quarta-feira, 14 de junho de 2023

BEIRA DE ESTRADA (167)


COTA E FUNDO PARTIDÁRIO – OLHA O QUE FUI DESCOBRIR SÓ AGORA!!!
Tem dias que o melhor era não ter tido a iniciativa de ir verificar nada, pois quando o faço, só decepção. Hoje mais uma e desta feita com a destinação dos tais fundos partidários.

Essa cota, esse identitarismo importado dos Estados Unidos acabou com tudo. Dentro da cota partidária hoje é lei, obrigatório o preenchimento de percentual de vagas para mulheres. Louvável e mais do que necessário, só que, até as pedras do reino mineral sabem como essas cotas ainda são resolvidas e preenchidas na imensa maioria dos partidos. Tem que ter um “X’ de candidatos, fora o que o dirigente partidário fica contando, dando o seu jeito, até conseguir a quantidade e cota, depois até atingir o coeficiente eleitoral. Manobras, tudo se dá por meio de manobras.

Estava esmiuçando a prestação de contas da maioria dos candidatos e descubro algo novo pra mim. Primeiro que, a maioria deles também se tornam candidatos somente para o partido conseguir cumprir o número de cotas a ele designado. Esses são verdadeiramente os tais candidatos laranjas. Fui espiar como a coisa se dá e pasmem, vejam o absurdo. Todos os candidatos pequenos, fracos, os que estão ali só para preenchimento das tais cotas, os tais com votação sempre pífia, enfim, estão na disputa não para concorrer, mas para preencher uma necessária vaga. Pois bem, todos estes recebem do Fundo Partidário, geralmente repassados para eles, em média, uns R$ 5 mil reais, ou algo perto disso, R$ 6 mil reais.

 Esse é o dinheiro enviado pelo Fundo para realização da campanha de cada candidato. Pode ser tudo, mas também parte dela, a ajuda legal enviada diretamente numa conta docandidato, criação feita para seu único benefício que, assim sendo, não fica totalmente desprovido na campanha. Teria assim um mínimo para conduzir ou mesmo, executar toda sua campanha. Eu fui reparar na prestação de conta da maioria destes candidatos e pasmem, lá está mais uma prova da falência do sistema, do mal uso do dinheiro e de como sempre existe um meio de burlar, de falsear, de criar um meio de enganar e falsear a prestação de contas.

A maioria constatada por mim, desses, por exemplo R$ 5 mil recebidos, na prestação de contas, o candidato doa R$ 4 mil para o Diretório do partido e o restante, meros R$ 1 mil reais, seria o utilizado por ele para a campanha. Todo esse dinheiro que deveria ser utilizado para custeio de campanha política, na verdade, não é. A própria prestação de conta de todos os pequenos partidos políticos denunciam a situação, quando lá consta a devolução da maior parte recebida para o partido - ou mesmo, para alguém fazer uso dele.

Outro detalhe, quando você pega o candidato forte da legenda, aquele puxador de votos, o que, em cada legenda, é o mandachuva lá deles, com este acontece diferente. Ele, não só recebe mais do que a média e na prestação de contas, ele declara como de fato gastou o valor recebido. Isso evidencia a existência de uns mais importantes que outros dentro da estrutura destes partidos. Tratamento de dois pesos e duas medidas, escancarado e vergonhoso. Todo candidato que se sujeita a algo deste tipo, primeiro escabroso, depois este esquema é nítido caso de corrupção, roubo, deslealdade. Não consigo entender como é aprovada uma conta partidária, com algo tão explícito de desvio de dinheiro. Inexplicável.

O entendimento que tenho dessa e outras questões a envolver grana é simples, direta e reta, a corrupção está tão entrelaçada com a vida cotidiana brasileira, que algo deste tipo já é visto como normal. Eu mesmo conheci muitos candidatos, de variadas agremiações com situação idênticas as aqui relatadas e só hoje, quando da pesquisa, percebi a manobra feita por muitos partidos para não só driblar a legislação, mas ficar com parte da grana que seria dos candidatos. Eu devo ser muito inocente para ainda acreditar que, tudo transcorre dentro da normalidade nesta e em outras questões. A expressão, “tudo dominado” é a que melhor representa o grau de permissividade e corrupção a nos envolver por todos os lados, poros e meios. Desolador.

imaginando detalhe da história do encontro de dois gigantes
EU IMAGINANDO COMO SE DEU A HISTÓRIA DO ENCONTRO ENTRE JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC - E UMA KOMBI QUE NÃO ME SAI DA CABEÇA
Essa parceria fez história. Para mim, como já sabem, tenho Aldir Blanc como o principal letrista brasileiro. Sua poesia me contamina e ao ouví-la tenho calafrios, sinto pulsar algo incontrolável. Junto dele, quem melhor conseguiu passar adiante o que ia escrevendo foi seu parceiro de décadas, João Bosco. Tenho tudo deles, tudo mesmo e vez ou outra bate aquela saudade- como dias atrás - e me ponho a escutar, escutar e escutar. Estava no carro querendo ouvir, coloquei no youtube a pesquisa sobre Aldir e Blanc, e por sorte, caiu um vídeo, o "João Bosco no Museu celebra Aldir Blanc". Era João Bosco junto de um trio, num lugar dentro do Museu do Ipiranga, quando saindo de obras, com participação de Martinália. João antes de cada música ia contando como seu deu as histórias, a construção, como surgiram para ele e Aldir. Nem sempre construiram juntos. Muitas vezes, Aldir levava a letra e ele colocava a música, mas também acontecia o contrário, ele tinha uma música e Aldir colocava lá uma divinal letra, numa fusão de dar gosto. Fiquei maravilhado e depois daquele dia, ouvi o curto vídeo mais algumas vezes.
Ouvir João Bosco relembrando histórias de antanho, a de Mestre Sala dos Mares, a Bêbado e o Equilibrista e a que me fez escrever este texto, o triunvirato Bala com Bala, Angra e Agnus Sei, onde como sabemos, João é mineiro, interiorano e mais precisamente, estudou em Ouro Preto. Começou suas incrusões musicais quando estudava engenharia por lá, idos de 1967, numa banda e num certo dia, mostrando algumas de suas canções para amigo Pedro Lourenço Gomes, ele lhe promete fazer algo por elas: "eu tenho um amigo no Rio de Janeiro que se conhecesse isso iriam fazer algo juntos. Eu posso trazê-lo aqui?". Para sua surpresa, quinze dias depois quem volta por lá foi o Pedro, acompanhado de outros músicos e dentre eles, outro jovem, este estudante de medicina no Rio, Aldir Blanc. O que mais me impressionou e nem sei porque, foi como chegaram do Rio até Ouro Preto. Os jovens vieram todos enfurnados dentro de uma kombi, numa viagem que deve ter sido mais do que sensacional, dessas inesquecíveis pro resto de uma vida, toda ainda pela frente e sendo intensamente vivida. Belo demais ouvir João contando como sua mãe preparou uma macarronada pra galera. Da reunião possível pela viagem na kombi, João foi apresentado a Aldir. De toda a bela história, de João ter apresentado músicas, Aldir escolheu algumas em particular e semanas depois chega o resultado, colocando a letra nas primeiras de uma parceria que iria se tornar imortal. Mas não foi nem isso o que marcou na minha mente o encontro.

Fiquei matutando tanto naquela viagem dos músicos jovens, todos estudantes e em busca de liberdade, sonhando com um algo novo e dispostos a realizar algo por ela. Sonhei e continuarei a sonhar com aquela kombi transportando aquele bando de gente irreverente, saindo do Rio só para conhecer de perto outro cara, este lá do interior de Minas. Fico aqui a imaginar como deve ter sido essa viagem, as paradas, o que conversaram e assim por diante. Tenho na memória algo deles dois, Bosco e Blanc, muito jovens e prontos para dilacerar com a imaginação de toda uma geração. Bosco continua por aí e quando sei dele aqui por perto de Bauru, acabo dando meu jeito e vou vê-lo, pois é dentre todos da MPB, um que está no meu maior altar e junto dele, este outro, justamente Aldir, o maior de todos. Essa kombi devia estar num museu...

OBS.: Na última foto postada junto deste texto, Aldir junto de sua biblioteca, no apartamento na Muda, Rio de Janeiro e nele me enxergo, pois é onde também quero passar meus últimos anos, enfurnado junto de meus livros, discos e lembranças. Seria algo mais do que inimaginável. Será que consigo?
Em tempo: A foto da kombi é meramente ilustrativa, pois não existe nenhum registro de sua passagem entre nós.
Eis aqui o link do vídeo "João Bosco no Museu celebra Aldir Blanc", gravado um anos atrás: https://www.youtube.com/watch?v=4xw26r-60G0
Me vejo como Aldir, até o fim dos dias no meio deste maravilhamento todo.

Um comentário:

  1. Existe algo a ser diferenciado no meu texto. O que vem a ser FUNDO PARTIDÁRIO e FUNDO ELEITORAL. Creio ter misturado ambos no texto e merece a explicação. O Partidário vem para todos os partidos e estes gastam no que quiserem, nada a ver com eleição. Serve para o dia a dia de suas contas e compromissos. Este dinheiro sustenta os partidos brasileiros, já o Eleitoral só pode ser utilizado na eleição e quando não utilizado, por obrigação, precisa ser devolvido pro Estado através de uma DARF. O partido pode até repassar o valor vindo para um para outro candidato, mas nunca para o partido. O único critério de distribuição deste fundo é manter os 30% para as mulheres. Tudo o mais vai conforme cada partido entender, feita para quem cada partido quiser. Um é uma coisa, outro é outra coisa. Verifico com melhor detalhamento o que escrevi e posto a seguir.
    Henrique, direto do Mafuá

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