domingo, 31 de dezembro de 2023

RELATOS PORTENHOS / LATINOS (126)


UMA ÚLTIMA COISINHA DO ANO VELHO E A DO ANO NOVO

ao menos uma história diante de todas vistas e ouvidas em Los Angeles EUA

GANHAR DE PRESENTE UM MEXICANO LHE CONTANDO A HISTÓRIA DE EMILIANO ZAPATA É ALGO INDESCRITÍVEL
Paramos para ouvir e ao final, evidentemente, compro bolsa com recuerdo mexicano. Este é o tipo de história que adoro contar, passar para a frente. Ela pode sintetizar como me sinto situado neste mundo. Onde estou, o que sou e para onde vou.

No roteiro feito pela ABPA, minha companheira de todas as horas, lá estava um passeio junto a uma feira/mercado mexicano. A Califórnia, como sempre soubemos, trata-se de território mexicano, portanto, eles estão por todas as partes. Impossível não trombar com eles, seja em San Francisco ou Los Angeles. 

Na porta da uma loja muito pequena, espremida entre outras maiores, com alguma coisa do lado de fora e tudo o mais lá dentro, descendo uma escada. O que me chama a atenção são umas sacolas penduradas num canto e todas elas, muito coloridas e com lembranças de heróis mexicanos. "Terra e Liberdade! Viva Emiliano Zapata", a inscrição de uma delas. Evidentemente que me despertasm a atenção. Ao me aproximar e demonstrar interesse, algo barato, 5 dólares, o senhor me diz serem de um libertário de seu país. Digo saber quem é e ele começa a me contar algo de sua história.

Como não parar tudo e ali permanecer ouvindo-o em algo maravilhoso dentro de nossa viagem. Na história da resistência do povo mexicano, Zapata foi mais do que grande. Quando me deparei com ele numa bolsa, dessas muito simples, não pensei em levar para dela me utilizar, mas enfeitar minha casa, ou melhor, meu novo Mafuá 2. Dentro do universo do que vivencio aqui, num canto onde ainda é possível me deparar com algo tão singelo, fico tocado e continuo minha peregrinação com o espírito incorporado de Zapata. Quando desci com o pequeno comerciante mexicano, os degraus levando para o modesto salão principal de sua loja e lá, fez questão de tirar uma foto ao meu lado e mostrando algo do que vende, com muitos outros objetos a reverenciar a história de seu país, queria ter podido gravar, registrar o feito, o sentimento dele para um turista a se interessar pela história de algo de seu. Fiquei na intenção. Em alguns momentos sou rápido, noutros parece que me petrifico e congelado, fico sem saber o que fazer. Foi o que aconteceu naquele momento, com ele me contando alguns dos entreveros revolucionários onde Zapata esteve envolvido e da luta dos fracos e oprimidos, segundo ele, que por alguns breves momentos, estiveram vitoriosos e depois, como sempre em nossa história, foram derrotados e contidos, calados, dominados e nem a sua verdadeira história, em alguns momentos, pode ser contada como de fato aconteceu. 

Não esperava me deparar com algo assim numa viagem aos Estados Unidos. Porém, dali daquele recanto, naquela feira de produtos deles, sei que, se estivesse com mais tempo, seria apresentado a outros e mais outros, tomando conhecimento de outras lindas histórias, as do tipo que gosto de contar, as do Lado B deste mundo.

Quero muito poder trombar com pessoas como ele, que nem o nome sei e poder transmitir por aqui algo de sua história. Fazer isso, mesmo que de uma forma bem insipiente e amadora, me traz enorme felicidade.

Quem me lê por aqui e me conhece, espere cada vez mais isso de mim...

Desejo
a cerveja gelada
o fígado em ordem
o coração nos conformes
os amigos presentes
a bola na rede
a mão na roda
pixinguinha na vitrola
Exu centroavante
Ogum de ronda
Xangô no apito
o camarão no prato
o moleque na escola
o samba no terreiro
e o dia bonito.
o papo na esquina
o botequim aberto
a televisão desligada
a pipa no ar
a rua sem carro
o trem no trilho
a barca no mar
a canoa no rio; o Rio.
a casa de vila, a troça
a taça, a prosa
a sanfona
a folia, o dia
a água gelada
o buraco quente
nelson cavaquinho
Odé de frente
e peixe assado.
Mais feira, menos mercado.
A festa de Cosme
a festa na Penha
o traçado
o trabalho leve
a cantiga breve
o subúrbio livre
o livro.
a paz, o pão, o pião, o rodopio,
o batuque, o desvio
o truque sem trambique
o batuquejê, o acarajé
e o tremelique
a comida farta
que anda sumida:
pirão, mocotó, rabada
pururuca, dobradinha
(para quem preferir
boa salada)
o prazer sem tempo
e sem tristeza
o desejo de dizer
movido a birinaites
numa mesa do Brasil
de qualquer parte
com patriótica certeza:
- a minha pátria é a língua à milanesa!
cachaça, vinho, manga
reza, bamba, bimba
candonga, sunga, pinga
toque de bola, vento,
varanda, gol da virada
a criança brincando
o homem sorrindo
a mulher amada
(professor e escritor carioca Luiz Antonio Simas

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