasma da corrida financeira diminui sem desaparecer completamente.

O desembarque de Massa reordena o Gabinete, fortalece o ministro, dilui a presença do presidente. A condenação judicial e o ataque contra Cristina provaram que ela é a figura política mais importante da Argentina. Eles a odeiam como ninguém, eles a amam como ninguém. O mapa político é reformulado, mas resta uma informação essencial: o CFK pode resolver ser candidato a presidente ou apontar quem poderia ser, sem horizonte de competição em nenhuma das duas situações. Para ser competitivo na câmara escura, o governo deve melhorar seu desempenho, deve se reconciliar com eleitores de 2019 que não o acompanharam em 2021 , deve ser uma referência positiva para milhões de pessoas que quebram as costas em troca de pouco salário. Eles vivem dia a dia, a maioria não consegue sobreviver.

Necessidades e emergências: a inflação de julho foi recorde, a de agosto doeu. As recentes eleições no Chile corroboram uma tendência global sombria para o partido no poder na hora de votar. O presidente Gabriel Boric se beneficiou e sofreu com isso em um tempo cruelmente curto. Um governo que chega às eleições com a inflação disparada tem poucas chances de se revalidar. A lógica política ainda existe em tempos tão conturbados quanto o presente. O partido no poder atrasa algumas decisões que vinham macerando semanas atrás. O aumento geral para trabalhadores registrados, seja bônus ou soma fixa, entre outros. Alberto Fernández anunciou um acordo geral sobre preços e salários acordado com a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e a União Industrial Argentina (UIA). A medida parecia difícil, mas nem sequer foi tentada. Medo sem especificar, um clássico fracasso do Governo. Demonstre as diferenças: a polarização política está crescendo, a direita está se tornando mais radical que seus oponentes, como foi escrito aqui há apenas duas semanas.

As controvérsias políticas geram um risco alertado em outras latitudes. Percepção do cidadão: “são todos iguais”. Não é verdade porque há projetos diferenciados em conflito com o que se verificou neste século na Argentina. Mas as contínuas polêmicas, as sessões que se frustram ou levam à gritaria aprofundam os preconceitos de muitos céticos ou desencantados. O deputado Javier Milei é um louco, um chantagista com pretensões. As pesquisas podem superestimá-lo. De qualquer forma, ele consegue uma audiência e aceitação quando mancha a todos igualmente com o sanbenito de "la casta". A apatia, a perda de interesse do público, o desinteresse pelo Estado. não prejudicam igualmente a direita e o peronismo. A direita muitas vezes chega a pescar naquele rio conturbado. No lance eleitoral doméstico, para dar um exemplo trivial, pode acabar associado a Milei ou atrair seus eleitores.

Um governo popular precisa estimular a participação, recuperar a confiança, melhorar a autoestima das pessoas comuns. Uma das melhores maneiras é atendendo às suas necessidades e interesses. Fácil de afirmar, difícil de especificar. Essencial ao mesmo tempo. Uma dobradiça na história, um antes e depois... Esta coluna insinua uma hipótese simples. A Frente de Todos tem o dever de melhorar a vida coletiva e o humor antes das próximas eleições. Tem mais chances de fazê-lo governando por meio de políticas econômicas e sociais populares do que classificando crimes, processando-os posteriormente. Os dois planos não são mutuamente exclusivos, é claro. Assinala-se qual é a prioridade há quinze dias, agora e no próximo ano".

mwainfeld@pagina12.com.ar

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