domingo, 14 de janeiro de 2024

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (182)


JOANNE, RESTAURANTE ITALIANO DOS PAIS DE LADY GAGA
Por indicação de Lucas Melara, fanzaço da cantora, descobrimos o restaurante, uma cantina ao estilo italiana, dos pais da famosa cantora. Ciente de nossa vinda para New York, nos deu a missão de conhecer em seu nome o reduto. Tratamos tudo como uma verdadeira missão, hoje cumprida a contento. A história se desdobra em vários capítulos, contados por mim de forma reduzida e com um desenlace/desfecho surpreendente, bem ao estilo do casal HPA e ABPA.

Fomos pra lá de metrô, numa estação há poucas quadras. Ana Bia já havia conferido tudo, inclusive dos preços. Nada exorbitante. Tudo dentro de nossas possibilidades. Na chegada, como já prevíamos, nenhum surpresa, uma boa cantina italiana, com produtos da casa e em aludão a Lady Gaga. Somos levados para uma mesa, reserva feita e ficamos a curtir o local, saboreando um vinho, que sugestivamente leva o nome de "Gaga". Tudo aqui nos EUA é assim, feito para se desperar a curiosidade e, consequentemente, o consumo. O vinho é realmente bom e a comida, idem. Numa das vindas à mesa, descobrimos que a atendente é brasileira, Mila, oriunda do Rio de Janeiro, como Ana Bia. Pronto, abrimos aquele baita sorriso e ela nos tira foto juntos. Diz que na casa, são três brasileiros e logo nos traz, Maicon, gaúcho de Porto Alegre e o maitrê dz casa. Ele é quem traz os brasileiros para a casa. Estávamos num lugar bem aconchegante e com gente falando nossa língua, papo rendendo e assim ficamos sabendo de mais detalhes da casa e de seus proprietários.

Nada de mais. Ou seja, o pai da cantora, que Ana gostaria muito de conhecer, havia passado pela casa uma hora atrás e não mais voltaria naquele dia. Comemos fartamente, ela algo com almôndegas, eu massa com frutos do mar. Aproveito para ir fotografando o lugar, a pedido de Lucas. Ao final, digo, foi interessante ter feito o registro quase completo - faltando a cozinha -, pois desta forma pudemos conhecer uma típica casa norte-americana e seu fincionamento.

A noite nos rendeu belas conversas. Eu, tomo conhecimento de como é o roteiro básico da vinda de brasileiros para os EUA e sua colocação na mão de obra local. Quando, como neste caso, existe alguém a indicar um local, tudo se torna mais fácil e Maicon é um facilitador na vida de alguns brasileiros. Ele, nos conta também trabalhar em outro local durante o dia, uma tapiocaria, poucas quadras dali. Ficamos de ir visitá-lo, mas isso só o tempo disponível dirá ser possível. A cidade é grande, o tempo é pouco e as opções são milhares. Tentaremos.

Com a conta fechada, recolhemos alguns mimos para Luca. Por aqui, nada é gratuito, disso já sabíamos. Fazem dinheiro com tudo, até com uma sacola com a logo da casa, uma das recordações. Da casa, boas recordações e com as fotos, o algo mais que ali acontece regularmente, quando propiciam eventos, alguns destes famosos, com a bandeira LGBT. O restaurante possui seu salão principal, dois compartimentos e ao fundo, um outro, onde acontece estes eventos. Fotografei tudo, inclusive a entrada, onde algo nas paredes faz referência a filha do casal proprietário. Nada de assombroso, mas um lugar a ser lembrado, um toque refinado, sutil, simples, onde fazem questão de deixar evidente o parentesco. Pergunto para Mila se Lady Gaga ali comparece, ela me diz que todos a conhecem e ela, por ser a mais nova, ainda não, mas não vê a hora de, assim que a ver, fazer como todos os outros, ter uma foto ao lado dela para mostrar aos conhercidos. E assim se deu nossa passagem por um restaurante típico novaiorquino e também, muito famoso, pelo fato de ter ligação umbilical com a famosa cantante. Gostamos e Ana, tem muito mais histórias para contar do que este esbriba, pois esteve muito atenta a tudo à sua volta durante nossa estada. Eu, como sempre, veim para flanar e assim cumpri minha missão. Com certeza, Lucas Melara nos deve um bom vinho quando lhe entregaremos os mimos conquistados no dia.

OBS.: Lucas Melara é ex-aluno de Ana Bia no curso de Design da Unesp, hoje nosso grande amigo, quem nos acolhe em Sampa e se tornando a cada dia que passa um profissional da mais alta competência no Design brasileiro. Vai dar muito o que falar...

DOMINGO NO BROOKLIN, NO MUSEU COM SPIKE LEE E CASAL AMERICANO
Não fizemos outra coisa hoje e não nos arrependemos nem um pouco. Domingo frio, saímos caminhando em direção ao metrê, eu fotografando o que posso e depois de uns 40 minutos de trem, aportamos bem na porta do Brooklyn Museum. Ana Bia havia marcado para 13h, almoço no local e o reencontro com sua velha amiga novaiorquina, a professora Lynne Jackson, com quem desenvolve trabalhos acadêmicos de longa data. Tiveram intensa peoximidade dos tempos quando Ana frequentava a casa do cineasta independente e mestre de muitos famosos cineastas, George Stoney, falecido anos atrás, beirando os 90 anos. Ambas circulavam nas abas do mestre, tendo ele desenvolvido inúmeros trabalhos no Brasil, todos eles contando com a participação de Ana. Ama estava a reviver isso tudo no reencontro e também construindo novos trabalhos conjuntos, numa parceria que já vem sendo desenvolvida há tempos.

Eu e Ana adentramos o Brooklyn até se dar o reencontro. Sentanos numa bar simpático, duas quadras do museu, o Lincoln, onde sentei e posei lendo um New York Times. Um dia já fui matéria neste jornal, quando a Havan abriu sua loja em Bauru, com aquela réplica (sic) da Estátua da Liberdade. Fizeram uma matéria comigo por causa da repercussão bauruense, entrevistado por uma jornalista lotada no Rio de Janeiro. Tudo são recordações. Cá estou num bar no Brooklyn, lendo a edição do dia do jornal, tomando uma taça de vinho com Ana e fugindo do frio até dar a hora de adentrar o museu, que já havíamos visitado quatro anos atrás. O motivo do retiorno desta feita era reencontrar a amiga e parceira de Ana e visitar uma exposição comentada por nós com grande expectativa, a do multi artista Spike Lee.
Antecipamos o reencontrop e ele se dá na entrada do museu. São muitas histórias juntas e tudo foi muito além do braço. Não pararam um só instante de trocar figurinhas. Lynne trouxe consigo seu marido, também velho conhecido de Ana, o músico Bernie Brady. Foi ele quem primeiro reconheceu Tom Jobim numa música ao fundo no restaurante do museu. Falamos muito de nossa música e ele nos conta em detalhes quando esteve num show de Bebel Gilberto, filha de João Gilberto, numa noite com fila de mais um quarteirão para adentrar o teatro. Falo de minha admiração por Bob Dylan, Joan Baez e Sarah Vaughan. Ele me fala de Tom, Bebel, João Gilberto e até de Milton Nascimento. Do outro lado, as duas estavam engatadas numa conversa sem fim, a misturar a atividade profissional em conjunto e o que viam na exposição. O dia prometia.

E rendeu muito. Circular pela exposição "Creative Sources" ao lado de duas pessoas ativistas de longa data foi algo realmente maravilhoso. Estar ali já era ótimo, mas quando junto de duas pessoas especiais, ela professora uma vida inteira no bairro, com profundo conhecimento das questões sociais, principalmente negras na história americana, PhD teacher no St Francis College e tendo junto de si, um músico com vivência de contato com o lado independente e libertário do país, foi algo único, verdadeiro privilégio. Em cada parada uma explicação especial, algo sendo traduzido a mim por Ana. Uma exposição que poderia ter durado duas horas, durou mais que quatro e ainda perdurando aquele gostinho de quero mais. Em cada ato onde Spike esteve encolvido, tinham ambos uma palavrinha especial para nos preencher a curiosidade.

Reencontro o Brasil em dois momentos da exposição. Num Pelé ao lado de Muhammad Ali, o famoso boxeador campeão mundial e noutro uma camisa da CBF, autografada por Pelé, ao "amigo" Spike, ela inteira amarela, quando verdadeiramente jogavamos futebol. No mais, revivemos os filmes do Spike, seu enorme envolvimento político e esportivo, amante fervoroso do basquete. Num momento vendo foto de Malcon X e Luther King juntos pergunto para Bernie, quem hoje cumpre o papel que ambos cumpriram no passado. Ele pensa um pouco e me dá a resposta apontando para um quadro com a foto de Angela Davis. Sim, reconheço e lhe cito dois que gosto muito, também ativistas, o pensador Noam Chomsky e o cineasta Michel Moore. Ele concorda e seguimos conversdando, muito por mímica, quando Ana não próximo de nós dois.

O que queríamos conhecer da história do país onde nos encontravámos estava ali naquela exposição. A resistência negra foi e é grandiosa, tanto que, na presença de visitantes ela é imensamente grande, com percentual de mais de 70% de negros (índice tirado de minha percepção, sem nada lido a respeito). Muitos filmes sendo exibidos ao longo do percurso da exposição, retratando momentos da resistência negra e muitos dentro dos filmes do famoso cineasta. Ana e Lynne recordam terem tido contasto com Spike, pois ele também foi aluno do George Stoney. Ana conta de uma festa, uns 25 anos atrás, quando ele numa roda conversaram sobre uma carreira, que naquele momento, começava a despontar e hoje está mais do que consolidada. Por fim, afirmo que a história dessa resistência negra contada nessa exposição pelos olhos do Spike é de uma vital importância. Ele não só conta, como esteve presente, voz atuante nos vários momentos desde então e agora, na véspera de um feriado por aqui, o comemorado em homenagem a Luther King, terceira segunda-feira de janeiro é algo como termos caído no epicentro de algo de uma luta a continuar sendo travada nas ruas americanas. Perceptível isso e bom, como turistas, termos tido a oportunidade de vir não só passear, mas também enxergar a história pelo viés dos vencidos, dos que perdeream, mas nunca entregaram os pontos e, portanto, a partida continua sendo disputada.

Foi uma tarde e tanto. Eles se foram ao final da exposição, eu e Ana voltamos para mais uma taça de vinho no Lincoln Bar, depois pegamos o metrô até perto de onde estamos, Times Square. Um frio cortante e nem a proteção de nossos casacos consegue nos proteger a contento. Alguns até riem de nós dois, pois dizem que o frio mesmo ainda está para acontecer por aqui, ainda nas primeiras semanas do inverno. Quando isso chegar já estaremos de volta ao Brasil e revendo tudo por mais uma passagem por estas bandas do mundo.

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