sábado, 25 de fevereiro de 2023

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (172)

museus 

MIRÓ, CRIANÇAS E O ENTENDIMENTO HISTÓRICO*
* Meu 98º artigo para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo, edição circulando a partir de hoje:

Mal o Carnaval acabou, parti com a esposa, num retorno memorável ao Velho Mundo. Conto algo de Barcelona, Espanha e ocorrido hoje, sexta, 24 de fevereiro. Percorremos vários museus e num deles, a Fundação Joan Miró, na parte alta de Barcelona. Poderia discorrer muito sobre o que sempre se aprecia em lugares assim, parte da história revivida, viva e pulsante. Antes de adentrar o que me faz escrever este texto, lembro dos tempos quando era presidente do CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Bauru e numa reunião com proprietários de importante edificação histórica, eles não a queriam tombada de jeito nenhum e o argumento utilizado foi este: “Viajo e sei da importância destes tombamentos, mas na Europa, não aqui em Bauru e justamente numa edificação de minha propriedade”.

Isso nunca mais me sai da cabeça. A tal edificação foi tombada, mas só a fachada, contrariando os interesses dos proprietários, que queriam liberdade para derrubar tudo ao seu bel prazer. Na verdade, não entendem lhufas de tombamentos históricos e do quanto isso pode ser vantajoso para proprietários. Viajo no pensamento e anos depois, nem o Codepac existe mais a contento em Bauru, pois quando uma administração municipal não se empenha neste ideal, tudo se perde. Com o advento Bolsonaro tudo piorou e não só as edificações antigas foram sendo derrubadas ao bel prazer, tudo para favorecer interesses imobiliários e financeiros. O ocorrido com o meio ambiente é a cara deste período, hoje felizmente, sendo substituído por algo bem mais palatável.

Junto tudo isso e hoje, lá no interior do Museu Miró, vejo algo da importância da Educação (com M maiúsculo) no quesito entendimento do que seja Arte, História e reconhecimento do passado na construção de futuro altaneiro e pujante. Encontro dentro do museu três grupos de jovens, crianças de 6 a 10 anos, todos em atividades com seus professores, em rodas animadas de conversas. Vê-los sentadinhos e atentos no que seus mestres lhe diziam sobre Miró foi algo me batendo como um choque térmico no cérebro. Tudo começa muito cedo e aqui, se existe isso da valorização para a História, isso se deve a esse início desde os cueiros.

Quando isso não ocorre desde cedo, algo como o ocorrido no dia 08 de janeiro, com a destruição de obras de arte, puramente como demonstração de força, sem nenhum bom senso, a certeza de que, o país caminhou por descaminhos irrecuperáveis. Reverter isso será questão de décadas, isso se ocorrer boa vontade. Aqui em Bauru temos três museus e todos encontram-se fechados, sem projeção de voltarem a funcionar para o público. No passado, muitas escolas levavam seus alunos para visitas nestes locais e recebiam aulas dos seus monitores. Hoje tudo foi desmantelado e nada mais acontece.

Num país onde nem os museus funcionam a contento, como esperar que alunos se sintam interessados em visita-los e gostar do que ali encontram. Quase impossível. Nossa recuperação educacional precisa ocorrer a toque de caixa, para não termos este país mais perdido do que se encontra em seu atual momento. No museu Miró, vendo a cena das crianças interessadas em Miró, com o que havia ouvido anos atrás da proprietária de imóvel histórico e sei, nada será fácil, mas continuar tentando se faz necessário.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).

DOIS COMENTÁRIOS NO MEU TEXTO:
1 - "Fui professor efetivo da rede Estadual numa escola em Bauru. Se nem a escola, a equipe, dirigentes valorizam a disciplina de Artes, imagine o resto. O fechamento dos museus aqui em Bauru é uma piada muito sem graça. Essas pessoas que estão no poder hoje nem imaginam o estrago que estão fazendo. Recuperar o tempo perdido será tarefa hercúlea", Ronaldo Gifalli.
2 - "Exatamente... Foi numa viagem a Europa, após vermos tantas crianças em museus e pinacoteca, que tivemos a idéia de criar a ONG Sementes do Bem... As crianças são iguais no mundo todo... O adulto no que se transformam é reflexo do que lhes oferecemos na infância e adolescência... Nós começamos com 12 crianças há 13 anos... Hoje 8 já estão na universidade...", Benedito Falcão.

PARK GÜELL, OBRAS AO AR LIVRE ARREDORES DE BARCELONA

SAINT PAU, PRIMEIRO HOSPITAL PÚBLICO DE BARCELONA, HOJE JÓIA RARA ARQUITETÔNICA MODERNISTA


FECHANDO E LACRANDO O DIA, MUSEU DE DESIGN DE BARCELONA
Casa de Ana Bia Andrade, o de ela se sente em cada, sua praia. Tirou foto de tudo, trouxemos folhetos mil, livros sobre as exposições e onde permanecemos mais tempo. Um bar temático delicioso, tudo dentro do padrão catalão de museu e do design. Fui para aprender e foi o que fiz.


algo de Bauru
AMÍLCAR OLIVEIRA, UM DOS "GERENTES" DA FEIRA DO ROLO INTERNADO
Recebo há mais de uma semana recado aqui pelo messenger, algo vindo da Ednéia, esposa do querido Amílcar, espécie de dirigente ou representante da Feira do Rolo, um dos espaços mais democráticos de Bauru. Seu recado é triste: "Só avisando que o Amilcar está internado na UTI em coma induzido e entubado". Passamos a trocar algumas conversas e as notícias continuam precocupando: "O Amilcar ainda está na mesma situação sem melhoras, trocou novamente o antibiótico, os olhos dele já não estão mais amarelos, um pouco de febre, estado grave ainda.
Obrigada pelo carinho".

O fato é que a Feira do Rolo não conta com a banca deles, bem na entrada do espaço domingueiro e muito notada sua ausência. Pessoa querida, taxista de longa data e também na atividade junto da esposa, especializado em revenda de semi-jóias, com banca também numa das tranversais da Batista. O vejo sempre na defesa dos feirantes e de todos os com banca no Rolo, ou seja, é um dos que, quando se faz necessário representar o lugar, o faz com afinco. Bom de conversa, não passo um domingo sem saudá-lo de forma efusiva e sempre está disposto a essa salutar prática, a da boa conversação.

Amílcar resiste bravamente, ainda entubado e com certeza, empreendendo algo mais da luta diária, desta feita para voltar a vicejar pela alí e fazer o que o move desde que o conheço. Ao passar no último domingo pela feira e não vendo novamente sua banca montada, espaço vazio, bate aquele sentimento da falta de algo no lugar. Todos à sua volta continuam apreensivos e Ednéia pede para comunicar a todos de sua luta e reforçando a esperança de que tudo possa se normalizar em breve. Eu sempre que procurado, muitos estudantes querendo algo sobre a Feira, o indico para entrevistas e já apareceu em inúmeras, pois ciente de seu papel, toca em frente este barco, o da continuidade de um trabalho dos mais instigantes dentro da vida urbana bauruense.

O que faço, além de expor seu triste momento é produzir um reforço, auxílio positivo, crendo muito em sua recuperação.

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