sábado, 20 de janeiro de 2024

BAURU POR AÍ (223)

OS MEXICANOS DA PIZZARIA, VIZINHOS DO HOTEL, MOVIMENTAM A BEIRADA DA TIMES SQUARE

Eles sabem como fazer. Souberam cativar a vizi hança e os turistas à volta. São simpáticos, conversadores, trabalham pesado e encantam um cativo público. A especialidade é pizza, vendida inteira ou pedaços, estes grandes. São esquentados na hora, na vista do freguês, num forno com várias bocas. Elas são abertas e com uma especifica pá, são ali introduzidos. A espera é algo prazeroso, pois conta com a prosa de todos eles, desde o que amassa a massa ali diante dos olhares de todos até do caixa. Outro dia, meio do dia, eu sem almoço, peço uma fatia e puxo conversa. Estava na cara serem latinos. O que me atende, diz todos serem mexicanos, ele há 10 anos em Nova York. Mesmo não o sendo de sangue, são como uma família. Cada um sabe muito bem o que fazer, ninguém fica parado e assim, unidos e solidários, vingaram algo que caiu nas graças de todos. A vizinhança, os atores de teatro, dos grandes espetáculos da Broadway, são em sua maioria clientes. Nas paredes, cartazes dos espetáculos e assinatura dos atores, clientes. Eles, o pessoal da pizzaria, não vão aos musicais, primeiro por trabalharem no horário, mas os atores conhecem os sabores todos do famoso cantinho, espremido no meio de tantas casas luxuosas e hotéis. Passo em frente várias vezes ao dia e nunca a casa vazia. A massa ali feita pelas mãos dos mexicanos é saborosa. No hotel onde me encontro vejo embalagem vazia deles por tudo quanto é canto. Subo e desço, eles lá numa espécie de moto contínuo, sem parada, sorridentes e com a certeza de terem conseguido um lugar ao sol. Bem ao lado um chique restaurante italiano, o Royal, também sempre muito movimentado, outro preço. A pizzaria, de certa forma concorre com este, onde também atuam vários mexicanos, de garçons, cozinheiros à àrea de limpeza. A diferença, me conta o que conversei, é que, no amplo restaurante são todos funcionários e ali no pequeno espaço da pizzaria são todos donos do próprio negócio. A felicidade está estampada na cara deles todos. Encantador vê-los atuando. Saio na neve quando Ana desce pra fumar, só pra ficar admirando a correria do que é o dia a dia desses mexicanos, os que vieram e venceram do lado de cá, onde a maioria vive uma vida inteira como empregado de algum norte-americano.

EU ME LEMBRO DESSA HISTÓRIA E ME EMOCIONA TODA VEZ QUE A REVEJO SENDO REPOSTADA
“Meu primeiro grande salário foi quando fui do Boca ao Corinthians. A primeira coisa que fiz foi dizer ao meu representante: 'Não quero esse dinheiro, só quero que você tire minha família inteira de Fuerte Apache. Compre 15 casas fora do bairro e tirar toda a minha família de lá.'
Foi muito emocionante porque ainda por cima mandei meu pai, que é mestre de obra, comprar e pintar tudo para que ficasse bem arranjado. Aí fizemos um churrasco surpresa em casa e dei a chave a cada um, sem que soubessem de nada.", CARLOS TÉVEZ.

A TIBIRIÇÁ QUE TANTO AMAMOS JÁ NÃO É A MESMA - DE DIA É UMA COISA, A NOITE É BEM OUTRA
Distrito de Bauru sofre com saneamento básico precário, falta de policiamento e insegurança dos moradores, por André Fleury Moraes, in Jornal da Cidade.
"O funcionário de José Luiz Bessa Pereira Leite estava prestes a entrar dentro da propriedade do chefe quando, ao descer da caminhonete para abrir a porteira, foi encurralado por três homens, todos mascarados. Eles estavam escondidos numa plantação de café. Um dos ladrões apontou a arma em sua cabeça e exigiu entrar na fazenda. Tomaram o volante, amarraram o rapaz e seguiram em direção às casas – o local tem vários imóveis pois funcionava antes como uma colônia.

Entraram antes na casa do funcionário, que continuou amarrado, e na sequência tentaram prender e amordaçar um idoso. “Não faz isso”, disse o colaborador. “Ele já tem idade, não vai oferecer perigo”, continuou. O pedido acabou atendido. Os assaltantes encontraram quase nada na residência – foi quando ordenaram ao colaborador que os levasse à casa do chefe. Arrombaram a porta e fizeram a rapa. “Limparam minha casa”, lamenta. O prejuízo, estima, soma pelo menos R$ 50 mil.

“Levaram tudo o que foi possível. Tinha uma coleção de relógios, alguns deles muito caros, e sobrou nada. Bebidas fechadas, como litros de uísque, também foram embora. Não deixaram nem mesmo alguns sorvetes que estavam na geladeira”, conta José, que naquele dia estava na praia e teve de voltar na mesma hora. “Falaram que distribuiriam os picolés para a molecada da vila”, contou o proprietário ao JC a partir do relato de seu funcionário.

Os assaltantes levaram todo o conteúdo na caminhonete de José, mas o proprietário conseguiu resgatar o veículo – que foi deixado à beira da estrada.

A fazenda fica na zona rural de Tibiriçá, distrito de Bauru que fica a apenas 20 quilômetros do município e onde a insegurança entrou gradativamente para a rotina dos moradores nos últimos anos. Falta policiamento, reclamam residentes, sobretudo no período noturno. “Estou aqui há décadas e nunca vi uma situação chegar a esse ponto”, lamenta José.

A situação chegou a tal ponto que um grupo de produtores rurais criou um grupo no WhatsApp para noticiar qualquer movimentação estranha nas estradas. “Esses dias mesmo tinha um pessoal no mato, perto da minha propriedade, quando recebi o alerta. Desci de moto até o local e o pessoal saiu correndo”, conta o produtor Márcio Limão, um dos responsáveis pela elaboração dessa comunidade.

O aposentado Natal Bernardino de Oliveira mora em Tibiriçá desde 1972. “É quase uma vida”, brinca. Quando chegou nem asfalto havia no distrito praticamente. Segundo Natal, a situação de Tibiriçá melhorou muito desde então. Mas hoje falta o principal – que, para ele, é segurança e policiamento.

O distrito tem poucas ruas e uma praça central, a da Capela Nossa Senhora Aparecida, o maior ponto de referência para quem chega ao local pela primeira vez. Durante o dia o cenário é bucólico, com velhos amigos sentados e conversando, mas à noite é bem diferente. “É muito escuro, tem bastante gente usando droga. A gente fica receoso”, conta.

Há informações de que a Prefeitura de Bauru planeja desapropriar uma casa em Tibiriçá para servir de moradia a um policial, que seria destacado para servir no distrito. Para Limão, no entanto, isso não resolve o problema. “As pessoas estão com medo. Se um policial morar aqui, também vai ficar à mercê disso. O ideal seria uma viatura com dois agentes, que vêm aqui só para trabalhar”, defende.

Há outras demandas também. Tibiriçá hoje não tem farmácia e nem mesmo uma agência bancária. “Se alguém quer comprar remédio não consegue. E nem sacar dinheiro, acessar a conta”, critica o professor universitário aposentado Luiz Teixeira, que possui propriedade rural no distrito. “E faz sentido, se você não tem segurança como vai colocar um caixa eletrônico?”, prossegue. A Capela, de quebra, também não abre todos os dias – quem quiser, que reze em casa.

“O certo era um esforço do poder público para valorizar os potenciais do distrito, especialmente no turismo. E em vários setores, desde o turismo gastronômico até o esportivo, ambiental”, defende o produtor Márcio Limão. “Outro problema é a questão da energia, que, quando cai, cai praticamente na cidade inteira. Como você investe num distrito assim?”, observa.

Tibiriçá hoje possui rede de distribuição de água e coleta de esgoto. Mas nos bairros novos, construídos nas últimas décadas, o setor não existe. Aline Ferreira dos Santos mora numa dessas ruas – a Joaquim Ferraz da Silveira – há sete anos e tem de conviver com fossas, que exalam odor de esgoto diuturnamente.

“E não foi por falta de correr atrás. Já fizemos reuniões na prefeitura, já tentamos fazer uma fossa comunitária, mas nada vingou. E a cada quatro anos os candidatos aparecem aqui...”, ironiza.

Aline já enfrentou problemas com as fossas. Uma delas vazou e levou o esgoto para dentro de sua casa. No mais, quando os espaços enchem – o que ocorre a cada quatro meses em média –, a moradora precisa desembolsar pelo menos R$ 250 para pagar um caminhão que esvazie o local. Michele Zerlini tem uma casa nessa mesma rua há dois anos e a situação não é diferente. “Saneamento básico é o mínimo que deveríamos ter”, aponta.

A situação é ainda pior para a moradora Maria Helena Vieira, que reside num imóvel da Joaquim Ferraz há 20 anos. Para além do problema envolvendo a rede de esgoto, ela precisa cuidar de sua mãe, que está acamada, e enfrenta dificuldades para tirá-la de casa quando tem de sair. O motivo está no pavimento: a rua é completamente esburacada.

“Quando preciso sair, por exemplo, chamo um vizinho para me ajudar a levar minha mãe até o carro. O problema é andar com uma idosa no colo com a rua nesse estado”, lamenta.

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