domingo, 23 de outubro de 2022

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (108)


COMPARTILHAMENTOS

01) *Domingo a gente faz um país*
Daqui a dez, trinta, cinquenta anos, os que ainda estivermos vivos poderemos contar com orgulho pros nossos filhos, netos e bisnetos: naquele domingo, 30 de outubro de 2022, eu estava do lado certo.

Não era um lado homogêneo, o dos que votaram pra salvar o país da catástrofe bolsonarista. Pelo contrário, éramos gente de todos os cantos do espectro político, mas que passamos por cima das nossas diferenças por concordarmos com alguns pontos inegociáveis. Que só poderíamos ter uma vida digna na democracia. Que, numa Terra redonda, a ciência é quem decide que remédio funciona e qual é charlatanice. Que quando centenas de milhares de brasileiros morrem, prestamos as nossas condolências e solidariedade, não os imitamos, às gargalhadas, morrendo por asfixia. Ao decidirmos votar em Lula e Alckmin naquele 30 de outubro não escolhemos uma chapa ou um partido político: participamos de um plebiscito entre ditadura e democracia.

Naquele domingo tão perigoso havia a chance real de um sanguinário se reeleger. Havia a chance real de que, num segundo mandato, ele aparelhasse o STF, mudasse a constituição, silenciasse a mídia, expulsasse, prendesse, torturasse e matasse adversários, como acontece na Venezuela, em Cuba, na Arábia Saudita, na Hungria, no Irã, na Rússia.
O que muitos de nós não percebemos à época, no entanto, é que havia ali também uma chance grandiosa. A chance de, pela primeira vez desde a redemocratização, unirmos os melhores quadros do país no mesmo lado. Por décadas, PT e PSDB preferiram buscar o apoio de bandidos do que se aliarem. Agora Lula está com Alckmin. Armínio Fraga e Emicida estão no mesmo barco. Boulos e Simone Tebet também. Quem já imaginou João Amoedo e Mano Brown declarando voto no mesmo candidato? Esse bando de gente tão diferente se uniu justamente para garantir o direito de continuar discordando.

Nos unimos por sermos conservadores: queríamos conservar a Amazônia. Queríamos conservar O SUS. Queríamos conservar as instituições e o estado de direito. Nos unimos porque éramos liberais. Acreditávamos que os brasileiros só seriam livres se tivessem, todos eles, pretos e brancos, ricos e pobres, educação de qualidade. Acreditávamos na liberdade de crença em todas as religiões. Acreditávamos que cada um deveria viver como quisesse, sem um Estado reacionário metendo o bedelho em assuntos privados. Nos unimos porque éramos revolucionários: acreditávamos que o Brasil não estava fadado ao fracasso, que ele podia muito mais do que aquela desgraça torpe que nos engolia, dia após dia.
* * *
Neste domingo, dia 30, vamos fazer história. Vamos votar no Lula e no Alckmin, vamos tirar o Bolsonaro da frente e começar a construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos e possibilidades. Para poder dizer aos nossos filhos, netos e bisnetos, algum dia, lá na frente, que o Brasil em que eles vivem, um Brasil justo, sem ódio, plural, diverso, próspero e generoso, foi fruto da nossa luta, fruto da nossa união.

Para isso ser tangível, é importante que o texto generoso criado pelo Antonio Prata, ganhe rostos e vozes. Leia, grave o texto todo ou a parte com a qual vc se identifica, e solte nas redes. Peça aos seus amigos que façam o mesmo. Vamos inundar o Brasileiro de fé no futuro. Vamos virar essa página de escuridão e dor. A hora é de apostar no amor e no vida. Solte a sua voz!

OBS.: As três fotos são da militância no Calçadão da Batista na tarde deste sábado, 22/10 e o texto, compartilhei de alguém ainda com capacidade escrevinhativa neste momento de nossas vidas.

02) Às pessoas que eu amo que optaram pelo Capitão, por Léo Moraes
Tem um poema maravilhoso de Baudelaire chamado “Os Olhos dos Pobres”. Nele o poeta descreve um dia passado com uma mulher maravilhosa, com um nível de afinidade e cumplicidade tal que fazia com que ele, cético, chegasse a acreditar na possibilidade de ter encontrado sua alma gêmea. Chega a noite, e a moça sugere que eles se sentem em um café num dos recém inaugurados bulevares de Paris (O poema data da época do Plano Haussmann, reforma que deu a Paris a forma que tem hoje. O local resplandecia em seu charme sofisticado e semi-acabado. O poeta descreve o entulho ainda na rua, o cheiro de tinta fresca, os frequentadores chiques com sua criadagem, a exuberância gastronômica. Eis que chega um homem com duas crianças, uma ainda de colo. Sujos e maltrapilhos, olhando contemplativamente para o maravilhoso café.

E Baudelaire lê, pelos olhares, a visão de cada um deles em suas idades. Ele se sente enternecido pelos olhares, e ao mesmo tempo um pouco envergonhado da fartura de sua mesa, e busca os belos olhos de sua amada, e acredita ler neles o mesmo sentimento que o inundava. Ela então diz “Essa gente é insuportável, com seus olhos abertos como portas de cocheira! Não poderia pedir ao maître para os tirar daqui?”. E, como um frágil cristal, a imagem que ele tinha dela se estilhaça, e o possível amor se torna desprezo.

Peço perdão a Baudelaire por resumir nas minhas palavras o que ele próprio descreve tão melhor em sua obra. Mas eu acho o sentimento expresso ali muito adequado ao momento atual, e não sei quantos de vocês terão a paciência de buscar o original (o que recomendo!). Muitas coisas podem ser tiradas da cena descrita no poema. A injustiça da desigualdade, o reconhecimento de uma posição de privilégio, a importância da empatia. Mas pra mim a maior lição ali contida é:
Existem defeitos que são imperdoáveis.

Em várias ocasiões em que fui conversar com alguma pessoa próxima que vota nesse cara, as pessoas tentam levar a discussão para o lado de corrupção, ou de economia, ou da importância de tirar o PT, ou sei lá. O problema é que pra mim a opção passa por um lugar muito mais profundo, de humanidade, e moral básica. É simples: eu não voto em quem idolatra torturador. Eu não voto em quem fala que o erro da ditadura foi ter matado pouco. Eu não voto em quem diz que preferia ver o filho morto do que sendo gay. Eu não voto em quem diz abertamente que é contra a democracia. E mais uma lista de aberrações que esse cara disse, que são tantas que não dá nem pra listar.

Perto disso tudo, discussões sobre estado mínimo, direita e esquerda, reforma da previdência, educação, segurança, ou outras pautas, que tanto precisamos discutir como país, ficam insignificantes. É como se na eleição do condomínio um dos candidatos a síndico te desse um soco na cara, um chute no saco, matasse seu cachorro, e depois viesse querer discutir de que cor tem que pintar o portão, e pedir seu voto. Não dá.

O que ele fez foi roubar de nós a oportunidade de discutir que rumo queremos para o país. Não dá pra debater propostas, com um projeto como esse perigando ganhar. Então não se trata de um discussão meramente política, é uma questão de valores humanistas. Mesmo se eu achasse as propostas desse Jair sensacionais, eu ainda assim votaria contra ele. “Mas e o PT?” Foda-se! Qualquer um! Se fosse qualquer um dos candidatos, de todas as eleições desde 89, contra ele eu votaria. E olha que essa lista tem Maluf, Collor, etc.

Olha, eu também não gosto dessa polarização, externei minha opinião no primeiro turno, votei em outro candidato, acho que esse segundo turno prolongou por 4 anos essa inhaca que estamos passando. Tenho muitas críticas pesadas ao PT, quem me conhece sabe. Mas não há dúvida sobre qual o voto errado aqui. O mundo está vendo, todos os jornais importantes, de direita e esquerda, de todos os países, estão alertando. Até Madonna e Roger Waters sabem. Tem focinho de fascismo, rabo de fascismo, orelha de fascismo. O que é?

Tenho pessoas amigas que já estão sentindo na pele os efeitos dessa escalada na intolerância, e olha que ele nem ganhou ainda. Então o que eu estou fazendo é um apelo. Pensem bem, vejam de novo os vídeos com as falas abomináveis desse candidato. Não o que ele diz hoje, atenuado pelos marqueteiros, mas o que ele faz e diz há décadas. Por favor repensem, não entreguem o país para esse monstro sob o argumento de “pelo menos tiramos o PT”. Como Baudelaire tão bem nos mostra, alguns defeitos são sim imperdoáveis.
OBS.: As três fotos são de alguns, como eu, que neste domingo, estávamos nas ruas, mais precisamente junto da feira dominical da rua |Gustavo Maciel, amais movimentada aos finais de semana na cidade. 


TÁ CHEGANDO A HORA
Domingo que vem é o dia, grande dia da possibilidade real e concreta e ser dado um basta neste estado catastrófico em que o Brasil foi atolado após o golpe de 2016, o que destituiu Dilma e possibilitou a chegada de Temer e depois de Bolsonaro ao poder. Desde então, o Brasil só perdeu e hoje, situação de fundo de poço, muitas mentes viradas, transformadas pela ação de uma mídia cruel e insana, além do mar de fake news. Os hoje no poder possuem uma capacidade de destruição do Estado desenvolvimentista em tão pouco tempo e o realizaram sem dó e piedade. Foram três anos e meio de estagnação, gerando alto desemprego, aumento da pobreza e recolocaram o Brasil no Mapa da Fome. Cerca de 80% da população brasileira está endividada e 67 milhões de brasileiros constam da lista dos inadimplentes do SERASA. O Brasil ocupou o lugar de segundo País com o maior número de mortos, atrás apenas dos EUA, e foi o primeiro colocado no rol de mortes por habitantes. Nossas empresas estatais foram privatizadas ou submetidas à gestão privada e trabalham contra o interesse público, para render polpudos dividendos aos acionistas, a maioria estrangeiros. O próximo governo vai herdar um orçamento para 2023 sem recursos suficientes para o pagamento das despesas obrigatórias do governo federal, com um buraco de cerca de 400 bilhões de reais, entre novos gastos e desonerações tributárias. A saída é Lula e a retomada do País pelos que o querem grande, forte e altaneiro.

O "L" DE LULAR (21)
Sinto muita saudade de Lázaro Carneiro, meu amigo, poeta e eletricitário aposentado, sindicalista dos mais resistentes e destes que nunca teve medo de se posicionar diante do que via pela frente. Essa família, os Carneiro's são todos assim, bravos guerreiros, unidos e coesos, bem cientes e sempre atuantes. Dias atrás questionei um deles, mesmo já sabendo, do posicionamento diante do país nos tempos atuais e em pouco tempo recebo foto da matriarca Maria Garcia Carneiro e do patriarca Antonio Miguel Carneiro (foto acima) fazendo o sinal característico de estar junto de Haddad governador e Lula presidente. Na sequência, assim do nada, mais uma, do artista e fotógrafo Luiz Henrique Carneiro. Com estes é assim, cutucou um, vespeiro alertado e todos, coesos pra tudo, já demonstram a que vieram. Com esses Carneiro's todos, a certeza de sempre estar na lida e luta em prol de um país sem injustiças e opressão, sem decepção. Enfim, resistir é preciso. Se for pesquisar junto deles é bem capaz de dar 100% no 13 no próximo dia 30.

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